Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

Jornal 35: Fevereiro/ Março de 2010

CONTRA AS SAÍDAS BURGUESAS, APRESENTAR UMA SAÍDA DOS TRABALHADORES!

Primeiramente, é preciso desmistificar a idéia de que a crise já tenha sido superada: embora haja uma recuperação nos setores de construção civil, exportação de matérias-primas e de serviços, a produção industrial brasileira – dado fundamental em qualquer análise econômica – teve queda de 7,4% em 2009, comparado a 2008. Foi a maior queda anual desde 1990. (http://economia.estadao.com.br/noticias/producao-industrial-tem-queda-de-7-4-em-2009,not_3375.htm).

O fôlego da retomada atual dependerá muito da economia mundial, particularmente dos países centrais, cujas economias praticamente continuam estagnadas, bem abaixo dos níveis pré-crise. As dificuldades crescentes dos países mais pobres da Europa em manter os pagamentos dos juros de suas dívidas demonstram que a situação mundial ainda não está definida no sentido de uma recuperação, o que também desautoriza a festa que a burguesia brasileira e o governo e vêm fazendo.

Trata-se de uma retomada em grande medida artificial, pois as causas estruturais da crise não foram resolvidas. Não há aumento real de poder de compra dos trabalhadores ou da classe média que possa sinalizar um novo ciclo de crescimento sobre bases sólidas.

Toda a ajuda financeira dos governos ocorreu no sentido de fornecer incentivos fiscais, crédito barato e seguro às empresas e às famílias para, com isso, incentivar o consumo e tentar recompor a taxa de lucro das empresas no curto prazo. Porém, isso gera novas contradições para um futuro não muito distante. Um exemplo é o aumento da Dívida Pública da União, que fechará 2010 entre 1,60 trilhão e 1,73 trilhão de reais. (http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRSPE60P02I20100126).

De forma geral, houve uma explosão das operações de crédito – leia-se de endividamento – que cresceram 14,9% no Brasil, só em 2009, atingindo a soma de R$ 1,410 trilhão. Esse valor representa 45% do PIB, contra 39,7% em 2008.  (http://www.diariosp.com.br/Noticias/Economia/180/Credito+cresce+14,9%25+no+Brasil+em+2009).         Mas ao mesmo tempo, a burguesia vem implementado uma nova reestruturação produtiva, através do aumento da sobrecarga de trabalho sobre os trabalhadores que permaneceram, da redução de salários e direitos, da precarização dos vínculos de contratação, etc. Outra saída adotada é a fusão de empresas, cujos exemplos mais atuais são a compra das Casas Bahia pela Rede Pão de Açúcar, e a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. Quantas lojas e agências poderão ser fechadas?

Assim, por mais que o estado intervenha para aquecer artificialmente a economia – e essa intervenção tem um limite –, as ações estruturais de cada empresa individualmente têm o efeito de corroer o mercado real de consumo de massas. Ao longo do tempo, essa tendência estrutural de lento crescimento/estagnação dos mercados voltará a se impor e teremos a irrupção muito mais severa da crise, agravada ainda pela crise financeira devido ao enorme endividamento que vem sendo incentivado no Brasil.

 

Os mecanismos do estado para manter e aumentar a exploração

No imediato, mesmo com a recuperação atual, sentimos o endurecimento do empresariado e do estado capitalista para com os trabalhadores em todos os aspectos. Os empregos gerados no último período registram salários menores e vínculos precários.

Isso não é produto da vontade individual deste ou daquele empresário, mas expressão da situação a que chegou o sistema capitalista. Devido à tendência de estagnação/lento crescimento da demanda real apontada acima, a competição entre as empresas acirra-se mais ainda, e também os ataques aos trabalhadores.

O Estado tenta se equilibrar entre duas tendências: de um lado, os gastos com a ajuda ao capital produtivo e, do outro, o pagamento dos juros da Dívida Pública ao capital financeiro; esse equilíbrio só pode se manter à medida que o estado se desobrigue cada vez mais dos serviços públicos destinados à imensa maioria da população, aumente as taxas públicas, mantenha congelado o salário do funcionalismo público, faça reformas como a da Previdência, ou seja, também ataque os trabalhadores.

No plano político, jurídico, ideológico e militar, cumpre ao Estado “organizar e manter o consenso”, ou seja, a idéia de que não há outra saída a não ser propiciar as melhores condições de lucratividade para as empresas como forma de impedir a quebra da economia e o desemprego. É a ideologia do “Não há Alternativa”.

A democracia burguesa tem se mostrado uma política bastante eficaz para ludibriar, cooptar e controlar os trabalhadores. Através dos ditos “mecanismos participativos”, e de instituições comprometidas até a alma com os interesses dos empresários: o capital busca a legitimidade para impor seus interesses, fazendo passar a idéia de que os seus interesses são os interesses de todos ou da maioria. Na democracia burguesa não significa que não há repressão aos movimentos sociais, mas sim que essa repressão é legalizada. Há inclusive a possibilidade de uma combinação da democracia burguesa com a escalada militarista, como no caso de Honduras, em que os golpistas buscaram se legitimar a partir de instituições como o Congresso e a Suprema Corte e, ao final, para se consolidar, recorreram às eleições, em que seu candidato venceu.

Outro mecanismo bastante utilizado tem sido o assistencialismo, com o objetivo de acomodar e desmoralizar o setor mais pauperizado, dotado de maior explosividade, opondo-o aos demais setores da classe trabalhadora, para os quais a política é de endurecimento, como no caso dos funcionários públicos, dos correios, bancários, etc. Através das inúmeras formas de assistencialismo, também se coopta as direções e ativistas mais dinâmicos que poderiam se constituir num problema para o governo e o sistema. Esse foi o caso das inúmeras “Bolsas”, PROUNI, etc.

Já para os movimentos que alcançam maior conflitividade, a política é de repressão direta, como por exemplo a luta dos camelôs, dos movimentos dos atingidos pelas enchentes, das ocupações e ações do MST nas fazendas do agronegócio, entre outros. Nas favelas, a ordem é a mesma: controle e repressão sobre qualquer movimento que venha a ameaçar o funcionamento normal do consumo, do turismo, dos lucros.

 

CUT, FORÇA e CTB: Defendendo o capital, contra os trabalhadores

 É preciso frisar que todas essas ações, tanto dos empresários como do estado, têm contado com a ajuda direta ou indireta das direções do movimento, particularmente da CUT e da Força Sindical. Sua postura tem sido a de defender as parcerias com os empresários, via acordos de flexibilização de salários e direitos, isenções de impostos para as empresas e o incentivo ao endividamento geral como se fossem políticas positivas. Assim, as empresas demitem e/ou precarizam os contratos, mostrando que esse tipo de acordo só interessa aos empresários. Essas direções abriram mão de qualquer perspectiva de ruptura e superação da lógica do capital e do lucro. Assumindo para si o horizonte do capitalismo como o único possível, realmente há muito pouco a se fazer e cai-se, mais cedo ou mais tarde, no discurso de que os trabalhadores e os capitalistas são parceiros e que, quando um ganha, todos ganham, o que é uma grande mentira.

À falta de uma perspectiva de luta e socialista da classe trabalhadora, a burguesia que opera no Brasil consegue descarregar parte do peso da crise econômica sobre esta, impedindo momentaneamente uma grande recessão ou mesmo uma depressão.

 

Combate político e ideológico à lógica do capital

Portanto, o maior desafio que está colocado para o próximo período é o de ser parte e intervir na base dos vários movimentos e fóruns de luta e de reorganização da classe trabalhadora, no sentido da reconstrução de uma saída de luta e socialista desde a vanguarda até setores de massa, apresentando uma crítica profunda dos vários mecanismos de dominação dos trabalhadores aplicados pela burguesia e seu estado. Não basta apenas ficar repetindo que o governo Lula é traidor, como fazem a maioria das organizações da esquerda. É preciso demonstrar os fundamentos que o levam a agir assim, as contradições desses fundamentos e, a partir daí, apresentar uma saída crítica-prática, e não apenas um amontoado de palavras de ordem, sem relação com a realidade dos trabalhadores.

A intervenção da esquerda neste ano terá alguns desafios importantes: em primeiro lugar, é preciso denunciar a euforia enganosa de que agora tudo vai ficar bem e que o Brasil é o país do futuro. É preciso lembrar que o espaço reservado para o Brasil dentro da divisão mundial do trabalho é basicamente o de fornecedor de matérias-primas e de uma plataforma de exportação na América Latina. Esse papel não é nem de perto suficiente para alçar o Brasil à condição de país de primeira grandeza no mundo. Além disso, mesmo que a economia brasileira venha a se desenvolver, isso não significa que haverá melhores condições de vida para os trabalhadores. O padrão capitalista de desenvolvimento que está sendo implantado é extremamente explorador dos trabalhadores e destruidor do ambiente. A Copa em 2014 e as Olimpíadas em 2016 são muito mais despesas para o Estado do que investimentos do capital. Os empregos gerados serão temporários e mal remunerados. Um bom exemplo foi a realização do Pan no Rio de Janeiro, que de nada serviu para melhorar a situação dos trabalhadores e, ao contrário, os problemas sociais se agravaram, aumentando o poder de ação do tráfico e a repressão da polícia sobre os moradores das comunidades de periferia.

Com relação às campanhas salariais, o maior desafio é impulsioná-las para além dos limites imediatistas e corporativistas, no sentido de que busquem uma ponte entre suas demandas e as dos demais trabalhadores, apontando saídas mais gerais para aspectos estruturais da sociedade como a educação, a saúde, o emprego, a Previdência, o ambiente, os transportes, a violência, o racismo, a opressão da mulher, etc.

Este ano, nos dias 5 e 6 de junho, haverá a realização do CONCLAT – “Congresso Nacional da Classe Trabalhadora” – que poderá fundar uma nova Central de Luta, como alternativa de luta à CUT e demais centrais governistas. A tarefa central aí será, não apenas fundar uma nova central, mas acima de tudo uma nova concepção de atuação sindical que supere os limites atuais e esteja à altura dos desafios colocados pelo capitalismo de hoje. É preciso superar o sindicalismo imediatista, característico da maioria das correntes de esquerda, sob pena de não se conseguir sequer defender as conquistas existentes. É preciso debater com a classe trabalhadora a necessidade da ruptura com a lógica do lucro e a construção de uma outra sociedade, em base a um compromisso com as necessidades reais da maioria da população, definidas democraticamente. Outras lutas importantes são contra a burocratização – o que exige permanente ação de formação para que os trabalhadores venham a ocupar os espaços de decisão nas entidades –, bem como a adoção de medidas que dificultem o processo de burocratização, como rodízio, fim dos privilégios, controle sobre os mandatos, etc. Enfim, é preciso um novo sindicalismo, uma re-educação da própria esquerda atual.

 

Construir um movimento político dos trabalhadores pela base!

Outro fato importante, e que já está influenciando a realidade brasileira, são as eleições de 2010. Por trás de toda a disputa presidencial entre PT e PSDB, esconde-se a unidade de ambos os setores em torno do mesmo projeto para o país: a manutenção da inserção subordinada do país à lógica do capitalismo globalizado. Ambos defendem a manutenção dos compromissos com o capital financeiro, as isenções de impostos para as empresas, o corte dos direitos sociais, a entrega dos recursos naturais ao capital privado, etc. A única disputa é se a burocracia política, de estado e sindical representada pelo PT continuará abocanhando uma parte da renda do estado, ou se a burguesia propriamente dita ficará com tudo, ao administrar o país sem a intermediação da burocracia.

Já a tarefa da esquerda, muito mais do que buscar qualquer viabilidade por dentro da lógica eleitoral, é a de uma crítica profunda aos fundamentos do modelo de economia e de sociedade que está sendo implementado no Brasil e suas conseqüências. Mais do que qualquer coisa, é preciso disputar a consciência de amplos setores para um programa de ruptura com a lógica capitalista e a apresentação de uma alternativa socialista para o país e a sociedade.

Outro pilar de sustentação dessa atuação tem que ser a unidade da esquerda de luta, que essa unidade ocorra pela base e esteja enraizada nos movimentos sociais. Nesse ponto, não podemos deixar de dizer que as duas principais correntes, tanto o PSOL quanto o PSTU começaram mal.

O PSOL insistiu até o último momento em uma Frente com o PV de Marina Silva, um partido que diz defender a natureza, mas incoerentemente tem em seu programa a defesa da “livre iniciativa” e da “economia de mercado”. Quando, por fim, o PV demonstrou que em seu arco de alianças cabe até o PSDB, como no Rio de janeiro, o PSOL não teve mais como sustentar essa tentativa e a partir daí passou a defender uma candidatura própria em coligação com outros partidos da esquerda, candidatura essa que será definida em março, em sua conferência.

Já o PSTU, apesar de dizer que defende uma Frente Classista e Socialista dos Trabalhadores, assim que percebeu o movimento de aproximação do PSOL com o PV, preferiu já lançar seu pré-candidato – Zé Maria. Ao nosso ver, isso caracteriza uma concepção equivocada, em que o partido decide tudo e os ativistas e demais trabalhadores só entram na hora de fazer campanha e/ou votar…

Ora, do que se trata é justamente da constituição de algo muito mais amplo, um movimento político dos trabalhadores, que tenha sua expressão eleitoral, mas que essa expressão seja definida a partir de debates e fóruns os mais amplos possíveis, por exemplo, plenárias e debates abertos a todos que queiram construir essa alternativa unitária que seja a expressão política das necessidades imediatas e históricas dos trabalhadores, nas lutas e nas eleições.

Sem essa “alma” que só pode ser a empolgação dos ativistas e trabalhadores como sujeitos de sua própria representação política, essa pré-candidatura também não tem ainda entusiasmado a vanguarda, o que confirma que o lançamento ocorreu de forma precipitada e a partir de cima.

É preciso superar a lógica divisionista na esquerda, bem como fazer com que as decisões da base sejam superiores que as das cúpulas. É preciso constituir urgentemente e a partir da base um movimento político dos trabalhadores, que apresente uma saída socialista pra a sociedade nas lutas e também nas eleições.



É preciso uma explicação marxista para as recentes manifestações (violentas) da natureza. A idéia que tem prevalecido é a da burguesia, mas essa sempre esconde a verdade. Estamos nos propondo a iniciar esse debate no movimento e para isso apresentamos alguns textos à reflexão dos militantes e ativistas. Eles têm como centro a relação do capitalismo com a natureza. Partimos do aspecto antropológico e filosófico da relação entre trabalho alienado e natureza. Passamos nos textos a seguir pela explicação das conseqüências sociais dos desastres naturais, abordamos a incapacidade da burguesia resolver esses problemas (a conferência de Copenhague) e analisamos também o problema do trânsito nas grandes metrópoles, uma das manifestações mais irracionais do uso capitalista dos recursos.

 

TRABALHO ALIENADO E NATUREZA


Nem mesmo a burguesia consegue ocultar a discussão sobre os problemas ambientais causados pelo capitalismo, pois os efeitos da destruição da natureza já se apresentam de maneira dramática. Enchentes, secas, descontrole das temperaturas, degelo (e aumento do nível dos oceanos e mares), desertificação, perda da diversidade biológica, multiplicação de vírus e bactérias mortais, poluição, escassez de água potável, acúmulo de lixo, destruição da camada de ozônio, etc.; não são fenômenos naturais como quer fazer crer a burguesia e seus meios de comunicação.

Todos esses fenômenos têm relação com a exploração da natureza em função da acumulação de capital. O trabalho é a forma especificamente humana, social e histórica, de metabolismo com a natureza. Cada ser humano está em relação com a natureza por meio de seu corpo físico, cuja existência precisa ser mantida, mas essa relação não se dá de forma imediata, pois é social e historicamente mediada pelo trabalho. O uso de recursos naturais para produzir alimentos, vestimentas, moradias, utensílios, etc., não é feito separadamente por cada indivíduo, mas coletivamente por meio da formação social da qual este indivíduo faz parte. Ou seja, o homem somente se relaciona com a natureza indiretamente, por meio de sua relação com os outros homens, com o meio social de onde recebe uma cultura e no qual desempenha algum tipo de papel produtivo.

A humanidade do homem não está dada de modo imediato na realidade histórica, ou seja, cada homem não está imediatamente unificado com a sua humanidade, da forma como estão os animais. Cada animal é imediatamente idêntico a sua espécie e capaz de fazer tudo que a espécie é capaz. O homem, ao contrário, se encontra separado de sua espécie, da sua humanidade, seu ser genérico, por conta da condição histórica da divisão da sociedade em classes e do trabalho alienado.

Assim que o trabalho se torna capaz de produzir um excedente em relação às necessidades sociais, surge uma classe social que se apropria desse excedente. Ao longo da história desenvolve-se uma luta entre as classes proprietárias e as classes trabalhadoras pela posse desse excedente do trabalho social. O controle do excedente do trabalho pelas classes proprietárias transforma o trabalho numa atividade alienada, ou seja, estranha para a maior parte dos seres humanos. O homem se separa de seu ser genérico, sua humanidade, ao não poder determinar o que fazer com seu tempo de trabalho e ser forçado a trabalhar para outro. O homem se aliena da atividade do trabalho, dos produtos do trabalho, da sua relação com os outros homens, que aparecem todos como elementos externos e opressivos sobre o indivíduo; e se aliena também da natureza.

Se a relação com a natureza se dá primordialmente por meio da relação social e histórica de trabalho, o trabalho alienado leva a uma relação alienada com a natureza. Na sociedade de classes, a natureza se apresenta ao homem como ambiente externo e objeto estranho, a ser controlado, dominado, usufruído e descartado, conforme os interesses da classe dominante. A natureza deixa de ser o “corpo inorgânico do homem”, como a definiu Marx, e se torna propriedade privada. Na condição de propriedade privada, a natureza pode ser usada e abusada de maneira irresponsável, pois a necessidade coletiva é desconsiderada em detrimento dos interesses privados.

Na sociedade capitalista, que é a forma mais recente da sociedade de classes, a natureza mais do que nunca aparece como estranha ao homem, como puro objeto de manipulação, fonte supostamente inesgotável de matéria-prima e repositório dócil para os infinitos subprodutos da ação humana (lixo e poluição). O capitalismo simplesmente ignora que a natureza não é inesgotável nem pode suportar indefinidamente os dejetos que lhe atiramos. A lógica do capital considera apenas o curto prazo, o balanço das empresas, a cotação diária da bolsa de valores, e simplesmente despreza a sobrevivência da espécie. Como disse um autorizado representante da burguesia, o economista inglês John M. Keynes, “a longo prazo estaremos todos mortos”.

Para restaurar o equilíbrio natural e reverter os graves danos já causados é preciso ao mesmo tempo reverter a lógica que dirige o emprego das forças produtivas sociais, direcionando-as para o atendimento das necessidades humanas. É preciso estabelecer racionalmente o que a humanidade precisa produzir e de que forma isso pode ser produzido sem afetar a capacidade do planeta de seguir fornecendo indefinidamente os recursos de que necessitamos. Ao invés de produzir armas nucleares e artigos de luxo (ou seja, coisas inúteis), o trabalho humano passaria a produzir aquilo de que os seres humanos realmente precisam para viver. Isso por si só já teria grande impacto na reversão dos danos ambientais.

Mas isso só é possível com o fim do trabalho alienado, ou seja, com a conquista do controle dos trabalhadores sobre seu tempo e seus instrumentos de trabalho. Para isso é preciso romper com a propriedade privada dos meios de produção e com a divisão da sociedade em classes. Somente uma humanidade sem classes pode se relacionar de forma racional com seu trabalho, direcionando seu tempo e recursos para produzir aquilo que realmente é necessário e considerando o equilíbrio da natureza e a continuidade da vida. Ao mudar a relação do homem com o trabalho, muda-se também a relação com a natureza.

Para a natureza é indiferente que o planeta seja habitado por seres inteligentes ou por bactérias, pois o planeta seguirá seu curso em torno do sol, quer sejam os homens os seus passageiros ou os microorganismos. Para o homem, entretanto, a preservação de certas condições indispensáveis para a sua sobrevivência, como ar respirável, água potável, terras férteis, temperaturas suportáveis, etc., deve ser resultado de sua ação consciente e coletiva. Essa ação passa necessariamente pela revolução social, pela superação da lógica do capital e pela construção do socialismo, único regime capaz de devolver ao homem o controle sobre seu trabalho, sua humanidade e sua relação racional e sustentável com a natureza.


 

O CAPITALISMO AGRAVA OS DESASTRES DA NATUREZA


A destruição da natureza não se explica pela ação do homem abstrato e genérico, deslocado do processo real de produção. A burguesia, para se livrar da responsabilidade, também propaga a idéia de que “o homem” é o destruidor da natureza, como se isso fizesse parte do seu próprio ser. Sem uma consciência que se opõe ao modo de produção, a ação do homem no mundo reflete as idéias da classe dominante, e é esse homem feito à imagem e semelhança da burguesia que, no seu produzir, domina a natureza e a destrói. O homem no mundo capitalista tem a característica de ao mesmo tempo viver na e contra a natureza.

Claro que há um mundo natural em constante transformação, em formação e em movimento permanente, mas o que presenciamos atualmente não é um “movimento natural” e sim as conseqüências destrutivas da forma capitalista de produção. É no processo de maximização da mais valia que a burguesia intensifica a exploração sem limites da natureza e leva a esse processo de destruição.

 

Alguns desastres são naturais, mas as consequências não são

Como já foi dito, há na natureza movimentos naturais – como é o caso do terremoto no Haiti, mas as conseqüências que esses fenômenos provocam não são naturais. É sabido que há tecnologia para minimizar ou mesmo evitar os impactos de desastres naturais (terremoto, tsunami), mas como essas tecnologias estão sob o controle do capital, elas são utilizadas somente nos países ricos. Ou seja, a condição do país no mercado mundial influi até mesmo na utilização de mecanismos de proteção e garantia de vida das pessoas.

No caso do Haiti, o fator determinante para o alto grau de destruição e o alto número de mortes é sua condição de colônia do imperialismo, pois decorre daí a sua pobreza. A grande concentração da população pobre na periferia das cidades, as casas sem nenhuma estrutura, a inexistência de um sistema público de saúde (hospitais, formação de médicos, enfermeiros, etc) e até de defesa civil; são causas quantitativas e qualitativas da tragédia humana que se seguiu ao terremoto. Não é por sorte que as mansões de Porto Príncipe não sofreram quase nenhum dano. Se um terremoto desse porte acontecesse em um país rico sem dúvida as conseqüências seriam muito menores.

Tanto lá como cá as causas e conseqüências (como uma relação dialética e não mecânica) têm a mesma explicação. As recentes tragédias no Brasil, como as do Rio de Janeiro ou as Zonas Sul e Leste de São Paulo tem tudo a ver com a destruição causada pela produção capitalista. Em primeiro lugar, o aumento do volume das chuvas é uma conseqüência das alterações climáticas. Em segundo, as vítimas são em sua maioria os moradores das áreas pobres, que por conta da especulação imobiliária são jogadas para as regiões pantanosas e para os morros, áreas sabiamente mais frágeis. Essa mesma especulação imobiliária está na raiz de outros tantos problemas ecológicos, como é o caso da contaminação das áreas de mananciais. Em terceiro lugar, não há por parte dos governos nenhum plano de habitação que permita e garanta que os trabalhadores saiam dessas áreas. Pelo contrário, há uma política de “jogar” ainda mais pessoas nessas regiões para que outras áreas próprias para moradia possam se valorizar e garantir o lucro dos especuladores.

Alguns tentam explicar o sofrimento das pessoas vitimadas pelas enchentes como se fosse por conta da escolha que fizeram de morar nessas áreas. Como se as pessoas morassem em áreas alagáveis e em favelas porque gostam e como se fosse uma questão de escolha. Não vêem (ou não querem ver) que a urbanização desordenada das grandes capitais, principalmente no sudeste, é produto do êxodo rural dos anos 60 e 70, e que a “escolha” de morar em favelas é a única que restou a esses trabalhadores por conta do salário miserável a que estão submetidos.

Por uma política revolucionária

Nos últimos anos temos presenciado o surgimento de uma consciência ecológica e de diversas organizações que militam no “movimento ecológico”. Algumas até tem um caráter “progressista” (como os ecosocialistas), mas o limite da maioria desse movimento está exatamente no fato de serem policlassistas e de não verem o necessário caráter classista e revolucionário da luta ecológica.

Entre as maiores organizações estão o Greenpeace e o WWF. Esse último luta “para harmonizar o homem e a natureza”, frase oca que na verdade esconde uma utopia reacionária, uma vez que também defendem que as “Parcerias com o setor privado são peças chave para o trabalho de conservação da natureza e uso sustentável dos recursos naturais desenvolvido pelo WWF-Brasil. Para nós, os negócios são parte central do bem-estar da sociedade e do planeta” (http://www.wwf.org.br/empresas_meio_ambiente/). Já o Greenpeace, mesmo declarando que não aceita ajuda de empresas, também se caracteriza por ser “uma organização (…) que atua para defender o meio ambiente e promover a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos (…) desafiamos os tomadores de decisão a reverem suas posições e mudarem seus conceitos. Também defendemos soluções economicamente viáveis e socialmente justas” (http://www.greenpeace.org/brasil/quemsomos/).

O que as une é a crença e a ilusão de que é possível salvar o planeta mesmo sob o capitalismo, apenas “mudando a atitude das pessoas em relação ao meio ambiente”. Por outro lado estamos em uma situação em que o proletariado e suas organizações ainda não conseguiram encontrar mecanismos que sejam capazes de enfrentar esse problema com propostas e prática revolucionárias. Trata-se de um problema novo para o qual devem ser dadas respostas também novas.

Enfrentar a crise ambiental do ponto de vista do legado do marxismo (relação homem-natureza) é nesse momento pensar que a revolução socialista deve necessariamente ser marcada pela superação da totalidade das formas de alienação, se apresentando para a solução da problemática econômica, mas também ambiental (e também cultural, sexual, etc). Um mundo equilibrado ambientalmente só será possível quando, homens e mulheres, abolirem a propriedade privada e consigam avançar para o domínio consciente da natureza. Mudar o mundo para salvar o planeta!


 

A CÚPULA DE COPENHAGEN: SÓ ENCENAÇÃO


Entre 7 e 18 de Dezembro de 2009 realizou-se em Copenhagen, capital da Dinamarca, a Cúpula das Nações Unidas sobre Mudança Climática, também chamada de COP15. O objetivo da cúpula era discutir a implantação da chamada “Convenção Marco de Mudança Climática”, chegando a um compromisso global capaz de obrigar todos os governos a estabelecer metas de redução da emissão de gases de efeito estufa.

Essa discussão se impôs na pauta dos dirigentes globais depois que o Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado em 2007 expôs a relação entre a emissão de gases (principalmente o CO2 – dióxido de carbono – derivado da queima de combustíveis fósseis) e as alterações climáticas pelas quais o planeta tem passado, em especial a elevação da temperatura média global (com conseqüências como o derretimento de geleiras e calotas polares, o aumento do nível dos mares, a maior incidência de tempestades, furacões, etc.). Nem mesmo um órgão da burguesia como a ONU pôde esconder a discussão sobre esse aspecto dos desequilíbrios ambientais, tal a gravidade da situação.

Ainda restam muitos problemas por discutir, como a falta de saneamento básico e a profusão de doenças que daí decorrem, o acúmulo de lixo, a poluição, o desmatamento, a desertificação, a extinção em massa de espécies vegetais e animais, etc., problemas ambientais que afetam populações do mundo inteiro e não respeitam fronteiras nacionais. No capitalismo plenamente mundializado, o planeta inteiro se transformou em cenário da produção de mercadorias, da qual apenas uma pequena fração da população, a burguesia, se beneficia, ao passo que todo o restante sofre as conseqüências desse modo de produção (80% das emissões de gases são produzidas pelas indústrias, usinas elétricas, monocultura agrícola e pecuária intensiva dos países imperialistas, que concentram 20% da população – números de ALAI, 16/11/2009). A mundialização do capital mundializou também a contradição entre produção coletiva e apropriação privada. Os efeitos deletérios da degradação ambiental atingem principalmente as populações socialmente mais vulneráveis, ou seja, os setores mais pobres e mais explorados da classe trabalhadora mundial.

O fato de que os dirigentes do Estado tenham colocado em pauta a discussão sobre metas de redução de CO2 não significa que tenham condições de encaminhá-la satisfatoriamente. O debate foi conduzido de forma anti-democrática, ao estilo das últimas grandes reuniões de cúpula globais, cercadas por pesado aparato de segurança para manter afastados os manifestantes e representantes de concepções alternativas. De qualquer forma, a pressão de ONGs e grupos ambientalistas é pateticamente insuficiente para lidar com a escala dos problemas envolvidos, pois trata-se de limites do próprio capitalismo. Sem adotar uma perspectiva classista claramente socialista, os movimentos ambientalistas e partidos verdes se convertem em alas inofensivas da esquerda pequeno-burguesa.

Desde o início da COP15 tornou-se clara a clivagem entre as principais potências imperialistas e os países periféricos e semicoloniais. Os dois grupos lutaram para empurrar um sobre o outro o custo das mudanças necessárias para reverter o atual estado de degradação do meio ambiente planetário. Como conseqüência desse desacordo, a COP15 terminou sem encontrar um substituto para o Protocolo de Kyoto (firmado em 1997 e jamais ratificado pelos Estados Unidos), que saiu de cena sem qualquer resultado palpável em redução de emissões. O mecanismo por meio do qual as grandes corporações compravam o direito de poluir financiando projetos “verdes” foi apenas um disfarce para a manutenção do padrão de consumo destrutivo dos países imperialistas.

O relatório do IPCC apontava a necessidade de um corte nas emissões de 25 a 40% até 2020 em relação aos níveis de 1990 e de 50 a 80% até 2050, o que foi desconsiderado. Os documentos finais da Conferência não passaram de vagas declarações de intenções que não puderam esconder as profundas divergências entre os vários grupos de países. Nem as potências imperialistas puderam chegar a um acordo entre si por conta das suas rivalidades, nem apresentaram qualquer compensação aos países periféricos por conta do receio com o crescimento dos BRICs. A maior parte dos países, incluindo os maiores emissores per capita, os Estados Unidos, e em números absolutos, a China, assumiram metas de redução muito mais modestas e referentes aos níveis de 2005, mas sem compromissos jurídicos e formas de verificação do cumprimento das metas. Em termos de ajuda aos países mais pobres para sua transição a tecnologias mais limpas, os resultados da COP15 foram igualmente pífios.

A impossibilidade dos dirigentes políticos do Estado burguês de resolver os problemas ambientais e de chegar a um acordo sólido sobre qualquer questão relevante decorre do fato de que cada governo representa os interesses da sua fração nacional da burguesia, em luta contra as outras burguesias pelo controle do mercado mundial. Por isso cada governo luta para impor sobre os outros países os custos das mudanças e esse esquivam de compromissos que possam prejudicar os negócios da burguesia nacional.

Para manter os lucros das respectivas burguesias os governos despejaram quantias imensas de dinheiro no mercado financeiro por conta da crise econômica ao longo de 2008/2009 (U$ 23 trilhões segundo algumas estimativas), mas são incapazes de realizar os investimentos necessários para mudar a atual matriz energética, que representam um volume de gastos muito menor, calculados em cerca de U$ 500 bilhões anuais, ou ainda, para aliviar a situação dos países insulares e costeiros em face da elevação do nível dos mares, com custos estimados em U$ 100 bilhões (segundo o Banco Mundial). O controle do Estado pelo setor financeiro e petrolífero impede os governos capitalistas de adotar as medidas que a população trabalhadora e o meio ambiente planetário requerem com urgência.

A opção do Estado pelo salvamento do mercado financeiro e sua recusa a dar sequer os passos iniciais para combater o aquecimento global não são meros equívocos dos governantes de turno, mas evidências do papel de classe do Estado como garantidor da ordem capitalista e suas iniqüidades. Num contexto de grave crise econômica, o caráter de classe do Estado se acentua ainda mais, pois todas as suas medidas, não apenas no plano ambiental, vão no sentido de recuperar os lucros da burguesia através do aumento da exploração sobre os trabalhadores. Inversamente, a solução dos graves problemas ambientais atuais é inseparável da luta pela superação do modo de produção capitalista como um todo, em direção ao socialismo, no qual a cooperação da classe trabalhadora internacional será capaz de tomar as medidas necessárias para direcionar a produção para as necessidades humanas e reverter os danos causados pelo capitalismo, restaurando o equilíbrio do ecossistema global.

 

 

 

TRÂNSITO: CAOS DO MODO DE PRODUÇÃO BURGUÊS


O trânsito e a poluição urbana é um dos “calcanhares” dos administradores burgueses. Adota-se todo tipo de medida (restrição de circulação de ônibus e de carros, obrigação de vistoria, etc), mas os problemas continuam se agravando, uma vez que nenhuma delas mexe com o ponto central que é adotar um sistema de transporte que não privilegie o lucro e sim as necessidades da população. Não fazem porque teria que romper com a lógica capitalista que ordena o modelo de transporte adotado e da própria organização da cidade na sociedade capitalista.

É um debate importante porque a luta pelo socialismo compreende uma totalidade que envolve as transformações econômicas, mas também a cultura, o sistema de saúde (que está relacionado com a qualidade de vida), a localização das fábricas (e o que produzir), das escolas e dos hospitais e evidentemente a organização das cidades e do transporte, etc. No socialismo tudo será organizado racionalmente de modo que o nosso tempo esteja voltado para a satisfação das necessidades da coletividade e não para os interesses do capital.

A produção capitalista se caracteriza pelo caos, completamente desorganizada e dispersa obrigando as pessoas se deslocarem por quilômetros para venderem sua força de trabalho com consequências para o sistema de transporte e para a própria saúde. Mais duas questões (entre outras tantas que se poderia falar) que pode demonstrar  o caos é o que se produz e a especulação imobiliária que repercutem no sistema de transporte e na própria organização da cidade. O carro além de congestionar ainda polui e a especulação imobiliária joga os trabalhadores e explorados para as periferias, locais distantes do trabalho, da escola e dos hospitais.

 

Cidades e trânsito: o caos provocado pela burguesia

O atual sistema de transporte no Brasil foi construído a partir da década de 50, como parte do acordo com o imperialismo para a instalação das montadoras no país. Para garantir o lucro delas a malha ferroviária (de carga e de passageiros) foi sucateada e o transporte público passou a funcionar em torno dos ônibus produzidos por elas.  A base desse sistema são os veículos automotores seguidos pelos ônibus e caminhões e com o petróleo como matriz energética. Uma escolha para atrair e agradar as montadoras que desde então lucraram – e remeteram para as matrizes- bilhões e bilhões.

A insanidade do capital faz com que suas escolhas ocorram pelo lucro e isso causa vários problemas como a poluição, os congestionamentos, o deslocamento de bilhões para a construção e reforma da malha rodoviária (só trecho sul do Rodoanel em São Paulo tem um custo estimado em 4 bilhões de reais e é responsável por 25% do desmatamento na Grande SP no ano de 2008), a impermeabilização do solo e ideologicamente, em detrimento de um modelo coletivo, uma concepção individualista no transporte, pois a imensa maioria dos veículos são ocupados por uma pessoa. Um modelo que só atende aos interesses da burguesia.

Em relação a poluição não é novidade para ninguém que os carros estão entre as principais fontes de poluição do Brasil e do mundo. A causa é óbvia: o combustível. Tanto faz a gasolina, o álcool ou o diesel. Todas as medidas adotadas pelos governos de plantão, ou não têm nenhum efeito ou ele é desprezível. Já com relação ao meio de transporte a lógica também é perversa, pois com um transporte público de péssima qualidade muitos são empurradas para os carros o que agrava a poluição e os congestionamentos, mas garante o lucro das montadoras.

Há outras tecnologias que poderiam ser aplicadas no desenvolvimento de transporte com fonte energética muito menos poluidora, como são os trens e ônibus elétricos. Esses transportes além de poluírem menos podem transportar muito mais pessoas em um espaço muito menor. Mas adotar medidas que substitua os automóveis por um sistema coletivo de transporte significaria mexer com os interesses de grandes capitalistas das montadoras, das empresas ligadas ao refino do petróleo e da máfia que controla as empresas de transporte coletivo nas grandes cidades. Isso nenhum governo burguês está disposto a fazer.

Quanto aos congestionamentos os trabalhadores são as maiores vítimas, uma vez que na atual configuração da produção capitalista os trabalhadores são obrigados a irem trabalhar cada vez mais longe o que por si já representa o aumento na jornada de trabalho provocando maior desgaste físico e mental. Essa combinação do tempo gasto para o trabalho e o tempo gasto nos congestionamentos representa a continuidade da apropriação pela burguesia do tempo do trabalhador e que não é remunerado. Assim o trabalhador sequer consegue descansar para se recompor para o dia seguinte e sem falar na dificuldade de que o trabalhador possa participar de reuniões sindicais ou políticas. Ou seja, a burguesia utiliza o caos que o seu modo de produção provoca para manter os trabalhadores sob controle. É uma apropriação física e espiritual dos trabalhadores.

Em uma sociedade socialista, portanto racional, os trabalhadores além de terem uma jornada de trabalho muito menor trabalharão próximo de suas residências ou terão computado na sua jornada o tempo de deslocamento, podendo aproveitar essas horas “economizadas” para atividades políticas, culturais, de lazer e para descanso. Só uma sociedade irracional como a capitalista desperdiça tanto tempo.

Outro efeito devastador para a natureza é a impermeabilização das cidades. Para comportar a quantidade de carros que estão sendo produzidos (em 2009 foram  quase 3,2 milhões) é preciso construir uma extensa malha rodoviária, o que faz com que as cidades sejam permanentemente redesenhadas, representando uma destruição de força de trabalho e da natureza, uma vez que mais e mais árvores precisam ser derrubadas, o solo é impermeabilizado e o curso e as margens dos rios sofrem constantes mudanças. As recentes enchentes (que Serra culpou a natureza, Kassab a Marta Suplicy e o povo) são conseqüência dessas alterações e não das pessoas.

Parte importante do orçamento do país é direcionado para a construção e/ou reforma de estrada (em alguns Estados representa 50% de tudo que é aplicado pelo governo Federal), retirando dinheiro de outras áreas como saúde e educação. Essa grande quantidade de dinheiro em todos os orçamentos (federal e estaduais) fez com que se desenvolvesse no país grandes grupos econômicos (Camargo Correa, Espasamco, etc) que são dependentes dessas obras e para mantê-las faz todo tipo de falcatrua, como licitação direcionada, caixa dois para a campanhas eleitorais (além de doação pública), etc. É só mais um elo dessa corrente que se construiu a partir da adoção desse modelo de transporte.

 

Ideologia e automóvel

A adoção do automóvel como central no sistema de transporte também implica em que as pessoas precisam ser convencidas de comprá-lo e utilizá-lo, precisa tornar-se necessidade. Para isso foi montado um imenso aparato ideológico que envolve agências de propagandas, televisão, psicologia de massas, etc que tem o poder de “embelezar” homens e mulheres, de mascarar e mudar o meio em que vivemos (todas as propagandas apresentam ruas sem buraco e sem congestionamento) e de declarar o poder dos e das possuidoras de carros sobre o mundo.

Por essa ideologia  quem tem um carro é diferente e não está submetido aos caos do transporte público, destinado aos de pouca sorte; quem te carro é diferente, mais inteligente, faz a escolha certa e “venceu” na vida. O automóvel é o símbolo do capitalismo e para a própria burguesia alocada no Brasil era importante essa escolha como demonstração de que definitivamente o país se modernizava. Como vemos a partir do automóvel se estrutura parte importante da vida em uma sociedade capitalista.

Outro aspecto dessa ideologia é colocar o indivíduo acima da coletividade. Veículos altamente poluidores que transportam pouquíssimas pessoas (na maioria das vezes uma só pessoa) são a representação de que o sistema de transporte também é voltado para a propagação do individualismo, fundamental para a ideologia dominante e para a própria indústria automobilística. A degradação do transporte coletivo é parte dessa lógica, pois a todo momento na mesma avenida congestionada podemos ver de um ônibus lotado -com as pessoas em pé e amassadas- um veículo com um indivíduo livre desse inferno que é o ônibus. A construção consciente dessas comparações é uma tática muito bem pensada pela burguesia de modo que  nesse cenário as pessoas possam pensar em saídas individuais e ver o automóvel como o meio de realização desse desejo.

 

Construir uma saída pela esquerda

A anarquia da produção capitalista faz com que ela desloque imensas forças de trabalho para a produção de bens que significam a destruição das próprias condições de vida da humanidade, ou seja, em vez de produzir bens que contribuam para  o bem estar das pessoas produz-se aquilo que interessa aos capitalistas. É a lógica da burguesia.  Uma sociedade socialista organizaria a produção de modo que se produziria aquilo que realmente atendesse as necessidades humanas e não do lucro.

Precisamos, a partir de nossas frentes de atuação, abrir essa discussão no movimento, incorporando reivindicações que garantam transporte coletivo público, gratuito e de qualidade para os trabalhadores. Em uma perspectiva da revolução também está colocado a necessidade do desenvolvimento de energias que garantam a produção das necessidades dos trabalhadores e que não poluam o meio ambiente. Em relação ao transporte coletivo até mesmo “especialistas” burgueses reconhecem que  o transporte sobre trilho é muito mais barato e menos poluente. Também é preciso redirecionar a produção automobilística do país para veículos que garantam a produção de alimentos, como os tratores.

Só com essas mudanças como essas (que são mínimas) quantas carretas poderiam deixar de circular  e poluir com a adoção do transporte de cargas para os trens? E quantos ônibus deixariam de poluir e congestionar se adotássemos o transporte ferroviário como prioritário? Quantas horas os trabalhadores poderiam se dedicar ao lazer, ao estudo e a própria militância anti capitalista?

Se temos consciência de essas medidas são fundamentais também sabemos que o capitalismo –pela sua própria lógica do lucro- não pode realizar essas tarefas. Só a revolução socialista poderá levar a frente essas tarefas. Por isso, viremos à esquerda.


 


ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL E EDUCAÇÃO FLEXÍVEL


Objetivamos mostrar a intrínseca relação entre as transformações no capitalismo e o papel atribuído à educação. Essa análise leva em consideração o “grau de controle que logrou deter a grande burguesia sobre as crises cíclicas do capitalismo” (consciência adquirida a partir de 1929) como também a substituição dos sistemas de organização do trabalho taylorista e fordista pelo toyotista. Partimos das mudanças ocorridas na organização do trabalho provocadas pelo avanço tecnológico a partir dos anos 1970. O avanço tecnológico alterou o padrão produtivo e introduziu a acumulação flexível, substituindo o taylorismo e o fordismo pelo toyotismo.

A acumulação flexível, como resultado da taxa decrescente do lucro e, consequentemente, da dificuldade da realização do capital, aumentará exponencialmente a taxa de exploração dos trabalhadores, e ainda assim não inverterá ou evitará a diminuição da taxa de lucro, pois se trata de uma crise no seio da estrutura de funcionamento do sistema capitalista.

Por isso, a diminuição do emprego, dos salários e das condições de trabalho não são  fatos esporádicos no capitalismo, e sim parte do movimento do capital.

O desemprego deixa de ser um fator de crise e converte-se “… agora em um dos elementos do processo de controle das crises que aciona o mecanismo de desaquecimento da economia como forma de mantê-la ajustada às relações sociais vigentes, comandadas pelos interesses do sistema financeiro internacional.” (SAVIANI, Dermeval.In: Capitalismo, Trabalho e Educação, p.22)

 

O papel atribuído a educação

A educação passa a se submeter diretamente às condições de funcionamento da economia capitalista, pois o trabalho pedagógico articula-se com o processo do trabalho capitalista, se constituindo no toyotismo “em forma de disciplinamento para a vida social e produtiva no capitalismo.”

Esse disciplinamento “configura-se como uma transformação intelectual, cultural, política e ética, uma vez que tem por objetivo o desenvolvimento de uma concepção de mundo tão consensual quanto seja possível, tendo em vista as necessidades de valorização do capital.” (KUENZER, Acácia Zeneida. In: Trabalho, Educação e Capitalismo, p.82)

O que se pretende é formar “um povo manso e resignado, respeitoso e discreto, um povo para quem os patrões sempre tenham razão.” Ou seja, “um povo ideal para uma burguesia que só aspira resolver sua própria crise.” (PONCE,  Aníbal. In: Educação e Luta de Classes, p.173)

O disciplinamento é necessário uma vez que a educação assume, de acordo com as necessidades do mercado, o princípio da flexibilidade como condição para produção segundo a demanda. “Isso gera a necessidade não mais de produzir estoques de mão-de-obra com determinadas competências para responder às demandas de postos de trabalho – cujas tarefas são bem definidas -, mas para formar trabalhadores e pessoas com comportamentos  flexíveis, de modo que se adaptem, com rapidez e eficiência, a situações novas, bem como criarem respostas para situações imprevistas.” (KUENZER, Acácia Zeneida. In: Trabalho, Educação e Capitalismo, p. 87)

E não apenas isso, forma-se uma mão-de-obra que ora pode ser utilizada, ora pode ser parcialmente descartada ou totalmente descartada, de acordo com as necessidades do mercado, ou seja, mão-de-obra flexível.

Dessa forma, a escola deverá formar alunos com um repertório, ou seja, com competências e habilidades que possibilitem-no fazer escolhas. Uma aprendizagem para a inserção no mundo produtivo e solidário, e que se adapte a essa lógica flexível.

Além disso, o disciplinamento procura eliminar a existência de classes sociais e da luta de classes. Com a terminologia de parceiros sociais, a escola esconde o que sempre pretendeu a burguesia: ocultar a existência de classes sociais e da luta de classes para não ocorrer uma reação por parte dos trabalhadores contra a precarização econômica, e para aceitarem a “realidade como ela é”, evitando qualquer possibilidade de mudança.

 

Exclusão incluente e inclusão excludente

O toyotismo na educação e no trabalho tem como um dos objetivos o aprofundamento da separação entre trabalhadores e dirigentes, e entre trabalho intelectual e trabalho instrumental. Também entra em cena um processo de “exclusão incluente”, em que verificamos a exclusão do trabalhador do mercado formal, com direitos assegurados e a inclusão em condições de trabalho precárias. Dessa forma, os trabalhadores são desempregados e reempregados com salários rebaixados, muitos contratados por empresas terceirizadas, desempenhando a mesma função e ganhando menos ou indo para a informalidade. Com isto, o setor reestruturado se alimenta e mantém sua competitividade através do trabalho precarizado.

Essa lógica, do ponto de vista da educação, produz uma outra lógica na direção contrária, a “inclusão excludente”. Ou seja,&ldq

Leia mais

Jornal 39: Outubro de 2010

 

SERRA E DILMA: a serviço do capital e contra os trabalhadores

Não vemos nem em Dilma/PT e nem na oposição burguesa/Serra qualquer possibilidade de melhora das condições de vida da classe trabalhadora porque os projetos de ambos têm conteúdos idênticos, ou seja, atendem única e exclusivamente os interesses da burguesia. A própria gestão do governo Lula foi na verdade a continuidade do governo FHC, mantendo integralmente todas as políticas desse governo.

Uma possível diferença entre Serra e Dilma está no fato de que o PT defende um projeto capitalista com um pouco mais de controle do Estado do que o PSDB. Mas essa diferença só ocorre porque a burocracia petista necessita mais do Estado para sobreviver economicamente, pois é da máquina do Estado que aufere seus rendimentos e privilégios, com participações nos gordos fundos de pensões, altos salários nos cargos de confiança nas estatais, privilégios parlamentares e privilégios sindicais.

Porém, em que pesem as divergências pontuais do PT com o PSDB, ambos têm acordo no projeto estratégico de tornar o Brasil um país viável do ponto de vista do capital, o que significa necessariamente a ajuda às empresas e o aumento dos ataques aos trabalhadores, particularmente com a possibilidade do agravamento da crise econômica nos países centrais.

Em relação ao apoio da burguesia e do imperialismo para Dilma ou para Serra, o que tem sido explicitado é que tanto Serra quanto Dilma agradam a burguesia e o imperialismo. Se o PSDB tem fortes ligações com o empresariado paulista e com o capital financeiro, o PT tem como característica principal não responder a nenhum setor específico do capital, mas sim preocupar-se com a movimentação do capital de conjunto que opera no Brasil, o que lhe dá a condição de trânsito entre os vários setores da burguesia. Outra questão importante para a burguesia é a integração de várias entidades (CUT, UNE, MST) ao Estado – convênios com ministérios, verbas para as centrais sindicais e estudantis, recursos para assentamentos, etc -, o que serviu para impedir que o movimento social radicalizasse as lutas.

Sobre o significado dos votos, nos parece que o PT consolidou uma tendência das últimas eleições que é a sua sustentação nos setores mais pauperizados do Brasil, situação que conseguiu com a implementação principalmente do “bolsa família”, um programa que não resolve a situação de miséria dos trabalhadores e tem se mostrado capaz de angariar muitos votos. Os votos do PSDB tiveram mais presença nos principais centros urbanos do país, onde se localiza uma classe média mais conservadora. Podemos até fazer uma analogia com a Venezuela e Bolívia, em que os partidos “ditos de esquerda” controlam as regiões mais pobres do país, e os de direita têm mais presença nas grandes cidades.

Já Marina conseguiu ganhar um outro segmento da classe média, sobretudo onde setores do funcionalismo têm grande peso como é o caso do Distrito Federal e do Rio de Janeiro. Não vemos esses votos como de esquerda ou algo parecido, mas que expressaram um certo desgaste tanto do PT quanto do PSDB, principalmente por conta dos seguidos escândalos protagonizados por esses dois partidos. Contudo, Marina ainda não tem base de sustentação para levar adiante o projeto que a burguesia tem para o Brasil.

A ida de Dilma e Serra para o segundo turno também representa a vitória nas eleições do projeto da burguesia, que hoje é administrado por Lula. A burguesia, através dos três principais candidatos, conseguiu impor as suas propostas e ter no segundo turno dois candidatos que representam “mais do mesmo”.

Abaixo elencamos algumas questões fatuais que ao nosso ver expressam a semelhança das propostas de Serra e Dilma.

 

Na crise, PSDB e PT socorrem os capitalistas

No auge da crise econômica, os governos Lula/PT e Serra/PSDB foram bastante generosos com os capitalistas, com uma série de concessões de isenções tributárias – IPI, ICMS, etc -, linhas de crédito com juros muito abaixo do mercado, adiamento da data de recolhimento de impostos – mais tempo para a burguesia trabalhar com o dinheiro -, totalizando por volta de R$ 300 bilhões para os capitalistas.

Se por um lado Lula/PT liberou bilhões para a burguesia, por outro, as direções sindicais ligadas ao PT – CUT – e às demais que o apóiam – Força Sindical, CGT, etc – começaram a fazer uma série de acordos com a patronal que permitiram a redução de salários e direitos trabalhistas. Na Embraer, onde o governo tem assento no conselho deliberativo, aconteceram 4200 demissões e mais uma vez Lula e as direções sindicais da CUT foram coniventes.

Mostrando que os dois governos têm o mesmo projeto – o de defender a burguesia -, Serra também não ficou atrás e, em fevereiro de 2009, liberou um pacote que totalizou R$ 20,6 bilhões com desoneração de investimento, linhas de créditos com taxas de juros reduzidas, etc. A contrapartida para o funcionalismo público do Estado foi um reajuste de 0% em 2010.

O Governo Lula/PT e Serra/PSDB adotaram todas as medidas possíveis para proteger o capital, tratando a burguesia com muito carinho e jogando para os trabalhadores a conta da crise. Essa é a lógica dessas “ajudas” dos dois governos: retirar dos trabalhadores para dar aos capitalistas.

 

Reforma da previdência: FHC/PSDB começou e LULA/PT continou

Dilma já declarou que vai precisar fazer outra reforma da previdência para mudar a idade mínima e tempo de contribuição para aposentaria, inclusive Nelson Barbosa, cotado para assumir o Ministério da Fazenda no governo Dilma, é o responsável para elaborar a proposta da nova reforma da previdência.

A primeira reforma da previdência foi no governo FHC, em 1998, que estabeleceu entre as principais mudanças idade mínima para aposentadoria e tempo de permanência no serviço público – 10 anos no serviço público e cinco no cargo -, e no setor privado, em vez de tempo de trabalho passou a considerar somente o tempo de contribuição – o que para muitos significou a perda de anos de trabalho, pois em muitos casos, mesmo o trabalhador fazendo a sua contribuição, as empresas não recolhiam a contribuição e esse tempo deixou de ser contado para a aposentadoria.

Em 2003, o governo Lula, dando sequência ao governo FHC/PSDB, impôs contra os trabalhadores a continuidade da reforma previdenciária que FHC não tinha conseguido fazer. Por essa reforma, que atingiu principalmente os servidores públicos, findou-se o pagamento integral do salário ao servidor que se aposentasse – este passou a não mais receber o salário que ganhava quando estava na ativa -, houve um limite de recebimento de R$ 2.400,00 e também um desconto de 11% dos vencimentos dos aposentados.

Quer dizer, o dinheiro foi retirado dos trabalhadores para ser dado aos banqueiros, e neste ponto também os governos do PT e do PSDB são muito semelhantes.

 

PSDB e PT privatizando a saúde

Um dos grandes projetos do Serra na saúde em São Paulo foi a transferência da gestão de hospitais públicos para as chamadas “organizações sociais”, que na verdade são empresas privadas de saúde. Essas organizações sociais recebem por isso a quantia de 10% do total de verbas destinadas ao hospital, ou seja, repasse de dinheiro público para a iniciativa privada. Nessa mesma política também permitiu que os hospitais públicos pudessem atender – com reserva de 25% do total de vagas – convênios particulares com mais lucros para essas “organizações sociais”. Ou seja, estamos diante da privatização do sistema público de saúde. Assim, há uma destinação das (já poucas) vagas, antes destinadas àqueles que necessitavam do serviço público de saúde, para a iniciativa privada. É o mesmo modelo do antigo PAS aplicado por Maluf e Pitta no sistema municipal de saúde da cidade de São Paulo.

Esse é o mesmo modelo adotado pelo governo Lula no Instituto Nacional do Câncer (INCA), em que pela proposta do governo federal passaria a ser administrado por entidade privada. A primeira tentativa de Lula de contratação (sem licitação) das “organizações sociais” também aconteceu, mas foi derrotada pelos trabalhadores. Depois, o governo volta à tona com a proposta de um tal “Serviço Social Autônomo”,que é outra versão de empresa privada para gerir recurso público, e as consequências são as mesmas que as da política do governo Serra, ou seja, terceirização e precarização da mão-de-obra. O mecanismo jurídico para a privatização, tanto do PSDB quanto do PT, é a criação das fundações de direito privado, uma manobra para se apropriarem de dinheiro público de “forma legal”.

O SUS – Sistema Único de Saúde -, que tem 95% dos serviços especializados prestados por empresas privadas, também tem sofrido constantes ataques ao seu caráter público, a ponto de o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, Francisco Batista Júnior, ter declarado que "essa lógica (da privatização) vem se aprofundando. Privatizaram as ações, depois a força de trabalho e agora a gestão (…) privatização do SUS o inviabiliza, não tem sistema no mundo que resista” (portal terra 23/08/2010)

Para não dizer que são casos isolados, o prefeito petista de Osasco/SP, Emídio de Souza, também aplicou o mesmo projeto de transferência do gerenciamento da saúde pública para a iniciativa privada.

 

Pagamento da dívida externa: PSDB e PT engordam os agiotas

No ano de 2009,o país torrou R$ 380 bilhões para pagamento de serviços da dívida. Somando-se o pagamento dos juros, amortizações e a rolagem da dívida, este valor chega a quase 50% do orçamento do país, ou seja, metade do que o governo arrecadou foi parar nas contas dos agiotas nacionais e internacionais. Esse dado é a continuidade da política dos anos anteriores, pois em 2008, gastou-se mais R$ 282 bilhões que correspondem a 30,5% de tudo que foi arrecadado, e se considerarmos a rolagem da dívida – a emissão de títulos públicos para empurrar a dívida pra frente -, chega-se a 48% de todo o orçamento. Em 2007, segundo dados da “auditoria cidadã da dívida”, foram destinados 53,2% – R$ 237 bilhões – do orçamento da União para pagamento dos serviços da dívida, enquanto para a saúde o investimento foi de R$ 40 bilhões e para a educação, 20 bilhões. Em 2011, a previsão é que cerca de R$ 678 bilhões, num orçamento de R$ 2,05 trilhões, serão utilizados para refinanciar a dívida pública.

Para comprovar que essa é uma política tanto do PT quanto do PSDB, basta verificarmos pelos dados da CPI da dívida que, entre 1995 e 2008 – mandatos de FHC e Lula – foram pagos R$ 1,8 trilhão em juros e amortizações. Nesse mesmo período a dívida interna cresceu de R$ 61 bilhões para R$ 1,68 trilhão. O governo FHC decuplicou a dívida até 2002 e o governo Lula acrescentou um trilhão a esse montante.

Nem Serra e nem Dilma vão romper com esse modelo.

 

Educação: A Precarização como continuidade

Na educação, por mais que tente se apresentar como algo diferente, os fatos mostram que o governo do PT seguiu e até aprofundou a política estabelecida por FHC de cortes de verbas, precarização do ensino púbico e dos vínculos de contratação e de culpabilização dos professores pelos baixos índices de desempenho. Assim, criou o PDE (Plano de Desenvolvimento da  Educação) formulado partir das diretrizes do Compromisso Todos Pela Educação que, na verdade, expressa os interesses dos setores empresariais de transformar a grande maioria dos jovens em uma mão de obra precária e flexível que se adapte à nova realidade do mercado de trabalho, desprovida de qualquer senso crítico na sua relação com o conhecimento.           

Também, logo no início de seu governo, Lula expandiu o FUNDEF (criado no governo FHC) transformando-o em FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica). Esse mecanismo aprofundou a municipalização do Ensino, pois permite que os prefeitos recebam uma verba anual por aluno que o município absorver, verba essa que podem manusear livremente, abrindo espaço para a corrupção. Em várias cidades a gestão do PT firmou convênio com o governo estadual de Serra municipalizando o ensino, como em Diadema, Guarulhos e mantendo a municipalização em várias outras cidades, como em SBC.    

Neste ano, enquanto os professores do Estado estavam em greve contra a política de meritocracia do governo Serra, foram surpreendidos pelo governo Lula com o decreto federal nº 7.133, de 19/03/2010, que estabelececritérios e procedimentos para a realização das avaliações de desempenho individual e institucional e o pagamento das gratificações por mérito. Ou seja, a mesma política individualista de Serra e do PSDB!  

Encerrada a greve que também lutava contra o mecanismo das provas para os professores temporários, mecanismo esse que visa culpar os professores pela crise na educação e ao mesmo tempo justificar o desemprego, o governo federal publicou no dia 24/05/2010 a portaria em que formalizou a mesma prova em nível federal para os professores temporários!

Agora, durante sua campanha, Dilma deu entrevistas defendendo a criação do Promédio, um programa que pretende direcionar recursos públicos para redes de ensino privadas, ao invés de investir na melhoria da qualidade da educação pública. Os empresários do ensino particular agradecem!

Assim, para além das declarações, não há nenhuma medida de impacto que possa diferenciar o governo do PT  do PSDB quanto às políticas na Educação. No fundo tanto PT e seu bloco de sustentação (PMDB, PSB, etc) quanto o PSDB, DEM e agora o PV tratam de seguir as mesmas diretrizes do Banco Mundial e do FMI, órgãos gestores dos interesses do capitalismo e dos mercados financeiros na educação.  

 

Que futuro nos espera?

Ganhe quem ganhar no próximo governo, os trabalhadores precisam se preparar para um período de ataques aos nossos direitos. Esses ataques vão ocorrer pela necessidade objetiva do capital em responder à crise econômica que ocorre nos países centrais e que, mais cedo ou mais tarde, vai chegar ao Brasil. Outra questão importante é a “tradição” dos partidos burgueses brasileiros em agirem preventivamente com medidas que preservem o lucro dos capitalistas.

Um elemento que até poderá servir de balizamento para o apoio da burguesia à Dilma é o resultado eleitoral para o Congresso Nacional, que coloca o bloco liderado pelo PT em uma situação muito cômoda: o número de deputados e senadores eleitos garantem maioria do governo, inclusive para o quórum das reformas constitucionais. E não é de hoje que o Lula e o PT têm falado sobre a necessidade de reformas estruturais, reformas para garantir sustentação aos ganhos do capital e ataque aos trabalhadores.

Por outro lado, mesmo que Serra ganhe, o PT e seus aliados não devem se opor a qualquer ajuste encaminhado por Serra. O que deve acontecer é que utilizem o peso eleitoral para negociar alguns pontos dessas reformas sem, no entanto, impedir que elas aconteçam. Assim, o mais provável é que a burguesia utilize essa presença no parlamento para, desde o começo do ano que vem, iniciar o ataque contra os trabalhadores.

A única possibilidade de os trabalhadores assegurarem as poucas conquistas que nos restam é nos organizarmos para construir um processo de lutas e podermos avançar em outras conquistas. Se depender de Serra ou Dilma, os ataques aos direitos dos trabalhadores vão continuar porque eles vão governar para a burguesia.

Como se não bastasse o papel que o próximo governo vai desempenhar, há ainda o fato de que a direção majoritária do movimento sindical está incorporada ao Estado. Dizemos incorporada ao Estado porque a CUT já deu um salto de qualidade, e não só apóia o governo Lula, mas a gestão do capital que é mais amplo que o governo.  Isso se expressa também no que fazem nos sindicatos que, sob a sua gestão, atuam como parceiros das empresas. Isso não quer dizer que apoiarão o governo numa eventual vitória do PSDB, mas que a oposição será muito mais branda e atuarão também como parceiros desse governo.

 

A campanha da esquerda

A primeira coisa que nos chama a atenção é o fato de que o que vimos no processo eleitoral não foi um projeto de esquerda, mas candidaturas separadas, que inclusive disputavam entre si. Outra característica da campanha dos partidos de esquerda é que fizeram campanha para ganhar, como se isso fosse possível em uma eleição controlada pela burguesia. Com essa postura, abrem mão de fazer a disputa ideológica com a burguesia. Ao nosso ver, a campanha da esquerda não pode ter como centro da política ganhar votos, mas apresentar aos trabalhadores um projeto ideológico, com denúncias das mazelas do capitalismo, da democracia burguesa e acima de tudo colocar para os trabalhadores quais são as propostas da esquerda socialista para o país, ou seja, falar do não pagamento da dívida externa, da reforma agrária e urbana, do socialismo e da democracia operária como oposição à democracia burguesa.

No entanto, o que vimos no geral foi uma propaganda fragmentada e parcial em relação ao programa. O PCB, em que pese ter uma campanha mais programática, deixou de responder aos aspectos imediatos e conjunturais; o PSTU, mesmo apoiando as lutas, fez o contrário e se pautou em denúncias parciais e imediatas da realidade, deixando de lado, por exemplo, a denúncia da democracia burguesa. O PCO seguiu a mesma linha do PSTU, fazendo a campanha a partir de dois eixos programáticos. O PSOL, com os seus problemas de identidade de classe – apoio a Paim no RS, acordo com PTB no Amapá e outros -, não poderia cumprir o papel que os demais partidos não cumpriram.

É evidente que houve aspectos positivos, como a discussão sobre a homossexualidade, o apoio às lutas em curso, etc, mas o problema é que estavam limitadas pelo fato de as propostas estarem descoladas de um programa mais geral  de luta contra o capitalismo.

 

Pela unidade da esquerda

Mais uma vez se coloca com urgência a necessidade de que a esquerda se una para construir um projeto, que represente os interesses e as necessidades da classe trabalhadora, para enfrentar de maneira mais sistemática o projeto da burguesia que está em curso e foi vitorioso nas eleições.

Desde muito antes da campanha eleitoral temos insistido de que é necessária – e possível – a construção de um Movimento Político dos Trabalhadores, de forma a criar as condições para a intervenção da classe trabalhadora de conjunto no processo político, inclusive no âmbito eleitoral. Para nós, esse movimento primeiro tem que ser unitário e onde se incorpore a esquerda socialista; segundo, o programa desse movimento deve ser formulado num processo amplo de discussão com militantes e ativistas nas fábricas, escolas, bairros, etc. Partimos do pressuposto de que, se a esquerda não se unir, será muito difícil enfrentar a burguesia tanto no próximo período como nos próximos anos em que a crise estrutural do capital deve se manifestar de maneira mais dramática para a classe trabalhadora.

 

Nem Serra e nem Dilma: VOTO NULO

O segundo turno deve ser marcado por uma forte polarização entre Dilma e Serra, expressando a disputa que está em jogo que é quem vai aplicar o projeto burguês em curso no Brasil. Conforme demonstramos acima, as duas candidaturas estão no campo da burguesia, têm um programa burguês e se propõem a administrar o Estado para a burguesia.

Para nós, a participação no processo eleitoral deve se pautar em primeiro lugar pela independência de classe, e por um programa que expresse essa independência. Esse foi o critério que utilizamos para apoiar o PSTU no primeiro turno. E no segundo turno, não temos mais nenhuma candidatura que sequer se aproxime de um programa dos trabalhadores, pelo contrário, as duas candidaturas são do campo inimigo, ou seja, são candidaturas burguesas com um programa burguês contra os trabalhadores.

Por isso, a nossa campanha no segundo turno é pelo voto nulo, e junto com essa campanha pensamos que é muito importante continuarmos a defender um programa de ruptura com o capitalismo e explicar pacientemente para os trabalhadores que a única saída é a organização dos trabalhadores e a luta pelo socialismo.

 

 

A CLASSE TRABALHADORA EUROPÉIA EM LUTA CONTRA A CRISE

 

            Embora os Estados Unidos sejam o centro irradiador da crise mundial, as suas reverberações mais agudas se concentram nesse momento sobre o continente europeu. A diferença entre os dois maiores centros do capitalismo está em que, entre outros aspectos, os Estados Unidos detém o monopólio da emissão do dólar, moeda de reserva mundial, privilégio que os países europeus não possuem.

            Os Estados europeus membros da eurozona desobedecem sistematicamente os limites de endividamento (60% do PIB) e déficit público (3% ao ano) estabelecidos como critério para participação na moeda comum, o euro, na medida em que cada governo nacional precisa preservar os interesses da sua respectiva burguesia nacional, ou seja, entregar dinheiro público para salvar os negócios da sua fração da burguesia. Um conflito cada vez mais aberto se estabelece entre os Estados mais poderosos, em especial a Alemanha, e os mais fragilizados, como Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha (“PIGS”, ou seja, porcos, na sigla em inglês), ou mesmo a Itália, em torno da necessidade de controlar o endividamento público. A Alemanha, que representa a fração mais concentrada do capital europeu, e já realizou “reformas” no seu mercado de trabalho (ou seja, retirou direitos dos seus trabalhadores) num grau ainda não efetuado por outros países europeus,  está na liderança dos índices de crescimento do período pós-crise econômica (2,2% nos dois primeiros trimestres de 2010).

            Entretanto, para consolidar a recuperação, o imperialismo alemão precisa forçar as frações menores do capital europeu a aceitar as perdas com a crise. Dentro da lógica do capital, os mais fracos devem sempre ser sacrificados em função dos mais fortes. A pressão da burocracia da União Européia para que os governos do continente paguem suas dívidas na verdade emana do capital financeiro alemão. O interesse em forçar os países menores da Eurozona e também os membros da União Européia no leste europeu (que não participam do euro) a honrar suas dívidas decorre do fato de que  essas dívidas, na sua maioria, foram contraídas junto aos bancos dos países centrais, ou seja, Alemanha, França e Inglaterra. Isso significa que os governos dos países mais fracos precisam atacar os empregos, salários e condições de vida de suas populações para arrecadar o dinheiro necessário para salvar os bancos dos países mais ricos.

           

            O contágio da crise grega e as medidas de austeridade

            Enquanto os lucros da burguesia voltam aos níveis pré-crise, a taxa de desemprego média nos países da OCDE (os vinte e poucos países mais ricos do mundo) saltou de 5,6% para 8,3%. O caso mais dramático é o da Espanha, com um índice de 22%, chegando a 40% para trabalhadores entre 18 e 24 anos.

            No início deste ano, a crise do endividamento explodiu na Grécia, quando se tornou patente que o governo do país não seria capaz de pagar suas dívidas. Imediatamente, foi armado um pacote de €$ 100 bilhões de euros para o governo grego, em maio. Entretanto, o tiro saiu pela culatra, pois o mercado identificou claramente que a fonte da crise estava nos bancos europeus, “contaminados” com títulos “tóxicos” de países extremamente endividados. Para conter uma crise bancária e financeira ainda maior que a de 2008, a União Européia e o FMI desembolsaram um pacote ainda maior, de €$ 750 bilhões em garantias para países ultra-endividados, em junho, o qual acalmou o mercado.

            Entretanto, tão logo saíram os pacotes de ajuda aos bancos, no intervalo de semanas, ou meses, a conta foi repassada aos trabalhadores. A partir de junho de 2010, os governos europeus anunciaram pacotes de redução de gastos, as chamadas “medidas de austeridade”, para recuperar o dinheiro gasto salvando os bancos: 100 bilhões de libras na Inglaterra, 42 bilhões de libras na Escócia, €$ 80 bilhões na Alemanha, €$ 75 bilhões na Rússia €$ 70 bilhões na França, €$ 25 bilhões na Itália, €$ 15 bilhões na Espanha, e assim por diante. Os pacotes incluem aumento de impostos sobre consumo (que agravam principalmente os mais pobres), aumento do tempo para aposentadoria, redução e congelamento dos salários dos servidores, cortes nos gastos públicos (saúde, educação, transportes, etc.), facilidades para demissões e redução das indenizações aos trabalhadores do setor privado, etc. Eslováquia, Bulgária, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Irlanda, Romênia, Polônia, Rep. Tcheca; governados por partidos da direita clássica ou da velha “esquerda” social-democrata, todos anunciaram pacotes de bilhões de euros em cortes de gastos sociais e aumentos de impostos.

 

            Trabalhadores europeus reagem contra a crise

            Evidentemente, nada disso foi combinado com o adversário, ou seja, a classe trabalhadora. Na medida em que os governos anunciam suas medidas, os trabalhadores se mobilizam. Greves gerais, greves de servidores públicos, greves nacionais de categorias de peso (caminhoneiros na Grécia, ferroviários na Espanha), manifestações de massa, ação direta, bloqueios de estradas, etc., se generalizam no continente. A Grécia, que foi o estopim da atual fase da crise, enfrentou seis greves gerais em maio, algumas com contornos semi-insurrecionais. As greves nacionais por categoria continuaram explodindo e vários países e estão em curso neste momento, assim como manifestações de massa contra as reformas trabalhistas, reformas das aposentadorias, etc. Entre setembro e outubro, foi a vez da França enfrentar a greve dos servidores e da Espanha enfrentar a greve geral.

            A magnitude das mobilizações permite dizer que a Europa ocupa nesse momento o centro da conjuntura da luta de classes mundial. O proletariado europeu é o depositário de séculos de lutas contra o capital, herdeiro de guerras, revoluções, revoltas, protestos, greves, piquetes que se levantaram por séculos em nome da emancipação da classe. Essas lutas se materializaram em conquistas sociais importantes, como os altos salários, o nível de emprego, a estabilidade, a duração da jornada, as férias, descansos e licenças, o seguro-desemprego, a assistência social, as aposentadorias, a saúde e a educação públicas, etc. Agora, com o agravamento da crise estrutural do capital, a burguesia tenta reverter essas conquistas históricas.

 

            A crise da alternativa socialista

            A resistência dos trabalhadores em face desses ataques torna-se cada vez mais massiva. Mas a retomada da tradição de luta do proletariado europeu enfrenta um sério obstáculo, a crise da alternativa socialista. Desde a queda da URSS e dos Estados do leste europeu, o socialismo foi alvo de uma violenta campanha política e ideológica de desmoralização, de tal sorte que a idéia de uma alternativa socialista ao capitalismo está ausente ou desacreditada na consciência da maioria dos trabalhadores.

            Sem um projeto alternativo de sociedade a ser apresentado em substituição ao capitalismo, a luta acaba se limitando a medidas defensivas que não rompem com a ordem estabelecida. O discurso dos trabalhadores em mobilização é tão somente contra a “injustiça” das medidas de austeridade, por meio das quais os governantes querem obrigá-los a pagar pelos “erros” dos especuladores. Esse discurso não se eleva ao nível da consciência de que não se trata de erros “acidentais” de gestores mal-intencionados e de injustiças eventuais, mas de uma lógica social capitalista que inevitavelmente produz crises. Essa lógica social não pode ser atenuada ou controlada por medidas parciais, nem muito menos “humanizada”, pois a alienação está na sua própria essência.

            Não existe saída vitoriosa e definitiva para a luta dos trabalhadores europeus que não a ofensiva pela destruição do capitalismo. Portanto, é positivo que o proletariado europeu tenha se colocado em movimento, mas é preciso que no movimento e na luta em defesa das condições de vida seja forjada uma consciência socialista renovada. Um obstáculo político a ser superado para a reconstrução de uma consciência socialista de massa, além da própria ideologia burguesa que predomina no senso comum dos trabalhadores, é composto pelos partidos políticos e direções sindicais da antiga esquerda, de diversas tradições reformistas, social-democratas, stalinistas e ex-revolucionárias, todas hoje convertidas em instrumentos auxiliares da administração do capitalismo.

 

            As lutas devem ir além da ordem do capital!

            As lutas desse período têm seguido um padrão: o governo anuncia pacotes de austeridade, os trabalhadores se revoltam nas bases e pressionam os sindicatos para a greve, a burocracia sindical (que em geral apóia os partidos reformistas nas eleições) ameaça marcar greves contra as medidas dos governos, mas não define a data, depois cede à pressão das bases e marca a greve, mas na hora H suspende a greve para entrar em novas negociações com o Estado (cujos dirigentes em muitos casos ajudaram a eleger), para dar tempo a que as medidas de austeridade sejam aprovadas nos parlamentos, depois permite que as greves aconteçam, para liberar a pressão acumulada, mas sem que haja mais tempo para reverter as medidas. Mesmo assim, as greves e ações de massa seguem reunindo multidões impressionantes de trabalhadores, como não se viam há décadas no continente.

            A saída passa portanto pela construção de organismos que rompam com as burocracias, organizem ações diretas e radicais, com bloqueios de estradas, piquetes e ocupações que ataquem a continuidade dos negócios da burguesia. Somente através da luta radicalizada, da independência de classe e da coesão ideológica em torno de uma alternativa socialista os trabalhadores podem adquirir consciência e confiança nas próprias forças e colocar em cheque o poder do capital.

            Em defesa das conquistas históricas dos trabalhadores! Em defesa dos salários, da aposentadoria, dos direitos sociais e dos serviços públicos! Cancelamento das dívidas públicas com os especuladores! Estatização do sistema financeiro, sob controle dos trabalhadores!

            Abaixo a burocracia sindical e os partidos “socialistas” e stalinistas a serviço do capital! Pela organização independente dos trabalhadores! Por um movimento político dos trabalhadores, rumo ao socialismo!

 

           

Que Educação Defendemos?

 

                                                                  (Fogo Monteiro, Alexandre Ferraz e Cláudio Santana)

 

Para além das mazelas estabelecidas nos marcos da luta pela educação enquanto pólo de “salvação social”, a questão aqui abordada busca colocar a educação como problema chave na superação do capital, porém destacando o seu papel fundamental para o próprio sistema do capital.

Marx trata esta questão, em seu terceiro ponto das “Teses sobre Feuerbach”, da seguinte forma: “ A teoria materialista de que os homens são produto das circunstâncias e da educação e de que, portanto, homens modificados são produto de circunstâncias diferentes e de educação modificada, esquece que as circunstâncias são modificadas precisamente pelos homens e que o próprio educador precisa ser educado. Leva, pois, forçosamente, à divisão da sociedade em duas partes, uma das quais se sobrepõe à sociedade (como, por exemplo, em Robert Owen). A coincidência da modificação das circunstâncias e da atividade humana só pode ser apreendida e racionalmente compreendida como prática transformadora.”

A importância desta observação de Marx está justamente no fato de que a educação não é algo externo às circunstâncias sociais históricas, mas antes parte constitutiva do tecido social em questão, na atual conjuntura histórica: o sistema do capital. Logo, a transformação da educação e das circunstâncias sociais não podem ser concebidas separadamente, porque estão intrinsecamente ligadas e sua superação depende da prática transformadora dos homens.

Esta afirmação tem importância particular, ao demonstrar que a transformação da educação passa necessariamente pela transformação da lógica da reprodução capitalista, inviabilizando assim, enquanto possibilidade transformadora, a mera transformação da educação como agente transformador do quadro social estabelecido.

Uma outra importante constatação de Marx aparece no primeiro parágrafo de “O Capital” e diz:  “A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma ‘imensa coleção de mercadorias’…”. Dentro desta aparência imediata que Marx apreende em suas análises, está uma das principais características do sistema capitalista, notadamente a produção de mercadorias e a transformação de todos os aspectos da vida social em mercado.

Sendo assim, a educação enquanto produto histórico é colocada inevitavelmente no âmbito da produção capitalista, não apenas como reprodutora dos valores essenciais da sociedade capitalista burguesa, e como formadora técnica da mão-de-obra necessária para a produção do capital, mas sobretudo como mais uma mercadoria dentre todas as outras. Sendo assim, não é nada surpreendente que dentro da lógica expansiva do capital, a educação tenha se transformado em um grande mercado capitalista, que atende às necessidades de formação de mão-de-obra (barata, no caso brasileiro), mas também enquanto mercadoria vendida como se vende qualquer outro produto.

Estas constatações, porém, não significam que a luta pelo acesso à educação (ainda que burguesa) não seja importante, e isto fica evidente quando falamos do caso brasileiro.

Afinal como disse Guevara: “Um povo que não sabe ler nem escrever é fácil de ser enganado.”

Por isso, é tarefa dos socialistas é lutar sempre pela qualidade e pelo acesso à educação, com vistas a expandir as possibilidades de debate e de compreensão da classe trabalhadora sobre a necessidade histórica de superação do regime do capital.

 

O acesso do trabalhador no ensino superior e os interesses do capital:

No que se refere ao ensino superior no Brasil,  apenas 4% da população tem acesso a este, sendo que estão matriculados nas universidades públicas do país majoritariamente os membros dos 20% mais ricos da população. Está situação tem contribuído diretamente para o controle social da classe trabalhadora brasileira, por meio da exclusão cultural, o que significa que a luta pela educação pública, gratuita, de qualidade e acessível faz parte do embate com os interesses do capital e contribuem para a luta pela emancipação da classe trabalhadora.

Hoje no Brasil, a educação é parte essencial do projeto de expansão do capitalismo mundial e do processo de reestruturação produtiva empreendido desde as décadas de 80/90 com as políticas neoliberais, a terceirização da mão-de-obra e a redução da classe trabalhadora diretamente engajada no processo de produção.

As novas tecnologias implantadas na produção – com vistas a reduzir o número de trabalhadores diretos engajados nesta produção e os empecilhos do sindicalismo de massas – forçaram a ampliação do ensino técnico e do acesso às tecnologias microeletrônicas – não surpreendem os gritos dos próprios capitalistas por inclusão digital -, e desta forma a ampliação do número de pessoas que ingressam no ensino superior está ligada a esta necessidade imperativa do capital em formar mão-de-obra barata e qualificada para dar cabo da nova demanda da produção capitalista. Por outro lado, essas tecnologias expandiram os negócios capitalistas e a especulação na educação, por meio das universidades privadas e a mais grave transferência de recursos públicos através de projetos federais como o PROUNI e o FIES.

O ensino público do país vem sendo extirpado em favorecimento direto aos especuladores da educação, e o acesso fictício dos trabalhadores à educação superior representa apenas a expansão do ensino técnico nas universidades, para a formação de mão-de-obra barata qualificada.

Atendendo assim aos interesses especulativos do capital na educação é que assistimos ao desmantelamento das universidades públicas e ao processo de privatizações do ensino superior no Brasil.

 

AS FORMAS DE ACESSO À EDUCAÇÃO PROMOVIDAS PELO CAPITAL

 

PROUNI e PROMÉDIO, FATECs, escolas técnicas e cursos profissionalizantes

Com base em uma demanda real dos setores mais explorados entre os jovens – incluindo os negros que vinham ampliando sua luta contra o racismo e pela inclusão no ensino universitário –, o governo Lula/PT teve como política a criação do PROUNI.

A partir daí, o PROUNI foi apresentado como a grande política para a inclusão dos jovens trabalhadores e de periferia no Ensino Universitário, e aplaudido como avanço, inclusive por segmentos importantes dos movimentos sociais, do movimento negro, embora também seja verdade que houve setores críticos. No entanto, através de um olhar mais profundo é possível constatar que o PROUNI tem sido uma forma de atender a duas necessidades do capital:

 a) Ampliar a formação rápida de uma mão-de-obra com nível universitário como um diferencial limitado, em cursos de curta duração, de modo a exercer uma pressão para baixo em termos salariais e de direitos ligados a essas profissões.

b) Salvar grandes grupos de empresas (inclusive internacionais) que compraram redes que nos anos 90 apostaram a fundo no mercado de cursos universitários, e que passavam por dificuldades devido à saturação desse mercado. Assim, o estado entrou para contrabalancear um mecanismo natural do capitalismo, que seria a falência pura e simples dessas faculdades.

Uma das áreas com maior quantidade de cursos disponibilizados pelo PROUNI é a de licenciatura, destinada a formar professores que geralmente vão trabalhar nas escolas públicas.

Há uma profunda ligação entre a precariedade da formação desses profissionais e a precarização das condições de contratação e salários a que estão cada vez mais submetidos, pois o estado, ao mesmo tempo em que é o agente da precarização da formação acadêmica, usa o argumento – quando quer justificar uma política de corte de direitos e de rebaixamento salarial – de que esses profissionais não atendem aos pré-requisitos desejados pelo governos e que, em última instância, são os responsáveis pela baixa qualidade do ensino.

 

PROMÉDIO, a aplicação do PROUNI ao ensino médio

  “Batizado de ProMédio, o programa é um dos itens presentes na proposta de programa de governo entregue pelo PMDB, partido de Michel Temer, vice de Dilma, ao PT, e propõe a expansão do sistema que vigora hoje no ProUni, que distribui bolsas de estudo em instituições privadas, ampliando-as para os ensino Fundamental e Médio.” (www.uol.com.br – 2010/07/19)

Já no Estado de São Paulo, Serra criou o “Programa de Aperfeiçoamento em Idiomas, da Secretaria de Estado da Educação. A iniciativa disponibiliza cursos gratuitos de inglês, espanhol e francês em 586 escolas de idiomas particulares conveniadas com o governo do Estado. O investimento é de R$ 296 milhões e são oferecidas 362.539 vagas.” (noticias.terra.com.br 18/03/2010)

 

Cursos à distância

 A gigantesca expansão do EAD (Ensino à Distância) representa de modo mais nítido essa lógica perversa de subordinação total da educação aos interesses do capital, pois a qualidade é sacrificada de vez em função da formação imediatista e mercantilizada de profissionais. “Em 2000, o Brasil tinha apenas 1.682 alunos no ensino a distância, segundo censo da educação superior do Inep –órgão do MEC. Em 2009, já eram 814.183, segundo a Secretaria de Educação a Distância.” (http://www.observatoriodaead.com/2010/02/)

 

ETEC’s, FATEC’s, SENAI’s – Formação Tecnicista, Destituída de Reflexão

Outras formas de ensino apregoadas como modos de inserção dos jovens no mercado de trabalho têm sido as ETEC’s, FATEC’s, SENAI’s e cursos profissionalizantes implantados inclusive em parcerias entre o estado e empresas.

Esses cursos têm um certo reconhecimento em termos de formação de uma mão-de-obra com maior qualidade, mas uma qualidade que serve apenas aos interesses empresariais, destituída de crítica e de reflexão, a partir de um contato pragmático e superficial com o conhecimento.

Katlin Cristina de Castilho, em seu estudo sobre “Estudar e Aprender de Alunos do PROUNI” e de outras instituições voltadas para a formação de mão-de-obra, afirma:   “Estas instituições que se voltam à profissionalização priorizam a formação condicionada pelas determinações do mercado de caráter instrumental e pela aprendizagem de conhecimentos “úteis” à atuação profissional, que não implicam necessariamente a pesquisa, a discussão e a análise (…) Esta formação – ideologicamente ajustada às configurações flexíveis da economia e da sociedade contemporânea – se caracteriza pela aprendizagem rápida e fácil de conhecimentos transmitidos pelos professores, na maioria das vezes resumidamente, e que, em suma, são aceitos pelo público de estudantes sem que sejam compreendidos os embates teóricos e científicos próprios do desenvolvimento do conhecimento (…) “Tal profissionalização não implica, ao estudante, desenvolvimento de uma postura epistemológica crítica frente ao conhecimento e ao mundo, ou, como esclarece Robinson Santos, tem como resultado: “pessoas incapazes de estabelecer relações entre fatos, de analisar situações e debater sobre temas que fazem parte do cotidiano numa perspectiva global e crítica. Tecnicamente são ‘experts’, mas sócio, política e culturalmente alienadas”.

Isso se dá em um processo destinado à formação que não tenha compreensão dos aspectos sociais, econômicos e políticos envolvidos na constituição do conhecimento e no papel da educação em sua dimensão mais ampla (histórica e crítica).

 

Que Educação devemos defender?

Em uma abordagem transformadora, a educação deve estar situada numa dimensão mais ampla, como parte da relação dos indivíduos com a realidade prática em que vivem, para além portanto da sala de aula e da preparação para o mundo do trabalho, numa formação global e interativa, que esteja vinculada às necessidades gerais e concretas dos trabalhadores, de modo que se apropriem dos processos teóricos e metodológicos envolvidos na produção do conhecimento.

Essa dimensão educacional implica uma profunda ligação e engajamento consciente com a luta de classes e com seus desdobramentos nos campos econômico, político, ambiental, científico, de gênero, racial, filosófico, enfim, de todos os aspectos vinculados à produção do conhecimento. Requer portanto a ruptura com os limites do capital e a combinação entre a expropriação da burguesia do controle do conhecimento e da pesquisa científica – o que logicamente implica a luta pela expropriação dos meios de produção – e sua transformação em propriedade coletiva sob controle dos trabalhadores.

 

Como parte de um programa de transição para a Educação defendemos:

  • Investimento já de 10% do PIB na Educação, rumo aos 13%!!
  • Para viabilizar esse investimento: não pagamento das dívidas públicas, interna e externa, e investimento desse dinheiro nos serviços públicos, sob controle dos trabalhadores, em especial na educação, saúde, moradia, transporte, cultura e lazer;
  • Verbas públicas apenas para instituições públicas! Estatização sem indenização das redes de ensino privadas, sob controle dos trabalhadores;
  • Fim da remessa de verbas públicas para instituições privadas (PROUNI, PROMEDIO, etc). Criação de vagas suficientes a partir da Expansão das Universidades Públicas, de modo que todo jovem tenha acesso ao ensino superior, possibilitando o fim do vestibular;
  • Que o estudo seja considerado parte da jornada de trabalho, sem redução do salário;
  • Cotas proporcionais para negros e negras em todos as universidades e cursos;
  • Democratização das Universidades com a composição paritária nos órgãos de deliberação das Universidades e Escolas (1/3 de professores, 1/3 de funcionários e 1/3 de alunos) e sem ingerência dos governos e empresas;
  • Produção do conhecimento voltada para as necessidades dos trabalhadores e da humanidade, e não do capital.               

A Educação global dos trabalhadores precisa ser parte do programa da emancipação socialista, e como tal deve ser incorporada à luta dos vários setores e categorias dos trabalhadores do campo e da cidade. É necessário ir além dos muros das escolas e universidades. Os trabalhadores, de um modo geral, precisam participar das discussões sobre a qualidade de ensino e da luta dos estudantes e professores. Os sindicatos, sobretudo os de esquerda, devem romper com os limites corporativistas e discutir no âmbito de suas categorias os problemas da educação, como parte da luta por um poder dos trabalhadores apoiado em suas organizações de base, rumo  socialismo.

 

 

BANCÁRIOS EM GREVE! CONTRA OS BANQUEIROS, O GOVERNO LULA/PT E A BUROCRACIA SINDICAL!

            A greve nacional dos bancários é a principal luta em curso no país, em pleno período das eleições. Para explicar o significado político desta greve, podemos partir do lucro dos maiores bancos do país, que subiu em média 54,4% em relação a 2009. Entra governo, sai governo, com crise ou sem crise, os lucros dos bancos aumentam 30, 40, 50% todos os anos. Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, alcançam lucros de 8, 9, 10 bilhões de reais a cada ano, e sempre aumentando. Os bancos brasileiros estão entre as empresas mais lucrativas do mundo. Um verdadeiro “negócio da China”.

            Esses lucros gigantescos são conseguidos por meio da especulação com títulos da dívida pública, por meio da extorsão dos clientes, dos juros elevados em cheque especial e cartões de crédito, das tarifas abusivas cobradas pelos serviços, e da venda de “produtos” bancários (capitalização, previdência, seguros, consórcios, etc.), muitas vezes “empurrados” sobre os clientes na forma de venda casada, como condição para conceder empréstimos, que também aumentam ano a ano. E também da exploração dos trabalhadores bancários, cujos salários são reajustados por índices ínfimos, de 4, 5, 6% ao ano, segundo a inflação oficial. Em todas as agências e departamentos existe sobrecarga de serviço, com dois ou três bancários fazendo o serviço que deveria ser de quatro ou cinco trabalhadores. As filas para o atendimento são enormes, as reclamações e até agressões do público são constantes, mas os gestores só estão preocupados com o atingimento das metas de vendas, pois disso dependem os bônus milionários que eles e as diretorias dos bancos recebem. O assédio moral, as agressões verbais e ameaças de perda de cargos e até de demissão se transformaram em ferramentas cotidianas de gestão. O adoecimento físico e psicológico atinge grande parte da categoria bancária.

 

            A organização da categoria bancária

            Por todos esses motivos, os trabalhadores bancários entraram em greve nacional desde 28/09. Para explicar a greve, é preciso explicar como se organiza a categoria bancária em nível nacional. Existem cerca de 400 mil trabalhadores bancários no país (excetuando cerca de 200 mil terceirizados e correspondentes), sendo que metade trabalha em bancos privados e metade em públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e bancos estaduais remanescentes). Deste total, cerca de 120 mil estão na base sindical da cidade de São Paulo, principal centro econômico do país, sendo que nesta base a proporção é de 80% em bancos privados e 20% nos públicos. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, dirigido pela Articulação/PT e filiado à Contraf/CUT, é o mais importante do país, capaz de ditar a linha política dos demais sindicatos do país (com algumas exceções, pois há sindicatos combativos não centralizados pela CUT em outras bases, como Rio Grande do Norte, Maranhão e Bauru).

            A Articulação está reivindicando 11% de reajuste, uma ninharia comparada com os lucros dos bancos, e com as perdas da categoria, que chegam a 24% em privados, 80% no BB e 90% na CEF. Os banqueiros ofereceram 4,29% antes da greve, subindo para 6,5% com o movimento.

            A greve é muito forte nos bancos públicos. Há Estados em que a paralisação atinge índices de 100%, com todas as agências e departamentos fechados. Entretanto, nos bancos privados, uma vez que não há organização interna dos trabalhadores, por conta de décadas de omissão da CUT, de sua política de colaboração de classe, do acordo geral do PT com os banqueiros, etc., não há adesão à greve “de dentro para fora”. Assim, a maior parte das agências está funcionando normalmente nos bancos privados de São Paulo, o que faz com que os banqueiros se sintam confortáveis para não fazer concessões e acertar acordos rebaixados.

 

            A burocracia sindical como obstáculo para as conquistas

            Isso cria um problema para a Articulação, que precisa forçar os trabalhadores dos bancos públicos, onde a greve é muito forte, a aceitar os índices rebaixados. Para isso, a burocracia sindical usa a estratégia da Mesa Única, ou seja, um formato de negociação em que o índice de reajuste e demais cláusulas econômicas da convenção coletiva nacional da categoria é negociada numa mesa comum que reúne públicos e privados. Essa estratégia impede que os trabalhadores de bancos públicos negociem diretamente com o governo federal, patrão dos bancos públicos, que além de se limitar a pagar os índices rebaixados da Mesa Única da FENABAN (federação patronal dos bancos), pode empurrar as questões específicas dos bancos públicos (isonomia entre funcionários novos e antigos, planos de cargos e salários, plano odontológico, etc.) para as mesas de negociação (enrolação) permanente.

            Confiante no mecanismo da Mesa Única para segurar os trabalhadores de bancos públicos, e mais ainda, confiante de que Dilma Roussef venceria as eleiç&oti

Leia mais

PARA ACABAR COM O CRIME, SÓ COM O FIM DO CAPITALISMO

Nota do Espaço Socialista
 
PARA ACABAR COM O CRIME, SÓ COM O FIM DO CAPITALISMO

A ocupação dos morros

No final de novembro deste ano a cidade do Rio de Janeiro foi assolada por uma guerra entre organizações criminosas e forças da repressão. A guerra teve episódios de terrorismo, com carros incendiados e outros incidentes que se multiplicaram pela cidade, com os criminosos tentando amedrontar a população e intimidar a polícia e o Estado. A ousadia dos traficantes ao afrontar o Estado mostra que o crime cresceu demais e "desceu do morro". O tráfico havia instituído um poder paralelo na periferia. Esse poder não pôde ser aceito pela burguesia. Os ataques dos traficantes precipitaram a invasão das favelas, pois a mídia divulgou maciçamente as ações e exigiu providências.
O governo já vinha implantando as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em favelas menores, já vinha fazendo obras nos morros e ocupando parcialmente alguns espaços. Mas diante da sensação de perda de controle, inadmissível para o Estado burguês, o governo optou pelo enfrentamento direto e partiu para uma verdadeira ofensiva militar, que mobilizou forças do BOPE, do exército e apoio da marinha, e culminou com a ocupação da favela de Vila Cruzeiro, parte do chamado complexo do Alemão. Os chefes da facção criminosa que reinava em Vila Cruzeiro não foram presos, mas a ocupação do morro foi comemorada como uma espécie de ponto de virada da "guerra contra o crime".
A grande novidade de mais esse episódio é o fato de que a população de modo geral apoiou a ação policial. E não só a população dos bairros de classe média, mas a própria população dos morros recebeu a ocupação e a expulsão das quadrilhas de traficantes com uma certa sensação de alívio. Houve uma mudança na relação entre os traficantes e a população. Tradicionalmente, pela ausência do Estado, as quadrilhas de traficantes cumpriam um papel de assistência social, fazendo pequenos favores à população que de certa forma legitimavam sua presença. No período recente, o Estado continuou ausente e as mesmas carências materiais se mantiveram, mas os programas de bolsa passaram a suprir certas necessidades mínimas. Com isso, o tráfico se tornou desnecessário e o que passou a prevalecer foi apenas o aspecto opressivo de sua relação com a população, ou seja, as agressões, os abusos, o autoritarismo, a ditadura cotidiana, o cerceamento do direito de ir e vir, os tiroteios, etc. Com isso, a população passou a sentir a saída dos traficantes como uma espécie de libertação.
Entretanto, a solução representada pela ocupação policial está longe de ser definitiva. Depois de perder espaço numa determinada localidade, o tráfico vai se reorganizar. Os grandes traficantes escaparam, a polícia matou e prendeu apenas os seus soldados. A ocupação de uma favela apenas desloca os criminosos para as outras, que continuam sob controle das facções do crime. O tráfico de drogas continuará funcionando, o que por sua vez continuará alimentando o tráfico de armas, assim como a corrupção policial. Enquanto houver miséria e falta de perspectiva nas favelas, haverá jovens dispostos a se engajar no crime, conforme discutiremos adiante. E enquanto permanecer o sistema capitalista, a miséria vai continuar.

O projeto da burguesia

A ofensiva policial é parte de um projeto que visa formatar o Rio de Janeiro para receber os jogos da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. A burguesia carioca tem o projeto de reconstruir a imagem do Rio como cartão postal do Brasil e de explorar o potencial de beleza natural da cidade por meio do turismo, um ramo de negócio em que o país ainda está engatinhando. Esse projeto exigirá a desocupação dos morros, ou seja, a remoção de comunidades inteiras. O combate ao crime e a ocupação policial das favelas são apenas pretextos para iniciar as operações que culminarão na remoção da população dos morros, numa verdadeira operação de "higiene social". A burguesia brasileira tem um projeto de país, um projeto materializado na candidatura Dilma, que visa apresentar o Brasil como um país bem-sucedido, lucrativo e acima de tudo, em ordem, ou seja, livre de distúrbios de qualquer espécie, pronto para fornecer lucros abundantes para a burguesia mundial.
A curto prazo, a ocupação das favelas pode proporcionar uma sensação momentânea de alívio, mas em longo prazo os problemas vão continuar. Não só o crime vai continuar existindo e disputando espaço com o Estado, mas essa própria presença do Estado assumirá um aspecto cada vez mais repressivo sobre a população. A intervenção policial aponta para a construção de uma forma de controle social que impede a auto-organização da população. Evidentemente, a solução não seria a continuidade do crime, mas o enfrentamento da miséria capitalista, a melhoria nas condições de vida da população pobre, a sua auto-organização, o fim da corrupção policial e de seus métodos violentos, entre outras medidas que exigem questionar a fundo a ordem social vigente.

Os aspectos ideológicos

As operações de guerra foram amplificadas pela mídia de modo a gerar uma verdadeira histeria nacional. A "guerra contra o crime" virou uma espécie de "reality show". Os programas policiais, com seu discurso fascistóide, ocuparam o horário nobre da TV, ou melhor ocuparam todos os horários, com "flashes" e opiniões sendo emitidos em todos os programas pela voz de todo tipo de celebridade. O caráter fascista desse discurso está na substituição de uma explicação científica real para as causas sociais profundas da violência por uma mitologia simplista, superficial e maniqueísta, que divide a realidade em heróis e vilões. A mídia não abre espaço para a reflexão, pois seu principal produto é a ação constante. O show deve continuar. Além desse aspecto do espetáculo e da excitação ininterrupta, que bloqueia a reflexão, a mídia faz também uma defesa ideológica pesada da intervenção armada. A mídia burguesa toma partido abertamente em favor de um tipo de Estado mais autoritário e militarizado. Essa defesa é precedida da construção do mito do policial herói e incorruptível por filmes como os dois "Tropa de Elite".
É curioso destacar que a cocaína não foi apreendida na ocupação de Vila Cruzeiro e sim a maconha. A repressão ao consumo da maconha, uma droga muito popular entre a juventude de classe média e a intelectualidade "de esquerda" tem um conteúdo mais moralista e um objetivo ideológico preciso. Essa repressão tem a função de culpabilizar esse setor da população, identificá-lo com o próprio tráfico e desmoralizar qualquer tipo de crítica ou objeção à ocupação policial. O usuário de maconha fica identificado com o criminoso e impossibilitado de emitir qualquer opinião contrária à do consenso fabricado e da unanimidade em favor da ação armada do Estado. O discurso do "ou está conosco ou está contra nós" bloqueia antecipadamente qualquer crítica à guerra contra o crime. Quem se coloca contra a ação militar acaba sendo acusado de partidário do crime, quando se trata de coisas absolutamente diferentes. Não se ignora que o crime seja um problema, mas sim trata-se de dizer que a guerra não é a solução. Trata-se de olhar além da superfície do espetáculo.

As instituições policiais

A histeria criada pela mídia em torno da ação policial forjou um clima de guerra, de tudo ou nada, de mocinhos X bandidos, que funciona como meio de legitimar a intervenção policial e o uso da força. Isso é parte de um processo de direitização e fascistização social que visa bloquear e impedir qualquer tipo de luta, manifestação e crítica contra a ordem social vigente. O crime é somente um pretexto conveniente para legitimar o autoritarismo. Mesmo porque, o crime vai continuar existindo. Milícias e grupos para-militares continuarão explorando negócios criminosos e oprimindo a população pobre. Em países como a Colômbia, as milícias de extrema-direita (AUC) são financiadas por narcotraficantes, atuam com a conivência da polícia e do exército e massacram sistematicamente lideranças indígenas, camponesas, sindicais e populares.
O uso da força armada pelo Estado é parte de um contexto global de crise societal, em que a burguesia tende a recorrer a soluções cada vez mais duras para administrar as contradições do capitalismo. As guerras de invasão imperialistas, golpes de Estado, recrudescimento da repressão, criminalização dos movimentos sociais, perseguição aos ativistas e militantes, reorganização de forças de extrema-direita e neofascistas, racistas, xenofóbicas, etc.; são medidas cada vez mais comuns no momento histórico atual, diante da necessidade da burguesia de derrotar qualquer forma de resistência da classe trabalhadora ou impedir preventivamente as suas lutas. A ocupação do Haiti por tropas brasileiras é apenas mais um exemplo desse tipo de operativo que se multiplica em várias regiões do planeta, e também uma espécie de ensaio para a ocupação das próprias favelas brasileiras.
A ocupação policial de um morro ou favela é um paliativo que não vai resolver o problema do crime. O Estado não tem condições financeiras de manter um aparato policial capaz de ocupar todos os morros, favelas e periferias. A ocupação acaba assim abrindo espaço para as milícias. Os agentes do aparato policial acabam "suprindo" a falta de condições do Estado agindo por conta própria, "privatizando" informalmente a segurança pública, extrapolando o seu mandato legal e usando o seu acesso a armas de fogo para converter-se, no seu tempo livre, em integrantes de milícias, grupos para-militares, forças de segurança privadas, etc., que não passam de outro tipo de organizações criminosas, as quais submetem as populações pobres a um reino de terror tão opressivo, arbitrário e cruel quanto o que era criado pelos traficantes.
A cultura e os métodos de ação da polícia brasileira são determinados pelo seu formato, único no mundo, de uma polícia de tipo militar, ao lado da polícia civil. A polícia militar, subordinada aos governos estaduais, tem uma estrutura de exército, um exército que existe para combater um inimigo, um inimigo que, na ausência de uma guerra real, só pode ser um inimigo interno, ou seja, o próprio povo brasileiro, a classe trabalhadora. A polícia militar brasileira é treinada e educada para reprimir os trabalhadores, reprimir as greves, as ocupações de terra, as manifestações, como se fossem atos criminosos. A polícia militar funciona como tropa mercenária da classe dominante. Quanto ao crime propriamente dito, boa parte da polícia militar acaba por se associar a ele, vivendo de propinas, subornos e "arregos" dos traficantes e outros criminosos. Evidentemente, esses defeitos não são exclusivos da polícia militar, pois grassam também na civil e nas tropas de elite, ao contrário do mito veiculado pelo cinema nacional. Mas é preciso ressaltar o quanto há de aberrante em uma polícia concebida para tratar o próprio povo como inimigo. A guerra contra o crime nas favelas e periferias representa uma forma de continuidade da longa e sistemática guerra de extermínio perpetrada pela classe dominante brasileira contra os negros, os nordestinos, os pobres em geral, marcada por episódios como o de Palmares, Canudos, Contestado, o cangaço, as revoltas da chibata e da vacina, Corumbiara, Carajás, etc. Tudo isso acabou convergindo para a herança de uma polícia que além de corrupta e violenta, incompetente e arbitrária, é ideologicamente ultra-reacionária, machista, racista e homofóbica.

As raízes sociais profundas

Para fugir dos falsos debates e entender o significado real da "guerra" do Estado contra o crime organizado é preciso abordar com mais profundidade o significado do crime como fenômeno social. Num exame mais aprofundado da questão, o primeiro aspecto a ser destacado é o fato de que o crime é produto da miséria produzida pelo capitalismo. É a miséria generalizada nas periferias que empurra os jovens para a opção de uma "carreira" nas organizações criminosas, fato que por si só já serve como uma eloqüente denúncia da inviabilidade do sistema capitalista. Sem emprego, sem condições de trabalho, sem salários suficientes para as necessidades, sem moradia, saneamento básico, serviços públicos, saúde, educação, etc., a realidade na periferia é tão miserável que o crime acaba se tornando uma opção.
Diante da perspectiva do desemprego, subemprego, superexploração e carências materiais básicas em que vive a população trabalhadora, há um setor da juventude que prefere se engajar no crime, ou seja, viver de armas na mão, matar ou morrer, para ter a chance de enriquecer e ter acesso aos bens de consumo. O criminoso não é um ser à parte da sociedade, não é uma sub-raça, não é um ser marcado pela maldade de nascença, mas é um produto das relações sociais capitalistas. As iniciativas de combate ao crime do tipo repressivo estão apenas enxugando gelo, pois para cada soldado do crime abatido ou preso pela polícia há dezenas de outros candidatos a tomar o seu lugar. Da mesma forma, a ação de ONGs e agências assistenciais do Estado é incapaz de resolver de fato a miséria da periferia, pois isso exigiria investimentos sociais maciços, que são incompatíveis com a função do Estado no capitalismo, que é o de prover as condições para os negócios da burguesia, às expensas do restante da população.
Um segundo aspecto da questão é o fato de que o crime organizado como atividade econômica é parte integrante do sistema capitalista. O tráfico também é uma empresa. Os chefes do tráfico se comportam como burgueses, e os seus soldados aspiram ao mesmo tipo de "sucesso" material. Ideologicamente, o criminoso é tão burguês como qualquer empresário. Concretamente, o criminoso é apenas um empresário que leva a concorrência até as últimas conseqüências, ou seja, à eliminação física dos competidores, coisa que os burgueses tradicionais fazem de forma mais disfarçada. Na sua lógica e no seu funcionamento como negócio, o crime e a burguesia compartilham os mesmos mecanismos.
O tráfico de drogas, tráfico de armas, prostituição, contrabando, etc., dependem de mecanismos de lavagem de dinheiro que são os mesmos usados pelos negócios capitalistas "legais". Os paraísos fiscais, as contas secretas, os instrumentos que garantem a liberdade de movimentação ao capital, a desregulamentação do mercado financeiro, etc., são instrumentos indispensáveis ao funcionamento da economia capitalista atual, de modo que a burguesia também necessita deles para seus negócios "legais". Colocamos as aspas porque todo negócio capitalista frauda sistematicamente as legislações contábeis, fiscais, previdenciárias, ambientais, de saúde pública, etc., todo empresário capitalista rouba seus trabalhadores, seus clientes e o Estado, todos em maior ou menor medida desviam dinheiro de suas empresas e do Estado, via sonegação fiscal, o que por sua vez não ocorre sem a conivência e a sociedade de banqueiros, juízes, policiais, fiscais das agências estatais, etc. O crime não é uma aberração marginal, ele é parte da própria essência do modo de produção capitalista.
O terceiro aspecto é o fato de que o carro-chefe do crime organizado no Brasil e no mundo, o tráfico de drogas, somente se converte numa força social com o colossal poder de fogo que detém hoje pelo fato de que o consumo de certas drogas é proibido pelo Estado. A proibição obriga o Estado a reprimir traficantes e usuários de drogas, o que obriga os operadores desse mercado a andar armados, criando por sua vez o mercado para o tráfico de armas, fomentando a corrupção policial, etc. A proibição não se baseia em nenhum critério de periculosidade das drogas, pois o álcool e o cigarro, drogas legalizadas, causam imensos danos e prejuízos aos seus usuários e ao sistema público de saúde. A legalização do consumo de drogas provocaria um crescimento do número de usuários e portanto de dependentes, com impacto sobre as famílias e sobre o sistema de saúde pública. Entretanto, a letalidade social da proibição, com todo o corolário de violência, morte, corrupção, opressão carcerária, etc., é muito maior do que a legalização.
Assim como a descriminalização do aborto é uma questão de saúde pública, pois centenas de milhares de mulheres fazem abortos todos os anos se expondo a mortes e seqüelas diversas; da mesma forma a descriminalização do consumo de drogas permitiria que os usuários recebessem tratamento, ao invés de encarceramento. O aborto não é um método contraceptivo recomendável, mas independentemente da hipocrisia moralista, a gravidez não planejada continua acontecendo e precisa ser interrompida por mulheres sem condições de serem mães. O consumo de drogas também não é uma saída para os dramas e dilemas do indivíduo, mas, gostem ou não os moralistas, os usuários de drogas recorrem a elas para escapar de suas dores subjetivas, mesmo porque são estimulados ao escapismo pela publicidade maciça de drogas "legais" e também mortíferas como o álcool e o cigarro.
A grande questão de fundo é: por que os indivíduos sentem necessidade de fugir da própria vida, a ponto de recorrer ao consumo de substâncias proibidas e letais? A falta de sentido da vida, o ideal de felicidade que escraviza o indivíduo aos objetos de consumo, a insatisfação com o trabalho alienado, que consome as forças do trabalhador sem lhe proporcionar gratificação, o cotidiano de exploração e opressão, a miséria material e espiritual, a rotina, o tédio, o cansaço, os diversos sofrimentos físicos e psicológicos, tudo isso compõe o retrato da vida sob o capitalismo, que muitos preferem não encarar, optando pelo uso de drogas.

Propostas

O problema do crime e da violência é inseparável dos demais problemas da ordem social que lhe dá origem e terreno fértil para prosperar. Para acabar com o crime é preciso acabar com a miséria capitalista. É preciso garantir emprego e aumentar o salário dos trabalhadores, fornecer serviços públicos em quantidade e qualidade, colocar a polícia sob controle das comunidades. Todas essas medidas são incompatíveis com o controle do Estado pela burguesa, portanto são parte de um conjunto de medidas progressivas que preparam uma transição revolucionária da ordem capitalista em direção ao socialismo.

– Emprego e salário para todos. Reposição das perdas salariais e defesa dos direitos e condições de trabalho. Carteira assinada e direitos trabalhistas para todos, fim da terceirização, da informalidade e da precarização do trabalho. Salário mínimo do DIEESE como piso para todas as categorias. Redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais sem redução dos salários.

– Não pagamento das dívidas públicas, interna e externa, e investimento desse dinheiro num programa de obras e serviços públicos para atender prioritariamente a população das favelas e periferias, sob controle dos trabalhadores, para gerar empregos e melhorar as condições imediatas de saúde, educação, moradia, transporte, cultura e lazer.

– Cotas proporcionais para negros e negras em todos os empregos gerados e em todos os setores da sociedade.

– Descriminalização do uso de drogas, combinada com campanhas educativas e tratamento para os dependentes.

– Liberdade de mobilização, organização e movimentação nas favelas e periferias.

– Contra a criminalização dos movimentos sociais.

– Desmilitarização e fusão entre as polícias militar e civil. Por uma segurança pública sob controle dos trabalhadores, democrática e transparente. Fim da hierarquia militar e eleição dos dirigentes pelos policiais. Publicar o patrimônio e quebrar o sigilo dos ocupantes de funções públicas e órgãos de segurança. Por uma polícia subordinada às comunidades, sob controle de assembléias e órgãos de decisão dos bairros.

A luta pelo programa que expusemos e a construção dos organismos proletários adequados a essa tarefa necessariamente se chocam com a estrutura do Estado burguês e exigem a construção de uma alternativa de poder político e social da classe trabalhadora. A classe trabalhadora precisa criar seus próprios organismos de luta, que sejam os embriões de novos mecanismos de administração, capazes de reorganizar a produção social em bases racionais, tendo em vista o atendimento das necessidades humanas e a criação de relações sociais emancipadas. Esses organismos devem ter como princípios a independência de classe, a democracia operária, a participação da base, a luta contra a burocratização e a disputa ideológica, e ter como tarefa impulsionar um processo de ruptura revolucionária contra a sociedade capitalista, pela construção do socialismo. Por um governo socialista dos trabalhadores baseado em suas organizações de luta. Por uma sociedade socialista.

Espaço Socialista
Dezembro, 2010

Leia mais

Início

DECLARAÇÃO DO ESPAÇO SOCIALISTA

 

SOLIDARIEDADE REAL AO POVO HAITIANO E NÃO À OCUPAÇÃO !!!

     Apesar do terremoto que atingiu o Haiti ter sido um acontecimento da natureza, a gravidade das suas consequências é resultado da situação de miséria que assola a grande maioria de sua população. A dificuldade diária de se conseguir alimento e água, a precariedade das construções, a falta de uma rede de serviços sociais, são problemas que agravam muito o que já seria trágico, aumentando assim as dimensões da catástrofe. Terremotos com a mesma intensidade ocorreram em outros países –como o Japão –, sem que o impacto fosse tão devastador. Da mesma forma, no Brasil, a imprensa atribui a causa das enchentes e deslizamentos ao excesso das chuvas. Com isso tentam encobrir o fato de que é a lógica capitalista que gera as condições precárias de moradia nas periferias e que os governos priorizam obras em favor dos empresários ao invés de outras que permitam melhores condições de escoamento da água nos bairros populares. A mesma quantidade de chuva cai no Morumbi e nos Jardins, mas não ouvimos falar de enchentes nos bairros onde mora a burguesia… No caso do Haiti, com seus 9 milhões de habitantes, trata-se do país mais pobre do hemisfério ocidental – 146º lugar entre 177 países avaliados pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) –, onde mais da metade da população vive com menos de 1 dólar por dia, e cerca de 78% com menos de 2 dólares. A taxa de mortalidade infantil é altíssima: 60 em cada 1.000 nascimentos. Essa miséria não é natural, é a conseqüência das sucessivas ocupações e colonização das potências imperialistas sobre o país.
  

O TERREMOTO É NATURAL, MAS AS CONSEQÜÊNCIAS NÃO SÃO

      A miséria do Haiti não é um produto do acaso, e muito menos uma vocação desse povo. Ao contrário, o povo negro do Haiti protagonizou lutas gloriosas contra inimigos muito mais fortes. Prova disso, é que ele foi o primeiro país das Américas a se tornar livre, na Revolução liderada pelos “Jacobinos Negros”: “Em 1803, a bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. Mas a terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. Ninguém comprava do Haiti, ninguém vendia, ninguém reconhecia a nova nação…” Fruto de seu isolamento e do pouco desenvolvimento de suas forças produtivas “…o Haiti acabou caindo nas mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indenização gigantesca, a modo de perda por haver cometido o delito da dignidade.”(Eduardo Galeano – Os pecados do Haiti, em www.resistir.info.net). De lá para cá, o povo haitiano novamente esteve submetido ao saque e à dominação dos países imperialistas. Em 1915 foram os EUA que invadiram o país, governando-o até 1934, e só saindo após conseguir cobrar as dívidas do Haiti com o Citibank e modificar o artigo constitucional que proibia a venda de terras a estrangeiros. Desde então, a Casa Branca exerce uma espécie de protetorado no país. Portanto, essas potências mantiveram o Haiti como seu fornecedor barato de matérias-primas como açúcar, banana, manga, milho, batata-doce, legumes, tubérculos e outros mais. Hoje, aliado ao peso majoritário da agricultura, surgiu um setor de produção voltado para a exportação e que superexplora os trabalhadores.
 

ONU, EUA E BRASIL NO HAITI: ARMAS E REPRESSÃO PARA MANTER O POVO HAITIANO NA MISÉRIA

 
     Recentemente, em 2004, o Brasil passou a comandar a Minustah (missão de ocupação da ONU). Desde então, sempre que há revoltas ou manifestações contra a miséria e os baixos salários, entram em ação as “Tropas de Paz” para reprimir duramente. O argumento da reconstrução da institucionalidade do país não se sustenta. Os problemas sociais não foram resolvidos e, ao contrário, agravaram-se. Em janeiro de 2006, o general Urano Teixeira Bacellar, que estava no comando da Minustah há poucos meses – desde setembro de 2005 -, se suicidou após ter alertado que os problemas no Haiti não demandavam tropas e sim justiça social. Atualmente, a liderança do Brasil na Minustah também serve de treinamento para os militares brasileiros conterem rebeliões nas favelas brasileiras, que tendem a se agravar à medida em que o capital exclui de cada vez mais pessoas dos direitos mínimos a uma vida digna. Uma simples comparação de valores expõe o descaso da ONU e dos países dominantes diante da situação do Haiti: desde a irrupção da crise econômica, os governos destinaram para as grandes empresas e o sistema financeiro mais de US$ 15 trilhões (http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/02/11), enquanto que para socorrer as vítimas do Haiti, a ONU pediu aos países membros US$ 562 milhões, um valor absolutamente irrisório diante da magnitude da catástrofe. Mesmo assim, até agora só foram enviados US$ 207 milhões, 36,1% do prometido. Neste valor ainda estão incluídos os gastos militares, como deslocamento, manutenção das tropas etc. Já o governo Lula dedicou aos empresários o equivalente a R$ 475 bilhões desde quando eclodiu a crise no Brasil (http://economia.uol.com.br/ultnot/bbc/2009/04/03/ult2283u1708.jhtm). Mas para a ajuda humanitária ao Haiti – excluindo-se a manutenção das tropas -, até agora foram enviados apenas R$ 15 milhões. Por outro lado, a manutenção das tropas no Haiti já tem um custo de mais de R$ 703 milhões desde 2004, segundo dados do Ministério da Defesa (www.agenciabrasil.gov.br). Isto é mais de 120 vezes a ajuda humanitária até agora destinada ao Haiti pelo governo brasileiro. E agora, como se não bastasse, Lula propôs e o Congresso aprovou o envio de até mais 1.300 militares, duplicando o efetivo atual no país.
 
 

ESTADOS UNIDOS, MAIS UMA VEZ, MOSTRA A SUA CARA

 
     Os EUAse aproveitam para, de fato, ocupar o país com cerca de 20 mil soldados – o dobro do efetivo total da ONU –, assumindo o comando do espaço aéreo, portos e estradas do país caribenho.( ww1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u683605.shtml) .Assim, ao todo são 30 mil militares em um país de apenas 9 milhões de habitantes! Ao contrário do que é dito pela ONU, EUA, Lula, e a grande mídia, as tropas não têm função humanitária, nem de reconstrução, mas sim de manter os trabalhadores haitianos numa situação de submissão, recebendo salários miseráveis e assumindo jornadas subumanas de trabalho para as empresas prestadoras de serviços de grandes transnacionais. Os principais argumentos dos que defendem a manutenção e o envio de mais soldados para o Haiti são os mesmos dos que sempre defenderam a ocupação e submissão do país: argumentam que a população trabalhadora não é capaz de se organizar e de coordenar a ajuda internacional e reconstruir sua economia. Mas a história deste povo mostra o contrário, como vimos acima. Além disso, a realidade também mostra que a população haitiana possui uma rede de organizações de base como sindicatos, organizações populares, estudantis e de bairros. São essas organizações que de fato estão fazendo de tudo para manter um mínimo de serviços essenciais como alimentação, saúde e segurança. O verdadeiro receio dos EUA e da ONU é justamente de que essa população – cuja imensa maioria é de trabalhadores e pobres – venha a assumir o controle do seu destino, em outras palavras, que seja deflagrada uma rebelião social ou um processo revolucionário, com impacto em toda a América. Além de tentarem prevenir um possível processo insurrecional no Haiti, os EUA aproveitam para buscar reforçar seu controle militar na região e impor limites ao papel que o Brasil vem tentando ocupar no terreno internacional. As bases militares na Colômbia e a reativação da Quarta Frota, encarregada de patrulhar o Atlântico Sul, também fazem parte dessa estratégia. As metralhadoras e baionetas no peito dos soldados mostram o verdadeiro objetivo das forças militares do Brasil, dos Estados Unidos e da ONU.
 

É PRECISO SOLIDARIEDADE REAL E NÃO OCUPAÇÃO MILITAR!

 
     Defendemos uma campanha internacional de solidariedade aos trabalhadores do Haiti. Mas a solidariedade que defendemos é a solidariedade a serviço da luta e não se confunde com o assistencialismo propagado pelos governos e a mídia burguesa. A ONU, Lula, e os EUA têm a intenção de usar a “ajuda humanitária” para com isso levar as pessoas à passividade e a aceitarem a ocupação no Haiti. Já a nossa solidariedade deve ter um conteúdo diametralmente oposto. Deve estar a serviço da luta pela retirada das tropas e para que os governos responsáveis pela tragédia social do Haiti venham a ressarcir a dívida que têm com aquele país. Em primeiro lugar, temos que denunciar e exigir a imediata retirada de todas as Tropas de Ocupação e que o dinheiro desperdiçado para manter essas tropas seja direcionado para a ajuda humanitária e a reconstrução do país! Também é preciso exigir ajuda internacional compatível ao tamanho da catástrofe e não apenas as migalhas doadas até agora e sem nenhuma garantia de que chegarão, pois os governos burgueses fazem demagogia até com a vida das pessoas. A cobrança deve ser maior para as potências que sempre exploraram a economia haitiana, como EUA, França e Inglaterra. Além disso, é preciso que toda a ajuda recolhida seja entregue às organizações de luta dos trabalhadores e estudantes do Haiti, e não nas mãos da ONU, dos EUA ou das tropas brasileiras, que usam o mote da ajuda humanitária para disfarçar e legitimar a ocupação. Só as organizações de luta dos trabalhadores podem garantir que os recursos arrecadados sejam usados para reconstruir a luta contra a ocupação, a exploração e a dominação do seu país, na perspectiva socialista, de um governo dos trabalhadores no Haiti.
 

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema
o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado: "não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
(Ferreira Gullar)
 
 

  

Nota do Espaço Socialista sobre o golpe militar em Honduras

Abaixo o golpe militar em Honduras!
Ampliar a mobilização para derrotar os golpistas!
Solidariedade ao proletariado hondurenho!

Dia 29 de Junho ocorreu mais um golpe militar na América Latina. Desta vez contra o governo de Manuel Zelaya, presidente de Honduras. Os agentes são os mesmos: a direita burguesa que controla as instituições do Estado burguês: o legislativo, o judiciário e as forças armadas.
O principal motivo que deu causa ao golpe é o ódio da burguesia contra  o direito do povo decidir até mesmo um aspecto mínimo e limitado de seu destino. O governo, contra a vontade dos principais setores da burguesia  e seus agentes nas instituições do Estado hondurenho,  estava realizando uma consulta à população sobre a possibilidade de colocar mais uma pergunta (a chamada 4ª urna) no referendo de novembro tratando de uma reforma constitucional. Ou seja, uma pergunta que não afeta nenhuma relação de poder ou a propriedade privada no país.
A argumentação dos golpistas não poderia ser mais cínica. Dizem defender a democracia! Na verdade temiam que caso fosse aprovada a mudança da Constituição (que também passaria por Referendo) haveria a possibilidade da reeleição de Zelaya.
No entanto, não se deve esquecer que na Colômbia cujo governo Uribe -de direita e pró imperialista- aprovou o direito à reeleição em um Congresso corrupto, sem qualquer consulta popular, não houve nenhuma reação violenta por parte da burguesia colombiana e nem do imperialismo. Ou seja, dois pesos e duas medidas. 
 

Leia o restante do boletim aqui.
 

 

Todo apoio à luta dos trabalhadores da USP!

06/2009

     Desde o dia 5 de maio os servidores técnico-administrativos da USP, categoria que reúne 15 mil trabalhadores, estão em greve. A greve faz parte da campanha salarial da categoria, que reivindica um reajuste de 17% referente a perdas acumuladas, mas que inclui outros itens como a defesa da universidade pública e da livre organização dos trabalhadores. Todas as reivindicações são para garantir uma educação pública de qualidade PARA TODA A POPULAÇÃO:

• Fim da UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), projeto de educação à distância com o conteúdo sendo transmitido via internet, que terá como consequências o rebaixamento da qualidade do ensino. O projeto também ataca a carreira dos professores da Universidade, pois desobriga o Estado de contratar professores na quantidade necessária para prover um ensino de qualidade.
• Aumento das verbas destinadas à manutenção da Universidade: ( 33% da receita total de impostos, incluindo 11,6% do ICMS para as universidades estaduais e 2,1% do ICMS para o Centro Paula Souza). Os governos estadual e federal têm reduzido as verbas destinadas à educação, para desviar o dinheiro público para as grandes empresas atingidas pela crise mundial.
• Fim da tentativa da reitoria da USP de demitir cerca de 5 mil funcionários (um terço do total), obrigando-os a prestar novo concurso, sob ameaça de demissão. Muitos dos servidores ameaçados já estão na Universidade há mais de vinte anos.
• Fim dos processos judiciais e multas contra o Sintusp e o DCE (Diretório Central dos Estudantes), readmissão de Claudionor Brandão e fim dos 50 processos administrativos e sindicâncias contra servidores e alunos. Essas medidas repressivas são uma represália ao movimento de 2007, que reverteu os projetos que retiravam a autonomia financeira e administrativa da Universidade.

Leia o boletim na íntegra, clicando aqui.
Baixe a versão PDF deste boletim clicando aqui (88.21 kB).
Baixe o folder versão grande, aqui (1.07 MB).
 


 

  Novos textos de formação

Na seção Formação teórica, foram adicionados novos textos de formação sobre dialética e marxismo em geral. São eles:
 
Para verificar outros textos, basta visitar a página Formação teórica.

 


 

     Apresentamos o jornal nº 30 do Espaço Socialista. Essa edição dedica-se essencialmente às questões colocadas pela situação política nacional e internacional, marcada pela crise econômica global que envolve o sistema  capitalista.
Nesse momento temos insistido na necessidade de que os trabalhadores se coloquem como alternativa política e ideológica de reorganização da vida social, única garantia de mantermos os nossos direitos. Historicamente, as crises capitalistas tem resultado em mais miséria para a humanidade e isso decorre da lógica desse sistema, na qual a destruição das forças produtivas (leia-se guerra) é uma condição para a recuperação da economia. Ou seja, é preciso matar milhões de seres humanos para que haja uma recuperação da economia capitalista.  Por isso defendemos o socialismo como o único sistema capaz de construir um mundo sem crises e sem destruição. E o socialismo só pode ser construído por meio da mobilização revolucionária da classe trabalhadora, com um programa também revolucionário.
Por fim, a ação dos revolucionários deve "extrapolar" o economicismo, com uma luta ideológica que consiga abranger a totalidade da vida social. Essa é a razão de sempre publicarmos textos que reflitam a posição dos marxistas sobre outras esferas da vida. Nessa edição há o artigo dedicado à reflexão sobre o evolucionismo e o criacionismo. 
Baixe também o jornal em PDF clicando aqui (776 kB).
 
Conteúdo

 

Leia mais