Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

Polícia dos ricos expulsa brutalmente trabalhadores do Pinheirinho

 

    “Na primeira noite, ele aproxima-se e colhem uma flor do nosso jardim.

 E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam o nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.”

Eduardo Alves da Costa, 1985

 

Operação de guerra desocupa o Pinheirinho


No dia 22 de janeiro de 2012 a polícia militar do Estado de São Paulo cercou, invadiu e desocupou o bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, por meio de uma gigantesca operação de guerra, que envolveu mais de dois mil homens. Desde 2004 viviam no bairro cerca de 1.600 famílias, ou 5.500 pessoas. A desocupação aconteceu sem que houvesse uma decisão judicial definitiva, pois a justiça federal suspendeu a ordem de desocupação emitida pela justiça estadual, que por sua vez desconheceu a decisão e ordenou a continuidade da operação.


Enquanto o “conflito de competências” não se resolve na burocracia do judiciário, que com sua revoltante inoperância jamais atua quando é preciso defender os interesses populares, a polícia não espera e arrasa as vidas de milhares de trabalhadores, que perdem suas casas e não têm para onde ir. Todos os acessos ao bairro foram bloqueados e nem as organizações dos trabalhadores nem a imprensa podem verificar o que está se passando. Eletricidade, sinal de telefone e internet foram cortados na região. A desocupação prossegue casa a casa, a demolição das moradias está programada para acontecer logo em seguida, os habitantes do Pinheirinho estão sendo alojados em tendas. Aqueles que resistem são presos, espancados, torturados. Há a informação de que houve mortes, mas até o momento em que este texto foi escrito, no domingo há noite, não foi possível confirmar.


Justiça a serviço da classe dominante


O terreno de 1 milhão e 300 mil metros quadrados do Pinheirinho está registrado em nome da massa falida do especulador Naji Nahas, que deve R$ 15 milhões em impostos e usava o terreno para especulação imobiliária, ou seja, para nada socialmente útil. Não se viu a mesma agilidade da polícia para prender Nahas quando suas operações fraudulentas provocaram a falência da bolsa de valores do Rio de Janeiro no fim dos anos 80. Os crimes da classe proprietária jamais são punidos. Já os trabalhadores, quando lutam pelo direito à moradia, e lutar por direitos não é crime! – são tratados como bandidos.


Para destruir as casas e as vidas de milhares de trabalhadores, unem-se a prefeitura, o governo do Estado, o governo federal, o Judiciário, a polícia e a mídia. Seja por ação ou por omissão, todos compactuam com a barbárie. Na tarde de domingo as televisões e portais da internet noticiavam o congestionamento na Via Dutra, que liga São Paulo ao Rio e passa por São José dos Campos, e não a destruição de todo um bairro. A sociedade é mantida na ignorância do que está realmente se passando, para que não se sensibilize com a brutal realidade.


Em defesa da vida!


Os moradores do Pinheirinho não eram criminosos, eram trabalhadores, os mais explorados e sofridos, que atuam nos piores empregos, ganham os mais baixos salários, trabalham nas piores condições. São os operários da construção civil, as empregadas domésticas, os motoristas de ônibus, vigilantes, garis, balconistas, que constroem a riqueza da sociedade e lutam para construir suas vidas. Desde 2004 os trabalhadores transformaram o Pinheirinho em um bairro, em parte da cidade. Igrejas e comércio foram construídos, ruas foram asfaltadas, melhorias foram feitas, crianças nasceram no bairro e estudavam nas escolas da região.


Ao longo de oito anos, com muita luta, sacrifício e dificuldades, os moradores do Pinheirinho construíram não apenas casas, mas lares, vidas, famílias, amores, sonhos. Tudo isso tem muito mais valor, do ponto de vista humano, do que os pedaços de papel que dizem que o terreno pertence a um especulador. A justiça, a polícia e o conjunto do Estado servem para defender a propriedade privada, que está acima da vida das pessoas. Isso só faz sentido na lógica do capital, a lógica de uma sociedade desumana, que coloca o dinheiro acima da vida e da humanidade das pessoas.


Contra a repressão!


Os moradores do Pinheirinho são negros, mestiços, nordestinos, assim como outros milhões expulsos pela miséria e pela violência dos coronéis, confinados nas regiões pobres e nas periferias das grandes cidades, e agora expulsos novamente pelo Estado. São os herdeiros de uma história de violência e massacre, que vem desde o quilombo dos Palmares e a epopéia de Canudos, até as chacinas de Eldorado dos Carajás, Corumbiara e Candelária.


A violência do Estado contra os trabalhadores não é novidade na história do país, mas há algo de muito grave acontecendo no atual momento histórico. A desocupação da USP, da favela do Moinho e da Cracolândia, e agora a operação de guerra contra o Pinheirinho, são mostras da disposição do Estado em esmagar qualquer resistência contra seus projetos. Está em curso um processo de “higienização” social e “limpeza” urbana para “embelezar” o país e torná-lo apresentável para a burguesia mundial. Esse processo está passando por cima da vida e dos direitos elementares de trabalhadores em todo o país. Pobres estão sendo mortos, presos, espancados, torturados, despejados, pelo “crime” de serem pobres, numa sociedade em que jamais tiveram outra chance.


 


A “democracia” em que vivemos não admite nenhuma manifestação que questione o controle absoluto da classe proprietária sobre a produção e a distribuição de riqueza. Ocupações, piquetes de greve, manifestações de rua, expressões de opinião divergente, ações da classe trabalhadora, são tratadas como crime


O que está reservado aos trabalhadores


São os trabalhadores que constroem toda a riqueza do país, tudo o que existe é produto do seu trabalho. Mas ai daqueles trabalhadores que ousam questionar o destino daquilo que produzem, e questionar porque ficam sempre com a menor fatia. Ai daqueles que lutam por melhores salários, por melhores condições de trabalho, por moradia, saúde, educação. Ai daqueles que não se contentam!


O recado que está sendo dado pela classe dominante, através do Estado e da mídia, é muito claro: contentem-se com a “glória” de saber que vivem na 6º maior economia do mundo, contentem-se em saber que o país vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, contentem-se em saber que “a crise não chegou ao Brasil” (certamente os trabalhadores do Pinheirinho discordam!), contentem-se em saber que terão que pagar prestações para o resto da vida para algum dia poder ter um apartamento, um carro, um eletrodoméstico, dos quais não terão tempo nem saúde para desfrutar.


Aceitem os empregos que têm hoje (ou o subemprego e o desemprego), aceitem a superexploração, aceitem os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, aceitem o assédio moral, aceitem o adoecimento, aceitem a carestia, aceitem a falta de serviços públicos decentes, aceitem a falta de hospitais e escolas, aceitem as mentiras da mídia, aceitem o lixo cultural, aceitem que apenas alguns poucos privilegiados desfrutem do luxo e do conforto, aceitem o controle do Estado e das instituições. Aceitem a parte que lhes cabe, e não reclamem!


Não aceitamos!


Nós trabalhadores não aceitamos essa realidade! No mesmo dia, às 17:00 hs do domingo, trabalhadores e estudantes se reuniram na Avenida Paulista para protestar contra a barbárie que o governo do Estado promoveu no Pinheirinho. Cerca de mil pessoas paralisaram a principal avenida do país por duas horas e protestaram em frente ao prédio da Justiça federal. Atos semelhantes se reproduziram em várias capitais e grandes cidades do país. Nós que estivemos mobilizados em defesa do Pinheirinho, nós que estivemos na Avenida Paulista, nós integrantes de diversas organizações da classe trabalhadora que se mobilizaram rapidamente de forma unitária, nos fizemos presentes para dar também um recado muito claro: não aceitaremos a violência do Estado, não aceitaremos a destruição da vida, não aceitaremos as mentiras e o cinismo da mídia! Vamos dizer aos trabalhadores:


Abaixo a repressão!



Não à criminalização dos movimentos sociais!



Fora polícia do Pinheirinho!



Liberdade para os presos políticos!



Punição ao uso e ao abuso da força!



Reforma urbana já, expropriação dos imóveis ociosos, direito à moradia para todos!
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Não à Desocupação do Pinherinho! Trabalhadores dão exemplo de coragem e luta!

Nota do Espaço Socialista:

Não à Desocupação do Pinherinho! Trabalhadores dão exemplo de coragem e luta!

Paira neste momento a ameaça de uma carnificina no Pinheirinho, comunidade resultante de uma ocupação realizada por trabalhadores há 8 anos.

A área de 1 milhão e 300 mil metros quadrados pertence à massa falida do mega especulador Naji Nahas, cujo o único credor é a Prefeitura de São José dos Campos. A dívida de IPTU é superior a R$ 15 milhões. O local onde está a ocupação Pinheirinho é extremamente valorizada. 

A ação armada que se avizinha é totalmente desproporcional: de um lado milhares de policiais da Tropa de Choque, cavalaria, cães, máquinas e helicópetros. De outro algumas centenas de trabalhadores com métodos de defesa totalmente improvisados, armados apenas de sua coragem e desespero ao defender a única oportunidade que tiveram em suas vidas de ter uma moradia: oportunidade que eles mesmos construíram com sua luta através da ocupação e de seu suor na construção de suas casas.

O papel do Estado, através de suas instituições, não poderia ser mais irresponsável, ao se colocar incondicionalmente ao lado da empresa que reclama a propriedade da área ignorando a realidade de mais de 6000 moradores.

A intransigência da parte da prefeitura, do governos do estado e a omissão do governos federal se recusando em intervir para impedir o massacre e buscar uma solução negociada são evidentes e revoltantes.

Mostram até que ponto o estado como um todo coloca a lucratividade de corruptos e sangue-sugas muito acima do direito e da vida de milhares de trabalhadores.

Os interesses de especulação imobiliária a partir do boom da construção civil em grande medida basedado no crédito e no endividamento incentivados pelo governos estadual e federal, enchem os olhos dos abutres da especulação imobiliária, de olho em qualquer área que possam lançar seus emprendimentos afim de auferir altíssimos lucros junto a quem possa pagar os preços exorbitantes de apartamentos luxuosos. O terreno fica próximo a condomíniosde alto padrão.

Trata-se da intervenção direta do estado para aumentar os lucros do capital, para fazer frente aos reflexos da crise que se mostram também no Brasil particularmente a partir do último trimestre passado em um claro ataque às condições dos trabalhadores.

Dessa forma o Espaço Socialista coloca-se incondicionalmente ao lado dos trabalhadores do Pinhierinho e de seu direito de defesa da área que ocupam desde 2004.

Chamamos a atenção para a necessidade da mais ampla solidariedade com a ocupação. A responsabilização total da carnificina que venha a ocorrer será dos governos municipal, estadual, federal e da Justiça que adotam a maior intransigência e omissão criminosa frente à grave situação instalada.

Defendemos a desapropriação sem indenização da área, uma vez que pertencia a uma massa falida, e que seja entregue à comunidade de trabalhadores que lá habita.
Alertamos a todos para o fato de que o capitalismo está recrudescendo suas tendeências destrutivas. É um sistema que cada vez mais demonstra sua incompatibilidade com a humanidade e a natureza. A lógica do lucro deve ser quebrada e uma nova sociedade deve ser organizada pelos trabalhadores. Isso só poderá acontecer com a luta direta dos trabalhadores. Os moradores do Pinhierinho com sua coragem e organização nos dão um exemplo a ser seguido cada vez mais daqui para frente.

Ao mesmo tempo nos chamam a declarar a solidadriedade e o apoio concreto e material de todos os sindicatos e movimentos através de presença física, apoio financeiro, doações, telegramas e moções aos governos e à “Justiça” no sentido de pressionar de todas as formas e tentarmos evitar que o pior aconteça.

São Paulo, 17 de janeiro de 2011

Espaço Socialista   

 

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Jornal 47: Dezembro de 2011

  Assuntos principais:

  • As campanhas salariais do 2º semestre e o obstáculo das direções governistas
  • Combater o capitalismo é combater a corrupção
  • A Copa do Mundo e o Estado de Exceção
  • Plebiscito 10% do PIB já – alguns apontamentos
  • O capitalismo em crise e o avanço das políticas repressivas
  • A luta na USP e a necessidade do combate à repressão
  • A exigência de uma aliança entre os trabalhadores negros e os trabalhadores brancos
  • A "decadência" estadunidense e a luta pela revolução

 

AS CAMPANHAS SALARIAIS DO 2º SEMESTRE

E O OBSTÁCULO DAS DIREÇÕES GOVERNISTAS

           

            O discurso de que tudo vai bem no país

            Está em curso um operativo político-ideológico que visa convencer o conjunto da população de que o país está no rumo certo para o “crescimento”, e de que a classe trabalhadora deve continuar “fazendo a sua parte”, o que na verdade significa que os trabalhadores devem continuar suportando o aumento da exploração em benefício da burguesia. Esse convencimento permite ao governo Dilma/PT/PMDB seguir aplicando o projeto de interesse da burguesia, mantendo a classe trabalhadora sob controle. Parte essencial desse operativo politico-ideológico são os próprios organismos de luta da classe trabalhadora.

            Os principais sindicatos e centrais do país, que representam as principais categorias, estão sob controle de um grupo politico, a Articulação, grupo hegemônico do PT e da CUT, que juntamente com outras correntes (CTB, Força Sindical, UGT, etc.), tem como objetivo impedir o desenvolvimento de lutas que questionem a aplicação do projeto do governo. No segundo semestre de todo ano acontecem as datas-bases de importantes categorias, tais como metalúrgicos, petroleiros, químicos, bancários, funcionários dos correios, que atuam em setores-chaves da economia. As campanhas salariais dessas categorias, se fossem bem organizadas, teriam o poder de paralisar a economia e colocar em xeque a aplicação do projeto do governo, forçando a patronal a fazer concessões. Justamente por isso, as direções sindicais cutistas/governistas trabalharam de todas as formas para desorganizar as campanhas e impedir o seu desenvolvimento.

 

            Os métodos para enfraquecer as greves

            O enfraquecimento das campanhas salariais começa pela separação entre as diversas categorias, ou seja, por um calendário em que as datas para deflagração das greves não coincidem. Greves conjuntas poderiam resultar em piquetes conjuntos, assembleias conjuntas, atos e passeatas unificadas, ações de grande impacto junto à sociedade, em que as reivindicações dos grevistas se contrapusessem ao discurso de que “o país está no caminho certo". Para evitar isso, as datas de assembleias e greves são escalonadas pela burocracia, para que não coincidam. Apenas bancários e correios estiveram em greve simultaneamente por alguns dias.

            O segundo dispositivo consiste em, no interior de cada categoria, despolitizar a campanha, tirando o foco das questões políticas de fundo. Em correios, por exemplo, a greve foi marcada para meados de setembro, depois da votação da MP 532 no início do mês, que criara o marco legal para a transformação da Empresa de Correios e Telégrafos em SA e para a privatização. Com isso, impediu-se que a greve tivesse um conteúdo de luta contra a privatização.

            O terceiro passo consiste em rebaixar as reivindicações. Quem começa pedindo pouco acaba fechando por menos ainda. Assim, em bancários, por exemplo, as perdas salariais acumuladas desde o plano real em 1994 estão em 89% no Banco do Brasil e 98% na Caixa Econômica. Mas a Articulação começou a campanha reivindicando apenas 12,5% e fechou acordo com míseros 9%! E ainda sai propagandeando “ganho real” acima da inflação (o índice oficial de inflação maquiado pelos institutos governistas foi de 7,5%).

            O quarto componente do método da burocracia se refere à própria condução da campanha, à falta de espaços democráticos. O comando de negociação é composto apenas por dirigentes sindicais, afastados dos locais de trabalho, fechados com a linha da Articulação, sem participação de representantes de base.

 

            A ditadura do microfone

            Nas assembleias dirigidas pela Articulação e seus satélites vigora a ditadura do microfone, em que apenas a diretoria fala e os trabalhadores comparecem apenas para votar a favor ou contra. Não são abertas inscrições, não se permite fazer propostas, não se colocam as propostas em votação. E o cúmulo do desrespeito acontece quando as propostas apresentadas pelas oposições (depois de muita luta pelo direito básico de falar) ganham uma votação, mas não são encaminhadas pela diretoria.

            Na greve dos bancários, em São Paulo, na assembleia de 05 de outubro, foram aprovadas várias propostas organizativas defendidas pelas oposições (assembleias unificadas, no horário das 16:00, para barrar os fura-greves), mas a mesa não aceitou o resultado e encerrou a assembleia, num brutal atentado contra a democracia operária! Vídeos e textos sobre essa assembleia se encontram disponíveis na internet (http://frentedeoposicaobancaria.org/noticias/a-assembleia-de-510-em-sp-e-a-luta-por-democracia/). Novas assembleias só aconteceram 12 dias depois, no dia 17, para esvaziar o processo de auto-organização dos trabalhadores que estava ocorrendo nas plenárias espontâneas após as assembleias. Além disso, as assembleias do dia 17 foram marcadas desrespeitando ostensivamente os encaminhamentos organizativos aprovados no dia 5. Em assembleias separadas de BB, CEF e privados, depois das 18:00hs, com a presença massiva de gerentes e fura-greves, a Articulação conseguiu aprovar o acordo rebaixado e encerrar a campanha, pois jamais conseguiria aprovar esse acordo com o voto dos grevistas.

 

            O cerco da mídia e do Estado

            Outro elemento importante do operativo de combate às greves é a participação da mídia. Os meios de comunicação em geral jogam a população contra os grevistas e atuam em sintonia com as direções governistas para sabotar o movimento. Na greve dos Correios as rádios e os jornais da manhã do dia 4 de outubro davam como encerrada a greve, pois “os trabalhadores” haviam aceito o acordo negociado com a mediação do TST no dia anterior. Acontece que os dirigentes sindicais não falavam em nome dos trabalhadores, pois nas assembleias do dia 4 os ecetistas recusaram a proposta e prolongaram a greve, que continuou até a semana seguinte.

            Quando todos esses elementos falham, a patronal, o governo e a burocracia sindical podem contar com a repressão pura e simples. Para encerrar a greve dos Correios, o TST determinou os termos do acordo e impôs o desconto e a compensação de parte dos dias parados. Os ministros do TST ainda passaram um “pito” nos dirigentes sindicais, que não haviam tido a competência de fazer seu trabalho, ou seja, encerrar a greve na semana anterior.

           

            As limitações das oposições e a alternativa

            Contra todas essas armas da burocracia da Articulação e seus satélites, a postura das correntes que se reivindicam como oposição, como Conlutas e Intersindical, se mostrou bastante insuficiente. A começar pela questão ideológica, o eixo escolhido pela Conlutas, "O Brasil cresceu, o trabalhador quer o seu”, não serviu para armar os trabalhadores. Essa formulação tem vários problemas: reduz ao economicismo, como se o objetivo das campanhas fosse apenas aumento de salario; vincula a remuneração do trabalhador ao desempenho das empresas, pois condiciona a parte do trabalhador ao crescimento do lucro, legitimando assim o aumento da exploração; endossa o discurso do governo Dilma de que o país está no rumo do crescimento, sem questionar a custa de quê esse crescimento esta sendo obtido; não arma para os períodos de crise, em que não vai haver crescimento. Além disso, os militantes da Conlutas aceitam acordos com as direções cutistas e seus satélites que lhes permitem usar o microfone nas assembleias, mas desde que não usem para questionar todo o caráter burocrático e cupulista das assembleias e da campanha.

            Para que os trabalhadores possam ter o controle de suas lutas nas campanhas futuras, não há outro caminho a não ser desenvolver um forte trabalho de base, com organização a partir dos locais de trabalho para as lutas cotidianas. Somente assim os trabalhadores podem chegar com força ao momento das campanhas salariais e enfrentar o controle das burocracias governistas. É preciso ainda desenvolver a consciência de que as lutas devem ser travadas não por categorias isoladas, mas pelo conjunto da classe, e não apenas contra uma ou outra empresa ou setor da economia ou do Estado, mas contra todo o sistema capitalista.

 Combater o capitalismo é combater a corrupção!

Hoje novamente o assunto “corrupção” ocupa os palcos da mídia burguesa, e como não poderia ser diferente, traz a discussão de forma rasa, que mais contribui com a continuidade da própria corrupção – da qual inclusive a indústria midiática é agente ativa – e semeia a confusão naqueles que realmente penam com suas consequências: os trabalhadores.

Marchas por todo o país têm sido convocadas sumariamente pela internet trazendo como consigna o combate à corrupção e a luta pela ética na política. Marchas organizadas com altos investimentos em infra-estrutura (caminhões de som, palcos, sistema de iluminação, etc.) que deixam dúvidas sob seu caráter espontâneo.

Na maioria desses atos e marchas o caráter apartidário traz ainda mais um agravante: o impedimento a participação de partidos e organizações, sobretudo de esquerda.

Como se não bastasse, as discussões no site que divulga esses atos e marchas são marcadas por uma visão estreita da corrupção, impregnada de moralismos e chamados à ética que colocam a questão da corrupção como um problema cultural e de má índole. Apresentam como centro de suas indignações os políticos de forma genérica e buscam o enfrentamento por meio do enrijecimento das leis e da fiscalização.

Esse discurso tem seduzido parte da opinião pública e mesmo alguns setores da esquerda, mas ao não apontar a relação intrínseca entre capitalismo e corrupção, acaba por reforçar a ideia de que o sistema é bom e que precisa apenas de correções.

Além disso, movimentos como esse tendem, num quadro histórico de crise econômica como o atual, a facilmente servir de aporte para a reorganização da extrema direita e podem fomentar políticas de controle social como as da cidade de São Paulo, onde o Prefeito Gilberto Kassab, usando o discurso de combate à corrupção, promoveu uma verdadeira “coronelização” das subprefeituras (atualmente todos os subprefeitos são coronéis da Polícia Militar).

 

A corrupção enquanto fenômeno necessário ao capitalismo

A corrupção não é um fenômeno exclusivo do período correspondente à história capitalista, já foi mesmo identificada em momentos da história social muito antigos. Porém é no capitalismo que este fenômeno, antes pontual, torna-se um instrumento fundamental para o objetivo de reprodução ampliada do sistema capitalista.

Se atualmente a corrupção vem se ampliando como instrumento de dominação, devemos buscar sua explicação nas próprias dificuldades para a reprodução ampliada do capital, marcada pela queda tendencial da taxa de lucro, em que se estreitam os laços entre Estado e capital de tal forma que as origens do primeiro remetem às necessidades do último.

Sendo o Estado a expressão da divisão da sociedade em classes sociais opostas e inconciliáveis e o aparato legal de representação dos interesses da classe dominante, a corrupção na estrutura estatal surge como um instrumento necessário ao desenvolvimento do capitalismo.

Assim, o Estado apresenta-se como representante do “bem comum”, porém, suas origens históricas remetem aos interesses das classes opressoras que se utilizam dele não apenas como instrumento de controle social, mas também como instrumento necessário à acumulação, sendo a corrupção um fenômeno inerente às relações de disputa entre os próprios setores capitalistas (que disputam ininterruptamente mercados entre si) e um instrumento necessário para o desvio de recursos públicos a fim de atender interesses de setores da classe dominante.

Não podemos esquecer que a atividade corrupta no que se refere aos políticos é impulsionada por interesses ligados à produção. Grandes empresas financiam as campanhas políticas de seus representantes que por sua vez, buscam construir políticas que favoreçam seus mecenas. Assim a compra de votos, o lobby, o tráfico de influências e outros instrumentos congêneres encontram seu sentido de existência.

Por trás dos corruptos surgem os interesses de grandes empresas que buscam benefícios contratuais, favorecimento em licitações, financiamentos e outras formas de privilégios através da utilização da máquina do Estado. Além disso, renúncia fiscal, suborno, superfaturamentos e outros instrumentos são corriqueiros nas disputas entre as empresas no mercado financeiro.

 

Combater a corrupção, combatendo o capitalismo

Por isso devemos entender a corrupção não como a base dos problemas sociais, mas sim enquanto um fenômeno sintomático, expressão de uma relação social em que os interesses sociais dão espaço para os interesses do capital.

É legitimo e substancial combater a corrupção, porém é imprescindível que esta se dê por meio do combate ao capitalismo e a seu instrumento superior, o Estado Burguês. A renúncia a esta luta acaba por reforçar o sistema capitalista, sistema este que é a base de sustentação das práticas corruptas, da violência, do crime organizado, etc.

Aos trabalhadores cabe a tarefa de se organizar nessa luta e desprender-se dos discursos “oficiais” que buscam confundir as massas de trabalhadores. Discursos esses muito bem representados pelos chamados às marchas da corrupção, que não questionam o sistema nem apontam para o futuro.

Devemos combater toda e qualquer política autoritária e de controle social, tais quais as Unidades Pacificadoras (UPPs) do Rio de Janeiro, as políticas de internação compulsória de moradores de rua, a “coronelização” e militarização do Estado, a vigilância policial nas universidades, etc.

À esquerda cabe retomar a luta contra o Estado Burguês, não deixando-se seduzir pelos discursos “moralizantes” que buscam esconder a natureza incorrigível do capital.

 

A Copa do Mundo e o Estado de

Exceção

                                                            Heleno Rouge

Em 2014, o Brasil sediará os jogos da Copa do Mundo, competição futebolística notória, a qual dispensa maiores apresentações. Em que pese o oportunista discurso de apelo popular, no sentido de ser uma festa dos povos e, especial, do povo brasileiro, a Copa do Mundo é um acontecimento de interesse do empresariado, o que implica, necessariamente, em maior exploração das classes trabalhadoras.

É curioso o recorrente discurso dos que defendem as iniciativas do governo federal no sentido de que têm propiciado um capitalismo "avançado" e "inteligente", com geração de empregos e aquecimento da economia nacional. Sim, curioso, pois qual a vitória popular diante de um bastante ativo sistema que explora a força de trabalho extraindo altos índices de mais-valia?

Nesse artigo procuramos analisar a questão da Copa do Mundo num outro prisma, a partir do chamado Estado de Exceção Permanente, ainda que tal questão também seja intimamente conectada à exploração capitalista.

O que se pode entender por Estado de Exceção? Do ponto de vista da teoria geral do constitucionalismo, disciplina da ciência jurídica, trata-se da situação político-jurídica em que, no afã de se preservar a ordem social (em última instância, leia-se, preservação das relações de produção do tipo capitalista), o Estado e o direito prevêem a exceção de suas próprias regras em momentos de instabilidade político-institucional. É o que se verifica, por exemplo, nos chamados estado de sítio e estado de defesa, nos quais algumas garantias constitucionais, como liberdade de locomoção, reunião, expressão,  são atenuadas. Em tese, é um momento transitório, excepcional, de flexibilização das regras constitucionais, com necessidade de retorno à normalidade jurídica o quanto antes.

E quando a normalidade sempre é excepcionada? Explicamo-nos: no chamado Estado de exceção permanente, a anormalidade das regras jurídicas e institucionais é uma constante. Não se tratam de situações dramáticas, desastres ou guerras, nas quais se clama pela decretação do Estado de Sítio ou de Defesa. Não! Estamos num momento de normalidade institucional e o apelo econômico do patronato é que gera a exceção.

Agora, a exceção se torna a regra. O progresso econômico (no capitalismo, progresso econômico significa arrocho das condições de vida dos trabalhadores) exige que se ultrapassem certas regras jurídicas em função do bom andamento dos negócios.

Percebam que a legalidade, sempre tão louvada pela ideologia burguesa, é a primeira a ser desconsiderada.

Nós, comunistas, somos acusados de inimigos da lei (o que para nós é um elogio, na verdade, não?), porém a burguesia mesma rasga sua legalidade quando melhor lhe convém. A hipocrisia é escancarada!

Não nos cabe aqui analisar toda a chamada Lei da Copa, mas é necessário observarmos pontualmente três aspectos para demonstrarmos a flexibilidade das regras:

Primeiro, pela lei, os pedidos da FIFA serão tratados com prioridade pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e em curto prazo, sem contar a gratuidade do registro das marcas, obrigatório para empresas nacionais. Segundo, a FIFA terá exclusividade na geração de imagens, o que implica em necessário pagamento pelo direito de transmissão. Terceiro e último, os preços dos ingressos serão estabelecidos pela própria FIFA. Tais aspectos demonstram que os princípios constitucionais da isonomia, livre iniciativa e concorrência foram abrandados.

Não estamos numa situação formal de guerra ou de catástrofe, entretanto, nossa normalidade jurídico-institucional é colocada em cheque. E as exceções não se interrompem aí. A FIFA obteve total isenção tributária dos impostos federais referentes a bens e serviços relacionadas à Copa, inclusive a isenção da contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE), decorrente da importação e comércio de combustíveis.

Ainda, a lei de licitação e contratos administrativos será excepcionada pelo chamado regime diferenciado de contratações (RCD).

A crítica apresentada por nós é no sentido de que, mesmo sob os “rigores” da lei de licitações já existem fraudes de toda sorte. Imaginemos diante de sua flexibilização… Estão definitivamente abertas as portas para os superfaturamentos e desvios de recursos públicos!

Ainda, a fim de atender a gigantesca demanda de transportes já foi anunciada a privatização da gestão de, pelo menos, três importantes aeroportos: Guarulhos, Viracopos (Campinas) e de Brasília. Ou seja, a urgência nos preparativos permite o avanço do neoliberalismo, da lógica do lucro, pois é num setor estratégico de tamanha sensibilidade como a aviação.

Temos ainda uma nova proposta de reforma do Código Florestal em debate no Legislativo Federal que segue no sentido de se autorizar a derrubada da mata nativa em áreas de preservação permanente (APPs) para a construção de obras relacionadas à Copa.  As APPs são toda extensão de terra e vegetação disposta às margens dos rios e também nas encostas dos morros. O objetivo principal é a preservação ambiental assegurando-se a qualidade dos solos e da água. O equilíbrio ambiental e a sustentabilidade das próximas gerações são afastadas em função da corrida por todos os preparativos.

Assim sendo, o discurso da legalidade enquanto canal do bem comum e dos interesses da legalidade mais uma vez revela seu caráter classista. A legalidade busca camuflar a luta de classes e é tão nítida a sua artificialidade que, sem a menor cerimônia, é afastada convenientemente quando os interesses do capital carecem de novas regras para seu bom desenvolvimento.

Dessa forma, a Copa do Mundo que poderia representar apenas o encontro saudável do futebol-arte transforma-se em um espetáculo cuja regra é a lucratividade do empresariado de toda espécie e com o respaldo do Estado brasileiro em exceção permanente.  

 

O PLEBISCITO PELOS 10% DO PIB JÁ

PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA E ALGUNS

APONTAMENTOS NECESSÁRIOS

                                                                                          Núcleo de Professores

“É por isso que hoje o sentido da mudança educacional radical não pode ser se não o rasgar da camisa-de-força da lógica incorrigível do sistema: perseguir de modo planejado e consistente um estratégia de rompimento do controle exercido pelo capital, com todos os meios disponíveis, bem como com todos os meios ainda a ser inventados, e que tenha o mesmo espírito”. (Mészáros)

Primeiramente deixamos claro que estamos participando e organizando o Plebiscito. Mas, não nos furtaremos de apresentar a nossa reflexão e o nosso ponto de vista.

         É sabido o quanto é necessário investir-se nos serviços sociais (Saúde, Habitação, Educação, Transporte coletivo, Lazer) essenciais à vida dos trabalhadores e seus filhos. No caso da Educação Pública isso possibilitaria uma maior valorização do professor em termos de salário e plano de carreira descente, uma infra-estrutura melhor nas escolas e, consequentemente, um digno processo de ensino-aprendizagem e ampliação do ensino público superior.

         No entanto, é necessário cuidarmos para que não sejamos iludidos por uma ou outra posição que não se preocupa em fazer do Plebiscito, um momento para discutirmos os problemas da ordem burguesa, pois visa apenas às eleições municipais do ano próximo ano. Tal posição repercute diretamente na consciência dos trabalhadores ao não vislumbrar saídas que não sejam as da sociedade capitalista.

Nesse sentido, alguns questionamentos se fazem necessários: Qual é o percentual necessário do PIB para a Educação Pública? 10% do PIB são suficientes para termos uma Educação Pública de Qualidade? De que modo serão investidos? Quem irá administrar esses recursos? A serviço de qual modelo de Educação estará disponível esse recurso? É possível uma saída para os problemas, do ponto de vista dos trabalhadores?

 

A IMPORTÂNCIA DO PLEBISCITO

 

Temos em vista que vivemos, nos dias de hoje em todo o mundo, a nacionalização dos danos causados pela crise na estrutura econômica na qual se assenta a sociedade capitalista.

Entendemos que as medidas adotadas pelos governos dos mais variados países visam salvar os lucros das empresas e bancos em detrimento do fornecimento de serviços públicos de qualidade para os trabalhadores. No Brasil não é diferente. Nesse sentido, o Plebiscito merece a mais devida importância, pois esperar “uma solução feliz para esses problemas vinda das operações de resgate do Estado capitalista seria uma grande ilusão. (Mészáros. A Estrutural do Capital, p.25).

 Pensamos que taticamente, o Plebiscito serve também para alertar e esclarecer os trabalhadores em relação ao sucateamento que compromete e deverá comprometer ainda mais os serviços públicos dos quais usufruímos. Assim, abre possibilidades, além da discussão colocada pelo Plebiscito, de discutirmos os problemas da Saúde, do Transporte coletivo, da Habitação e, é claro, da Educação Pública em conjunto com os funcionários desses serviços. Assim sendo, possibilita quebrar o corporativismo existente atualmente no Brasil.

         Dessa forma, colabora para que o funcionalismo público se arma e se organize para melhor enfrentar os desafios que nos atingem e ainda atingirão. A forma como as greves do funcionalismo público foram tratadas em 2011 denotam o quanto os governos do PT, PSDB, PMDB, DEM etc. endureceram com os trabalhadores e com todo o auxílio máximo do judiciário.

 

O Plebiscito é um momento rico para evidenciarmos os problemas que nos atingem cotidianamente e que resultam de um modelo de sociedade que privilegia apenas os interesses de alguns poucos. Uma sociedade de mercado em crise que não visa o interesse geral dos trabalhadores, capitalista e que tem a violência como combustível, portanto, impossível de humanizar-se de modo que atenda as necessidades daqueles que labutam.

 Com isso, procuramos a partir dos problemas imediatos, discutir uma saída para demais problemas, de acordo com os nossos interesses, ou seja, a construção de uma outra sociedade. Dessa forma, não podemos cair no conto de fadas de eleger alguém a partir de eleições municipais, estaduais e federal aguardando que resolvam os nossos problemas. Precisamos nos juntar em luta pelos nossos interesses.

 

MAIS DINHEIRO PARA QUE TIPO DE EDUCAÇÃO?

 

Uma Educação que priorize a infra-estrutura física das escolas? Uma Educação que objetiva os padrões de eficiência determinados pela ordem dominante? Uma Educação voltada para atuar nas atividades econômicas informais? Uma Educação Pública emancipatória? O que é necessário para os trabalhadores?

         Defendemos uma educação pública de qualidade para os trabalhadores e seus filhos, combinada com a luta pela transformação da sociedade. Uma Educação que assuma um caráter emancipatório, que vislumbre uma sociedade sem classes, fraternal em que a escola, em todos os níveis, não seja precária, em que o ensino público defenda exclusivamente os interesses dos trabalhadores!

         A ordem reinante não está sob nosso controle. Temos que ter isso bem claro. Não estamos sob um governo federal de frente popular. A nosso ver, é um governo frente burguesa, pois está em aliança com partidos que defendem a ordem vigente (PMDB, PTB, PP do Maluf e PPS).

         Os governos do PT e suas coligações com a direita conservadora e do PSDB. PV, DEM, PSD, entre outros não investem na Educação Pública visando reservar o dinheiro para planos e obras de interesses dos empresários e empreiteiros e não para a Educação a serviço da população trabalhadora.

 Daí a necessidade de lutarmos para mudarmos não apenas a Educação, mas a própria sociedade, questionando e buscando quebrar e superar a lógica capitalista, como forma inclusive de conseguir uma Educação digna de fato para os trabalhadores e seus filhos.

 

QUEM IRÁ ADMINISTRAR O DINHEIRO? A RAPOSA TOMARÁ CONTA DO GALINHEIRO?

 

Os governos municipais, estaduais e federal estão envolvidos o tempo todo em corrupção e fraudes, pois são formas utilizadas para manter os lucros daqueles que sempre são favorecidos pelas ações governamentais. Por conta disso, a participação dos pais e alunos na APM, no Conselho de Escola e Comitês de Trabalhadores assume uma importância muito grande. Sabemos das limitações desses órgãos colegiados no interior das redes de ensino público, mas deve ser o ponto de partida para um envolvimento de todos nas questões diárias das escolas públicas.

 Sem isso, o caminho fica livre para os desvios fraudulentos que sustentam a sociedade capitalista.

 

UMA ALIANÇA NECESSÁRIA ENTRE OS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO PÚBLICA E OS DEMAIS TRABALHADORES  

Os problemas da Educação pública no Brasil não podem ser mais tratados apenas pelos trabalhadores da Educação. A solução para esses problemas deve ser uma luta dos funcionários da Educação que extrapole os muros das escolas e dos limites da própria rede de ensino para envolver os trabalhadores de um modo geral (pois somos nós que matriculamos nossos filhos na escola pública)  e dos mais variados ramos da economia a fim de participarem das discussões sobre a qualidade de ensino e da luta dos professores. Os sindicatos de um modo geral, e as centrais sindicais, sobretudo, de esquerda devem discutir no âmbito de suas categorias os problemas da Educação tendo no horizonte a transformação social.

 Enfim, devemos lutar por um processo educativo que em sua plenitude tenha como princípio uma nova forma de sociabilidade que trans

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2011 – Ampliação e Radicalização das Lutas e Rebeliões no Mundo

           

  O ano de 2011 marca sem dúvida uma nova situação mundial

            Em primeiro lugar, a nova situação se manifesta pela ameaça constante do retorno à recessão mundial, haja visto que, mesmo após 3 anos da eclosão da crise de 2008 (a mais profunda desde 1929), a economia mundial não só não retomou os índices de crescimento anteriores, como enfrenta problemas cada vez maiores como o da “crise da dívida” na zona do Euro e nos próprios EUA.

            As tentativas iniciais dos analistas burgueses de dizer que “o pior ficou para trás”, logo deram origem ao pessimismo e aos planos de ataques frontais aos trabalhadores, como congelamentos de salários, aumento de idade para aposentadoria e cortes de verbas e demissões de funcionários da saúde e educação públicas.

            Hoje até mesmo setores da mídia burguesa reconhecem que não estamos diante de uma crise qualquer e que de fato estamos diante de algo maior do que uma simples recessão.

            De nossa parte, julgamos que na verdade o que essa crise traz à tona são as contradições estruturais do capital, combinados com a crise de um padrão de acumulação pautado no recurso ao crédito como forma de suprir e alimentar de forma artificial uma demanda que se apresenta cada vez mais difícil para dar vazão – a preços lucrativos – à imensa capacidade produtiva instalada no mundo, devido ao enorme desenvolvimento tecnológico.

            Uma série de problemas que o sistema vem acumulando desde os anos 80, como a reestruturação produtiva, que eliminou milhões de postos de trabalho, o ataque direto às condições de vida dos trabalhadores, com o rebaixamento salarial, visando aumentar os lucros do empresariado, a exacerbação do endividamento como forma de alavancar o consumo, a restrição de barreiras ao capital, novos instrumentos financeiros como os derivativos, etc, enfim toda  uma pirâmide financeira que cumpria ao mesmo tempo o papel de cobrar a maior remuneração possível tanto da parte das empresas como da parte dos Estados.

            Em 2008 essa pirâmide financeira começou a desabar, ameaçando com a depressão. Os Estados interviram maciçamente e de forma mais ou menos coordenada e impediram a depressão naquele momento.

            No entanto, em que pese todo esse operativo de salvamento, a economia até agora não apresenta sinais de recuperação de demanda privada real e sustentável.

            Assim as dívidas dos sistema financeiro foram incorporadas pelos Estados e repassadas à sociedade (leia-se aos trabalhadores).

            Os Estado, porém, também têm limites em seu potencial de endividamento. A partir de certo ponto, até mesmo os juros tornam-se impagáveis ou muito caros de serem rolados. Assim, sobrevém a segunda etapa dessa crise, que tem sido marcada pela extrema dificuldade de vários países em conseguir vender no mercado seus títulos e dessa forma pagar os juros imediatos, pelas dificuldades cada vez maiores de se conseguir pacotes de salvação de países e agora da própria União Européia e pela sua contrapartida direta, que são os ataques aos trabalhadores.            

            A crise econômica prossegue e entra num novo estágio como uma possível crise bancária na Europa. Os grandes bancos franceses e alemães carregam em suas carteiras créditos impagáveis de países europeus periféricos (PIGS) e já começam a entrar eles próprios na alça de mira do  implacável mecanismo de concentração pelo qual os capitais mais fortes engolem os mais fracos. É para salvar os bancos que entram em cena os planos do BCE e a imposição de governos de tecnocratas (Monti na Itália e Papademos na Grécia), praticamente nomeados pelo mercado financeiro, para aplicar as “medidas de austeridade” contra os trabalhadores.

             Assim, o período que se abriu em 2008 se enquadra e ao mesmo tempo expressa uma crise maior, uma crise estrutural que se abriu a partir do ínício dos anos 70 e de lá para cá vem se arrastando e passando por fases e ciclos diversos. Além dos ciclos já analisados por Marx, alguns analistas chamam a atenção para as chamadas ondas longas.

            Assim, não temos um novo período de crescimento sustentável mas um pequeno ciclo de 4-5 anos com uma ligeira recuperação e que no entanto já apresenta sinais de um novo agravamento da situação para os próximos 1 ou 2 anos.

 

            A expressão do novo é a Reação dos Trabalhadores

            Diante disso, a resistência dos trabalhadores e da juventude deu um salto e se colocou como o elemento mais dinâmico a ser enfrentado pelo sistema e seus agentes. Isso porque são empecilhos diretos para a aplicação do receituário do capital que necessita de um aumento brutal do nível de exploração sobre os trabalhadores a fim de poder contornar sua crise.

            Tem havido importantes mobilizações dos trabalhadores em muitos países, mas o foco mais ativo ainda está na juventude. Em geral são os jovens desempregados que marcham nas ruas dos países árabes e ocupam as praças na Europa e Estados Unidos.

            No interior da classe trabalhadora, são os funcionários públicos e de empresas estatais que tem encabeçado as mobilizações e greves gerais na Grécia, Espanha, Itália, Portugal, e agora também na Inglaterra.

            A classe operária dos países centrais ainda não se colocou em movimento com mais peso devido ao papel nefasto das suas direções políticas e sindicais, organicamente integradas ao Estado burguês imperialista e co-gestora das empresas ao lado da patronal. As greves gerais, por mais massivas e importantes, são conduzidas burocraticamente como válvulas de escape, não como forma de luta consequente para derrotar de fato os ataques. São greves de um dia de duração, sem a perspectiva de continuidade, sem auto-organização e fóruns de decisão que rompam o controle da burocracia.

            Além das greves gerais na Grécia, na Espanha e na Itália, além da rebelião da juventude de periferia de Londres, tivemos os rebeliões/revoluções democráticas no norte da África, na Tunísia, no Egito, na Líbia e na Síria.

            Esse processo, também chamado de “Primavera Árabe”, ainda está em aberto, porque não se trata apenas de uma luta na esfera da política contra ditadores que se tornaram odiados. A origem do processo está nas conseqüências sociais da crise econômica internacional. Os povos árabes se colocaram em luta devido ao desemprego em massa, que afeta principalmente a imensa população de jovens desses países, e à carestia, em especial o aumento do preço dos alimentos. Essa situação material estrutural não mudou com a troca dos dirigentes do Estado, portanto as lutas devem continuar.

            Por mais contradições que haja nesses processos, principalmente a partir da Líbia, onde o imperialismo passou a jogar um papel direto de intervenção militar, interferindo nos seus rumos, a ação direta das massas populares tem sido o elemento definidor, embora com muitas e problemáticas  mediações.

            A Primavera Árabe representa uma liberação de energias dos trabalhadores e a partir de agora sua entrada em um confronto mais direto com o capitalismo e não apenas contra regimes ditatoriais das elites locais.

            Em especial é importante observar o caso do Egito, em que a população permaneceu mobilizada e desenvolveu formas de resistência que fizeram com que, 10 meses depois da queda de Mubarak, voltassem a se colocar em luta contra a junta militar. O caso dos trabalhadores portuários que se recusaram a receber uma carga de gás lacrimogêneo vinda dos EUA, e seu reconhecimento pela população, é emblemático dessa resistência e avanço da consciência.

            O caso do Egito é aquele em que a permanência das lutas e o processo de reorganização da classe trabalhadora é maior e mais ativo, mas em todos aqueles países tendem a surgir e se desenvolver processos de mobilização dos trabalhadores potencializados pelo agravamento das suas condições de vida. Os  problemas sociais que estiveram na raiz dessas rebeliões/revoluções não vão se resolver apenas com a democratização burguesa e muito parcial daqueles países.

            Até mesmo na América Latina temos visto lutas com caráter diferenciado. No Chile a juventude protagonizou ao longo de praticamente todo o ano uma luta massiva e radicalizada em defesa da educação pública, contando com apoio de importantes categorias e greves de solidariedade, mas trata-se de uma demanda (ainda reformista) que nenhuma burguesia nacional é capaz de conceder, dentro do marco geral da crise estrutural. Na Bolívia trabalhadores têm tido a necessidade de se organizar e fazer greves diretamente contra o governo de Evo Morales. O mesmo ocorre na Venezuela, onde os questionamentos ao projeto de Chaves começam a ocorrer pela esquerda, embora em menor intensidade.

            Isso porque esses governos não representam alternativas de ruptura com  o capitalismo, no máximo mais uma forma de administração do capital pela burocracia de Estado e do exército, submetida aos limites da propriedade privada e da segurança para o capital que opera nesses países. Em um contexto de crise e de acirramento das contradições do capitalismo, as propostas de convivência e conciliação com o capital só podem levar a choques diretos com os trabalhadores.

 

            Avanços e Limites dos movimentos como Indignados e Occupy Wall Street

            Nos últimos meses têm ganho força movimentos como os Indignados na Espanha e o Occupy Wall Street nos EUA. De certa forma representam o ressurgimento, no contexto da crise, dos movimentos antiglobalização que chamaram a atenção no final dos anos 90/início dos anos 2000. No entanto, em que pese sua semelhança, há também diferenças importantes.

            Os movimentos antiglobalização restringiam-se aos dias das reuniões dos organismos internacionais do capital (OMC, G-8, FMI, Banco Mundial, etc), enquanto os atuais tendem a buscar maior permanência no tempo e a ocupação de espaços públicos, de modo a chamar a atenção e criar espaços alternativos de debate e convivência. Além disso, seus alvos são mais diretos, como as praças financeiras e corporações e colocam no centro de sua crítica o fato de que o Estado está utilizando do dinheiro público para a salvação de bancos e corporações  que correspondem a 1% da população enquanto os outros 99% são deixados à sua própria sorte.

            As mobilizações que se espalharam pelo mundo em 2011, aquelas que partem mais da iniciativa da juventude do que da burocracia sindical, podem ser o espaço para o surgimento de embriões de novas formas de organização da classe, às quais os revolucionários devem estar atentos, como assembleias, comitês, redes sociais, mídia alternativa, que podem se converter em espaços de organização e oferecer possibilidades novas.

            No entanto, em que pese esses avanços ocorridos, frutos sem dúvida do novo contexto mundial pós-crise de 2008, com o desemprego e corte das verbas para os serviços públicos diretamente nos países centrais, há ainda defasagens importantes que deverão ser superadas.

            Entre elas está o fato de que esses movimentos não colocam como seu alvo o sistema capitalista como um todo, mas apenas suas partes mais diretamente beneficiadas com a ajuda dos governos, como os bancos e o sistema financeiro.

            Porém a crise que o mundo atravessa não é financeira (apenas) e sim da economia como um todo, é uma crise societal em termos estruturais. A falta desse diagnóstico mais profundo encontra correspondência no fato de que esses movimentos não apresentam uma proposta de sociedade alternativa ao capitalismo, ficando como uma negação difusa dos valores consumistas do mercado, do sistema financeiro e das corporações. Isso abre espaço para que esses movimentos possam ser assimilados ou reprimidos, a partir do momento em que não consigam se colocar como alternativas concretas de ação para o conjunto dos trabalhadores, única força social capaz de dar sustentação a qualquer proposta de superação positiva do capital.

            Para afetar de fato o sistema e ao mesmo tempo mudar a lógica de funcionamento da sociedade, colocando em seu lugar um novo modelo de sociedade, é preciso que os trabalhadores apontem para o questionamento e superação do próprio modo de produção da riqueza social: as relações capitalistas de produção, que são as raízes da forma de distribuição e de funcionamento da economia.

            As propostas comportamentalistas expressas por esses movimentos são demandas necessárias e muitas vezes menosprezadas pela esquerda, como o combate ao consumismo, a busca de uma relação humana em equilíbrio com o ambiente, o combate à hierarquia burocrática imposta pelas direções de muitos movimentos e partidos, mesmo de esquerda, a busca por relações igualitárias entre os gêneros e etnias, a retomada das identidades culturais, etc. São traços muito positivos que devem ser assimilados pelos movimentos dos trabalhadores e socialistas se quisermos realmente batalhar por uma revolução socialista.

            No entanto, é preciso afirmar que essas demandas só podem ser de fato conquistadas se se expandirem em nível geral e não apenas numa pequena vanguarda, por mais esclarecida que seja.   Isso exige uma revolução nas relação gerais da sociedade e na sua lógica de funcionamento e não apenas uma mudança nas ideias e comportamentos éticos, o que exige a contraposição à ordem capitalista e suas instituições, pois a raiz de de todas as formas de alienação está na produção e distribuição, na relação alienada dos produtores com o seu trabalho.

            O desafio é que esses movimentos busquem se ligar aos trabalhadores e suas lutas avançando ao mesmo tempo para definições programáticas mais diretas contra os governos por uma alternativa de sociedade ao capitalismo como um todo. A falta de uma definição socialista e revolucionária custa caro nos dias atuais.

            Se esses movimentos ficarem restritos à propaganda comportamental e à ocupação de espaços delimitados, podem se esgotar e serem reprimidos ou destruídos devido ao desgaste e banalização, ou mesmo assimilados pelo sistema, como mais uma forma ou momento possível de vida para alguns, desde que não afete os pressupostos estruturais da produção voltada para o maior lucro possível.

 

            O Brasil também entra em um novo momento. Dilma mostra a que veio.       

            No caso do Brasil, ao contrário do restante do mundo, os bancos ainda não estão sendo questionados. Ao invés disso, a “cidadania do crédito” (ou seja, o endividamento em massa dos trabalhadores) tem sido a fiadora da estabilidade do governo Dilma/PT/PMDB, pois a garantia do acesso ao consumo tem sido a miragem que faz com que os trabalhadores suportem o aumento da exploração e a deterioração das suas condições de vida, que tem como um dos seus aspectos o sucateamento dos serviços públicos, às custas do ataque sistemático aos trabalhadores do setor público e das estatais.

            O Brasil não está fora da realidade mundial, como os governos e a mídia tentavam veicular. Agora, governos, empresários e a grande mídia substituem o discurso cinicamente ufanista por um outro aparentemente mais “responsável” de que o país deve se preparar para a crise que se aproxima novamente. Porém essa preparação na verdade se traduz pela imposição por parte da burguesia de uma série de ataques aos trabalhadores, de modo que se possa diluí-los ao longo do tempo, com apoio das direções burocráticas como PT, CUT, CTB, UNE, e assim tentar diminuir o impacto e a resistência dos trabalhadores à degradação de seu nível de vida.

            Essas medidas de antecipação/adequação são duras e representam uma mudança de ritmos de ataques com relação aos anos anteriores.

            Esses ataques têm levado a que também no Brasil tenhamos visto em 2011 um ano de mais e maiores lutas dos trabalhadores. Greves como nas obras do PAC, dos transportes, trens e ônibus, correios, bancários, professores em vários estados. No caso da juventude, várias ações como greves e ocupações de reitorias foram retomadas, com destaque para a ocupação e greve dos estudantes na USP contra a permanência da polícia no campus e sua função de repressão, que está a serviço de manter um projeto que está levando cada vez mais à privatização da universidade.

            A não existência de um instrumento de organização mais amplo, a partir do fracasso do Conclat em 2010, mesmo com os problemas e limites que uma nova central unitária teria, cobrou seu preço em 2011, pois ainda que a CSP-Conlutas tenha tido um papel importante em algumas lutas, a sua ação esteve muito aquém do que seria necessário para enfrentar a burguesia e o governo e lutar contra o controle da burocracia sobre o movimento.

            Devemos batalhar pela unidade da esquerda e pela construção de fóruns de oposição à burocracia sindical, estudantil e dos movimentos sociais, que encaminhem ações unitárias, lutas e campanhas políticas inter-categorias.

            Devemos reativar a proposta de um Movimento Político dos Trabalhadores, que coloque em pauta uma alternativa socialista contra a crise. Esse Movimento deve se consolidar na luta, a partir da base, e pode ser o ponto de partida para uma participação classista, socialista e revolucionária nas eleições, ainda que o seu objetivo deva ir além das eleições.

 

            As lutas apontam melhores condições e novos desafios para a intervenção socialista.   

            Assim, o elemento novo que tem surgido cada vez com mais força é a resistência dos trabalhadores nos centros do capital, particularmente na Europa, com as greves gerais e manifestações na Grécia, na Espanha, na Itália, e agora iniciando-se nos EUA com as ocupações, irradiando-se para outras países, colocando cada vez mais a luta de classes em uma arena mundial.  

            Permanece a crise de alternativas socialistas, com a dificuldade dos trabalhadores encontrarem respostas pela positiva à crise. Em geral os movimentos têm estado limitados ainda à negação e resistência às políticas do capital de utilizar o dinheiro público para salvar o empresariado, cortando dos trabalhadores. Não aparece ainda alguma alternativa de massas pela positiva. Isso é reflexo de que estamos ainda em um momento inicial das lutas nesta nova etapa.

            O setor operário-industrial da classe trabalhadora ainda não se incorporou os processos de luta mesmo nos países centrais, isso porque até agora o capital tem conseguido a duras penas impedir a recessão global ou mesmo uma depressão que obrigasse a entrada em ação direta dos destacamentos mais concentrados e poderosos da classe trabalhadora em defesa de seus empregos e condições de vida. Prevalece ainda uma lógica extremamente competitiva entre as economias e empresas (e também entre os trabalhadores) a partir de ameaças da patronal de deslocamentos de empresas e ramos inteiros para países com melhores condições de exploração. Isso deixa os trabalhadores na defensiva.

            A economia como um todo permanece em ritmo lento de crescimento, tendendo à estagnação ou mesmo à recessão, que tem sido parcialmente contrabalanceada pelo desempenho das economias dos países periféricos (entre eles os chamados BRIC’s). No entanto, essas economias que até aqui têm sustentado altas taxas de crescimento (comparadas aos países centrais) também apresentam limites. Com a dificuldade das economias centrais se recuperarem e um possível novo momento da crise, o crescimento dos países periféricos tende a diminuir, colocando uma nova situação.

            Ao se recolocarem em movimento, os trabalhadores criam melhores condições para que possam voltar a se enxergarem como classe, enfrentando os mesmo inimigos em terreno mundial. Ao mesmo tempo em que aumentam os desafios, devido à polarização com as forças de repressão do Estado e com os movimentos de ultra-direita. Em vários países, e também no Brasil, a direita tem se organizado, com ações e manifestações de caráter proto-fascista, agressões racistas, xenófobas, homofóbicas, violência contra a mulher. Além disso, o Estado de modo geral tem se tornado mais autoritário, criminalizando e reprimindo greves, ocupações, piquetes, manifestações, ações diretas e formas de divergência política que partem dos trabalhadores.

            Apesar desse aspecto negativo de reorganização das forças de direita, melhoram as condições para que os trabalhadores comecem a se reconhecer como  uma classe em si, com interesses semelhantes ou que se combinam nos vários países, enfrentando os  mesmos inimigos em escala global: o capital e seus agentes, sejam as burguesias dos diversos países e os organismos internacionais, sejam as instituições do Estado.

            O trabalho de impulsionar as formas concretas de luta dos trabalhadores e da juventude deve ser combinada com a formação e organização de base nos locais de trabalho e de estudo. A luta por buscar elevar o nível de consciência dos trabalhadores, buscando elucidar os nexos entre os problemas concretos e sua lógica, que é geral, e a busca pela reconstrução ideológica e prática do projeto socialista, são os desafios colocados para o(s) próximo(s) ano(s).

            O Estado e a burguesia ainda têm muitos recursos para administrar a crise e oferecer alternativas por dentro do sistema. Os revolucionários precisam apresentar a alternativa socialista de forma mais concreta, reforçando a propaganda do socialismo, explicando a todo momento como seria uma sociedade em que os trabalhadores controlam a produção e a colocam a serviço das necessidades humanas, em relação equilibrada com o ambiente, etc. É importante oferecer essa perspectiva, ainda que no plano da propaganda, para mostrar que existe sim uma alternativa concreta ao capital.

            Mas não há dúvida que há uma nova situação mundial que coloca mais tarefas e desafios mas também melhores possibilidade de se retomar a agitação, propaganda e organização em torno da idéias e propostas socialistas-revolucionárias. O ano de 2011 confirma isso.   

 

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O PLEBISCITO PELOS 10% DO PIB JÁ PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA E ALGUNS APONTAMENTOS NECESSÁRIOS


“É por isso que hoje o sentido da mudança educacional radical não pode ser se não o rasgar da camisa-de-força da lógica incorrigível do sistema: perseguir de modo planejado e consistente um estratégia de rompimento do controle exercido pelo capital, com todos os meios disponíveis, bem como com todos os meios ainda a ser inventados, e que tenha o mesmo espírito”. (Mészáros)

Primeiramente deixamos claro que estamos participando e organizando o Plebiscito. Mas, não nos furtaremos de apresentar a nossa reflexão e o nosso ponto de vista.

  É sabido o quanto é necessário investir-se nos serviços sociais (Saúde, Habitação, Educação, Transporte coletivo, Lazer) essenciais à vida dos trabalhadores e seus filhos. No caso da Educação Pública isso possibilitaria uma maior valorização do professor em termos de salário e plano de carreira descente, uma infra-estrutura melhor nas escolas e, consequentemente, um digno processo de ensino-aprendizagem e ampliação do ensino público superior.

  No entanto, é necessário cuidarmos para que não sejamos iludidos por uma ou outra posição que não se preocupa em fazer do Plebiscito, um momento para discutirmos os problemas da ordem burguesa, pois visa apenas às eleições municipais do ano próximo ano. Tal posição repercute diretamente na consciência dos trabalhadores ao não vislumbrar saídas que não sejam as da sociedade capitalista.

Nesse sentido, alguns questionamentos se fazem necessários: Qual é o percentual necessário do PIB para a Educação Pública? 10% do PIB são suficientes para termos uma Educação Pública de Qualidade? De que modo serão investidos? Quem irá administrar esses recursos? A serviço de qual modelo de Educação estará disponível esse recurso? É possível uma saída para os problemas, do ponto de vista dos trabalhadores?

 

A IMPORTÂNCIA DO PLEBISCITO

 

Temos em vista que vivemos, nos dias de hoje em todo o mundo, a nacionalização dos danos causados pela crise na estrutura econômica na qual se assenta a sociedade capitalista.

Entendemos que as medidas adotadas pelos governos dos mais variados países visam salvar os lucros das empresas e bancos em detrimento do fornecimento de serviços públicos de qualidade para os trabalhadores. No Brasil não é diferente. Nesse sentido, o Plebiscito merece a mais devida importância, pois esperar “uma solução feliz para esses problemas vinda das operações de resgate do Estado capitalista seria uma grande ilusão. (Mészáros. A Estrutural do Capital, p.25).

 Pensamos que taticamente, o Plebiscito serve também para alertar e esclarecer os trabalhadores em relação ao sucateamento que compromete e deverá comprometer ainda mais os serviços públicos dos quais usufruímos. Assim, abre possibilidades, além da discussão colocada pelo Plebiscito, de discutirmos os problemas da Saúde, do Transporte coletivo, da Habitação e, é claro, da Educação Pública em conjunto com os funcionários desses serviços. Assim sendo, possibilita quebrar o corporativismo existente atualmente no Brasil.

  Dessa forma, colabora para que o funcionalismo público se arma e se organize para melhor enfrentar os desafios que nos atingem e ainda atingirão. A forma como as greves do funcionalismo público foram tratadas em 2011 denotam o quanto os governos do PT, PSDB, PMDB, DEM etc. endureceram com os trabalhadores e com todo o auxílio máximo do judiciário.

 

O Plebiscito é um momento rico para evidenciarmos os problemas que nos atingem cotidianamente e que resultam de um modelo de sociedade que privilegia apenas os interesses de alguns poucos. Uma sociedade de mercado em crise que não visa o interesse geral dos trabalhadores, capitalista e que tem a violência como combustível, portanto, impossível de humanizar-se de modo que atenda as necessidades daqueles que labutam.

 Com isso, procuramos a partir dos problemas imediatos, discutir uma saída para demais problemas, de acordo com os nossos interesses, ou seja, a construção de uma outra sociedade. Dessa forma, não podemos cair no conto de fadas de eleger alguém a partir de eleições municipais, estaduais e federal aguardando que resolvam os nossos problemas. Precisamos nos juntar em luta pelos nossos interesses.

 

MAIS DINHEIRO PARA QUE TIPO DE EDUCAÇÃO?

 

Uma Educação que priorize a infra-estrutura física das escolas? Uma Educação que objetiva os padrões de eficiência determinados pela ordem dominante? Uma Educação voltada para atuar nas atividades econômicas informais? Uma Educação Pública emancipatória? O que é necessário para os trabalhadores?

  Defendemos uma educação pública de qualidade para os trabalhadores e seus filhos, combinada com a luta pela transformação da sociedade. Uma Educação que assuma um caráter emancipatório, que vislumbre uma sociedade sem classes, fraternal em que a escola, em todos os níveis, não seja precária, em que o ensino público defenda exclusivamente os interesses dos trabalhadores!

  A ordem reinante não está sob nosso controle. Temos que ter isso bem claro. Não estamos sob um governo federal de frente popular. A nosso ver, é um governo frente burguesa, pois está em aliança com partidos que defendem a ordem vigente (PMDB, PTB, PP do Maluf e PPS).

  Os governos do PT e suas coligações com a direita conservadora e do PSDB. PV, DEM, PSD, entre outros não investem na Educação Pública visando reservar o dinheiro para planos e obras de interesses dos empresários e empreiteiros e não para a Educação a serviço da população trabalhadora.

 Daí a necessidade de lutarmos para mudarmos não apenas a Educação, mas a própria sociedade, questionando e buscando quebrar e superar a lógica capitalista, como forma inclusive de conseguir uma Educação digna de fato para os trabalhadores e seus filhos.

 

QUEM IRÁ ADMINISTRAR O DINHEIRO? A RAPOSA TOMARÁ CONTA DO GALINHEIRO?

 

Os governos municipais, estaduais e federal estão envolvidos o tempo todo em corrupção e fraudes, pois são formas utilizadas para manter os lucros daqueles que sempre são favorecidos pelas ações governamentais. Por conta disso, a participação dos pais e alunos na APM, no Conselho de Escola e Comitês de Trabalhadores assume uma importância muito grande. Sabemos das limitações desses órgãos colegiados no interior das redes de ensino público, mas deve ser o ponto de partida para um envolvimento de todos nas questões diárias das escolas públicas.

 Sem isso, o caminho fica livre para os desvios fraudulentos que sustentam a sociedade capitalista.

 

UMA ALIANÇA NECESSÁRIA ENTRE OS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO PÚBLICA E OS DEMAIS TRABALHADORES  

Os problemas da Educação pública no Brasil não podem ser mais tratados apenas pelos trabalhadores da Educação. A solução para esses problemas deve ser uma luta dos funcionários da Educação que extrapole os muros das escolas e dos limites da própria rede de ensino para envolver os trabalhadores de um modo geral (pois somos nós que matriculamos nossos filhos na escola pública)  e dos mais variados ramos da economia a fim de participarem das discussões sobre a qualidade de ensino e da luta dos professores. Os sindicatos de um modo geral, e as centrais sindicais, sobretudo, de esquerda devem discutir no âmbito de suas categorias os problemas da Educação tendo no horizonte a transformação social.

 Enfim, devemos lutar por um processo educativo que em sua plenitude tenha como princípio uma nova forma de sociabilidade que transcenda a sociedade de classes, possibilitando que os trabalhadores e seus filhos possam fazer uso da riqueza cultural e material produzida pelo processo civilizatório.

 Por uma Educação Pública que seja a alavanca essencial na luta pela emancipação humana contra a barbárie capitalista.

 Pelo desenvolvimento contínuo da consciência socialista a campanha pelos 10% do PIB Já para a Educação Pública deverá alcançar todas as categorias de trabalhadores! 

 

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A luta na USP e a necessidade do combate à repressão

 

Fogo Monteiro e Thais Menezes

 

Novamente o movimento estudantil ascende na USP, trazendo à tona demandas e pautas de luta que buscam não apenas garantir a liberdade de organização dos estudantes que lutam, mas também responder a atual conjuntura de intensificação das politicas de repressão e ataques aos movimentos sociais no mundo,    

Os estudantes que ocupavam desde o dia 01/11(terça-feira)  a reitoria da USP, colocaram na pauta principal das reivindicações a retirada de todos os processos judiciais e adiministrativos contra estudantes, professores e ,  e também a retirada do convênio assinado pela reitoria da USP que garante a presença da PM no campus, reabrindo assim o debate quanto ao papel da polícia enquanto instituição constituida historicamente para reprimir e controlar a classe trabalhadora garantindo a manutenção do modelo de sociedade capitalista, por meio do Estado burgues.

Exigir a retirada da polícia do campus também nos remete a um passado recente, quando nos períodos sombrios da ditadura militar estudantes e trabalhadores eram duramente reprimidos e investigados e neste contexto a instalação de bases policiais em universidades e fábricas foi um importante instrumento para a repressão. Desde o fim da ditadura militar e a reconstrução dos órgãos estudantis, professores e estudantes já tinham conseguido garantir a retirada da polícia das universidades e assim evitar investigações e dificultar a repressão politica, portanto, o convenio assinado com a PM pela reitoria da USP é claramente um retrocesso.

A ocupação da reitoria teve ainda um desfecho mais esclarecedor com a desocupação (desnecessariamente cinametográfica) da reitoria pela polícia militar e com a inédita prisão e indiciamento criminal de 73 estudantes que participavam da luta, mostrando assim um triste aspecto da conjuntura atual, que mesmo sob a égide traiçoeira da democracia burguesa não consegue esconder sua face sombria e autoritária.

Mesmo sem apresentar resistência os estudantes foram tratados com truculência durante o período em que eram detidos ainda na reitoria. Assédio moral e até agressões físicas a estudantes que nem sequer resistiam deram o tom da arbitrariedade. Enquanto eram revistados, os estudantes puderam ouvir impossiblitados de qualquer reação, os gritos da colega que era agredida/torturada fisicamente em uma sala próxima. Dentro dos ônibus/camburões que levavam os estudantes até a delegacia ofensas de todo o tipo e ameaças de toda ordem foram proferidas pelos brutamontes da tropa de choque e como se não bastasse   estudantes  foram forçados a ficar horas sentados no ônibus com a cabeça entre as pernas, posição esta que dificulta a respiração e provoca horríveis dores em toda a coluna, numa clara intenção de tortura física e psicológica.

Os abusos policiais só conseguem ser menores do que os abusos do governo do estado de São Paulo, expondo de forma ainda mais categórica o fundamento político das detenções. Os estudantes detidos assinariam até então um termo circunstaciado na delegacia e seriam liberados, porém por ordem do governador Geraldo Alkmin os estudantes foram indiciados criminalmente por danos aos patrimonio público e desobediência à ordem judicial, criminalizando assim a luta política dos estudantes.

Os estudantes passaram cerca de 24 horas como presos políticos, aprisionados nos ônibus que os trouxeram (a delegacia sequer tinha espaço para receber tantos presos) onde a falta de espaço, o forte calor, a falta de comida e água debilitaram ainda mais fisica e psicologicamente os 73 presos políticos.

Tal situação porém, não foi assistida com passividade pelos estudantes da USP. Enquanto a polícia prendia os ocupados, outros estudantes lutavam com a polícia do lado de fora da reitoria e exigiam sua imediata soltura.

Durante a tarde se organizaram novamente e marcharam em manifestação da cidade universitária até a delegacia, onde somados à familiares de vários estudantes presos, exigiram em um ato maravilhoso a soltura de todos os companheiros durante quase 15 horas, boa parte em pé, debaixo de Sol forte, sem comida e água.

Na USP uma assembleia estudantil se constituiu durante a parte da tarde e mostrou a força que o movimento acumulou neste período, reunindo mais de 3 mil estudantes que mostraram combatividade e solidariedade, ao votarem pela greve geral e unanimemente votarem como uma das reivindicações pricipais a retirada de todos os processos criminais e administrativos contra os presos pela repressão.

A campanha movida pela mídia burguesa, que busca desmoralizar a luta movida pelos estudantes da USP, apresentando-os como “maconheiros”, ou ainda como “bichos-grilo mimados” nada mais é do que um esforço desesperado para tentar esconder a realidade das universidades públicas do país e a luta dos estudantes contra seu sucateamento e privatização.

Não têm sido veiculado na imprensa as lutas que estes estudantes e professores travam ano após ano pela abertura de mais vagas, pela construção de mais universidades públicas para os trabalhadores, por uma estrutura adequada de ensino, contra o ensino à distância, por cotas raciais, contra a homofobia e contra toda forma de opressão.

A luta dos estudantes da USP deve inserir-se no quadro geral da repressão a estudantes e trabalhadores pela qual a burguesia vem buscando garantir seus lucrosl. Deve sensibilizar lutadores e lutadoras de todo o país, chamando para a luta estudantes e trabalhadores em unidade contra os ataques do capital e contra a política autoritária que novamente vêm se instaurando em nosso país.

 

  •    Todo apoio aos estudantes/lutadores da USP
  •  Revogação imediata do convênio USP-PM
  • Fim de todos os processos administrativos e judiciais contra estudantes, funcionários e professores
  •  Não a criminalização dos movimentos sociais
  •  Fora Rodas! Por uma gestão democrática na USP! Por uma forma democrática de eleição da direção!
  •    Não aos projetos de privatização nas universidades públicas!
  •  Por uma sociedade sem exploração, sem repressão, sem polícia, sem classes sociais; por uma sociedade socialista

FORA PM DO CAMPUS E DO MUNDO!!!

 

 

 

 

 

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