Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

Dia 30 de março: unidade com CUT e centrais sindicais pelegas e governistas retira caráter anti-governista dos atos

O dia 30 de março, organizado pelas centrais sindicais governistas em conjunto com a Conlutas e a Intersindical, colocou uma série de questões para a atuação política das forças de esquerda frente a crise.

A primeira delas e talvez a mais fundamental diz respeito a saber quem são nossos aliados nas lutas e inclusive saber qual o papel que cumpre cada uma das centrais sindicais do país. O próprio processo de surgimento da CONLUTAS está ligado a uma compreensão de que a CUT e as demais centrais estão perdidas para a luta de classes. Sua lógica de inserção no aparelho do Estado é tão profunda que objetivamente não deixa saídas para que se possa mudar essa situação. Ou seja, a CUT está em um situação tal que não se pode mais ter qualquer ilusão de que ela possa ser recuperada para a luta. Daí a necessidade da construção da CONLUTAS. Essa caracterização é inclusive confirmada na atualidade pelos sucessivos acordos que a CUT  tem feito no sentido de retirar direitos dos trabalhadores. A CUT não só não mudou desde a criação da CONLUTAS, como piorou.

A segunda questão é que a mudança da data do dia 01/04 (antes considerada sagrada a ponto de justificar a ausência do PSTU no Encontro de base do ABC) para o dia 30/03 se deu por meio de um processo extremamente problemático. A consulta envolveu apenas as direções das entidades, sem que se tivesse tempo de fazer qualquer discussão com o conjunto dos trabalhadores. Várias categorias já estavam se preparando para o dia 01/04, inclusive com material impresso e assembléias marcadas. A conseqüência da mudança foi de que, na prática, significou uma desmobilização para algumas categorias e terminou por desorientar um setor importante.

A terceira diz respeito à unidade. Temos sido parte dos maiores defensores da unidade dos trabalhadores em geral e da esquerda em particular, considerando que a unidade é uma das condições para a vitória da classe trabalhadora. A unidade existe para a luta, para impulsionar os processos objetivos da classe trabalhadora, para que esta se sinta mais fortalecida e possa dar passos no sentido da ruptura com o governo e com as centrais sindicais pelegas. Defendemos a unidade com os setores que têm uma política de oposição ao governo e  a patronal, que se propõem a enfrentar a crise sob uma perspectiva dos trabalhadores. Como é uma unidade para construir um processo de luta é evidente que o critério é que estejam aqueles que estão a favor da luta. Não cabe quem defende o governo ou acordos que favoreçam a patronal.

Em relação à burocracia esse tipo de unidade é impossível, porque são governistas e defendem acordos anti-operários com a patronal. Isso significa que nunca haverá unidade com a burocracia cutista, por exemplo? A possibilidade de unidade com setores da burocracia sindical – cutista ou da força – existe, mas só pode ocorrer nas lutas, ou seja, quando a burocracia estiver impulsionando ou participando de um processo de luta. Nesse caso seria uma unidade para a luta, para ajudar os trabalhadores na conquista de suas reivindicações. O elemento central aqui são as mobilizações da classe, a  necessidade da vitória das lutas dos trabalhadores. Trata-se de um momento muito específico da luta de classes.

Se essas centrais estivessem impulsionando um processo de luta ou inseridas nele, a discussão teria que ser encarada de outra maneira. Mas pelo contrário, não é isso que está acontecendo. Não é novidade para ninguém que CUT e Força estão completamente atreladas ao aparato estatal, que são base de sustentação do governo e que a política que essas centrais defendem está no marco da defesa do capitalismo. Unidade de ação se faz  na luta ou para construir um processo de lutas. Os objetivos para uma unidade de ação são muito bem definidos. E nesse momento não há por parte das centrais governistas qualquer intenção de impulsionar mobilizações contra a patronal e o governo.

Na prática, não é possível construir a unidade porque essas centrais estão do outro lado da trincheira, estão nas mesas de negociações com o governo e com a patronal para trair os trabalhadores, como foi o caso das negociações para manter a redução do IPI (mais dinheiro do Estado para as montadoras), que diga-se de passagem, ocorreram no mesmo dia 30/03.

Um traço característico do momento histórico é que a CUT e as centrais pelegas extrapolaram o campo de classe. Não são apenas centrais pelegas, mas estão dentro do aparato estatal, estão nos escritórios das grandes empresas, são gestoras do capital. Pontos fundamentais para as definirmos como centrais que, mesmo tendo um peso importante no movimento operário, são contra os interesses históricos dos trabalhadores. E hoje no Brasil, queiramos ou não, o fato é que essas centrais não estão impulsionando nenhum processo de luta, muito pelo contrário, tem negociado direitos históricos dos trabalhadores. Não são poucos os exemplos. Acreditar que essas centrais fossem participar ativamente das mobilizações foi o grande equívoco da direção majoritária da CONLUTAS

Do ponto de vista político, a incorporação dos setores da burocracia sindical fez com que os atos perdessem o seu caráter de oposição ao governo, ficando restritos a uma reivindicação abstrata de que os trabalhadores não podem pagar pela crise. Um palavratório que cabe em qualquer boca, até mesmo na de Lula que, demagogicamente, já disse que os trabalhadores dos países pobres não podem pagar pela crise porque ela foi provocada pelos países ricos. Por outro lado também não é novidade para ninguém que os trabalhadores já estão pagando pela crise com as milhares de demissões, com a redução de direitos e até de salários.

Também chama a atenção o giro que o PSTU teve que fazer para se adaptar à realização dos atos em conjunto com CUT  e Força. Para viabilizar essa unidade, o PSTU teve que abrir mão de uma postura mais crítica em relação ao governo e às centrais, passando de uma política correta de denúncia tanto do governo quanto da direção dessas centrais como co-responsáveis pela retirada de direitos, para a vala comum das exigências do tipo de que o governo LULA deve editar uma medida provisória para a garantia de emprego. Ou mesmo a exigência de que a CUT deve ajudar a construir ações de mobilização contra o desemprego. Os companheiros têm o direito de defenderem a política que quiserem e até de se iludirem com essa possibilidade, mas daí a jogar esse tipo de ilusão para os trabalhadores é outra questão. A responsabilidade que o PSTU tem na CONLUTAS deve ser proporcional ao seu peso como direção da nossa central. Nos momentos em que se discute saídas estratégicas para o mundo a responsabilidade dos revolucionários é redobrada, porque devem apresentar saídas estruturais para a sociedade, ou seja, o socialismo e a revolução.

É fundamental dizer a verdade aos trabalhadores e nesse momento isso significa alertar o proletariado para o fato de que nem o governo vai defender os nossos empregos e nem muito menos a CUT vai contribuir com a luta contra um governo que eles tanto defendem. Se os trabalhadores têm essa ilusão, o nosso dever é alertá-los e ajudá-los a superar essa consciência atrasada. Não é uma ilusão progressiva, pelo contrário, é uma ilusão que vai levá-los ao desemprego e a redução de seus direitos. Temos que alertá-los tanto em relação ao governo Lula quanto ao papel da CUT e das outras centrais pelegas.

A forma como se realizaram os atos do dia 30/03, além de fazer com que se perdesse o foco anti-governista, também permitiu a essas centrais pelegas, mesmo sem mover um só dedo para construir a mobilização, iludir os trabalhadores como se estivessem fazendo alguma coisa. Todos sabemos que as palavras não decidem nada na luta de classes, que só servem para jogar ilusão e enganar os trabalhadores. Esse é o caso do argumento dos companheiros de que o dia 30/03 em conjunto permitia disputar a base dessas centrais. Nada mais falso! Primeiro porque, como já dissemos, elas não mobilizaram os trabalhadores, nem sequer nos setores em que tem mais peso como direção. E segundo, porque essa disputa não ocorre em um só dia, mas é no cotidiano e com uma política de oposição. É o trabalho de base, mostrando aos trabalhadores quem são essas centrais e esses dirigentes, que vai permitir que ganhemos os trabalhadores para o nosso lado.

Não é possível enfrentar a crise com lutas que tem dia marcado para terminar. Uma prática recorrente de um setor do movimento tem sido a construção de dias de lutas, que são importantes, mas, sem serem parte de um calendário permanente de mobilização, não prepara as lutas em seu conjunto e podem indicar para os trabalhadores que a luta terminou. É o que ocorreu com o calendário votado em Belém: depois do dia 30/03 o movimento não tem mais nenhuma atividade marcada. O pior é que a direção majoritária da CONLUTAS, em vez de continuar a impulsionar mobilizações, atos, encontros de base, retoma a exigência (ilusória) de que a CUT tem que continuar com esse processo de mobilização. Após a realização das manifestações do dia 30, não há mais nada que sirva para orientar a vanguarda e os trabalhadores.

Para nós a organização de um encontro nacional de trabalhadores e trabalhadoras é fundamental para construirmos um plano mais amplo de mobilização que envolvesse organização por local de trabalho, organização por categoria, enfim um processo que fosse fortalecendo a construção de uma mobilização nacional dos trabalhadores contra o governo e a crise.

 

 

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Jornal 30: Abril de 2009

Guernica, Pablo Picasso

Apresentamos o jornal nº 30 do Espaço Socialista. Essa edição dedica-se essencialmente nas questões, sejam as nacionais ou internacionais, colocadas pela situação política marcada pela crise econômica global que envolve a economia capitalista.
Nesse momento temos insistido na necessidade de que os trabalhadores se coloquem como alternativa, única garantia de mantermos os nossos direitos. Historicamente as crises capitalistas tem resultado em mais miséria para a humanidade  e isso ocorre pela lógica desse sistema em que a destruição das forças produtivas (leia-se guerra) é condição para a recuperação de sua economia, ou seja, é preciso que mate-se milhões de seres humanos para a recuperação da economia capitalista.  Por isso é que defendemos que o socialismo é o único sistema capaz de construir um mundo sem crise e sem a destruição e o socialismo só podemos conseguir com a mobilização revolucionária, com um programa também revolucionário, da classe trabalhadora.
Por fim a ação dos revolucionários deve "extrapolar" o economicismo, com uma luta ideológica que consiga abranger a totalidade da vida social. Essa é a razão de sempre publicarmos textos que reflitam a posição dos marxistas sobre outras esferas da vida. Nessa edição há o artigo dedicado sobre a reflexão entre o evolucionismo e o criacionismo.
 

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Encontro de luta contra o desemprego e a exploração capitalista

 22/03 (domingo), às 9h30

Subsede da APEOESP de SBC

Rua Prestes Maia, 233 – Centro – SBC – SP

No começo diziam que a crise era só nos Estados Unidos, que não afetaria a economia brasileira ( era só um marolinha…) e também de que os trabalhadores não pagariam pela crise. Agora o que vemos são milhares de demissões, retirada de direitos e redução dos nossos salários. Você acha que dá pra confiar no que eles dizem?

Nesta situação os patrões, com a cumplicidade do governo Lula , da CUT e da Força Sindical, aproveitam para impor maior exploração, através do corte de salários, corte de direitos, bancos de horas e tantos outros ataques aos direitos dos trabalhadores/as.

Só em dezembro e janeiro foram quase dois milhões de demitidos em todo o país e muitos outros empregos estão sendo perdidos diariamente em todos setores da economia: Banco Santander, GM de SJCampos (802 demitidos) e São Caetano (1700 demitidos), TRW, ARTEB, Kostal, Pirelli, Cofap e tantas outras no ABC . Professores da rede pública do Estado de São Paulo também sofreram com a ameaça do desemprego neste ano com a tentativa de demitir 17.000 professores. Só nesse ano a estimativa é que cheguem a 230 milhões de desempregados no mundo.

Os trabalhadores negros e as trabalhadoras são os que mais sofrem, pois além de terem salários menores são os primeiros a serem demitidos.

Essa crise não é passageira e não se trata de um problema administrativo, mas da própria lógica do sistema capitalista. É uma crise provocada pelo capital. Até os governos reconhecem agora que a crise é profunda e seus efeitos podem durar anos. Se deixarmos, os governos e os patrões jogarão os efeitos da crise sobre os trabalhadores com desemprego em massa, fome, despejos, miséria para milhões deseres humanos, aumento da violência contra a população pobre, etc.

Precisamos lutar de maneira unificada e com os métodos de luta da classe trabalhadora contra todos os ataques que o governo e os patrões querem descarregar nas nossas costas.

 

Lula retira dos trabalhadores para dar aos patrões

Já foram gastos bilhões de dólares das reservas internacionais e dos bancos públicos para empréstimos diretos às montadoras, redução de impostos sobre produtos industrializados (IPI), compra de dólares pelo Banco Central etc. Tudo para garantir o lucro do grande capital instalado no Brasil. Ou seja, empresas e bancos recebem dinheiro público e mesmo assim demitem, retiram direitos e chantageiam os trabalhadores com a ameaça permanente do desemprego. Para garantir essa ajuda aos patrões tanto o governo Lula (PT) quanto o Serra (PSDB) cortam verbas da educação e da saúde publicas, da habitação e dos programas sociais . Retiram dos trabalhadores para dar aos patrões.

 

CUT E Força Sindical: do lado do governo e dos patrões

As centrais governistas (CUT, Força Sindical ,etc) e pelegos de toda espécie aplicam uma clara estratégia de colaboração com os patrões . Em várias fábricas estão defendendo " acordos " de redução de salários e direitos . A CUT e a Força Sindical, ao invés de impulsionar a luta da classe trabalhadora contra a patronal, tentam de todas as formas nos convencer que a redução de salários é uma grande vitória porque garante os nossos empregos. ISSO É MENTIRA ! Na verdade os patrões querem reduzir os salários agora para depois demitir , aliás , como várias empresas já estão fazendo. Na prática isso fortalece a patronal contra os trabalhadores. A única forma de garantir os nossos direitos e o nosso emprego é pela luta . A política dessas centrais leva à perda cada vez maior dos nossos direitos historicamente conquistados. Essas centrais estão do outro lado , ou seja, fazem parte da sustentação da institucionalidade e da política do governo Lula.

Nenhuma confiança nos patrões! Por uma saída dos trabalhadores contra a crise!
Só a luta poderá deter os planos da burguesia e dos governos . Já vimos que se deixarmos para a CUT e a Força Sindical os nossos direitos vão para a lata do lixo . Quem tem que pagar pela crise são os patrões, pois foram eles que a provocaram. Só com luta podemos derrotá-los e garantir os nossos empregos e direitos. No dia 01 de abril está marcada uma jornada nacional de lutas envolvendo várias categorias de trabalhadores, estudantes e movimento popular. Esse dia pode ser muito importante para construirmos um processo nacional de lutas. Mas com a crise é preciso que nos organizemos para além das datas-base e dos calendários pré estabelecidos. Com o pensamento de união dos trabalhadores é que no ABC também estamos nos organizando de maneira independente do governo, dos patrões e das centrais pelegas. Entidades e organizações políticas estão preparando um encontro regional para discutir ações de luta em defesa dos nossos direitos, contra as demissões em massa e o desemprego e também preparar no ABC as atividades de 01/04. Mas não pararemos por ai, pois o desemprego e a crise vão continuar. Nesse encontro também vamos debater formas de prosseguirmos na luta com novas ações e um plano de ação unificado. Fazemos um convite a todos os trabalhadores, jovens e desempregados para participar desse encontro e juntos construirmos um programa para a crise. Inicialmente propomos as seguintes bandeiras: · Nem demissão e nem redução de salários; · Para combater o desemprego: redução da jornada de trabalho SEM redução de salário; · Trabalho digno para todos: pelo fim da precarização do trabalho; · Estatização do sistema financeiro, sob controle dos trabalhadores; · Estatização das empresas que ameacem demitir em massa; · Reforma agrária, sob controle dos trabalhadores.

Participe! Venha ajudar a construir uma alternativa dos trabalhadores
Assinam:

  • Subsedes APEOESP São Bernardo e Santo André;
  • Coletivo de combate ao racismo Rosas Negra;
  • Oposição Correios ABC (ES);
  • Oposição SINDSERV SBC (ES);
  • ALS (Avançar a Luta Socialista);
  • PSOL-SBC;
  • Espaço Socialista;
  • Estudantes da UFABC e Direito SBC.
  • O CRC do DAHG (Fundação Santo André), realizado dia 05/03, aprovou participar da construção do encontro.

 

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Boletim 19 – Declaração do Espaço Socialista contra os ataques a Gaza

 No dia 27 de Dezembro de 2008 as Forças Armadas de Israel (cinicamente denominadas Força de Defesa) lançaram um ataque contra a população palestina de Gaza, primeiro por meio de bombardeios aéreos, seguidos logo depois por uma invasão por forças de infantaria. Os ataques provocaram até agora, segundo a imprensa burguesa, mais de mil mortes e milhares de feridos. Mas, pelo poderio bélico do exército israelense e pelo seu desejo de sangue, o número de mortos na realidade o número deve ser bem maior. Os ataques atingem pesadamente a população civil, destruindo residências, escolas e hospitais (inclusive da ONU), matando indistintamente homens, mulheres, crianças e idosos. O pretexto alegado para o ataque seria a repressão aos combatentes do Hamas, cujos ataques ao sul de Israel com mísseis caseiros provocaram a morte de 5 civis. Na realidade, foi o exército de Israel quem rompeu o cessar-fogo de seis meses, recusando-se a levantar o bloqueio contra Gaza e atacando integrantes do Hamas no dia 4 de Novembro, data das eleições estadunidenses.

A população de Gaza, cerca de 1,5 milhão de habitantes, se comprime num exíguo território de 360 km², e ao longo dos últimos anos tem sido vítima de constantes incursões armadas do exército israelense, que tem feito das chacinas uma rotina diária. Como se não bastasse isso, a economia da região tem sido asfixiada pelo bloqueio israelense. Os palestinos sobrevivem praticamente às custas da ajuda humanitária internacional. As instalações elétricas e de tratamento de água tem sido sistematicamente destruídas por Israel. Faltam comida, remédios e água potável. Hospitais, escolas e prédios públicos também tem sido atacados e as instituições da sociedade palestina estão em colapso.

O governo do primeiro-ministro israelense Ehud Olmert está paralisado por denúncias de corrupção e enfrentará eleições em fevereiro. Nada melhor para desviar a atenção do público do que mais uma guerra contra os povos árabes.  Desde sua criação Israel desobedeceu dezenas de resoluções da ONU e zombou do direito internacional e das regras democráticas mais elementares, apoiado no seu poderio militar e no respaldo dos Estados Unidos.

A guerra atual também satisfaz a cúpula das Forças Armadas, humilhadas pela derrota frente ao Hizbolá na guerra que devastou o sul do Líbano em 2006. A política israelense é controlada por uma camarilha militar. Os setores da população israelense que são contra a ocupação dos territórios palestinos são socialmente marginalizados e politicamente impotentes. Ex-generais ocupam quase todos os postos importantes na administração civil e estão em todos os partidos. O serviço militar por dois anos é obrigatório para ambos os sexos.  Com uma população de menos de 7 milhões de habitantes, Israel possui um dos maiores e mais bem armados exércitos do mundo, graças também ao apoio incondicional dos Estados Unidos. O recém-eleito presidente estadunidense Barack Obama já sinalizou em sua campanha que manterá esse apoio incondicional.

A constituição de Israel como um Estado teocrático, em que a cidadania é garantida por filiação religiosa e o expansionismo ilimitado é interpretado como um dever religioso fundado na Bíblia, obedeceu aos interesses dos Estados Unidos de criar um enclave no Oriente Médio, região rica em petróleo. A formação de um tal Estado não teve nada a ver com a luta dos judeus contra o anti-semitismo que os perseguiu durante séculos e que teve sua culminação no Holocausto perpetrado pelos nazistas. Hoje Israel conduz seu próprio Holocausto contra a população palestina.

Os 1,5 milhão de palestinos que vivem em situação de miséria e degradação em Gaza são parte dos mais de 4 milhões de palestinos expulsos de suas terras desde a formação de Israel em 1948 e obrigados a viver como párias e mendigos em campos de refugiados no Líbano e na Jordânia. Nesses mais de 60 anos os palestinos tem sido expulsos de suas terras, privados do acesso à água e às condições elementares de vida. Seus líderes tem sido encarcerados, torturados e mortos. Os palestinos tem sido sistematicamente descritos pela mídia como fanáticos e terroristas, enquanto Israel, uma ditadura militar governada por religiosos de extrema-direita, é apresentado como farol da democracia no Oriente Médio.

Israel e seu mandante, os Estados Unidos, posam de defensores da democracia, mas se recusam a reconhecer o Hamas, que foi democraticamente eleito para administrar os territórios palestinos. Ao invés disso, reconhecem como dirigente dos palestinos o empresário Mahmoud Abbas (que fornece cimento para a construção dos muros israelenses na Cisjordânia), do corrupto partido Fatah. O imperialismo e a mídia querem fazer do Hamas o culpado pelas mortes. Para isso contam com a colaboração dos governos burgueses dos países árabes, em especial do Egito e da Arábia Saudita, marionetes servis do imperialismo, opressores ferozes de seus povos e temerosos da ascensão de grupos radicais islâmicos.

Nós do Espaço Socialista discordamos da linha política do Hamas e de outros grupos e governos fundamentalistas islâmicos, bem como discordamos do terrorismo como método de luta. Como socialistas, consideramos que apenas a mobilização e a auto-organização dos trabalhadores pode trazer uma solução para o povo palestino. Entretanto, reconhecemos o direito dos palestinos à resistência armada e repudiamos a agressão israelense. O governo de Israel repete os nazistas e a luta dos palestinos em Gaza repete a luta dos judeus no gueto de Varsóvia.

A solução dos problemas do povo judeu não está na formação de um Estado Nacional baseado na expulsão e massacre de outro povo. Essa falsa solução transformou o povo judeu, antes elemento de progresso e cultura, em instrumento da barbárie. O povo judeu, que produzia gênios humanistas e cosmopolitas como Marx, Einstein e Freud, depois da criação de Israel passou a produzir monstros como Ariel Sharon, que não deve nada em crueldade aos carrascos nazistas. O nacionalismo e as guerras apenas beneficiam as classes dominantes. São sempre os trabalhadores e o restante do povo que morrem e sofrem, seja nas trincheiras, seja como vítimas dos danos colaterais.

Uma coisa é o povo judeu no mundo inteiro, os trabalhadores judeus, seu passado, sua cultura, sua luta, a tragédia do Holocausto; outra coisa é a burguesia judia e seu Estado de Israel, uma entidade política que não foi criada no vazio, mas construída sobre a base da expulsão, massacre, tortura e degradação de outro povo, que não tem o objetivo de proteger os judeus que para lá foram atraídos, mas de cravar uma adaga no coração do Oriente Médio a serviço da burguesia internacional, em especial estadunidense, judia e não-judia, ligada ao complexo industrial-militar e ao setor petrolífero.

A burguesia judaica estadunidense, que controla parte das finanças e da mídia do principal país imperialista, continuará tranquilamente instalada em Wall Street e em Hollywood, beneficiando-se da pilhagem capitalista do restante do mundo, promovendo uma guerra na qual os outros irão morrer e sofrer, explorando sentimentos religiosos e promessas bíblicas em pleno século XXI. A solução dos problemas dos trabalhadores do mundo inteiro não está nas guerras entre povos por falsos pretextos como religião e territórios, mas na guerra de classes contra a burguesia, pela destruição do capitalismo e pela emancipação humana de todas as formas de alienação.

Não somos contra o povo judeu, somos contra a burguesia e o capitalismo mundial. Somos a favor dos trabalhadores, sejam eles judeus, muçulmanos ou cristãos, na Palestina e no restante do mundo. O Estado de Israel é uma armadilha para os próprios trabalhadores judeus, obrigados a viver em guerra constante contra seus vizinhos palestinos e árabes. Só pode haver paz na região para os trabalhadores judeus e palestinos por meio da derrubada desse Estado e de sua ditadura militar-religiosa e pró-imperialista. Isso só pode acontecer por meio de uma revolução socialista conduzida pelos trabalhadores judeus e palestinos. Defendemos portanto o fim do Estado de Israel e a formação de um Estado palestino laico e multi-étnico, governado por organizações dos trabalhadores judeus e palestinos.

Exigimos o fim dos ataques israelenses a Gaza, o fim do bloqueio econômico aos territórios palestinos. Defendemos o direito dos palestinos de se auto-organizarem e se defenderem da agressão israelense.

O governo Lula, coerente com seu caráter burguês e pró-imperialista, mantém uma ocupação no Haiti por tropas brasileiras tão criminosa quanto a de Gaza por Israel. O governo brasileiro criou um incidente com o Equador para proteger as transnacionais brasileiras associadas ao capital imperialista naquele país. Entretanto, esse mesmo governo se recusa a romper com o Estado terrorista de Israel, que promove crimes contra a humanidade em Gaza. Os trabalhadores brasileiros precisam ser solidários aos seus irmãos no mundo inteiro e isso significa se colocar contra o governo Lula. Os trabalhadores precisam se mobilizar para exigir a retirada das tropas brasileiras do Haiti, a ruptura das relações diplomáticas com Israel, o fim dos acordos comerciais do Mercosul com aquele país, e também construir a mais ampla defesa e solidariedade internacional para com o povo palestino.

Fora as tropas isralelenses da Palestina!

Fora as tropas estadunidenses do Iraque e do Afeganistão!

Por uma Palestina laica, multi-étnica e socialista!

Por uma Federação Socialista dos Povos do Oriente Médio!

Espaço Socialista, Janeiro de 2009

 

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