Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

O grito Guarani-Kaiowá e o riso do agronegócio

O mês de outubro de 2012 testemunhou o desesperado grito Guarani-Kaiowá chamar a atenção nas redes sociais e furar o bloqueio da imprensa. Veio à tona o problema das condições de vida dos indígenas no Brasil, através de seu caso mais grave no país: o conflito entre latifundiários e os Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Foi através de uma carta-denúncia que a situação atingiu tal repercussão, circulando pelas redes sociais e escancarando um problema que acontece há décadas. Um trecho da carta:

(…) pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais.

Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal, Assim, é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e para enterrar-nos todos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem morto e sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo de modo acelerado. (…)

Esta carta ecoou como um grito de desespero emitido pela comunidade Guarani-Kaiowá, a todos os ouvidos atentos. Circulou pelas redes sociais e parou na mente de trabalhadores que se identificaram com a luta deste povo.

Ao mesmo tempo, seu grito demonstrou também o estreito laço entre o judiciário, a imprensa e o agronegócio.
Esta é uma questão tão complexa que soa estranho até ser chamada de conflito, uma vez que entre os fazendeiros sulmatogrossenses e a população indígena das diversas etnias sobreviventes é somente esta última que sofre as consequências do dito conflito.

O “X” DA QUESTÃO

Uma pequena amostra dos números nos dá uma ideia de que muita dor ainda será infligida àqueles que assumem sua ancestralidade indígena e tem disposição pra sustenta-la até as últimas consequências.

Atualmente em Mato Grosso do Sul sobrevive a segunda maior população indígena do Brasil, com 73.295 remanescentes (IBGE 2010, 1º Amazonas, 108.080), e é nesse espaço físico que o agronegócio avança.

Os estímulos federais via PlanoSafra (o que só demonstra a aliança agronegócio e governo federal) aumentaram os recursos destinados ao setor de R$ 93 bilhões na safra 2009/2010 para R$ 115,2 bilhões na safra 2012/2013. Ao mesmo tempo em que a falta de recursos para a FUNAI realizar os estudos necessários gerou, em 2009, a desculpa necessária para o desembargador Luis Stefanini, do TRF 3ª Região suspender a demarcação das terras indígenas. Simples equação: Sem dinheiro, sem estudo, sem demarcação, mais terra para o agronegócio, mais dividendos para os acionistas.

De acordo com a estimativa de safra da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em 2012 o Brasil produzirá 165,9 milhões de toneladas de grão, 1,9% a mais do que na safra anterior, só em Mato Grosso do Sul, o aumento foi de 22,9%. Se considerarmos a área plantada percebemos a fome de terra nesse estado, pois o crescimento nacional foi de 2% enquanto que das cercas sulmatogrossenses o aumento foi de 12,8%, ou seja, mais de seis vezes a média nacional.

Tal boom agrícola reflete tanto no mercado imobiliário que em maio de 2011 o estado sofreu um aumento médio de 30% no valor da terra em relação a 2010, sendo que esse índice chegou a 100% no norte do estado, de acordo com o Sindicato dos Corretores de Imóveis de Mato Grosso do Sul.

OLHANDO NO MAPA

E é na hora de esticar o mapa que a contradição salta os olhos. Se as terras indígenas demarcadas no estado ocupam 6.782 km² (FUNAI 2011) podemos fazer uma conta tosca e morrermos de vergonha por nunca termos pensado nisso: Para tanto, basta dividir a população indígena de 73.295 no território que o “civilizado” estado brasileiro demarcou e teremos 10,8 sobreviventes por Km². O absurdo é tanto que o rebanho bovino para ter uma produtividade mediana necessita de 3 a 5 KM² por cabeça.

E o que dizermos de nações inteiras com idiomas, costumes, rituais, concepção de mundo, tempo e espaço completamente diferentes entre si limitados por um estado com instituições e indivíduos que nem param pra pensar nisso? Que dizermos também da diferença cultural entre um universo formado fora do que habituamos chamar de “mundo ocidental”? Qual seu espaço vital?

É dentro dessa lógica nefasta que 60 famílias Kadiwéu estão sendo retiradas pela Polícia Federal de uma área de cerca de 160 mil hectares de terra indígena demarcada em 1900 e homologada em 1984, no município de Porto Murtinho, na região do Pantanal do Mato Grosso do Sul. Tal área fica dentro da Terra Indígena (TI) Kadiwéu e mesmo assim sofre ataque do judiciário que concedeu liminar de reintegração de posse, e claro, já foi cumprida. Nessas questões a “justiça” nunca tarda!

…E A SITUAÇÃO AINDA PODE PIORAR!

Não bastasse todo o já sofrido, o deputado federal Édio Lopes (PMDB/RR) apresentou substitutivo ao Projeto de Lei 1610/96, que dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas. Entre tantos ataques que o capital já fez sobre as populações originárias acrescentasse mais esse: “Qualquer interessado” poderá requerer ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) o direito de minerar qualquer terra indígena no Brasil, além da anulação de qualquer direito sobre mineração concedida antes da promulgação desta nova lei.

Ou seja, as nações que ainda não obtiveram reconhecimento continuaram sofrendo ataques de pistoleiros a mando do capital e a demora do judiciário e as que já arrancaram esse reconhecimento do estado brasileiro sofrerão assédio das companhias mineradoras, além de perderem toda e qualquer salvaguarda constitucional.

Num cenário de crise mundial, os grandes bancos e seus acionistas precisam garantir novas fontes de lucro e rentabilidade. As velhas guerras no Oriente Médio já não são suficientes, então resta o rico território indígena dessa pobre país emergente.

ORGANIZAR E RESISTIR

Compreendemos que o conflito pelo qual passam os índios Guarani-Kaiowá não é isolado, mas parte de um todo. A lógica do lucro a todo custo beneficia pouquíssimos indivíduos enquanto que colocam a maior parte da população em situação de medo, insegurança e preocupação. Um exemplo disso é a seguinte contradição: se a quantidade de terras cultivadas pelo latifúndio aumentou, por que o preço dos alimentos só sobem?

O problema está em que, os meios que deveria ser utilizado para resolver os problemas materiais do conjunto da sociedade (estes meios são: máquinas, ferramentas e terra) são hoje dominados por um conjunto mínimo de indivíduos. Os latifundiários, por exemplo, só querem saber de plantar soja e cana-de-açúcar. Nós, trabalhadores, simplesmente vendemos nossa força de trabalho a estes poucos proprietários, mas são eles que decidem o que fazer com as forças produtivas, não interessando o benefício da população, mas seu lucro.

Essa forma de organização é inerente ao sistema capitalista. Devemos propor uma nova forma de organização, onde os trabalhadores (que produzem a riqueza do mundo) detenham os controles da produção e a direcionem para o benefício do conjunto da sociedade.

Para isso, é necessário organizar-se, resistir e lutar pela derrubada do capitalismo, rumo a uma sociedade socialista. Nesse sentido, o combate ao agronegócio, bem como a todas as suas expressões políticas e institucionais, seja no Judiciário, no Executivo e ou no Legislativo, deve ser realizado sem trégua por todos aqueles que lutam por uma sociedade que supere o capitalismo.

Aos Guaranis-Kaiowás nossa solidariedade e disposição de luta!

Novembro de 2012

 

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Nem mal maior, nem mal menor. No segundo turno, anulamos o voto!

CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA DOS TRABALHADORES!

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OS REVOLUCIONÁRIOS E AS ELEIÇÕES

Primeiro queremos estabelecer os critérios que utilizamos para fazer o balanço eleitoral, o resultado político e a participação da esquerda nesse processo.

Os revolucionários não descartam participar de um processo eleitoral controlado pela burguesia. Enquanto os trabalhadores não desenvolvem uma consciência socialista esse é mais um terreno para a luta política e ideológica contra a burguesia.

Ao participarmos então, para disputar a consciência dos trabalhadores procuramos fazer com que enxerguem que essa democracia nada tem a oferecer, que mesmo por outros meios continua sendo uma ditadura sobre os trabalhadores. Chamamos a atenção para a repressão, para criminalização das greves, das ocupações e de outras formas de luta. Buscamos demonstrar o quanto se tolera abertamente o direcionamento do dinheiro público para o empresariado e para a corrupção.

Assim, dizer em alto e bom som que as coisas somente vão mudar de fato através da luta direta e da organização de base dos trabalhadores é o primeiro objetivo de uma participação socialista-revolucionária nas eleições.

O segundo objetivo é utilizar o espaço de debate aberto no período eleitoral, para esclarecer e denunciar que a raiz dos problemas nas cidades é consequência do sistema capitalista, com sua lógica de exploração (lucro), sua ordem de dominação e repressão (estado burguês) contra os trabalhadores.

Como decorrência dessa denúncia, devemos apresentar para o debate junto à classe, um programa anticapitalista e socialista que parta das questões concretas nas cidades e avance para o questionamento e ruptura com o projeto econômico e político que está sendo implementado no país como um todo e para que as medidas apontem para uma lógica coletiva e democrática dos trabalhadores (socialismo) imposta através da luta.

Complementando essa participação, é parte fundamental de uma campanha coerente a denúncia das candidaturas burguesas e governistas, a não participação em alianças com partidos empresariais ou governistas ou em frentes que comprometam sua independência ao receber dinheiro da burguesia.

São esses os pressupostos estratégicos que devem balizar as táticas eleitorais dos revolucionários. E atuar nas eleições sem levar em conta esses critérios, significa deixar uma enorme avenida para a burguesia passear.

É a partir do atendimento a esses pontos que se discutirá a tática de “jogar peso” para eleger vereadores, por exemplo. Desse modo se dará prosseguimento a esse combate com maior projeção ao partido, o que possibilitará sua construção. Mas essa tática de tentar ampliar a influência do partido e/ou de eleger vereadores deve estar subordinada aos critérios acima e não em ruptura com eles. A tática deve estar a serviço da estratégia e não em ruptura com ela, pois caso isso ocorra, pode representar, na verdade, um indício de abandono da estratégia revolucionária.

Resgatar o caráter que deve ter uma intervenção político-revolucionária nas eleições é fundamental, pois, como veremos abaixo, a esquerda de forma geral tem se adaptado à democracia burguesa, abrindo mão dos objetivos estratégicos em troca de ganhos imediatos. Substitui os fins pelos meios e desmoraliza os ativistas que lutam diariamente para fazer avançar a luta e a consciência dos trabalhadores.

 

PT E GOVERNISMO FEDERAL SAEM FORTALECIDOS

Ainda que a disputa municipal tenha cidades importantes como São Paulo e Rio de Janeiro, maiores e mais ricas do que alguns países, o processo eleitoral serve como um ensaio para a disputa presidencial, pois as prefeituras podem servir como base de apoio para as candidaturas.

Portanto além de estar de olho nas vantagens locais, a preparação para as eleições nacionais também explica a razão de a burguesia investir tanto dinheiro como está fazendo.

Neste sentido, a partir dos dados eleitorais, a primeira constatação é que as forças ligadas ao governo federal – Aécio, Dilma, Lula, PT, PSB, enfim, todos os possíveis candidatos para as eleições presidenciais de 2014 – saem fortalecidas.

O PT ganhou cidades importantes pelo país afora e está disputando o 2º turno em muitas outras, como é o caso da capital paulista e de praticamente todas da Grande São Paulo, como Guarulhos, Santo André e Diadema, tendo ganhado em primeiro turno São Bernardo do Campo e Osasco. Resultados bem superiores ao da eleição passada.

Claro que o resultado do 2º turno pode reequilibrar a correlação de forças entre os dois gerentes do capital no país (PT e PSDB), mas é fato que o PSDB saiu bastante arranhado. Em Minas, onde está o potencial candidato a presidente Aécio Neves, mesmo tendo sido eleito um candidato apoiado por ele, não se pode secundarizar o fato de que o PSB faz parte da base aliada do governo federal. Também merece destaque o fato de que o PSDB perdeu em outras importantes cidades de Minas Gerais como Governador Valadares, Ipatinga e Uberlândia.

Em muitas outras cidades em que o PT não teve votação expressiva, os vencedores são de partidos da base governista e são expressão do peso da popularidade do governo Dilma. Assim, a vitória desses partidos em cidades importantes, como Recife (PSB) e Rio de Janeiro (PMDB), se deram devido ao apoio que esses partidos e candidatos têm como parte da base do governo Dilma/PT.

A ultradireita também vem se apresentando de forma mais desavergonhada com candidaturas ligadas às igrejas evangélicas e pastores altamente reacionários. Através de partidos como o PRB e candidatos como Russomano (SP) dentre outros candidatos a prefeitos e a vereadores, busca-se ganhar representação e controle político para maior fortalecimento e ao mesmo tempo intensificar os ataques aos direitos democráticos.

Essas tendências de direita devem ser combatidas. Diferente do que faz o PT que atende seus caprichos e lhes concede cada vez mais espaço no governo federa, nos municípios e em suas campanhas.

Outro aspecto que merece destaque é a preocupação de candidatos ligados à polícia e ao tráfico. Muitos atuam juntos e buscam espaço político a fim de favorecer seus interesses. Juntos, todos esses setores, são inimigos declarados dos trabalhadores, dos setores oprimidos e de suas lutas. A esquerda precisa discutir o acirramento dessas tendências e se contrapor a elas em um combate político à altura, pois estão estendendo seus tentáculos com graves consequências para as lutas e os ativistas.

PT: PARTIDO QUE EXPRESSA AS VÁRIAS FRAÇÕES DO CAPITAL NO BRASIL

A principal conclusão, portanto, é que PT e PSDB são, mais uma vez, os partidos que saem do processo eleitoral como condutores do projeto burguês que está seguindo no país. A disputa entre esses dois partidos não se refere a projetos diferentes, mas tão somente para definir quem é o gerente preferencial do projeto que o capital aplica no país.

Essa constatação também é importante porque essa disputa se apresenta com força só na aparência e cumpre um papel ideológico de maior grandeza que é “permitir” aos trabalhadores que escolham qual fração da burguesia será seu carrasco. Ganhe PT ou PSDB não muda o caráter do governo e nem a política geral de arrocho e repressão aos trabalhadores.

A burguesia define o apoio a algum partido pela capacidade que ele tem em representar o conjunto dos interesses do capital, como os interesses de cada uma das frações da burguesia são definidos e também como ele se interage com os interesses econômicos e político das demais frações do capital.

Essa tem sido a grande vantagem do PT que consegue representar e administrar os interesses da burguesia como um todo, atendendo, dialogando e arbitrando as diversas frações do capital, preservando os interesses gerais do sistema. Com uma política econômica que atende os interesses desde os banqueiros até a burguesia agrária, o PT tem se qualificado perante a burguesia e o imperialismo para seguir à frente do Estado brasileiro.

Outras duas questões não menos importantes que fazem hoje do PT o partido preferencial do capital no Brasil é a capacidade que tem de cooptar setores significativos do movimento social (popular e sindical). Incorporar suas direções e até algumas entidades ao Estado e consequentemente à gestão do capital. Também, pelo seu passado, dialogar diretamente com a classe trabalhadora e com os setores mais pauperizados. Diálogo facilitado pelas políticas assistencialistas como bolsa família, Prouni, etc. Tudo isso a serviço de conter os movimentos sociais.

A necessidade de o Estado continuar intervindo na economia com o aporte de bilhões de reais para a burguesia, a garantia dos investimentos para a Copa-2014 e as olimpíadas-2016 (que exigem medidas de força e repressão estatal para as desapropriações de várias áreas pobres) e a própria crise econômica mundial são, ao nosso modo de ver as principais razões de a burguesia continuar apostando (politica e economicamente) no PT como gerente útil do capital. A importância que esses projetos têm para a reprodução do capital faz com que não haja, aos olhos da burguesia, espaço para crises políticas.

FAZ FALTA UM PROJETO ALTERNATIVO DE ESQUERDA

Com um debate que passou distante dos verdadeiros problemas que a classe trabalhadora enfrenta, com uma promessa de uma obra aqui, uma linha de ônibus ali as candidaturas dos partidos burgueses não tinham projetos políticos distintos para apresentar.
Esse papel caberia às organizações da esquerda socialista. No entanto, mesmo as candidaturas da esquerda socialista também se limitaram às questões locais (“Uma cidade para os trabalhadores”, como foi o caso do PSTU) ou específicas como foi a tentativa de recuperação do discurso da moral e da ética como o PSOL.

Para o Espaço Socialista a luta pelo desenvolvimento da consciência socialista e organização de base entre os trabalhadores é uma questão central de modo que deveria ordenar toda a intervenção no processo eleitoral.

Na prática, no processo eleitoral, significaria uma campanha que tivesse como eixo central a denúncia do capitalismo, um programa que explicitasse a expropriação das empresas de serviços básicos para a população, como transporte, saúde e Educação. Foi o que procuramos fazer com os materiais que trabalhamos.

Para nós a reconstrução da subjetividade da classe trabalhadora coloca-se como um dos elementos mais importantes do programa e da prática socialista pós-queda do muro de Berlim. Isso porque se abriu um período em que a crise de alternativa socialista tornou-se evidente e dramática para o futuro da revolução socialista.

Somente uma atuação com esses desafios poderia justificar a participação dos revolucionários em um processo eleitoral controlado pela burguesia.

PSTU: PREÇO ALTO PARA ELEGER DOIS VEREADORES

Como dito acima, com o slogan principal de “as cidades para os trabalhadores” a campanha do PSTU restringiu-se aos temas locais, como a redução da tarifa do transporte ou de “a cidade não quer quem bate em mulher” (numa justa tentativa de combater o machismo, mas totalmente desprovida de um caráter de classe), também não encarou a tarefa de se colocar como alternativa ao sistema social de conjunto.

A intervenção do PSTU foi marcada por slogans programaticamente limitados e presos aos temas dos outros candidatos de quem melhor administra a cidade. Se esses fossem eleitos tomariam imediatamente as medidas para garantir “as cidades para os trabalhadores”. Esse tipo de intervenção não serve para elucidar os problemas estruturais que impedem que as cidades possam de fato ser dos trabalhadores.

Uma política que não considera a questão central que é discutir com a classe trabalhadora a natureza do poder político da burguesia e de que qualquer medida (mesmo a estatização das empresas de transportes e redução das tarifas para R$ 1,00) vai exigir uma luta à morte contra a burguesia, ou seja, não vai ser por medidas administrativas desse ou daquele prefeito que se garantirá essas medidas, mas principalmente pela luta direta da classe trabalhadora contra a burguesia.

Fora esse grave problema político na campanha, ao nosso modo de ver, ainda houve o fato de ter, totalmente, aberto mão de uma política contra o regime somente para garantir a eleição de dois vereadores, uma das maiores capitulações desse partido às pressões da democracia burguesa.

Em Belém fez parte de uma frente eleitoral que além de contar com o governista PC do B como candidato a vice-prefeito, também recebeu dinheiro das empreiteiras. Mesmo após a “descoberta” desse desvio grave por parte do PSOL, o PSTU optou por continuar na coligação e chamará voto no segundo turno. Ora, o que uma frente eleitoral com a participação do PC do B pode apresentar de realmente novo para Belém?

O resultado eleitoral comprovou que a participação na frente (mesmo com todos os problemas) tinha como objetivo garantir a eleição do vereador, pois se tivesse apresentado chapa própria não teria sido eleito.

Já em Natal comemorou-se a “votação histórica” de uma candidata à câmara dos vereadores, “uma mulher de coragem que luta pela Educação”. Claro que a eleição de Amanda Gurgel é importante para a luta dos trabalhadores de Natal e ter se tornado “popular” foi uma expressão das lutas dos professores do Rio Grande do Norte, mas também de vários outros estados que protagonizaram uma sequência de greves duríssimas no ano passado.

No entanto, a quantidade votos é expressão de uma campanha popular com um grande vazio programático, papel este que poderia ter sido cumprido por outro partido qualquer, que sequer se reivindicasse socialista revolucionário. E apesar de poder ser encarado como um voto de luta, o voto na Amanda Gurgel não expressou de fato um voto numa alternativa de mudança da sociedade, um voto num programa ou em aspectos, mesmo que parciais, de um programa socialista, não expressou sequer uma identidade com o próprio PSTU, não é, portanto, a expressão de um projeto político socialista ou de esquerda. E é muito improvável que tivesse sido eleita com um programa de esquerda e socialista.

Essa é a parte dramática: entre ser eleita com um número de votos menor e com um programa socialista ou ter a “maior votação” de Natal e sem um programa socialista, escolheu-se a segunda possibilidade.

Esse é o preço que o PSTU pagou para eleger dois vereadores no país: abrir mão da independência financeira da burguesia e, capitulando a democracia burguesa, rebaixar o programa para garantir eleição de parlamentares.

PSOL JÁ É UM PARTIDO DEGENERADO POLITICAMENTE

Partido fundado em 2005 já está degenerado politicamente. As correntes de esquerda não têm força suficiente para que possam mudar o rumo eleitoreiro do partido. As coligações com partidos da base do governo (só dois exemplos: com PC do B em Belém e com PV, PRTB, PPS e outros em Macapá), o recebimento de dinheiro de setores burgueses (prática já adotada nas eleições passadas) e um programa sem nenhum conteúdo classista são a expressão dessa degeneração. Esses elementos impõem como caracterização social do partido o seu caráter reformista pequeno-burguês e de maneira irreversível.

A votação que tiveram em Belém, Macapá (indo ao segundo turno nestas cidades), Rio de Janeiro e Florianópolis aconteceram em base a um programa extremamente rebaixado e tendo como eixo a defesa da ética, diga-se de passagem, burguesa.

PT E PSDB SÃO PARTES DE UM MESMO PROJETO

Em várias cidades os candidatos que estão no segundo são o PT e o PSDB. Já desenvolvemos acima a nossa concepção de que PT e PSDB têm o mesmo projeto, ainda que algumas vezes “o remédio” seja diferente. O projeto para a Educação, os favores ao capital, a repressão aos movimentos sociais, o pagamento da dívida, a corrupção, as alianças e tantas outras coisas criam uma identidade de projeto entre esses dois partidos.

Entendemos que os trabalhadores não podem se prender a essa lógica e dar legitimidade a um processo em que não está presente nenhum interesse da classe trabalhadora. Seria escolher o seu carrasco. Ganhe quem ganhar no segundo turno governará para a burguesia e contra a classe trabalhadora.

Nós não caímos nesse conto de que o PSDB é pior do que PT e que assim deveríamos apoiar o mal menor. Para nós é necessário combater o mal menor e o mal maior, pois entre ambos não há diferença essencial, representam o projeto burguês de dominação.

Não é a primeira vez que tentam colocar o problema de uma forma superficial. Na disputa pelo governo de São Paulo entre Mário Covas (PSDB) e Maluf (PP) muitos caíram neste conto e votaram em Mário Covas que fortalecido pela eleição desferiu uma série de ataques aos trabalhadores de São Paulo, principalmente na área de Educação Pública. Deu no que deu. Não seremos cúmplices de uma política que – com PSDB ou PT – PT vai ser contra os trabalhadores.

A nossa luta é para que os trabalhadores sejam independentes de todos os representantes da burguesia e possam construir um projeto próprio para a sociedade. Colocamos-nos na trincheira dos que dizem as coisas como elas são. Por isso que também nas cidades, São Paulo e demais, em que há disputa entre PT e PSDB o nosso chamado é para o voto nulo. Votar nulo contra o PSDB, contra o PT e todos os partidos que defendem o capital e atacam os trabalhadores!

PARA GARANTIR A INDEPENDÊNCIA DE CLASSE, NO 2º TURNO VAMOS ANULAR O VOTO

A nossa posição política no 1º turno foi de chamar voto de classe nos partidos de esquerda (PSTU, PSOL, PCO e PCB) nas cidades em que expressassem as lutas, não estivessem coligados com partidos burgueses nem recebessem dinheiro da burguesia.

Agora, em todas as cidades em que ocorrerá segundo turno os candidatos ou são de partidos burgueses ou, quando do PSOL, estão coligados com partidos governistas/burgueses e ainda recebem dinheiro da burguesia.

Nestas condições não há outra possibilidade que não seja chamar a classe trabalhadora e os explorados a votar nulo.

Outubro de 2012.
Espaço Socialista

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FSA: Perseguição e repressão aos estudantes

 Educação a serviço de quem?

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A quem não sabe, atualmente, 7 estudantes da FAFIL estão sofrendo um processo de sindicância, movido pela reitoria da FSA. Acusados de vandalismo, perturbação da ordem e dano ao patrimônio público, os estudantes estão sendo chamados a responder a inquéritos que visam os incriminar, correndo estes ao final da sindicância o risco de ser expulsos da Universidade e perder seu direito de estudar. Professores também já foram desligados e estão sendo processados, a Associação dos docentes da FSA denunciou em uma carta aberta a perseguição aos professores.

Cacalano e seus parceiros de gestão têm acumulado impopularidade por meio dos ataques desferidos contra a comunidade acadêmica, como o aumento das mensalidades, o fechamento de turmas, sua férea política de cobrança de mensalidades, o impedimento da matrícula dos inadimplentes, seu autoritarismo e outras medidas e já tinham anterioremente ainda neste ano encampado processos administrativos contra outros estudantes.

Na tentativa de aplicar com maior tranquilidade uma política que só favorece a si própria, recentemente, a gestão Cacalano, com o fiel apoio de Miriam Lernic, Diretora da FAFIL, têm também marginalizado e fechado espaços históricos de representação e luta dos estudantes por não serem convenientes a aplicação desta política. Por esse motivo o Diretório Acadêmico, que é um histórico aglutinador da resistência contra esse tipo de políticas, foi emparedado e considerado ilegal.

Da legalidade para a ilegalidade, do legítmo para o ilegítimo, a reitoria apresenta: o samba da conviniência!

Apesar de não reconhecer a legalidade e legitimidade do Diretório, a reitoria entrou com processo contra uma estudantes representante do DA pedindo uma indenização de R$10.000,00

Em 2009, a gestão Cacalano se elegeu de forma oportunista subindo nas costas do movimento estudantil, que rechaçava a reitoria da época. Para isso, àquele tempo, a gestão Cacalano considerava legítima a representação estudantil: hoje, não mais.

Fica claro portanto que para a reitoria, o reconhecimento ou não da representação estudantil é portanto abritrário, muda de forma quantas vezes for necessário, da forma que melhor convir.

Existe uma clara contradição dentro da FSA. Em seu discurso a Universidade defende a democracia, mas em sua prática cotidiana criminaliza a luta política. Contradiz igualmente seu próprio regimento e ordenamento jurídico que diz que todos podem se manifestar e se expressar, inclusive mediante críticas.

Diferentes gestões, o mesmo projeto..

A gestão Cacalano não pode ser vista porém como o único problema dos estudantes. Se fosse assim, a derrubariamos, como já derrubamos outros no passado e tudo se resolveria.

O projeto de Universidade que tenta aplicar a atual reitoria na FSA se assemelha a muitos outros aplicados em diversas instiuições de ensino no país, pois reflete uma política geral para a educação em uma sociedade comanda por uma minoria de empresários em detrimento das necessidades da maioria trabalhadora. Neste contexto, a educação está afinada ao seu projeto para a sociedade como um todo e se subordina às necessidades do capital e do mercado, o que inclui a tendência à elitização e privatização do pouco que resta do ensino de público superior de qualidade e a crescente mercantilização geral da educação por meio do incentivo às instituições de ensino privadas, com um assustador rebaixamento da qualidade de ensino.

Por uma outra educação

Lutamos por uma educação na contramão disso, que atenda às necessidades dos trabalhadores, que seja pública, laica, gratuita e de qualidade. Lutamos para que possamos tomar conhecimento do partimônio teórico produzido até hoje pela humanidade e que ele esteja a serviço do bem-estar da sociedade não do lucro de um punhado de capitalistas. Acreditamos que isso só é possível por meio da reorganização dos estudantes não só na FSA como nacionalmente.

Denunciamos a perseguição aos estudantes, por meio destas medidas arbitrárias, sem nenhum embasamento ou prova concreta, que impedem a livre organização dos estudantes

Lembramos à reitoria que não cabe a ela decidir sobre a legitimidade do D.A, e sim aos alunos, somente aos alunos, e estes elegeram sua diretoria e a consentem.

Repudiamos a tentativa da reitoria de desmobilzar o movimento estudantil para que mais facilmente aplique suas políticas de sucateamento da FSA

Entendemos as sindicâncias e processos administrativos em curso na FSA como parte de um processo maior de criminalização dos movimentos sociais e organizações de trabalhadores, como a prisão de 73 estudantes na USP, os processos administrativos a estudantes e funcionários, a repressão, violência e prisão dos estudantes da UNIFESP Guarulhos, a repressão aos diversos movimentos de luta por moradia no último período.

Alertamos para o cerceamento da liberdade de expressão cada vez maior e mais explícito dentro da Fafil, onde a livre organização dos estudantes está sendo tratada como uma atitude criminosa, passível de investigação e punição.

Reconhecemos o Diretório Acadêmico como ferramenta de luta dos estudantes.

Chamamos aos estudantes a construir uma ampla campanha contra a repressão dos que lutam, somando-se em repúdio às atitudes persecutórias da reitoria e em defesa do diretório acadêmico como ferramenta de luta legítima dos estudantes.

 

 

Juventude do Espaço Socialista

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ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2012 contra os partidos dos patrões (pt, psdb, prb etc) voto crítico nas organizações dos trabalhadores

 Este texto é uma contribuição individual, não necessariamente expressa a opinião da organização e por este motivo se apresenta assinado por seu autor.

ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2012

contra os partidos dos patrões (pt, psdb, prb etc)

 voto crítico nas organizações dos trabalhadores 

Daniel Delfino

A tentação do voto “útil” no “menos pior”

Nas eleições municipais de 2012 os trabalhadores de São Paulo estão numa situação em que apenas os partidos que representam a classe dominante (PT, PSDB, PRB, PMDB, etc.) possuem chances de eleger seus candidatos, enquanto que as organizações dos trabalhadores (PSOL-PCB, PSTU, PCO) estão numa posição bastante minoritária. Diante dessa situação, cresce a tentação para escolher o “menos pior” e evitar a eleição do pior candidato. Assim, existe um setor que, mesmo sendo crítico do PT no nível local ou nacional, considera que a candidatura de Haddad é uma alternativa contra a “direita”.

Esse raciocínio tem vários problemas. Começando pelo mais óbvio, temos em primeiro lugar o fato de que o PT, no governo federal há 10 anos, primeiro com Lula e agora com Dilma, e também sua prática tal como já vinha se desenvolvendo e se aprofundou nos governos estaduais e municipais, e nos legislativos, etc. (e que já estava expressa na própria política de colaboração de classe dos sindicatos da CUT há pelo menos 20 anos), é um partido que governa para o capital. O governo do PT privilegia o pagamento da dívida aos especuladores (quase a metade do orçamento federal do próximo ano, exatos 42%, vai para pagamento da dívida pública brasileira. Dos 2,14 trilhões de reais, 900 bilhões serão gastos com o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, enquanto estão previstos R$ 71,7 bilhões para educação, R$ 87,7 bilhões para a saúde e 5 bilhões para reforma agrária – dados da Auditoria Cidadã da Dívida), destinando uma fatia ínfima para os tão festejados programas sociais, como o bolsa-família (previsão de R$ 19,3 bilhões em 2012, www.contasabertas.org). Só essa obediência aos bancos e especuladores já bastaria para mostrar de que lado está o PT, além dos incentivos às construtoras, montadoras, agronegócio, etc.

A lógica do PT

Em segundo lugar está o fato de que o próprio Haddad, como Ministro do Planejamento de Lula de 2002 a 2004, foi o responsável pelas Parcerias Público Privadas, em que o governo entra com o investimento (com o nosso dinheiro) e as empresas privadas ficam com o lucro. No Ministério da Educação, Haddad seguiu aplicando essa lógica no PROUNI, que foi uma forma de retirar o dinheiro que deveria estar financiando as melhorias e o acesso à universidade pública (e está aí a greve de mais de dois meses dos professores, funcionários e estudantes das IFES para denunciar o seu sucateamento) para financiar os empresários das universidades privadas (fábricas de diplomas), disfarçado de programa de “inclusão social”.

Essa tem sido a lógica da gestão do PT, uma relação paternalista com os diversos segmentos da classe trabalhadora, em que não cabe aos movimentos organizados da classe fazer reivindicações próprias, mas contentar-se com as migalhas que caem da mesa dos poderosos. O marketing estrondoso dessas migalhas esconde o banquete escandaloso que o PT oferece no andar de cima para os banqueiros, industriais, empresas transnacionais, etc., e isso é escondido com tal eficiência que garante uma popularidade avassaladora a Lula e Dilma.

Porquê é necessária uma outra alternativa

O pior de tudo é que esse marketing é reproduzido por esses mesmos setores que ainda defendem o voto “útil” contra a “direita”. O erro desse raciocínio é a idéia de que um eventual prefeito do PT poderia ser “menos pior” na sua relação com os movimentos dos trabalhadores. Os trabalhadores não podem contar com a presença de um governante mais ou menos “benevolente” para obter suas conquistas. Os movimentos dos trabalhadores só podem contar com sua própria força e organização, independente do governo de plantão e em oposição a ele. As conquistas só podem vir com a luta e a mobilização, não com negociações, acordos, barganhas na esfera do Estado. Na luta é preciso conhecer o inimigo e demarcar rigorosamente quem está do nosso lado e do lado oposto. As organizações dos trabalhadores precisam ser rigorosamente classistas, ou seja, sem qualquer vínculo com empresas, fundações, ONGs, igrejas, etc. E precisam principalmente se desvincular de qualquer apoio em partidos burgueses e governistas, como o PT e os demais componentes da sua base de apoio. Qualquer que seja o governante, só com organização, mobilização e luta os trabalhadores poderão obter qualquer conquista.

Ao dizer isso, não ignoramos que por trás da campanha de figuras como Serra e Russomano se alinham setores de direita e ultra-direita, com características fascistas, higienistas, racistas, policialescas, etc., que são igualmente nefastos para os trabalhadores. Mas é exatamente por isso que os trabalhadores só podem contar com sua própria organização, mobilização e luta. Não será o PT que vai proteger os trabalhadores contra a direita, mas apenas a própria auto-organização da classe. É essa auto-organização que precisamos construir, essa é a tarefa prioritária para o momento, romper politicamente e organizativamente com o passado petista e toda essa herança, e não fazer campanha para o candidato do PT, supostamente contra a direita. E aqui retiramos as aspas, porque sabemos que existe uma direita para além do PT, mas sem deixar de registrar veementemente que o PT também é parte da direita.

O PT não será defesa contra a direita, já que governa com essa mesma direita no plano federal e nos Estados. O PT não protege os trabalhadores sem-terra e sem-teto das desocupações, dos assassinatos por milícias e jagunços a mando dos grileiros (ao contrário, favorece esses mesmos grileiros, revestidos do pomposo nome de “agronegócio”, com um código florestal feito de encomenda para legalizar a devastação ambiental), não os protege de agressões, demissões perseguições. Como patrão, o PT ignora as reivindicações dos funcionários públicos, porque isso o impediria de atender às dos patrões. No comando dos sindicatos filiados à CUT, o PT firma acordos lesivos aos trabalhadores, com as promessas de que o Brasil vai crescer, para depois repartir o bolo exatamente como se dizia na ditadura. É essa a lógica que explica o acordo com Maluf, herdeiro da ditadura (pela qual foi nmeado prefeito e governador “biônico”), representante do que há de pior em matéria de autoritarismo e corrupção, o que também mostra que o projeto do partido é fazer qualquer concessão para tentar se eleger.

A questão do projeto político

Por trás dessa discussão sobre o voto útil no menos pior existe uma concepção de que na conjuntura histórica atual o que cabe à classe trabalhadora é “acumular forças” no interior do aparato do Estado, impedindo a “volta da direita”, para somente depois, num outro momento histórico, pensar um processo de transição em direção ao socialismo.

Essa concepção padece de equívocos fundamentais. Primeiro, pela incompreensão do momento histórico. Estamos num momento de crise estrutural do capital, em que cada uma das cirses periódicas, como a que se iniciou em 2008, são mais violentas, mais profundas, mais globais e mais longas, enquanto que os períodos de recuperação e crescimento são mais breves e limitados. Nesse contexto, a burguesia não é mais capaz de fazer concessões permanentes, pelo contrário, está retirando as concessões do passado. Quem quer que ocupe cargos de gestão no Estado, qualquer que seja a sua coloração partidária anterior, está forçado a cumprir essa política e, portanto, atacar os trabalhadores (como vem fazendo o PT). Essa é uma política ditada diretamente pelo capital financeiro internacional, que não admite divergência. O mercado administra diretamente o Estado e os governantes eleitos são meros testas de ferro dos bancos.

Segundo porque, qualquer que seja o momento histórico, a transição para o socialismo só poderá ser realizada por organizações dos trabalhadores completamente independentes dos patrões, do Estado e de seus partidos. A ocupação de postos no Estado jamais pode ser uma estratégia permanente, e não pode passar de um instrumento auxiliar, de denúncia da democracia burguesa e sua farsa. O instrumento principal dos trabalhadores deve ser a sua organização enquanto classe para si, com os organismos correspondentes, como organismos de frente única (sindicatos, centrais sindicais, associações, movimentos reivindicativos, grêmios estudantis, etc.) e partidos e organizações revolucionárias.

Essa organização deve ser completamente independente dos partidos governantes, como o PT, mas não só no plano político-organizativo, e sim no ideológico. É preciso que essas organizações desenvolvam um trabalho sistemático de disputa ideológica junto à base dos trabalhadores, no sentido de que a solução de seus problemas só pode se dar com a construção de outra sociedade, que é tarefa do conjunto dos trabalhadores. Não existe socialismo sem participação organizada e consciente dos trabalhadores. A política de voto crítico no PT vai na contramão da necessidade histórica de desenvolimento ideológico e organizativo independente da classe, ao confundir burocratas e gestores do Estado como possíveis aliados.

Os partidos operários

Reproduzir o discurso do “menos pior” é ser conivente com o projeto de poder burguês do PT, enquanto se mostra cada vez mais urgente a reconstrução de organismos de luta da classe, completamente independentes, classistas e combativos. De acordo com isso, o critério para decidir sobre o voto nas eleições municipais não pode ser a escolha do “menos pior” entre os que tem chance de se eleger, mas o de qual projeto e qual classe social os candidatos representam. Ou seja, o critério de classe é o principal para decidir sobre o voto. Nas eleições municipais temos também as candidaturas de partidos que minimamente ainda representam a classe trabalhadora: Carlos Giannazi (PSOL-PCB), Ana Luiza (PSTU) e Anaí Caproni (PCO).

Em que pesem as diferenças que temos com o programa e a prática dessas organizações, sobre as quais falaremos abaixo, reconhecemos que são qualitativamente distintas dos partidos burgueses. Há uma barreira de classe que separa nitidamente esses partidos dos demais. São organizações, que ao menos usam o nome do socialismo, que têm como referência a classe trabalhadora, que buscam se ligar às lutas da classe, que fazem oposição aos governos dos partidos burgueses.

Chamamos o voto crítico nessas organizações, como forma de tornar claro o critério de classe, que as separam dos partidos burgueses. Fazer essa demarcação é mais importante do que votar em quem tem chances de disputar a eleição. Mesmo porque, como veremos adiante também, as eleições do Estado burguês são um jogo de cartas marcadas em que a classe dominante tem todo o controle. Mais importante do que disputar o voto é disputar a consciência dos trabalhadores, mostrar que existe uma alternativa e que é preciso construir um outro projeto, distinto do projeto da burguesia.

Porquê do voto crítico

A posição geral do Espaço Socialista é de voto crítico nos partidos operários, onde não estejam coligados com os partidos burgueses e tenham relação com as lutas dos trabalhadores. Essa política tem que ser ajustada à realidade de cada município, pois há lugares em que o critério de classe não está sendo seguido por esses partidos. O caso mais escandaloso é o de Belém-PA, onde PSOL e PSTU saíram em coligação com PC do B, partido que faz parte da base do governo Dilma. E pior, essa coligação recebeu doações de empresas para sua campanha! O PSTU denunciou publicamente o recebimento de dinheiro de empresas, mas permanece na coligação! Essa prática de coligações esdrúxulas e contribuições da burguesia para financiar a campanha já vem sendo aplicada pelo PSOL há tempos, e agora o PSTU também se “beneficia” dela…

Em São Paulo, como não há esses problemas, esses partidos ainda se qualificam como organizações da classe, ainda que no caso do PSOL essa definição seja cada vez menos segura. O partido caminha para se firmar cada vez mais como uma organização puramente eleitoral, que não está enraizada nas lutas da classe trabalhadora (ainda que haja correntes classistas e até revolucionárias no seu interior, o seu peso e suas práticas não são suficientes para contrabalançar o da burocracia eleitoralista que dirige o partido), e que busca apoio na classe média, praticando uma oposição “bem-comportada” e subordinando seu programa à necessidade de não parecer chocante para esse setor.

O PCB, que faz chapa com o PSOL, possui muito mais clareza programática, ainda que não tenha rompido a fundo com sua herança stalinista e também não tenha presença de peso nas lutas da classe. O PSTU está mais presente nas lutas, especialmente no terreno sindical, mas quem conhece suas intervenções identifica um viés claramente aparatista, uma obsessão por ter todos os organismos sob seu comando, que acaba afastando os trabalhadores combativos e desagregando o movimento. De resto, a lógica que orienta as propostas programáticas do PSTU para cada campo, como transporte, saúde, educação, moradia, etc., que são pontualmente corretas, é de esconder a relação de cada uma delas com a necessidade de uma ruptura revolucionária com o capitalismo, para se chegar de fato a uma São Paulo para os trabalhadores. Quanto ao PCO, suas práticas sectárias no movimento sindical fazem com que seja mais um braço da CUT contra as correntes de esquerda, do que uma oposição real à burocracia, ainda que adote um discurso anti-capitalista e radical.

Diante dessas deficiências, entendemos que nenhuma das três candidaturas operárias é muito distinta e melhor do que as outras, e defendemos o voto crítico e aberto em qualquer uma das três, bem como em qualquer um desses partidos para a câmara de vereadores.

A necessidade de um movimento político dos trabalhadores

Além dos problemas específicos de cada partido, resta o fato, talvez até mais grave, de que tenham saído com candidaturas separadas, ao invés de construir uma frente de esquerda capaz de fazer de forma unitária a oposição aos partidos burgueses. Os partidos tiveram uma postura auto-suficiente ao lançar cada um seus candidatos separadamente, impossibilitando a construção de uma expressão unitária do movimento da classe trabalhadora no terreno eleitoral. Não tiveram capacidade de construir uma frente unitária contra as representações da burguesia e que pudesse polarizar politicamente com as candidaturas da classe dominante, ainda que também não tivesse chances de ganhar a eleição.

Essa postura auto-suficiente que tiveram uns em relação aos outros é a mesma que têm em relação à própria classe, pois o seu processo de construção das candidaturas e programas se deu no âmbito puramente interno, sem um diálogo prévio com os trabalhadores. As candidaturas foram trazidas prontas para depois se pedir o voto dos trabalhadores. O método que defendemos é o oposto, que se fizessem plenárias dos trabalhadores, por bairro ou por categorias, para construir o programa, debatendo amplamente todas as questões pontuais, trazendo todos os coletivos e organizações de luta da classe, para só então se chegar a candidaturas que fossem a representação desse movimento político da classe. As candidaturas estariam subordinadas a esse movimento, e não aos partidos, e seriam abertas também para representantes das lutas da classe, mesmo que não necessariamente filiados a alguns desses partidos, como forma de garantir a representação de todas as correntes políticas no processo eleitoral burguês, que é profundamente anti-democrático.

Ir além das eleições

Outro erro das organizações que representam a classe trabalhadora no processo eleitoral é deixar de explicar em sua campanha que as mudanças necessárias não podem ser obtidas por dentro do processo eleitoral e da própria institucionalidade do Estado burguês. É necessária uma ruptura revolucionária com o capitalismo e a construção de um poder controlado pelos trabalhadores para conseguir as mudanças que precisamos. Pode parecer exagerado fazer essa discussão em uma eleição municipal. Entretanto, São Paulo é a principal cidade do país e é também aquela em que as forças em disputa na cidade fazem um ensaio para as eleições presidenciais de 2014 e uma apresentação do seu projeto. Basta mencionar o fato de que a candidatura de Haddad foi imposta por Lula, que manda no partido, por cima de qualquer possibilidade de decisão da base local, bem como a aliança com Maluf.

Qualquer melhoria nos problemas urbanos de São Paulo, como transporte público, moradia, poluição, saúde, educação, etc., requer uma mudança total nas prioridades da gestão da cidade. Uma mudança desse porte precisaria romper com a estrutura do Estado burguês para construir instituições novas, controladas pelos trabalhadores, em que as decisões fossem tomadas pela classe que produz toda a riqueza na sociedade, em que os ocupantes de todos os cargos ganhassem o mesmo que um trabalhador médio, e tivessem mandatos revogáveis.

As eleições do Estado burguês são o oposto disso. Os partidos burgueses, tanto os que têm chances de vencer como as legendas de aluguel que se lançam para fazer lavagem de dinheiro na campanha, ou que pegam carona na popularidade de alguma celebridades., etc., são todos financiados por grandes empresários, que uma vez eleito o seu candidato, cobram a fatura na forma de contratos da prefeitura com a sua empresa, recuperando com sobras o “investimento”. Uma vez eleitos, os políticos têm quatro anos para desfrutar do cargo, mesmo que descumpram suas promessas de campanha, sem a possibilidade de revogação do mandato, e ainda ganham fortunas que muitos trabalhadores não conseguem em uma vida inteira, isso sem falar no que conseguem com a corrupção.

Só a luta muda a vida

Não basta portanto votar nos partidos operários. É preciso ir além das eleições e organizar os trabalhadores para a luta. A luta deve acontecer todos os dias, não apenas na época das eleições, e em todos os terrenos, não apenas no município. Só com muita organização e consciência política e ideológica conseguiremos fazer frente aos desafios da cidade e do país. Não se trata de uma luta pontual, para modificar aspectos parciais da gestão do Estado. Falamos de uma revolução socialista, que destrua o Estado da classe dominante e seu aparato, seu executivo, legislativo e judiciário, polícia, forças armadas, etc., e estabeleça novas instituições, em que os trabalhadores consigam fazer valer a verdadeira democracia, a democracia da maioria, daqueles que trabalham e produzem toda a riqueza. O Espaço Socialista se coloca como parte dessa luta.

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REPRESSÃO NA UFES: CARTA DO MOVIMENTO “MINHA UFES, MINHA CASA”

Na madrugada do dia 19 de Setembro, em Vitória, ocorreu uma ação violenta contra estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) que mantinham o acampamento do movimento "Minha Ufes Minha Casa" reivindicando moradia estudantil digna, na defesa de um projeto de universidade diferente.Este é mais um dentre tantos recentes episódios de repressão aos que lutam. Repudiamos a ação violenta da reitoria da UFES e oferecemos todo nosso apoio à luta dos estudantes.
Recebemos dos companheiros do movimento a seguinte carta, que divulgamos a todos.

 

AO ESPAÇO SOCIALISTA
APRESENTAÇÃO DO “MINHA UFES, MNHA CASA”

O “Minha UFES, Minha Casa” é um movimento que luta por um novo projeto de universidade pública, verdadeiramente popular e de qualidade. Para tal, cremos ser preciso que os filhos dos trabalhadores e os próprios trabalhadores possam ingressar, permanecer e ter acesso a todos os espaços e instâncias da universidade. Neste cenário, o movimento retorna à pauta histórica da moradia estudantil por considerar ser esta um fator de fundamental relevância na democratização plena do acesso ao ensino superior. A moradia estudantil na UFES é uma reivindicação antiga, que inclusive por diversas vezes foi utilizada por candidatos à reitoria com o fim único de eleger-se.

No dia 1 de agosto de 2012 surge o “Minha UFES, Minha Casa”. Um grupo de estudantes componentes do Comando Local de Greve Estudantil decide acampar no campus de Goiabeiras, em Vitória, em protesto contra a falta de moradia estudantil e para fazer pressão em prol da execução imediata do projeto de moradia que existe desde 2010, ano do último movimento por moradia organizado na UFES. O local escolhido para montar acampamento foi o gramado da portaria norte da UFES, bem em frente à Av. Fernando Ferrari. Neste espaço, com o apoio do SINTUFES, principal apoiador do movimento, foram montadas, além das barracas, uma tenda que era local de encontro e reunião de estudantes e técnico-administrativos. Neste mesmo local, várias atividades foram desenvolvidas, como grupos de debate, cinema e oficinas. Mas, pelas dificuldades inerentes ao próprio local, como vento excessivo que quebrava barracas, falta de banheiro e água nas proximidades, exposição à chuva, dentre outros, o acampamento, no seu 36° dia, mudou-se para o vão externo da Biblioteca Central.

Uma estrutura de barracas, sala e cozinha foi montada e as atividades continuaram a ser desenvolvidas. Apresentação de filmes, debates e uma aula-debate com o Prof. Dr. Paulo Scarim, do Departamento de Geografia, que dividiu com os presentes sua experiência de luta por moradia estudantil na Universidade Estadual Paulista (UNESP). Após duas semanas de ocupação do vão da biblioteca, às 14:20h do dia 16 de setembro de 2012, alegando risco iminente ao patrimônio da Universidade e acervo da Biblioteca Central, uma reintegração de posse do vão da biblioteca foi executado, inclusive com a presença arbitrária da polícia militar. Sem qualquer resistência à ordem judicial, o grupo desmontou o acampamento e retirou-se do local.

Na terça-feira, dia 18 de setembro de 2012, o grupo decidiu por mudar mais uma vez. O local escolhido foi um espaço do anexo do CCHN (Centro de Ciências Humanas e Naturais). A ocupação do local foi acompanhada pelas guardas federal e patrimonial atuantes na universidade e todo o possível foi feito para que o acampamento não atrapalhasse o fluxo das pessoas nem o funcionamento normal dos setores próximos. Deve-se também destacar que todo o processo de ocupação ocorreu sob o protesto do Sr. Aníval Luis dos Santos, chefe de segurança da UFES e do Prof. Dr. Júlio Bentivoglio, vice-diretor do CCHN. Na noite do mesmo dia, às 23:30 h, quando o campus estava fechado e ninguém mais além dos ocupantes estavam presentes, o Sr. Aníval abordou o grupo acompanhado de três guardas patrimoniais afirmando que tinha um mandado de reintegração de posse e que este era urgente. Questionado sobre onde estava o documento, o mesmo afirma que não há a necessidade, pois ele próprio era o mandado. Foi então solicitado que se esperasse ligar para as representações da reitoria em diálogo com o movimento, mas antes que fosse possível realizar a ligação, o Sr. Aníval chamou, com um assovio e um aceno, um grupo de mais de vinte homens com o uniforme da PLANTÃO, que é a empresa terceirizada responsável pela segurança patrimonial da universidade. Munidos de cacetetes, tacos de baseboll, armas de fogo, faca, canivetes e fogos de artifício, os seguranças rasgaram as barracas e, usando cassetete e tacos, quebraram todas as barracas com todos os pertences dos estudantes ocupantes (como computador, celular, roupas, livros, documentos pessoais, dinheiro…). À base de chutes, socos, armas encostadas na cabeça, cacetadas e violência verbal, os estudantes foram expulsos do campus, numa clara tentativa de minar o movimento a qualquer preço. Interessante destacar que durante toda a ação criminosa o Sr. Aníval Luis dos Santos esteve presente, acompanhando passivamente toda a violência que ocorria na universidade. Dois dias após a expulsão doa alunos ocupantes, um professor denunciou ao movimento que um grupo de docentes e funcionários da ultra-direita da universidade está se articulando para conseguir, ou se necessário criar, provas para criminalizar os integrantes do movimento.

O movimento “MINHA UFES, MINHA CASA” entende que ação criminosa e facista do Reitor, Prof. Dr. Reinaldo Centoducati, é a coadunação e a perpetuação do modelo falido, perverso e excludente de ensino superior feito no Brasil. Modelo que é, em sua essência, reflexo da sociedade brasileira e capixaba. Este movimento se propõe a posiciona-se diante da pauta moradia estudantil com uma postura firme e afirma, pelo fervor da vontade de nossos espíritos ser o último movimento por moradia desta universidade. Quanto à organização do grupo, o movimento se pauta nos ideais revolucionários libertários em suas metodologias e planos de ação, sempre se pautando no diálogo e na democracia da voz. Já houve avanços nesses 53 dias de ocupação no campo da negociação. Sucessivas reuniões com a vice-reitora, Profª. Drª. Maria Aparecida Barreto, com o chefe do gabinete do Reitor, Sr. Renato Schwab e com a Pró-Reitora de Gestão de Pessoas e Assistência Estudantil, Srª Lúcia Cassati resultaram em avanços na discussão da pauta no sentido de se definir e avaliar cada possibilidade para solucionar o problema da falta de moradia estudantil. Alguns documentos sobre a estrutura de prédios da universidade estão sendo liberados. No momento as discussões continuam, mas os avanços reais na pauta ainda estão muito aquém do desejado. O movimento lamenta a falta de vontade política e o completo desinteresse de nossos gestores para com relação às demandas dos estudantes. A morosidade e a má vontade por parte da reitoria durante o processo de negociação foram o único responsável por toda a violência sofrida pelos estudantes violentados. No momento as atividades do acampamento estão se concentrando no trabalho de base, com o levantamento da discussão e o convite dos alunos que necessitam de moradia venham nos apoiar e efetivamente morar conosco, em nossa residência. O movimento “MINHA UFES, MINHA CASA” entende o desafio que está por vir. Mas reitera sua obstinação de cumprir o que colocou como meta principal que é ser o último movimento por moradia de nossa tão querida universidade.

Movimento Minha Ufes, Minha Casa
Vitória, 22 de setembro de 2012

 

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