Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

Telemarketing: TRABALHADORES ATENTO (S) À EXPLORAÇÃO

TRABALHADORES ATENTO (S) À EXPLORAÇÃO

É fácil de perceber que vivemos em um sistema constantemente em crise, vemos crise na economia, crise ambiental, crise na política, crise na relação entre as pessoas, dentre outros aspectos da vida dos homens de hoje que se encontram visivelmente em crise. Váriossetores da sociedade abordam estes problemas, cada um atribuindo um responsável por eles. Mas basta observar que estamos passando por uma crise do modelo de sociedade

em que vivemos, a sociedade capitalista, e um olhar mais atento aponta facilmente o culpado pelo nosso sofrimento: os patrões!

Os patrões vivem e muito bem às custas do massacre de nossas vidas, dedicadas quase que totalmente ao fornecimento de lucros incalculáveis a eles. Desta sociedade em eterna crise, moldada para atender aos interesses de poucos, decorrem medidas destes poucos, os patrões, a chamada burguesia, para manter as coisas sempre como estão, de mal a pior para a classe trabalhadora, e desta forma manter seus privilégios.

Nós, enquanto classe, já conquistamos diversos direitos no passado, sempre com muita luta, e precisamos dar uma resposta à altura para não perdermos estas conquistas, alcançarmos melhores condições de vida e trabalho, e construirmos uma sociedade em que lutas e opressões não serão mais necessárias.

 

TELEMARKETING: O SUPRASUMO DA EXPLORAÇÃO

No setor de telemarketing, e especificamente no caso dos trabalhadores da Atento, esta precarização pode ser vista de forma bastante acentuada na falta de organização das ilhas, na sobrecarga de funções, no atendimento de diversos produtos por um só analista – pois desempenhamos funções de analistas -, descontos e advertências por pequenos atrasos, na falta de segurança para realizar o trabalho, dentre outros.

Os teleoperadores trabalham duramente e geram lucros gigantescos para a Atento, prestando serviço de analistas – que recebem de salário cerca de R$ 750,00 – e recebendo salários baixíssimos, quem nem ao menos correspondem ao mínimo salarial estadual; Nós, trabalhadores, não devemos mais aceitar as péssimas condições de trabalho a que estamos sujeitos.

Devemos estar prontamente contra a pressão exagerada por metas, assim como os descontos e advertências por pequenos atrasos. Devemos exigir mais respeito aos trabalhadores do telemarketing, com pausas maiores que permitam algum descanso, e também com um vale alimentação digno – que leve em consideração as necessidades do trabalhador no trabalho e em casa.

Somente através da luta organizada os trabalhadores da Atento conseguirão exigir da empresa a contratação de mais funcionários para acabar com as grandes filas de ligações e para evitar que o teleoperador receba ligações das quais não está preparado para atender. É preciso também cobrar da empresa e da comissão da cipa melhores condições de trabalho, apoios para os pés e pulsos, adequação no volume dos headsets, controle da temperatura do ar-condicionado, um maior diálogo com os trabalhadores e prestação de contas do trabalho que desenvolvem na empresa para melhorar as condições de trabalho.

O sistema capitalista não nos deixa tempo e muito menos recursos para viver dignamente. Os trabalhadores de todo o mundo só se libertarão da opressão que os corrói quando se organizarem e lutarem juntos pelos interesses de todos os trabalhadores – os interesses de quem produz toda a riqueza existente no mundo, e que injustamente só recebe migalhas e humilhações como pagamento. Devemos direcionar toda nossa ira contra a lógica capitalista, os governos burgueses e os patrões, que roubam a cada dia o melhor das nossas vidas, como o direito ao lazer, ao trabalho desalienado, ao amor e à criação artística.

Chamamos à luta todos os trabalhadores da Atento, temos que nos organizar para juntos combatermos a exploração da nossa classe.

 

Nesta luta, exigimos:

♦ Fim da pressão por metas!

♦ Chega de descontos e advertências por pequenos atrasos!

♦ Salário de analista já!

♦ Por um vale-alimentação digno que leve em consideração as necessidades do trabalhador no trabalho e em casa.

♦ Pela contratação de mais funcionários para acabar com a sobrecarga de trabalho!

♦ Por melhores condições de trabalho: apoios para os pés e pulsos, adequação no volume dos headsets, controle da temperatura do ar-condicionado!

♦ Por uma CIPA participativa e comprometida com os teleoperadores.

♦ Por uma sociedade sem exploração.

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Posição do Espaço Socialista nas eleições

Intervir nas eleições para desenvolver a luta e a consciência Socialista!!

Mesmo com todos os problemas da democracia burguesa existentes no Brasil, mesmo com o descrédito, fruto da corrupção, das mentiras, das traições feitas após as eleições, os trabalhadores irão comparecer às urnas. Não o farão por confiança nos políticos e sim porque neste momento não vêem outra alternativa de organização política e social em condições de substituir o regime existente.

Essa situação é fruto, não apenas da alienação prática e ideológica a que os trabalhadores estão submetidos, mas também resultado de uma profunda crise de alternativa socialista e até mesmo crise da consciência de classe, pois as bandeiras de transformação social foram jogadas no chão e pisadas pelas organizações que se adaptaram e se incorporam ao regime político e à lógica capitalista, como o PT, o PC do B, a CUT, a UNE.

Porém, a realidade vai demonstrando cada vez mais que essa democracia é extremamente limitada e que na maior parte dos casos serve aos patrões, contra os trabalhadores, que visa manter a dominação e a exploração, apesar de sua aparência e discurso de liberdade. A democracia burguesa continua sendo uma ditadura do capital e vai assumindo uma postura cada vez mais autoritária para com os movimentos sociais e os ativistas.

Assim, é tarefa importante para as organizações socialistas e revolucionárias intervir no debate eleitoral, mas com uma finalidade totalmente diferente da política burguesa. Trata-se justamente de aproveitar esse momento para realizar uma crítica radical dos vários mecanismos de exploração e dominação presentes nessa pseudodemocracia do capitalismo, e defender que a única possibilidade de resolução dos problemas que atingem os trabalhadores e a sociedade é o desenvolvimento das lutas diretas (greves, ocupações, etc) em direção à ruptura com a lógica do capital e sua ordem de dominação, no sentido da construção de uma outra lógica, a serviço dos trabalhadores, da preservação do meio ambiente, etc.

Defendemos um regime político dos trabalhadores!

Defendemos um outro regime político e econômico, uma democracia dos trabalhadores, em que os mandatos sejam revogáveis a qualquer momento caso os eleitos votem medidas que contrariem as promessas feitas ou os interesses dos trabalhadores. Nenhum ocupante de cargo público deve receber mais do que o salário médio de um trabalhador especializado. Além disso, não devem receber nenhuma gratificação além da ajuda de custo necessária para se deslocar e se alimentar. Defendemos a proibição da reeleição para os cargos executivos, e a limitação a uma reeleição para os cargos legislativos. As doações de empresas nas campanhas ou de empresários individuais devem ser proibidas, implantando-se o financiamento público de campanha com o mesmo valor e o mesmo tempo dos recursos de mídia para os candidatos. Os corruptos e corruptores devem ser presos e seus bens confiscados pelo estado, não podendo mais se candidatar.

Enfim, defendemos uma democracia dos trabalhadores em que esse sistema político seja sustentado e expresse o controle dos trabalhadores sobre todas as atividades econômicas e sociais como as fábricas, bancos e escolas, de modo a propiciar a produção e distribuição da riqueza social de acordo com as necessidades dos trabalhadores e em sintonia com o meio-ambiente.

Sem romper com a lógica do lucro não haverá futuro para os trabalhadores, os jovens e o ambiente!

Durante e após o primeiro pico da crise mundial que atingiu o Brasil – final de 2008 e início de 2009 -, os patrões se aproveitaram para aumentar violentamente a taxa de exploração dos trabalhadores, com demissões e a imposição de maior carga de trabalho sobre os que permaneciam empregados. Ao mesmo tempo, o governo Lula e os governos estaduais reduziam os impostos de setores estratégicos e davam rédea solta ao crédito, e o estado assegurou a estabilidade do setor financeiro, mantendo religiosamente o pagamento dos juros da Dívida Pública Externa e Interna.

Essa Dívida está hoje em R$ 1,61 trilhão, comprometendo cerca de 35% de todo o orçamento da União. Só em 2009, o governo federal, estados e municípios gastaram cerca de R$ 360 bilhões no pagamento dos juros de suas Dívidas, dinheiro extraído dos trabalhadores e enviado para a burguesia.

Junto a isso, houve a liberação quase total ao agronegócio para queimar, desmatar e ocupar áreas de reserva ambiental, sem falar nos prejuízos causados pelas monoculturas de soja e cana ao solo e aos ecossistemas.

O aumento brutal da exploração sobre os trabalhadores e o meio-ambiente, combinado com todos os mecanismos de incentivo ao consumo por parte do estado – principalmente o crédito – pôde conter a recessão e fazer com que a economia voltasse a crescer.

Mas embora os trabalhadores demitidos durante o primeiro impacto da crise tenham sido recontratados, isso ocorreu de forma precarizada e com salários menores.

É isso tudo que está por trás do crescimento econômico capitalista. Só os empresários ganham realmente. O aumento gigantesco do crédito encobriu a queda do poder de compra real dos trabalhadores e da classe média.

Além disso, as medidas tomadas pelos governos e pela burguesia preparam a eclosão de uma crise muito pior em um prazo não muito distante. Isso é o que acontecerá quando a capacidade de endividamento dos trabalhadores brasileiros e das famílias da classe média – que está bem distante do padrão estadunidense ou europeu – chegar ao limite como ocorreu naqueles países.

Nenhuma das três candidaturas chamadas “viáveis” querem e podem dizer essas verdades aos trabalhadores, pois todas têm o acordo maior em manter o país submetido à lógica do capital, para a manutenção de seus privilégios e da burguesia que representam.

Uma disputa para ver quem vai administrar o mesmo projeto a serviço do capital

O bloco PSDB/DEM representa os interesses diretos dos bancos e do agronegócio. Em princípio, seria o melhor dos mundos para a burguesia, pois é um projeto de enfrentamento direto à classe trabalhadora, com uma política de estado voltada totalmente para os cortes na máquina de estado (leia-se serviços públicos), altas taxas de juros e direcionamento da maior parte possível do dinheiro público para obras e programas de interesse do capital. O problema é que muitas vezes uma política de enfrentamentos diretos com os trabalhadores pode levar ao estouro de um ascenso, como ocorreu no início dessa década em vários países da América Latina, e isso a burguesia e o imperialismo não querem.

Já o PT, também visa atender ao grande capital de forma geral, arbitrando as várias frações da burguesia e tentando contemplar o funcionamento do sistema como um todo, mas de modo a preservar uma parte dos ganhos para a burocracia de estado, sindical e política. Daí seu interesse em um certo peso do estado na economia, e das negociatas com as direções sindicais corrompidas para a aplicação de medidas contra os trabalhadores com a mesma ou maior eficácia do que o bloco PSDB/DEM.

A candidatura de Marina Silva tenta se apegar ao mote da preservação ambiental. No entanto, seu discurso cai no vazio pois participou em quase todo o governo Lula, onde houve a liberação dos transgênicos, o aumento vertiginoso da destruição das florestas para a plantação de soja, cana e para a criação de gado.

Seu programa mantém o respeito pela lógica do capital e pela economia de mercado, o que elimina qualquer possibilidade de preservação ambiental, já que o capital, em sua lógica de em tudo lucrar o máximo possível, exige a ocupação de todos os espaços e a exploração de tudo da forma mais insana e imediatista para suas finalidades.

Tanto Serra, como Dilma e também Marina representam o aprofundamento da exploração sobre os trabalhadores e a entrega de todas as riquezas naturais como meio de valorização do capital. Todos eles, mesmo que com variações, manterão o mesmo rumo geral, sendo que as diferenças girarão em torno da forma, dos ritmos e principalmente de qual setor vai usufruir da máquina de estado.

A divisão da esquerda… Por quê?

O fato de a esquerda socialista atuar no processo eleitoral dividida em três candidaturas (PSOL, PSTU e PCB) é realmente muito complicado. Isso dificulta ainda mais que os trabalhadores enxerguem uma alternativa à falsa polarização colocada nestas eleições entre Serra, Dilma e Marina.

Nesse sentido, a culpa é sem dúvida desses mesmos partidos, que colocaram mais uma vez os interesses de sua construção acima dos interesses da classe trabalhadora.

O PSOL insistiu até o último momento em uma frente com o PV, um partido que, a exemplo do PSB, é base de sustentação do governo Lula em Brasília, e em São Paulo é base de sustentação do PSDB… Quando essa aliança com o PV se tornou impossível, por iniciativa do próprio PV, aí o PSOL veio propor tardiamente a constituição de uma Frente de Esquerda.

O PCB declarou desde o início que teria candidatura própria, culpando o PSOL pelo rebaixamento do programa nas eleições de 2006 e pela dispersão da Frente de Esquerda de lá até aqui. Porém, não pensou em propor a Frente nem ao PSTU, nem às demais organizações da esquerda.

O PSTU por sua vez, se aproveitou da política do PSOL de se aproximar do PV e da antecipação da candidatura própria do PCB para lançar também seu “pré-candidato”, Zé Maria. Por último, no CONCLAT (Congresso da Classe Trabalhadora) realizado em junho deste ano, o PSTU orientou sua milit ncia a votar contra a formação da Frente de Esquerda, sepultando de vez a possibilidade de candidaturas unitárias dos trabalhadores nessas eleições.

Desde o início, o Espaço Socialista alertou para esses problemas. Propusemos a construção de um Movimento Político dos Trabalhadores em que tanto o programa como as candidaturas pudessem ser debatidos e definidos a partir de uma ampla participação de base, e não pelas cúpulas dos partidos. Essa unidade pela base e a definição de um programa mínimo seriam fundamentais não apenas nas eleições mas também nas lutas que virão logo após, quando serão descarregados em nossos ombros mais Reformas, como a da Previdência e a Reforma Trabalhista.

O Voto dos trabalhadores deve expressar um caráter de Luta e Socialista!

Mesmo com a divisão da esquerda nas eleições, é preciso travar a disputa de projeto com a burguesia e seus candidatos, e no momento eleitoral, por mais que não gostemos, essa disputa terá como parte concreta a disputa do voto em alguma das candidaturas de esquerda.

Embora tenhamos divergências de fundo com a concepção de atuação e o programa do PSTU, ao nosso ver é a candidatura que melhor representa uma posição dos trabalhadores contra os patrões nessas eleições. Por isso, o Espaço Socialista chama o voto crítico nos candidatos do PSTU.

Ao mesmo tempo, julgamos importante um debate a fundo dos limites existentes nas posições políticas, organizativas e na relação que o PSTU estabelece com o movimento e suas entidades, e faremos esse debate nas p ginas deste jornal e em outros materiais.

Ao nosso entender, o chamado ao voto nulo neste momento em que há candidaturas socialistas dos trabalhadores só serviria para confundir e nos levaria ao isolamento, dificultando o diálogo com os trabalhadores e deixando o terreno totalmente livre para os vários candidatos representantes da burguesia atuarem. Nessas eleições, o voto nulo não aparece dotado de nenhum conteúdo de esquerda e muito menos classista, pois há diversos setores sociais e com interesses inclusive opostos que votam nulo. Além disso, com a polarização colocada nessas eleições, o voto nulo tende a ter seu conteúdo ainda mais esvaziado.

Por que não o PSOL ou o PCB?

O PSOL tem problemas estruturais em seu programa e concepção que o colocam em um rumo perigoso, no mesmo caminho do PT, pois além de ter rebaixado seu programa para se tornar mais palatável, nas eleições passadas o PSOL aceitou doação da Gerdau – uma grande empresa do ramo siderúrgico -, o que expressa um limite fundamental que é a perda da independência de classe. Nessas eleições, por exemplo, ao invés de defender o não pagamento da Dívida Pública – bandeira histórica da esquerda -, o PSOL defende apenas uma auditoria da Dívida, permitindo a conclusão de que parte dela deva ser paga.

O PCB não só não fez qualquer esforço pela unidade, recusando-se até mesmo a participar do CONCLAT – que visava construir uma Central de Luta para a classe trabalhadora para fazer frente à CUT e à Força Sindical -, como também apresenta mais limitações em seu programa comparando-se ao PSTU.

Nossa concepção de centralismo democrático: as posições das minorias

A nossa concepção de centralismo democrático supõe que o regime interno da organização seja o mais democrático tanto na discussão quanto na própria continuidade dela uma vez que é o próprio desenvolvimento da luta de classes que vai apontar os acertos e erros da política votada. Também há o fato de que entendemos que os debates internos não pertencem só à organização, mas ao movimento de conjunto pois refletem as polêmicas e debates que existem entre os militantes e ativistas.

A nossa opção de voto crítico nos candidatos do PSTU, a qual foi votada por maioria após debate com toda a organização, é a que vamos defender no movimento como posição da organização e as demais -minoritárias- tem o objetivo de garantir aos companheiros e companheiras que as defenderam o direito de as apresentarem ao movimento possibilitando que o balanço da política votada tenha mais elementos para serem apreciados.

Também partilhamos da posição de que a publicação de posições minorit rias em nosso jornal é uma forma de resgatar as tradições democráticas do movimento socialista, tais como eram praticadas, por exemplo, pelo partido bolchevique, que, antes do advento do stalinismo, expunha publicamente as divergências como forma de garantir sua expressão e contribuir para enriquecer o debate entre os trabalhadores.

Nosso voto é pela luta

Daniel Menezes

Os partidos operários habilitados a lançar candidatos e as organizações socialistas revolucionárias partem de um pressuposto equivocado quando consideram que as eleições são o momento mais apropriado para discutir política com os trabalhadores (em geral se justificam com citações do “Esquerdismo…” de Lênin, reproduzindo o mais puro método da escolástica medieval), pois, por mais radical que seja o seu discurso (e há programas eleitorais que são belíssimas peças literárias de radicalismo socialista), caem exatamente na armadilha da burguesia, que consiste em limitar a política ao ato de votar.

Se os revolucionários não conseguem disputar a consciência dos trabalhadores para a necessidade de uma ruptura revolucionária com o capitalismo, não será nas eleições que vão conseguir. É como acreditar que se vai conseguir, na última rodada do campeonato, tirar uma diferença de vinte gols de saldo em favor da burguesia, no campo do adversário, com suas regras e o juiz pago por ele. Aceitando a falsa disputa desse jogo perdido, tentam encobrir a ausência da verdadeira disputa de consciência que não é feita durante todo o restante do tempo.

Os revolucionários precisam parar de fazer política pensando no próprio umbigo, ou seja, parar de disputar a consciência dos militantes e ativistas que gravitam em torno das outras organizações, no interior do estreito universo da vanguarda, e começar a disputar a consciência da maioria da classe, que aliás vai votar é no PT. A obsess o inútil por uma tática eleitoral “mais correta”, por uma opção de voto que permita fazer uma campanha de perfil “mais revolucionário” sobre uma diminuta vanguarda, acaba por desviar o foco da verdadeira tarefa fundamental, que é a de organizar o conjunto da classe trabalhadora como força social portadora de um projeto socialista oposto ao da burguesia.

Se há trabalhadores dispostos a votar nulo, é um desperdício de esforço tentar convencê-los a votar em algum partido operário, e vice-versa, pois estes de alguma forma já percorreram metade do caminho. A partir de qualquer uma das duas posições (ou mesmo de ambas, basta um mínimo de criatividade e coragem), é possível dialogar com esses trabalhadores e, mais importante, com o conjunto da classe, para mostrar que, para além do voto, o que transforma a realidade é a organização, a consciência e a luta. Por isso, não assino o texto da maioria, que busca uma precisão supérflua, artificial, débil e divisionista, mas também assino o texto dos companheiros que defendem o voto nos partidos oper rios e o dos companheiros que defendem o voto nulo, pois concordo com os argumentos de ambos.

Em defesa do voto nulo

Karem, Tarcísio, Márcio, Tuca

A democracia burguesa já está em vigor no Brasil há mais de vinte anos. De dois em dois anos, acontecem eleições, seja para os cargos municipais, seja para os cargos estaduais e federais, nas quais todos os brasileiros de determinada idade são obrigados a votar. Os partidos possuem tempo de exposição gratuito nos meios de comunicação e contam com fortunas para fazer campanha.

Gerações de brasileiros foram educadas a ver nas eleições a principal ou única forma de melhorar sua vida, votando e fazendo campanha pelos melhores candidatos. Parcelas mais conscientes e mobilizadas da classe trabalhadora chegaram a acreditar que o PT seria capaz de fazer transformações profundas na estrutura da sociedade, mesmo que não tivessem consciência precisa do que seriam essas transformações e de que melhorias verdadeiras só podem vir através de uma ruptura revolucionária em direção ao socialismo. Mesmo assim, votavam no PT, e acreditavam, e esperavam…

A trajetória do PT acabou servindo para ensinar aos trabalhadores que os partidos e também os sindicatos servem de trampolim para disputar eleições, conseguir cargos, arranjar uma “boquinha”. Que o máximo que se pode conseguir é uma bolsa-esmola para os pobres aqui, um aumento do salário mínimo ali, e admite-se até mesmo que o PT também pode roubar desde que “faça”; e está pronto o discurso: nunca antes na história deste país a classe trabalhadora esteve tão bem!

A população hoje vota no menos pior porque deixou de acreditar na política, mas podemos construir um novo estado com o avanço da consciência dos trabalhadores. Se mais de 50% dos votos forem nulos, deixariam de serem eleitos os candidatos atuais e uma nova eleição precisaria ser chamada. Isso implicaria que os grandes partidos teriam que desmontar seu esquema eleitoral indicar novos candidatos as pressas sem um programa suplementar.

O dever dos revolucionários é construir outra narrativa, que desfaça essas décadas de confusão ideológica e ensine aos trabalhadores que só a luta muda a vida. Não se trata de decretar no dia 3 de outubro de 2010 a greve geral insurrecional para derrubar o governo Lula, mas da construção de um movimento político da classe, totalmente independente em relação ao Estado, que realize uma disputa ideológica profunda pelo socialismo.

Os partidos operários viraram as costas para a tarefa de construir esse movimento, pois nem sequer a unificação em uma central sindical ou numa frente eleitoral conseguiram realizar, priorizando a sua autoconstrução em detrimento da auto-organização e elevação da consciência da classe. Tais partidos se negam a romper com o eleitoralismo e construir outra forma de ação política, em que a classe se ponha como sujeito histórico. Recusam-se também a enxergar os cerca de 20 a 30 % de eleitores que a cada eleição votam branco, nulo ou se abstém pelos mais diversos motivos, inclusive por não acreditar mais no sistema, deixando de incorporá-los à luta.

As eleições na democracia burguesa é uma farsa! Hoje os salários dos políticos são altíssimos e o gasto com a máquina (fala burguesa) é mais alto que o investimento em educação e saúde. Temos o dever de dizer a verdade aos trabalhadores: Só a luta muda a vida! E nas eleições do Estado burguês o voto classista e socialista só pode ser o voto nulo.

Por um voto classista

Thais Menezes

As eleições de 2010 se realizarão num cenário de quase completo controle político da burguesia. Todo o debate está sendo feito em torno das principais candidaturas burguesas: Serra e Dilma. O PSDB vai usar a grande imprensa, jornais, revistas e TVs. O PT vai usar os sindicatos e outros movimentos sociais, ONGs, etc. Os partidos burgueses vão usar todos os instrumentos à sua disposição para dar a essa disputa os contornos de um confronto épico, como se diferenças fundamentais estivessem em jogo, apresentando inclusive uma terceira alternativa, através de Marina, como forma de contemplar aqueles que estão descontentes com o PT e o PSDB.

Todas as formas de descontentamento social, como greves e mobilizações, foram duramente atacadas, nenhum outro tipo de debate além do relativo s candidaturas principais para a burguesia. O fundamental para a classe dominante é que não se apresente nenhum outro projeto alternativo.

É nesse momento que se faz necessário mais do que nunca construir um movimento político dos trabalhadores, que apresente uma alternativa classista e socialista para disputar a consciência da classe, em torno de um projeto de ruptura com o capitalismo e pela construção do socialismo, que passa, além de outras coisas, pela unidade de ação das organizações e partidos operários. As principais correntes, que são os partidos operários, são os principais responsáveis por não termos a unidade até agora, tanto no CONCLAT quanto numa frente eleitoral.

Apesar de todos os graves vícios de método e das sérias debilidades programáticas destes partidos operários, entendemos que não se pode deixar o terreno das eleições inteiramente livre para a burguesia. Durante este momento em que o trabalhador se arrisca a discutir um pouco sobre política, a denúncia da falácia que é a democracia burguesa, o papel de propaganda, toda a luta ideológica contra o modelo burguês de sociedade e em favor da construção de um projeto prioritariamente classista aos olhos do trabalhador, se vê extremamente prejudicado pela ausência de uma frente eleitoral. Por esta falta, a defesa de um voto nos candidatos dos partidos operários cumpriria muito mais o papel de um voto claramente classista e unitário, que mostrasse ao trabalhador o fundamental da questão, a luta de classes. Para despertar a consciência de classe no trabalhador, não facilita fazer distinções entre os próprios partidos operários, PSOL, PSTU e PCB. Além do mais, as virtudes que um possa ter em determinado terreno não compensam os vícios que o outro possa manifestar em outros campos, de modo que seu conteúdo político se equivale e não constrói uma referência classista clara.

Para além das eleições, permanece em aberto a tarefa de construir um movimento político unitário, enraizado na base, através de um programa de luta que realize a disputa de consciência e apresente o
socialismo como alternativa de emancipação para a classe trabalhadora.

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Balanço do Encontro Nacional de Mulheres em Luta

O II Encontro do Movimento Mulheres em Luta, da Conlutas, aconteceu no dia 03 de junho de 2010, em Santos – SP, com presença de cerca de 900 mulheres. O encontro abriu a maratona de congressos cuja seqüência foi o Congresso da Conlutas, no dia 04/06 e o CONCLAT, nos dias 05 e 06/06.

Em chamado para o Encontro de Mulheres em abril deste ano a Conlutas já dava o indicativo de que “Nossa atividade se dá no marco do processo de reorganização do movimento da classe trabalhadora no país. O Encontro, portanto, também está a serviço da construção de uma nova ferramenta para as trabalhadoras, trabalhadores e a juventude, através da unificação entre Conlutas e Intersindical.''

Não só não ignoramos como reforçamos a importância da discussão de gênero ter sido situada no Encontro, acertadamente, dentro deste processo maior de tentativa de unificação de setores combativos da classe, visando reorganizá-la com o objetivo de enfrentar os ataques da burguesia e construir a consciência de classe dos trabalhadores e trabalhadoras rumo à construção de uma sociedade socialista, com todas as dificuldades postas após décadas de refluxo do movimento socialista. Não ignoramos estes fatos e reforçamos que a unificação dos setores combativos da classe, dos movimentos sociais e de setores oprimidos na nova central que se almejava formar seria atualmente a forma mais massiva e concretamente possível de se galgar estes objetivos, portanto era e ainda é questão de suma importância para os setores organizados e para a classe como um todo.

De fato, este aspecto do caráter da central foi defendido à exaustão pela coordenação do encontro e não haveria nada de errado nisso, não fosse a transformação de prioridade em exclusividade que se sobrepôs a toda a discussão que nos possibilitaria desdobrar uma reunião de quase um milhar de mulheres combativas juntas.

A desorganização do evento foi tamanha que não houve compromisso de horário, desrespeitando quem chegou lá às nove horas, um problema sério, pois desgasta o militante ou aquele que pretende militar, agravado pelo fato de que reuníamos lutadores de todo o país, para quem o tempo era ainda mais precioso, devido à perda de tempo já imposta pelas distâncias.

A despeito da legitimidade das bandeiras defendidas, tais como a garantia de licença maternidade de 6 meses para todas as trabalhadoras, sem isenção fiscal para os capitalistas que exploram nossa mão-de-obra, da luta por creches, pela legalização do aborto (bandeira que poderia tratar da grave questão da gravidez na adolescência), além da luta histórica contra o machismo e a violência doméstica, problemas que precisam obviamente da mobilização de todas e todos, não podemos nos omitir de alertar para os problemas ocorridos no encontro e que, representam perigo de entrave na luta, pois nos furtam das discussões e não contribuem para a formação e organização das mulheres entorno de suas lutas.

É triste ter que gastar o tempo com críticas, mas é preciso apontar o excessivo tempo dedicado às desgastantes apresentações de delegações nacionais e internacionais, além da divulgação e aclamação de candidaturas do partido majoritário no encontro, o PSTU, inclusive com o descuido da mesa (imposta e não votada), favorecendo a vice-candidata àpresidência que falou bem mais que o tempo estipulado, tudo isso em detrimento do reduzido tempo reservado aos grupos de discussão.

O debate, que deveria ser prioridade, ficou inviabilizado pelo pouco tempo (apenas 1 hora) e também devido à falta de estrutura, já que os grupos foram montados em pleno teatro, todos no mesmo espaço, nas arquibancadas e se uma mulher falasse um pouco mais alto fatalmente seria repreendida pelos grupos vizinhos, por atrapalhar as falas. Ficamos pouco mais de duas horas em horário de almoço, estreitando o tempo, que já era pequeno, de discussão. As propostas estavam pré-estabelecidas pela corrente majoritária no Encontro, não sendo discutidas por conta de um teto que existia para o término do congresso. As mulheres não tiveram direito a voz e voto por conta do horário também, então quem encaminhava a reunião acabou por escolher quem iria falar. Em suma, não se planejou a estrutura que garantiria a parte mais importante do Encontro, a discussão política, e prevaleceram métodos antidemocráticos aos quais os lutadores não devem se acostumar.

A falta de tempo para debates é muito grave, pois pode levar à reprodução da superficialidade sobre bandeiras defendidas no movimento, à despolitização da base presente pelo desperdicio da excelente oportunidade para avançar na consciência sobre a luta contra a dura realidade que a lógica capitalista impõe às trabalhadoras. A tradição da falta de debate expressa no Encontro se evidencia também pelo fato da organização do evento ter permitido que o serviço de limpeza do espaço fosse feito por trabalhadoras tercerizadas, em vez de ter organizado um mutirão.

Deve-se lamentar o fato de em vez de termos presenciado um Encontro que discutiria gênero situado na luta de classes com uma perspectiva socialista, termos visto se configurar pura e simplesmente um encontro das mulheres que estariam no CONCLAT.

Para além das lamentações, chamamos as lutadoras e lutadores a combater este modelo de Encontro e lutar para termos de fato Encontros que discutam gênero, construídos pela base, pautando os principais debates que competem à classe e também os debates específicos da mulher trabalhadora. Chamamos os lutadores e lutadoras a repensar o formato destas discussões e a estar consciente para combater a burocratização das direções do movimento e construir de fato um movimento de mulheres emancipadas, rumo a uma sociedade socialista!

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Balanço do CONCLAT

O CONCLAT (Congresso da Classe trabalhadora), realizado nos dias 05 e 06 de junho em Santos poderia ter sido um passo importante no sentido da unidade dos setores combativos da classe trabalhadora, a partir da fusão das duas principais correntes (CONLUTAS e Intersindical). Poderíamos estar comemorando a formação de uma central unitária de luta, que com todos os limites que tivesse, abriria uma nova situação na reorganização do movimento dos trabalhadores e para a reconstrução da perspectiva socialista no país.

No entanto, o que era para ser uma grande vitória se transformou em uma derrota. O processo de unificação fracassou e certamente quem está comemorando são os patrões, o governo, a CUT, a Força Sindical, a CTB, pois os setores de esquerda não conseguiram avançar no sentido da unidade, um pressuposto que é defendido por todos em seus discursos.

Se o racha e a divisão não forem revertidos, os trabalhadores estarão desprovidos de um instrumento de luta para enfrentar os graves desafios históricos, tão logo a crise econômica que prossegue grassando especialmente na Europa retorne ao Brasil.

Por que deu Errado?

De 2007 a 2009, havia uma pressão objetiva pela unidade, com a emergência da crise econômica e a cobrança da vanguarda sobre as direções das correntes, afinal os setores que entraram em luta ao longo de todo o governo Lula estavam cansados de ver a esquerda dividida. Em 2010, com o crescimento – em grande medida artificial – da economia e a entrada em cena do debate eleitoral, a diminuição das lutas fez com que essa pressão pela base diminuísse. Com isso prevaleceram os interesses e a prática das correntes majoritárias de privilegiar a disputa pelo controle das entidades sindicais, em detrimento do atendimento às necessidades básicas e históricas da classe, entre elas a necessidade imperiosa da unidade.

Apoiando-se no fato de ter a maioria dos delegados e num Bloco com o MTL, o PSTU conseguiu fazer aprovar todas as resoluções que lhe davam a vitória no Congresso e o controle da Central. Desde o início se mostrou insensível para a necessidade da unidade, como quando votou contra e impediu a aprovação pelo Congresso de um movimento político dos trabalhadores que pudesse se constituir em uma referência unitária dos trabalhadores no processo eleitoral contra a falsa polarização entre Serra e Dilma. Optaram por manter uma política de divisão na esquerda que deverá ter três candidaturas (PSOL, PSTU e PCB).

O PSTU também conseguiu ver aprovada sua proposta de composição da direção, com uma coordenação composta por membros eleitos nas entidades (mesmo modelo da Conlutas) e uma secretaria executiva eleita em Congresso.

A segunda votação polêmica foi a do caráter da Nova Central. O PSTU/MTL conseguiram fazer passar o caráter sindical, popular, estudantil e de luta contra as opressões, contra a proposta da Intersindical que defendia que a central deveria se limitar ao movimento sindical e popular. Essa vitória aumentou o peso do PSTU na nova central, já que esse partido tem maioria nos movimentos estudantil e de luta contra as opressões. A Intersindical, por sua vez, ficava em condições piores nessa disputa, por ter menos peso nesses movimentos. Em uma disputa equilibrada esse percentual acentuava o controle do PSTU.

Desde o início desse debate nós chamávamos a atenção de que a discussão do caráter da nova central estava viciada pelos cálculos de quem teria o controle da Nova Central.

Nós do Espaço Socialista votamos a favor do caráter mais amplo da entidade por entendermos que não comprometeria o perfil classista da entidade (o setor estudantil e de luta contra as opressões teria apenas 5%) e seria uma forma concreta de arregimentar esses setores para a luta ao lado dos trabalhadores. No entanto, a partir dessa votação, a tensão foi aumentando e as condições para a unidade foram se esgotando.

A gota d'água viria a seguir com a polêmica sobre a questão do nome. A proposta do PSTU era que o nome da Nova Central fosse CONLUTAS/INTERSINDICAL que, para incorporar, o MTL acrescentou a esse nome CENTRAL SINDICAL e POPULAR! Essa proposta foi desde o início rechaçada pelos demais setores, pois percebiam a clara manobra do PSTU de ao invés de apostar na Nova Central de fato, continuar na prática construindo a CONLUTAS. Já no dia anterior (sábado) a Intersindical reafirmou sua posição de que não aceitaria em hipótese alguma esse nome e que a Central tinha que ter um nome novo, posição que suas lideranças já haviam manifestado desde as reuniões da Comissão Pró-Central, que organizou o Congresso.

Os ânimos das duas bancadas ficaram tão acirrados a ponto do PSTU estabelecer um cordão de isolamento separando sua bancada do restante do plenário. Após defesas conturbadas, venceu a proposta de "Conlutas-Intersindical – Central Sindical e Popular" defendida pelo PSTU e MTL.

A Intersindical, MAS , TLS e Unidos para Lutar abandonaram o Congresso e deixaram no recinto os delegados da Conlutas, MTL e MTST . O PSTU buscou então compor uma Secretaria executiva provisória, oferecendo cargos para todas as correntes no afã de dar legitimidade para um processo que já tinha ido por água abaixo. De nossa parte, diferente de outras correntes que foram atraídas pela possibilidade de cargos, nos recusamos a compor a executiva de uma Nova Central que na prática não existe. Em uma intervenção no Plenário, defendemos que o processo seja reaberto, com a necessária discussão pela base tanto sobre o nome quanto sobre o programa e plano de lutas e também sobre uma política que combata a burocratização, lacunas graves deixadas neste CONCLAT.

No dia seguinte, a Conlutas divulgou nota tentando minimizar o fracasso anunciando a fundação da nova central e criticando a Intersindical e demais setores que se retiraram.

A Intersindical, por sua vez, se disse disposta a continuar o diálogo em torno da unidade, mas acusou o PSTU, que dirige a Conlutas, de querer impor todas as suas propostas e hegemonizar o processo a todo custo.

A pergunta que vem à tona é: Porque uma questão aparentemente simples como o nome da nova central levou à ruptura no CONCLAT? O que leva uma corrente majoritária, o PSTU, no caso, que já havia ganho todas as votações fundamentais para o seu projeto, que já tinha o controle da nova entidade a não ter o mínimo de sensibilidade para abrir mão da questão do nome, uma questão extremamente secundária como forma de impedir a ruptura? Por outro lado como explicar a saída da Intersindical e de outros setores, porque sua proposta de nome não foi aprovada?

A disputa pelo aparato falou mais alto

Fica claro que tanto o PSTU quanto a Intersindical colocaram mais uma vez seus interesses de hegemonia acima e contra os interesses maiores que são os do movimento e da classe trabalhadora e, com isso, colocaram a perder um processo muito importante que estava se construindo.

O CONCLAT acabou reproduzindo, com a ruptura do processo de unidade na esfera sindical, o mesmo fenômeno que se deu na esfera eleitoral, com os partidos que representam os trabalhadores, PSTU, PSOL e PCB, lançando candidaturas separadas e com isso fragmentando a já fragilizada influência das idéias socialistas na disputa política com a burguesia e a burocracia.

A disputa pelo aparato é a explicação do porque a questão do nome adquiriu tanta importância. Com a manutenção do nome CONLUTAS na nova central, o PSTU queria assegurar na prática a estrutura e o nome já conhecido da CONLUTAS. Na eventualidade de vir a perder a maioria na Nova Central, para a INTERSINDICAL, o PSTU poderia facilmente romper e manter-se no controle da CONLUTAS, sem grandes problemas. É importante lembrar que um importante setor da INTERSINDICAL não quis participar do CONCLAT, mas futuramente poderia vir a ingressar na Nova Central, ameaçando o controle do PSTU sobre a Nova Central a curto ou médio prazo.

Ao recusar-se a abrir mão do nome CONLUTAS na nova central, o PSTU estava pensando não no presente, quando já tinha o controle garantido, mas no futuro. A simples possibilidade de vir a ser minoria algum dia fez com que o PSTU se aferrasse em sua proposta de nome, tensionando o Congresso e fornecendo o pretexto para ruptura da Intersindical e de outras correntes.

Já para a Intersindical era importante um nome novo, tanto para apagar a marca CONLUTAS, como para tentar convencer outros setores que tinham ficado de fora a entrar na Nova Central e assim ultrapassar o PSTU no controle da entidade.

Consideramos um absurdo tanto a intransigência do PSTU de não abrir mão do nome quanto o fato de a INTERSINDICAL ter saído do congresso pelo motivo de terem perdido a votação. Outro elemento para essa crise é como explicar para os trabalhadores que uma central que vinha sendo construída há tempos rompe por conta de um nome. Mais uma vez as correntes majoritárias colocaram os seus interesses acima das necessidades da classe trabalhadora brasileira.

A democracia operária é que sofre…

Nesse sentido a defesa que o PSTU faz de seu endurecimento político em nome do que seria a democracia operária, argumentando que quando se é maioria cabe simplesmente exercer sua força enquanto às forças menores cabe simplesmente se sujeitar, não procede.

Primeiro porque se é correto dizer que na democracia operária em última instância devem prevalecer as decisões por maioria contra o método do consenso paralisante, também é certo que a democracia operária não se resume a uma fórmula aritmética de maioria e minoria. Abrir mão de um nome para garantir a unidade do processo mais importante da classe trabalhadora dos últimos anos expressa mais a democracia operária do que garantir a imposição de uma posição sobre um tema que não seria decisivo para os trabalhadores. Democracia operária é compreender as decisões de modo justamente a garantir a força da unidade e não provocar a divisão. Nesse sentido a polarização e o endurecimento de posições se fazem necessários quando estão em jogo questões fundamentais para o movimento, onde até mesmo a ruptura às vezes é necessária e se justifica, como as rupturas com a CUT. E esse não é o caso agora.

Deixamos claro que não somos a favor da predominância do consenso, muito menos os consensos de cúpula. No entanto, a polêmica sobre o nome não era de modo algum uma questão fundamental para o futuro da Nova Central. Era possível e necessário que o bloco majoritário cedesse de modo a impedir a ruptura, ou seja, também é preciso saber exercer a maioria de forma equilibrada e não como um trator, pois está provado que esse método não constrói, só leva à divisão e ao enfraquecimento da classe.

Além disso, a democracia operária não se resume ao momento de se levantar os crachás. É preciso que o debate tenha sido feito amplamente e de forma o mais profunda possível, o que realmente não aconteceu. A proposta de nome feita pelo PSTU não foi apresentada nas Plenárias de tirada de delegados e foi tornada pública apenas nos últimos dias antes do Congresso, sem que houvesse as condições da base discutir e ponderar o que estava em jogo.

Um congresso despolitizado

De fato, o Congresso em si também foi bastante despolitizado. A mesa de abertura consumiu horas com intermináveis saudações das correntes principais, o que roubou precioso tempo de debate. Em função do monumental atraso, os grupos de discussão se instalaram apenas para cumprir tabela, pois as propostas não foram encaminhadas para plenária. Não houve discussão de programa e nem de plano de lutas, um problema gravíssimo, pois são temas fundamentais para a luta de classes.

A democracia operária tem como pressuposto uma discussão política profunda, onde todos possam expressar as suas propostas e também conhecer outras propostas. Sem a discussão que permita compreender a realidade não é possível exercer qualquer mecanismo de democracia operária, sem discussão política não há democracia operária.

A ruptura do processo de Reorganização expressa os limites políticos de uma concepção de atuação sindical superestrutural. Em nossos materiais e teses publicados como contribuição para esse processo, expusemos a preocupação de que os debates estavam girando em torno de questões superestruturais, organizativas, negligenciando a participação efetiva da base e as questões políticas de fundo. A necessidade da construção de um movimento político dos trabalhadores que se apresentasse como alternativa ideológica classista e socialista em face da burguesia e da burocracia não foi levada em conta pelas correntes majoritárias da esquerda.

Retomar a unidade pela base

O Congresso deveria discutir maneiras de organizar os trabalhadores pela base, organizar as oposições sindicais para retomar os sindicatos para a luta, desenvolver a formação teórica e política e elevar o nível de consciência dos trabalhadores, combater a burocratização e resgatar a democracia e o controle das bases, combater o corporativismo e a separação os trabalhadores em segmentos formais, informais, terceirizados, precarizados, etc.

Apenas encarando essas tarefas o movimento sindical poderia dar um salto de qualidade. Os processos de burocratização e aparatização da luta já produziram grandes derrotas no passado e continuarão produzindo enquanto não forem combatidos duramente. No entanto o que vemos é que essas discussões não interessam às grandes correntes da esquerda, pois isso as obrigaria a enfrentar a crítica pelos vícios que permanecem nos sindicatos sob seu controle, quais sejam: a burocratização, a falta de transparência em relação às finanças, o distanciamento da base. Além disso, essas correntes se omitem também de travar a disputa ideológica pelo socialismo na consciência da base nos sindicatos e no movimento, sob a justificativa de que essa é uma tarefa restrita aos partidos. Ao mesmo tempo, os partidos tem como obsessão aparatizar os sindicatos.

Torna-se cada vez mais urgente discutir as alternativas para o movimento. A resposta deve ser dada no movimento, na ação prática de construir as oposições, organizar pela base, disputar a consciência, combater a burocratização, etc.

O balanço bastante crítico que apresentamos do processo de Reorganização e sua materialização na conclusão do CONCLAT se propõe a contribuir para a superação dos erros cometidos. Os ativistas e militantes honestos e combativos têm a tarefa de refletir sobre esses pontos e questioná-los, pois a construção da unidade permanece sendo crucial para o enfrentamento dos desafios que virão. No entanto, apesar das divergências, a busca pela unidade permanece como um dos desafios mais urgentes não apenas para a vanguarda, mas para a classe trabalhadora no sentido de se constituir em alternativa prática e programática ao domínio do capital. E dificilmente isso acontecerá se o processo ficar restrito às cúpulas, cujos interesses não se coadunam com as necessidades do movimento, como acabamos de ver. Defendemos que o processo seja reiniciado e cabe aos ativistas e militantes de base reforçar a cobrança no sentido de que as correntes voltem a se reunir e seja retomado o caminho da unidade, dessa vez em base a uma discussão ampla e pela base dos principais desafios a serem enfrentados, com a flexibilidade nas questões que não sejam de princípio e com os olhos voltados para o movimento de conjunto e não de um setor apenas, qualquer que seja ele.

Não podemos depender da postura das correntes maiores, pois o que se tem privilegiado entre elas é a disputa pelo aparato e a despolitização. Assim, fazemos um chamado a todos os ativistas e militantes para a constituição de um bloco que possa lutar pela recomposição desse movimento e que também possamos dar a batalha para garantir a discussão e aprovação de um programa socialista e de um plano de lutas e mecanismos reais de democracia operária.

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Moção de Apoio do Espaço Socialista à greve dos funcionários da USP, UNESP e UNICAMP

Nós, militantes do Espaço Socialista, manifestamos por meio desta, nosso total e incondicional apoio com a greve dos bravos funcionários da USP, UNESP e UNICAMP.

Repudiamos a quebra da isonomia salarial entre professores e servidores técnico-administrativo e consideramos esta como uma política de discriminação clara.

Salientamos ainda que somos solidários a toda luta dos trabalhadores e que repudiamos a criminalização dos movimentos sociais e os ataques ao direito de greve que os governos petistas, tucanos e seus pares têm empreendido contra a classe trabalhadora.

Gostaríamos de ressaltar que estamos à disposição para qualquer tipo de ajuda que venham a precisar.

Muita força e até a vitória,

Espaço Socialista – Organização Marxista Revolucionária.

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Bancários – Por um encontro nacional que reorganize o polo combativo da oposição

O Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB) surgiu da histórica greve nacional de 30 dias em 2004, como um pólo aglutinador da vanguarda do movimento grevista, sendo composto por lutadores, piqueteiros, líderes que ajudaram na mobilização até o último dia de greve.

Inicialmente, o MNOB abrangia todos os setores que eram contra os banqueiros e contra o governo Lula. Como punição aos grevistas, foi "instituído" desde então o desconto dos dias parados nos bancos federais. Isso deixou claro de que lado estavam Lula e o PT.

De 2004 em diante, o MNOB sofreu um progressivo esvaziamento, como reflexo do próprio esvaziamento das greves e das lutas da categoria desde então. Além disso, muitos companheiros independentes, integrantes de correntes políticas minoritárias ou de coletivos locais também se afastaram, devido à discordância com a forma como a corrente política majoritária do MNOB (PSTU) conduzia o movimento. De modo geral, a linha política já vinha "pronta", tendo sido decidida pelo partido em seus fóruns internos e trazida ao movimento para ser executada pelos demais. Os panfletos, por exemplo, já surgem escritos, cabendo aos demais apenas distribuí-los.

Outro fator que contribuiu para o esvaziamento do movimento foi a falta de organicidade da Oposição. As reuniões só ocorriam quando o PSTU decidia que poderiam ocorrer (houve inclusive casos de reuniões desmarcadas sem aviso aos demais integrantes que não eram do partido).

Além de se enfrentar com os banqueiros, o governo e a Articulação na direção oficial do movimento, a categoria teve que lidar também com os problemas internos de organização da Oposição, que apesar de lutas heróicas, não conseguiu reverter os ataques que a categoria vem sofrendo em seus vários seguimentos.

Numa crise econômica como a atual, os patrões e os governos estão cada vez mais unidos para jogar nas costas dos trabalhadores o ônus da bancarrota capitalista. O atual estágio de esfacelamento da Oposição, numa conjuntura de crise como essa, recoloca na ordem do dia a unidade dos lutadores. Nesse sentido, é necessário organizar um Encontro Nacional da Oposição Bancária, aberto à participação de todos os bancários que tenham claro que os nossos inimigos são os governos, a Articulação e os banqueiros.

A unidade a ser construída precisa se pautar por uma nova metodologia, que corrija os problemas que causaram o esvaziamento do MNOB ao longo dos anos. É preciso que haja democracia na definição da política, uma Coordenação eleita com mandato e tarefas definidas, organicidade nas atividades, prestação de contas regulares, etc. É preciso que os fóruns do movimento sejam respeitados e que o MNOB não seja propriedade deste ou daquele partido.

Proposta de encontro do PSTU: mais do mesmo

A discussão sobre o Encontro está ocorrendo nos fóruns do MNOB, tendo sido indicado o início do mês de julho como data provável de sua realização. No último period, o PSTU tem defendido um Encontro de dois dias. No primeiro dia seriam discutidas ações conjuntas com as várias oposições. No segundo, haveria uma discussão apenas com os setores que atualmente se identificam como MNOB, para tratar de sua reorganização interna. O problema é que o MNOB se reduziu praticamente a militantes do PSTU, de forma que uma reorganização do MNOB nesses moldes continuaria aquém das necessidades da categoria. Os bancários precisam da unidade das oposições para ter condições de lutar contra o controle da Articulação sobre as campanhas salariais. Por isso, é preciso reorganizar uma Oposição Nacional que agrupe todos os coletivos e militantes independentes que tenham atuação combativa na categoria e que se coloquem como oposição aos banqueiros, ao governo e à Articulação.

Nós, do Espaço Socialista, defendemos um Encontro de caráter aberto, democrático e que sirva para construir uma Nova Oposição, uma Frente Nacional de todas as forças de oposição, de caráter mais plural e de base, como foi um dia o MNOB na sua fundação em Caetés-MG 2004.

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