Vida e morte de Amy Winehouse – Fernando Café
Este texto é uma contribuição individual, não necessariamente expressa a opinião da organização e por este motivo se apresenta assinado por seu autor.
Vida e morte de Amy Winehouse
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Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto! |
Homossexualidade não é obra do Satanás, não é doença e também não é uma opção, (como sabemos ninguém escolhe ser homem, bem como não escolhe ser mulher), mas então o que é homossexualidade?
Essa é uma questão sobre a qual, independente do que pensamos ou achamos, devemos promover e encarar um debate franco e fraterno se quisermos extirpar de nossas fileiras a homofobia, sob pena de não a combatermos na sociedade, pois propor – isso quando é proposto – o fim da homofobia na sociedade quando não a combatemos em nossas fileiras, é retórica pura simples.
Porque homossexuais devem viver nas sombras ou na marginalidade, mesmo quando participam de organizações políticas, mesmo as mais revolucionárias como essa NOVA CENTRAL que estamos em vias de construir?
Do fim do século XIX até o início do século XX a liberdade sexual era uma das bandeiras do socialismo. Na Revolução Russa, logo após a tomada do poder pelo Partido bolchevique e durante a vigência dos sovietes, a homossexualidade era aceita, considerada como parte da liberdade sexual, algo próprio e inerente ao ser humano. A criminalização e discriminação eram combatidas. Com a chegada de Stalin ao poder a liberdade sexual e a discussão homossexual se tornam crime.
Dessa mesma forma, na Alemanha nazista, a liberdade deixa de existir no momento em que se proclama a pureza da raça, a estrutura familiar e sua moral como papel regulador e pequeno braço do Estado para o controle social, necessárias para o bom funcionamento da sociedade capitalista, fragilizada pela recente investida socialista. Para melhor perseguir os homossexuais dizia-se que relação sexual entre pessoas do mesmo sexo era "prática bolchevique".
Nesse período os homossexuais não se reconheciam publicamente e viviam em plena escuridão em suas casas, bares gays clandestinos e banheiros públicos. A comunicação se dava através de uma linguagem de códigos, para que não fossem reconhecidos.
Após o conturbado período das duas grandes guerras e com a polarização da Guerra Fria, o Brasil vive o Golpe Militar, que abafa e erradica a possibilidade de lutas sociais e questionamentos. Com a discussão atrasada e marginalizada a homossexualidade passa a ser tratada como doença mental.
Na década de 1970, com as mobilizações políticas contra o Golpe e a ditadura militar, os homossexuais começam a se organizar enquanto movimento social pela liberdade sexual e política. Esse movimento organizou-se a partir do jornal Lampião de Esquina, com o objetivo de discutir a homossexualidade e todo tipo de opressão.
No entanto, em 1978, no ciclo de debates da "Semana do Movimento da Convergência Socialista", com o objetivo de organizar um partido socialista, o grupo do Lampião de Esquina não foi convidado a participar pois eles ainda não tinham nenhuma identificação com a luta de classes. Isso gerou vários questionamentos sobre a necessidade da esquerda discutir a homossexualidade.
Na década de 1980 o movimento homossexual já está mais organizado com o grupo SOMOS e participa ativamente de atividades políticas com outros setores oprimidos. Organiza o I Encontro Nacional para discutir a homossexualidade e a intervenção com outros setores oprimidos e explorados na sociedade. Após esse Encontro um grupo de homossexuais participa do 1º de maio de 1988 no ABC paulista e reafirma que a luta dos trabalhadores é também uma luta dos homossexuais.
O PT e a CUT, em sua fundação, discutem a liberdade sexual, o direito à união civil de pessoas do mesmo sexo, a criminalização da homofobia e outros. No entanto, muitas propostas foram engavetadas e substituídas por um plano neoliberal, mais importante para sustentar o governo.
Além disso, o governo Lula, para garantir coligações e acordos partidários para chegar ao poder, aproxima-se do PP e do PL, ligados à igreja evangélica, que condena o movimento homossexual e considera a homossexualidade um distúrbio mental, ou pior, obra do demônio e não algo natural.
Outro exemplo é o vice-presidente da República, José Alencar, um cristão que só aceitou a parceria com o governo do PT com o engavetamento de todos os projetos contrários aos "princípios cristãos".
A CUT, que deveria estar do lado dos trabalhadores, na prática se opõe ao movimento LGBTT, ao permitir que sejam demitidos, por justa causa, trabalhadores que assumem a homossexualidade, em seus locais de serviço.
O PSTU, que surge de uma das principais tendências do movimento operário, que integrou a Convergência Socialista, que levantava a discussão sobre a homossexualidade, parece ter esquecido o seu passado. Não privilegia a discussão. Na CONLUTAS ocorre o mesmo e a discussão sequer é fomentada. Não se tem orientação política e encaminhamentos nas categorias e entidades.
Com a unificação da CONLUTAS e Intersindical esse forte instrumento de luta não apresenta nenhuma discussão sobre a situação do movimento LGBTT, muito menos sobre o dia a dia opressivo para esse trabalhador.
A Pastoral Operária que também constrói o CONCLAT e que tem como fundamento os princípios cristãos e tem como líder Maximo o PAPA Bento XVI, pronuncia "que a existência da pedofilia na igreja é culpa da homossexualidade". Gostaríamos de saber como a Pastoral Operaria fará a discussão de homossexualidade no CONCLAT já que a igreja condena tais práticas sexuais.
A ANEL, que poderia ser uma organização combativa de estudantes, tratou com descaso a questão da homossexualidade. O Congresso de Estudantes de 2009, que tinha 20 GT's, possuía apenas um para a discussão das opressões. Em sua plenária final, ao invés de discutir planos de lutas que fortalecessem a ação de todos os oprimidos, só se preocupou em fundar uma nova entidade estudantil, passando por cima de quem levantasse outras preocupações.
Percebemos que a trajetória da esquerda não favorece a aproximação dos homossexuais combativos e ainda os distancia quanto à necessidade da organização para atuação conjunta. Nós chamamos a todos para fazermos discussões sobre o movimento LGBTT. Reivindicamos a unidade de todas as correntes e partidos de esquerda para discutirmos o movimento LGBTT e políticas para o desenvolvimento livre da sexualidade.
1º Por uma campanha nacional organizada pelos movimentos sociais e sindicatos em defesa dos direitos dos GLBTT´s.
2º Que a luta contra a opressão homossexual e o fim do capitalismo seja unificada;
3º Pela equiparação dos direitos e benefícios civis e trabalhistas para os homossexuais;
4º Pela garantia total aos GLBTT´s dos direitos civis, humanos e sociais reconhecidos aos heterossexuais!
5º Aprovação já do PL 112/06 que criminaliza a homofobia;
6º Pela livre manifestação afetivo-sexual dos GLBTT´s!
7º Liberdade aos setores oprimidos – mulheres, negros e homossexuais;
8º Educação de qualidade que conscientize e liberte;
9º Pela transformação das Paradas em manifestações de luta! Contra a mercantilização da Parada!
10º Fim da exploração do homem pelo homem!
Karen e Tarcísio.
O racismo no Brasil é algo muito perverso, pois tem como uma de suas principais característica, transformar suas vítimas em criminosos. Isso pode ser percebido facilmente quando observamos as discussões sobre as cotas raciais universitárias.
O movimento sindical, sob a falácia de que somos todos iguais e de que negros e brancos amargam a escravidão dos baixos salários e péssimas condições trabalho (em que pese o fundo de verdade), nega-se a encarar o problema e discutir as especificidades do povo negro.
A CUT levou mais de dez anos após sua fundação para incluir em sua agenda a temática racial.
A CONLUTAS o fez em seu Congresso de Fundação, mas isso não garantiu que o problema fosse enfrentado como se deve.
O CONCLAT não tem essa discussão em sua agenda, nosso movimento não é de minorias, mas de minorizados pela burguesia, e, infelizmente pelo movimento sindical também!
Eduardo Rosas
Leia mais Uma rápida olhada nas bancas de jornal no mês de julho de 2009 revelou a ocorrência de um fenômeno editorial bastante significativo. Há um “boom” de publicações voltadas para a II Guerra Mundial, para o nazismo em especial, e para a figura de Hitler em particular.
Vejam-se os seguintes títulos:
– II Guerra Mundial – Edição Ilustrada – Campos de Concentração – A estratégia de extermínio de Hitler – Holocausto – Organização do Partido – Campos de concentração – Ed. Escala.
– Especial 70 anos da II Guerra – Grandes guerras – Tudo de novo no front – Dia D minuto a minuto – Ed. Abril.
– Coleção Battlefield – Aventuras na história – DVD – As maiores batalhas da II Guerra numa só coleção – A batalha da Grã-Bretanha – Ed. Abril.
– Stalingrado, um duelo mortal entre Hitler e Stalin – Aventuras na história – DVD – A batalha mais dramática da II Guerra Mundial – Ed. Abril.
– Hitler, simbologia e ocultismo – A história secreta do ditador – Anticristo, Lança de Longinus, Suástica, Nazismo, Forças Ocultas – Ed. Escala.
– Segunda Guerra – A história oficial e seus heróis anônimos – Ed. Universo dos livros.
– História revelada – A lança sagrada de Hitler – Os segredos do nazismo – Origem, filosofia, história, influência, simbologia – Ed. Universo dos livros.
– História ilustrada do nazismo – O poder e as conseqüências – 1933 – 45 – Vol. 2 – Ed. Larousse.
– Atlas II Guerra Mundial – Alemanha vs. Inglaterra – Livros Escala.
– História viva – 70 anos da Guerra Civil Espanhola – Ed. Duetto.
– Edição totalmente ilustrada – HOLOCAUSTO – A estratégia de purificação racial de Hitler – Ed. Escala.
– Hitler e os segredos do nazismo – Vol. 1 – Ed. Universo dos livros.
Aparentemente, isso pode significar uma simples curiosidade “inocente”, um interesse neutro pelo conhecimento histórico. Pode haver uma flutuação cíclica do interesse do público leitor, que vai de temas como o nazismo a outros fenômenos históricos, como as cruzadas ou o império romano. Entretanto, a continuidade dessa observação nos meses seguintes demonstrou a consistência do fenômeno. As publicações sobre o nazismo e Hitler continuaram “em cartaz”, e novas publicações apareceram.
Além disso, um exame mais cuidadoso dos títulos revela também que não se trata de simples curiosidade histórica ou interesse neutro. Títulos como “os segredos do nazismo”, “a mitologia”, “a simbologia”, “a filosofia”, “as sociedades secretas e o nazismo”; não têm nada de inocente ou neutro. São títulos pensados para tornar o objeto mais atraente. Disfarçadamente, o sensacionalismo esconde uma apologia do objeto, ajudando a alimentar o fascínio e o mistério.
Para completar, deparamo-nos com a quase total ausência de um contraponto ideológico a essa avalanche de lançamentos sobre o nazismo. Há um ou outro lançamento sobre Ernesto Che Guevara (ver por exemplo: Superinteressante – Aventuras na história – 50 anos da Revolução comunista – Cuba e Che – revista e DVD – Ed. Abril), e se bem que o Che sempre tenha sido um “fenômeno de vendas”, fato cujo significado ideológico também merece uma boa discussão, há uma esmagadora prevalência da direita sobre a esquerda nas bancas de jornal.
Estamos diante de um verdadeiro culto ao nazismo. É certo que não se pode julgar o livro pela capa. Seria preciso fazer o exame detalhado de cada uma dessas publicações para verificar a linha política que defendem. Certamente, nenhum autor ou editora cometerá a sandice de fazer uma apologia aberta do nazismo. Entretanto, independentemente do conteúdo, a simples aparição desse fenômeno editorial é ideologicamente significativo. As publicações podem até mesmo ser academicamente corretas ao mostrar as atrocidades que o nazismo cometeu, os campos de concentração, etc., mas isso funciona apenas como cobertura para uma apologia indireta do fenômeno. Há um gosto sádico no inconsciente coletivo sendo alimentado por esse tipo de mercadoria “inocente” irresponsavelmente cultivado pela indústria editorial. Para bom entendedor, meia palavra basta. É preciso saber tirar as conclusões políticas desse sinistro fenômeno ideológico em processamento nas profundezas da consciência social.
O aparecimento desse “boom” editorial, se não configura uma apologia explícita do nazismo, pode bem significar uma espécie de culto disfarçado. Se não há uma crítica e uma denúncia do nazismo, uma explicação do seu papel histórico de alternativa extrema da burguesia alemã em face da Grande Depressão, etc., a compreensão fica prejudicada. O leitor desavisado pode ser seduzido pelo apelo do visual, da simbologia, da sofisticada hierarquia do partido nazista, da disciplina, da ordem, da determinação “heróica”, do romantismo, etc.
Não basta a denúncia de que o nazismo exterminou milhões de judeus. É preciso explicar porque a burguesia alemã precisou do nazismo. Na década de 1930, o capitalismo desmoronava a olhos vistos e o desemprego atingia milhões de pessoas em todos os países ligados ao mercado mundial, desde os grandes impérios até as semi-colônias. Do outro lado havia o exemplo da União Soviética (mesmo sob o terror stalinista), com pleno emprego, industrialização e melhoria nas condições de vida. O movimento comunista internacional era uma ameaça concreta para a burguesia, pois mostrava uma alternativa palpável ao capitalismo em plena crise.
O nazismo cresceu explorando exatamente a divisão entre o stalinismo e a social-democracia. As duas principais forças da esquerda não se unificaram para combater a ascensão do nazismo e foram derrotadas nas disputas de rua no início da década de 1930. Hitler construiu um exército com bandos de lúmpens para espancar militantes de esquerda e aplastar sindicatos. Com isso o nazismo tornou-se alternativa para a burguesia alemã. A burguesia francesa e inglesa considerava a revolução socialista uma ameaça maior do que o próprio nazismo. Isso permitiu o rearmamento do imperialismo alemão, que precipitou a guerra.
O nazismo matou milhões de judeus, mas não apenas isso. A II Guerra provocou a morte de dezenas de milhões de trabalhadores de várias nacionalidades, além de outros tantos milhões de feridos e desabrigados, da destruição de recursos e forças produtivas, fábricas, infra-estrutura e cidades inteiras. Foi somente sobre a base dessa destruição que o capitalismo pôde se reerguer da crise mundial iniciada em 1929.
Resgatar essa história (há muitos outros detalhes a serem esclarecidos) é importante no cenário marcado por uma crise econômica que é a mais séria desde a Grande Depressão. Se a Depressão provocou uma destruição do tamanho daquela da II Guerra, algo semelhante pode estar se preparando no nosso presente. Por mais que os ideólogos do sistema digam que a atual crise “está superada”, nenhum dos problemas estruturais do capitalismo foram resolvidos (e nem podem sê-lo dentro dos marcos desse modo de produção). O capital fictício transbordando no mercado financeiro, o endividamento dos Estados, a emissão descontrolada de moeda, o desemprego, etc., são legados dessa crise que continuarão durante vários anos. A burguesia pode responder à insatisfação social por meio da guerra. Basta escolher o adversário: o Irã, a Coréia do Norte, a Venezuela, etc., ou ainda o terrorismo, as drogas, a violência, o crime, etc.
Por isso, não é coincidência o reaparecimento de golpes de Estado, como em Honduras. Assim como não é coincidência o fenômeno editorial do culto ao nazismo. Diante do recrudescimento das ações da direita, nenhuma concessão pode ser feita, sob qualquer forma em que apareça, mesmo as mais aparentemente “inocentes” como publicações sobre o nazismo, ou as ameaças contra uma estudante na Uniban. A disputa ideológica contra a decadência capitalista e suas doentias manifestações proto-fascistas precisa ser feita em todas as dimensões, apontando as alternativas contra as crises, as guerras, a miséria e a barbárie em todas as suas formas, uma alternativa que só pode ser o socialismo.
Daniel M. Delfino
15/11/2009