Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

A democracia e os trabalhadores

A força existe para garantir a democracia. Com essas palavras, o antigo secretário de segurança do DF justificava a ação da PM e conseqüentemente do governo estadual na repressão à greve da Novacap (estatal de Brasília) que culminou com o assassinato de um trabalhador e dezenas de feridos, entre os quais dois companheiros que acabaram perdendo a visão de um dos olhos.

Esse comentário demonstra a verdadeira concepção da burguesia sobre a democracia. A liberdade é universal desde que todos os explorados estejam aceitando passivamente o seu governo. Percebemos isso em qualquer país do mundo, basta que os trabalhadores e o povo oprimido saiam em busca de seus direitos, lá está o cacetete democrático, com uso da força contra a mobilização dos trabalhadores, com o falso discurso de defesa dos direitos da maioria e da democracia. A liberdade das pessoas no capitalismo é do tamanho de seu poder aquisitivo.

A democracia, apesar de toda a propaganda que se faz, nada mais é que uma ferrenha ditadura contra os trabalhadores e o povo oprimido. Senão vejamos:

A Atual constituição consagra o que os doutrinadores burgueses chamam de Estado Democrático de Direito , ou seja, um ordenamento jurídico e funcionamento do Estado onde deve prevalecer a lei (a democracia é garantida pela força da lei), esta deve ser cumprida a qualquer custo. Na verdade, esse ordenamento jurídico esconde várias leis características de regimes ditatoriais, como se fosse um almoxarifado. Quando a burguesia e seu governo estão diante de processos radicalizados de luta, vão lá e sacam uma delas para dar fachada "legal" para reprimir os trabalhadores.

Um bom exemplo é a lei 7170/83, mais conhecida como Lei de Segurança Nacional (LSN), que entre outras barbaridades impõe pena de reclusão de 1 a 4 anos para os que… incitar à subversão da ordem política e social ou ainda pena de detenção de 1 a 4 anos para os que … fizerem, em público, propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social. A pena é aumentada em até 1/3 se a propaganda for em. local de trabalho.

A democracia, na forma que esta estruturada só interessa aos poderosos. Independente do partido que vença as eleições, a situação sempre vai ser a mesma por que o problema é mais embaixo. Está nas regras do chamado "jogo democrático". Quem vence as eleições, não pode em hipóteses alguma acabar com a propriedade privada, distribuir os lucros dos patrões para todos os trabalhadores, deixar de pagar a dívida externa. Se acaso algum político tentar fazer algo assim que dissemos acima, tem a constituição, os tribunais, a imprensa e o Congresso para barrar e se tudo falhar, tem o Exército. O jogo já é viciado desde o início. E não é só isso. As campanhas milionárias, o jogo de desinformação e dissimulação, as manipulações das pesquisas e das urnas são a cara de um sistema que não admite que se mude as regras do jogo. O sistema capitalista pressupõe este tipo de democracia, a democracia burguesa.

Faz 15 anos que o Brasil vive sob o signo da democracia burguesa. Durante este tempo, vivemos várias fases, ora de euforia democrática, ora de crises muito profundas, como foi no Fora Collor. O que mais marcou todo esse período foi que o regime burguês em nenhum momento esteve ameaçado. Esse é o desafio para os revolucionários, uma vez que com a queda do falso socialismo do Leste Europeu, os trabalhadores e a vanguarda estão desorientados, mesmo com todo desgaste da democracia burguesa.

Sob a democracia burguesa, os governos civis fizeram coisas que nem os militares se atreveram. Como os ataques violentos às conquistas históricas dos trabalhadores, a entrega das maiores e mais lucrativas estatais de todos os ramos da economia, a abertura da economia ao capital financeiro internacional, o fim da estabilidade do funcionalismo e principalmente a abertura do país aos capitalistas americanos e europeus.

Diante disso abrimos essa discussão com todos os setores que queiram manifestar-se sobre os mecanismos de dominação da burguesia, de como e onde se expressa, o papel dos revolucionários dentro da democracia burguesa, a questão eleitoral, a violência, a cultura, etc…

É certo que as liberdades democráticas são conquistas importantes para os trabalhadores. No cone sul, foram necessários meses de mobilizações, greves e enfrentamentos para conquistá-las pondo fim à anos de ditaduras. Mas não podemos em hipótese alguma entender como uma coisa em si mesma, um "valor universal", como dizem os ideólogos da burguesia. A luta deve ser por destruir as ilusões dessa democracia, denunciar permanentemente as ciladas burguesas e reconstruir o movimento operário sobre novas bases classistas, socialistas e com independência de classe.

A esquerda, inclusive a revolucionária, com raras exceções, diante das confusões geradas pós-89, tem se perdido nesse caminho. Quando um partido e/ou uma organização, sob um regime democrático burguês, tem como centro de sua atuação a intervenção nas instituições do Estado, quando passa a atuar de acordo com as regras do jogo é um claro sinal de capitulação e adaptação ao sistema burguês pois passa a vender a idéia de que é possível resolver os nossos problemas pelo processo eleitoral, dentro dos marcos do capitalismo.

Já é comum ouvir no movimento o nome dos candidatos, as articulações para coligação com a esquerda, de que é possível eleger, enfim já estão perfeitamente sintonizados com o processo eleitoral. É dessa forma que acontece a adaptação, ou seja, se acostuma, ao regime democrático, transforma a cédula em uma pretensa arma superior às lutas diretas, enfim toda a atuação tem como referência a eleição. A denúncia é no campo eleitoral – de que o governo não fez isso, não fez aquilo – Não denunciando as mazelas do capitalismo, do questionamento do processo eleitoral como um todo, uma manobra da burguesia. Porque temos eleição de 2 em 2 anos? É porque a burguesia é boazinha? Ou é para iludir permanentemente os explorados.

A questão do Fora FHC e o FMI é um exemplo, onde um setor da esquerda propõe como alternativa a proposta de eleições gerais já. Claro que queremos que FHC e o FMI estejam o quanto mais distante, mas daí dizer que as urnas podem dar a resposta, é outra questão. Isso que é capitulação! Essa campanha tem importância pelo fato de que, na prática, vai contra o regime. E se na hipótese de que milhares saiam às ruas, proporemos uma saída dentro do regime para este se recompor como foi o caso do Fora Collor?

Nós não compartilhamos dessas idéias. Para nós a luta é contra o sistema capitalista e as formas de dominação. E a luta pelo poder para os trabalhadores é o problema central. Somos nós quem produzimos as riquezas, a cultura e que geramos o desenvolvimento da sociedade. Somos nós, trabalhadores, que devemos governar diretamente, com a nossa auto-organização. Devendo começar nos bairros e nas fábricas e se estender por todo o país e pelo mundo. O Estado se modifica por baixo e nunca pela superestrutura.

Duarte / João – ABC – São Paulo.

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Política vacilante e burocratismo versus reorganização do movimento por fora dos aparatos – essa foi a tônica do II encontro americano

Política vacilante e burocratismo versus reorganização do movimento por fora dos aparatos – essa foi a tônica do ii encontro americano

Depois do sucesso ocorrido no I Encontro Americano pela Humanidade e contra o Neoliberalismo, realizado no ano de 1996 em Chiapas México, organizado pelos Zapatistas e que contou com a ampla participação democrática e um espírito de solidariedade dos povos oprimidos, esperava-se que o 20 Encontro Americano, ocorrido em Belém do Pará Brasil em dezembro de 1999, desse continuidade a esse importante processo de unificação e construção de um programa político (mínimo) que fosse capaz de organizar o movimento internacional em ações conjuntas em defesa dos direitos dos trabalhadores e de todos os que de alguma maneira tem historicamente sofrido com o preconceito, a discriminação e a opressão do sistema capitalista.

Um bom número de organizações ou representantes de movimentos organizados compuseram as 2600 pessoas credenciadas dos cerca de 24 países representados no evento. Entre as mais importantes ou que participaram ativamente podemos destacar Zapatistas do México, ELN da Colômbia, Movimiento por un Partido de los Trabajadores e CTA da Argentina, Movimento Bolivariano da Venezuela, representante do PC Cubano, PIT/CNT do Uruguai, Partido dos Trabalhadores do Brasil, PCR, PSTU, LBI, PCdoB, Movimento Hip-Hop, movimento Contra-Corrente Articulação dos Povos Indígenas do NE, MG, ES e PA, Comunidade Quilombolas, ONGs, Movimento Negro, de Mulheres, Gays, Lésbicas, entre outras.

A organização de um evento desse nível, que deveria fundamentalmente contar com a experiência dos Zapatistas e de outras organizações como a FARC, MST, CUT e os partidos políticos da esquerda socialista, acabou ficando sob responsabilidade da corrente petista Força Socialista, com grandes desvios burocráticos e sem nenhuma tradição de internacionalismo. Desenvolvendo uma política de disputa eleitoral, burocrática e sem mobilização e, atualmente, administrando a prefeitura de Belém através de aliança com a burguesia, esta corrente tomou para si a tarefa de transformar o II Encontro Americano em uma grande festa de propaganda da atual gestão petista sem um mínimo de respeito aos verdadeiros objetivos deste encontro. Desde o princípio, centralizando as decisões de organização e funcionamento do evento na cúpula do partido sem respeitar os fóruns de discussão internacional, esta corrente criou as condições objetivas para a burocratização do evento estabelecendo uma metodologia pouco participativa que acabou enfraquecendo os grupos de trabalho impossibilitando a participação da base. Além da limitação da voz e do voto nas decisões políticas que foram garantidas somente àqueles que pudessem pagar os 15 reais de inscrição.

Considerando todos esses fatores, o encontro, que deveria ser um momento de ampla unidade na luta contra o neoliberalismo e pela humanidade, teve dias de grandes conflitos internos causado pela tentativa de exclusão, por parte dos organizadores do evento, dos "sem crachás", através da utilização da polícia da prefeitura de Belém. O descontentamento de um amplo setor de estudantes, trabalhadores, anarquistas, punks, além dos representantes indígenas, devido a presença da polícia municipal no evento, a falta de diálogo e as manipulações constantes, da direção petistas, foi o estopim para que acontecesse uma rebelião e ao mesmo tempo uma ruptura com os organizadores do encontro.

A construção de um encontro alternativo contou com quase 50% dos participantes levando a uma experiência interessante de auto-organização, conseguindo estabelecer o processo democrático até então inexistente, e demonstrando que ainda existe vontade política de um amplo setor da vanguarda de se desprender dos aparelhos burocráticos sem democracia direta. Este fato político criado teve grande repercussão na mídia fazendo com que os petistas da força socialista culpassem os Anarcopunks pelo acontecido, caracterizando-os como vândalos e desordeiros.

A presença dos Zapatistas no encontro de forma pouco incisiva na disputas políticas existentes e suas dificuldades de tomarem uma posição revolucionária em relação a crise provocou uma grande tensão, o que levou a realização de várias reuniões de esclarecimentos, onde os Zapatistas, com uma atitude centrista, colocaram a necessidade da unidade pela unidade, sem ter uma postura crítica em relação aos acontecimentos. Pressionados por uma ampla vanguarda para que tomassem uma posição definitiva em relação às disputas acabaram concordando em apresentar aos petistas uma proposta de unificação a partir dos critérios de democracia participativa, da não tolerância de policiais no encontro, do fortalecimento dos grupos de discussão e de elaboração e do credenciamento de todos os que quisessem participar, sendo então, todos os pontos aceitos pelos representantes da Força Socialista, já extremamente preocupados com o que estava acontecendo.

Não fosse a volta da polícia municipal para os portões do local onde aconteceria a plenária final, como forma de controle político das deliberações que viessem a ser votadas, e a presença de um grande contingente de policiais no interior do evento (o que criou uma revolta por parte de estudantes sem crachá que queriam participar) o encontro Americano teria recuperado o seu objetivo fundamental. Porém, a agressão sofrida pelos estudantes da Universidade Federal do Pará André Luís Silva de Miranda e Luciana Chaves que, após terem o seu direito de participar negado por não possuírem "crachás", e mobilizarem os restantes para entrar, sendo rapidamente detidos e espancados na frente dos demais, levou a novos conflitos.

A tensão e o medo tomaram conta dos estudantes que tiveram que recuar sob a violência dos policiais até que viessem alguns dos participantes internos para socorrê-los, principalmente anarquistas e punks, que aproveitaram para denunciar a violência cometida pedindo aos representantes da mesa organizadora o direito de voz para os agredidos. O fato desse direito ter sido negado justamente no dia Internacional dos Direitos Humanos e de, nesse mesmo momento, utilizarem-se da calúnia e da mentira como única forma de isentarem-se da responsabilidade e da culpa pelo acontecido só fez aumentar a indignação e a revolta. Cercados por uma vanguarda de luta e protegidos por um pelotão de pobres mercenários (seguranças contratados) não viram outra saída senão decretar o fim do encontro Americano pela Humanidade e contra o neoliberalismo dispersando a multidão para o pão e circo que haviam preparado.

Como não poderia deixar de ser, o desdobramento dessa metodologia burocrática utilizada pelos petistas da Força Socialista no II Encontro, acabou refletindo nas deliberações política que foram aprovadas na plenária final. Estando os mesmos em maioria durante este processo, devido à distribuição de crachás em massa para a sua militância, garantiram a aprovação de uma política reformista sem estabelecer nenhum critério classista para os atos e mobilizações que serão realizados a partir desse encontro. Por exemplo, não se deliberou acerca da defesa do socialismo com única via capaz de garantir a emancipação dos povos contra a exploração capitalista, demonstrando o quanto essa corrente petista e a sua direção está distante da luta real contra o neoliberalismo. A aprovação de uma marcha dos povos oprimidos das Américas em direção ao México num período de 5 anos partindo de vários países, e o impulsionamento de um plebiscito sobre a dívida externa. Como se vê, nada concreto de fato no que se refere a atender a necessidade dos trabalhadores na América Latina hoje. Assim, este movimento corre o risco de não ter uma bandeira concreta de luta que unifique aqueles que defendem uma nova sociedade, diferente dos que acreditam na possibilidade de sensibilização dos capitalista burgueses para garantir maiores fatias de direitos sociais e renda para os pobres, ou seja, os setores reformistas, burocratas de gabinetes que vivem dos aparatos e que a muito vem negociando nos bastidores apostando na conciliação entre as classes.

Percebendo o quanto essa postura política é prejudicial para todos nós trabalhadores, estudantes, camponeses, negros, índios, mulheres e desempregados, hoje mais do nunca desesperados com a atual situação de miséria que os capitalistas historicamente tem produzido, acreditamos que temos muito a refletir acerca da necessidade urgente de construirmos uma nova forma de organização para encaminhar os nossos interesses, tendo como princípio fundamental a destruição do capitalismo e dos aparelhos e aparatos tradicionais de representação dos trabalhadores hoje tomados pelo vício e pela burocratização. A auto-organização através da democracia direta com ampla participação a partir de uma metodologia que garanta a elaboração na base, sem a tradicional hierarquização de cargos ou funções, conforme pudemos ver nesse encontro, possibilitaria uma real igualdade, solidariedade e liberdade entre os povos e um espírito de coletivismo. Isto nos daria condições objetivas de construirmos a tão sonhada sociedade sem classes e sem patrões preconizada pelos verdadeiros revolucionários de nossa história.

Essa reflexão, acerca do ocorrido no II Encontro, tem o intuito de esclarecer os fatos e ao mesmo tempo denunciar essa organização (Força Socialista), além de ratificar nosso posicionamento em defesa intransigente do socialismo, do não pagamento da dívida externa, da reforma agrária radical sobre o controle dos trabalhadores, do direito de autodeterminação dos povos, da redução da jornada de trabalho sem redução do salário, do fim da especulação financeira e da estatização do sistema financeiro, bem como das demais reivindicações da classe trabalhadora e dos povos oprimidos pelo sistema capitalista.

Saudações revolucionárias.

Gustavo Curuja – Belém-PA.

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Zeca do PT… do PSDB, PFL, PPB, PTB, construtores …

A pouco mais de 15 meses tomou posse o governo petista de Zeca do PT sob uma cortina de fumaça de um governo popular com grande apoio da população sul mato-grossense .Diferente do que muitos imaginavam essa vitória do PT em nada representava uma vitória da esquerda ou do chamado campo popular. Na verdade foi uma grande vitória da direita ao conseguir ganhar de vez o maior partido da esquerda do estado para o seu campo. Vale lembrar que já no primeiro turno, o então candidato Zeca havia feito todo tipo de acordo com os setores conservadores do estado em troca de financiamento e apoio. No segundo turno foi escancarado de vez, até o arcdireitoso e ex-. governador por varias vezes do estado Pedro Pedrossiam, não só declarou apoio público como colocou toda a máquina da sua campanha a serviço do Movimento Muda MS (Zeca ) .

Clientelismo, nepotismo favorecimento… a cara do governo popular

Já no início esse governo mostrou a que veio. Vale a pena ressaltar que ao assumir a lógica de fazer a política da burguesia, o PT também assumiu sua lógica de governo ,ou seja, contratação de parentes (sobrinhos , primos, esposas, irmãos do governador e do vice) para o governo. Fato vastamente publicado na imprensa nacional num verdadeiro escândalo digno de ACM e cia Ltda. Na parte das contratações, escândalos também não faltaram. O mais conhecido envolve uma empresa de táxi aéreo e o governador. Sem nos esquecermos das férias que Zeca e a família passaram na casa de um grande construtor, que hoje é o responsável pela maior obra em andamento no estado. Não para por aí. O governo do estado através do DERSUL licitou uma ponte depois de já estar construída, por sinal, pelo irmão do então presidente do que ? Do DERSUL!!!!!

A esquerda Petista e o PSTU

Desde antes do início da campanha travou-se um importante debate na esquerda sobre qual seria o caráter de um possível governo do PT. Infelizmente toda a esquerda, sem exceção, contaminada pela embriagues eleitoral apoiou e participou, em maior ou menor grau, da frente eleitoral Muda MS

O PSTU com sua velha ideologia de que as massas precisam fazer experiências apoiou de fora, mas tendo seus programas financiados pelo PT, acabou tornando-se fio condutor da política da burocracia petista, não se diferenciando nem denunciando o caráter burguês da frente. Após a eleição entrou em crise total, perdendo vários de seus filiados diretamente para o aparato do governo. Hoje encontra-se reduzido a poucos militantes na capital, porém parece não ter tirado todas as lições de anos de adaptação à burocracia petista e sindical. Continua na mesma vala comum da consigna de frente dos trabalhadores, quando não existe a menor chance de tal frente vir realmente a se concretizar. Vale a pena perguntar: frente dos trabalhadores com quem? Com o PT, PC do B? Será que é possível chamar esses partidos de operários ou algo similar? Sinceramente acho que não!

A chamada esquerda do PT, se é que se pode chamar desse nome, um ente que ninguém sabe ao certo o que é, e que passou de malas e bagagens ao campo do governo, assumiu cargos e brigou para tê-los sem o menor constrangimentos, limitando-se a fazer críticas no marco do aparato estatal. Aqueles que não conseguiram cargos, via os acordos internos do PT, não se envergonharam de assumir a causa da Articulação e mais precisamente ao grupo Zequista. Parecem ter esquecido dos discursos inflamados de ontem. Hoje são os mais fervorosos defensores do Governo.

Hoje, ainda mais do que ontem, está mais que provado que as eleições não mudam e nem poderão mudar a situação da classe trabalhadora. Só a auto-organização dos que vivem do trabalho, poderá transformar a situação de crise e desesperança que a maioria da população hoje vive.

Márcio Cabral

Campo Grande-MS

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150 anos do Darwinismo: a evolução entre o mito e a ciência

 

A história da evolução

Nas épocas históricas de grandes mudanças sociais as classes revolucionárias se apóiam na força da razão para o combate ideológico contra os mitos que constituem o arcabouço do pensamento das classes dominantes, parte do combate político geral. Assim fez a burguesia na sua multissecular luta revolucionária e humanista contra a nobreza e o clero. Ao longo dessa luta, alguns marcos se destacam. O primeiro é a descoberta de homens como Copérnico, Bruno, Kepler, Galileu e Newton de que a Terra não é o centro do universo, mas apenas mais um planeta gravitando em torno do sol num universo infinito. O segundo marco foi a descoberta por Darwin de que as espécies animais evoluem pela seleção natural dos mais aptos, de modo que a origem do homem pode ser remontada até seus ancestrais primatas (e no limite, até as bactérias que foram a primeira forma de toda a vida no planeta). Um terceiro marco seria a descoberta do inconsciente por Freud, mas em circunstâncias históricas e ideológicas já alteradas.

A descoberta de Darwin foi publicada no livro “A origem das espécies”, cujo lançamento está completando 150 anos (em 12/02/2009 comemoraram-se os 200 anos de nascimento do próprio Darwin). A teoria da evolução já havia sido elaborada pelo naturalista inglês em 1839, no retorno de uma viagem marítima que se iniciara em 1835, e que teve entre outros destinos o Brasil e as ilhas Galápagos, no litoral do Equador. Mas a teoria permaneceu inédita, pelo receio do próprio autor de chocar a sociedade com uma novidade tão radical.

Em 1858, Darwin recebe uma correspondência de outro cientista inglês, Alfred Russel Wallace, em que este apresenta uma teoria idêntica à sua a respeito da seleção natural. Escrupulosamente, Darwin apresenta as duas teorias à comunidade científica, reconhecendo o papel de Wallace. E somente no ano seguinte publica seu livro, que teve estrondosa repercussão. Assim, Darwin passaria à história como pai do evolucionismo em biologia.

“A origem das espécies” dizia basicamente que a natureza seleciona os organismos mais adaptados a sobreviver em determinado ambiente, de modo que estes organismos transmitem suas características aos seus descendentes, terminando por constituir uma espécie em separado. O mecanismo pelo qual os organismos desenvolvem adaptações (mutação) e transmitem suas características (DNA), somente seria descoberto no século XX, com o avanço da genética, e veio confirmar a intuição genial de Darwin.

 

A mitologia social burguesa

O destino da teoria de Darwin seria mais um exemplo do fenômeno pelo qual “a ciência destrói mitos e coloca outros em seu lugar”. O evolucionismo destruiu os mitos de que as formas de vida foram criadas por Deus tais como existem hoje e de que o homem foi criado “à imagem e semelhança” do próprio Deus. Entretanto, o conceito de evolução acabou sendo parte do arsenal ideológico que justifica a posição de classe dominante da burguesia.

A ascensão da burguesia como classe é indissociável da ascensão do modo de produção capitalista. O capitalismo tem um papel histórico progressivo (reconhecido por Marx no “Manifesto”) de romper a estreiteza das relações sociais feudais e arcaicas, lançando as bases materiais para a luta da moderna classe trabalhadora por sua emancipação. Por outro lado, o capitalismo aprisiona o homem em relações sociais tais que a sua condição de sujeito se reverte em mero objeto do processo de reprodução ampliada do valor econômico.

As relações sociais capitalistas requerem um arsenal ideológico de justificação, uma mitologia social que se baseia no individualismo. Os pensadores burgueses, de Hobbes e Locke a Adam Smith, tomaram a condição do burguês inglês dos séculos XVII e XVIII e generalizaram essa condição como sendo a “natureza humana” em geral, em todos os lugares e em todas as épocas. Inventaram a lenda da “guerra de todos contra todos” no “estado de natureza” e a necessidade da invenção do Estado dotado do monopólio da força para proteger a propriedade privada “adquirida pelo trabalho” (na verdade, trabalho alheio), que culmina na estapafúrdia afirmação de que a busca de cada um pelos seus interesses individuais resulta “automaticamente” no bem coletivo, por obra da “mão invisível”.

 

Competição na natureza e na sociedade

Tais mitos são a base do direito burguês e do Estado moderno, a lógica com a qual os indivíduos explicam a si mesmos a vigência das relações capitalistas, da concorrência, do “livre mercado”, etc. Essas idéias já eram comuns no tempo de Darwin. Na verdade, Darwin se inspirou em Malthus, epígono vulgar dos economistas clássicos, para encontrar na natureza o fenômeno da luta pela sobrevivência. Malthus foi o autor da idéia de que a população cresce mais do que os recursos necessários para sua sobrevivência, de modo que a humanidade estaria condenada a uma luta permanente contra a escassez.

A competição, idéia motriz da sociedade burguesa, serviu de inspiração para que Darwin identificasse a luta pela sobrevivência no mundo natural. A descoberta de Darwin é verdadeira, mas a inspiração de onde ele partiu é falsa. A luta pela sobrevivência existe na natureza como um fato dado, um ponto de partida. Mas a competição na sociedade humana tem causas humanas, sociais e históricas, não naturais. A competição entre os homens não tem a ver com uma suposta “natureza humana egoísta”, mas com a divisão da sociedade em classes, um fenômeno histórico e transitório.

A teoria malthusiana se provou objetivamente falsa, pois tanto a escassez com que se depara a maior parte da humanidade, os trabalhadores, quanto a abundância de que desfruta a minoria, a burguesia, não são dados fixos absolutos e a-históricos, mas relativos, artificiais. Não existe escassez de recursos ou subcapacidade produtiva na sociedade. Ao contrário, existe a irracionalidade das relações sociais capitalistas, que condenam a humanidade a crises econômicas periódicas nos momentos em que as forças produtivas não podem ser colocadas em movimento de modo lucrativo. A miséria caminha lado a lado com a superprodução, pois a atividade produtiva não está colocada a serviço das necessidades humanas e sim do lucro. O problema está, portanto, na lógica capitalista de apropriação privada da produção coletiva.

 

O mito do progresso e a evolução

Sob pretexto da luta contra a escassez, mas na verdade tendo como objetivo a multiplicação do lucro e a reprodução ampliada do capital, a burguesia está permanentemente obrigada a desenvolver as forças produtivas. O aumento quantitativo da produção é o motor secreto de toda a vida social capitalista, que se alimenta da incorporação de inovações tecnológicas, que por sua vez exigem um avanço constante do conhecimento científico.

Em nome desse mecanismo, o aumento da produção passou a ser sinônimo de progresso. E o progresso passou a ser o objetivo de todas as sociedades. A ideologia burguesa do progresso desconsidera completamente a capacidade da natureza de suportar as intervenções humanas, com as catastróficas conseqüências ambientais com as quais nos defrontamos hoje.

O impulso para o progresso é outro mito social burguês que contamina a compreensão da realidade, a tal ponto de ter sido incorporado pelas próprias ciências naturais. A evolução passou a ser compreendida como um valor moral, sinônimo de melhoria. O processo de evolução, um mecanismo cego e aleatório, que consiste simplesmente no fato de que as espécies animais se adaptam ao seu ambiente, passou a ser tratado como evidência de progresso no sentido burguês, como se houvesse um objetivo previamente traçado para a transformação das espécies animais em seres superiores.

 

Darwinismo social e imperialismo

Repõe-se assim disfarçadamente o mito da divindade do homem, como se a evolução natural tivesse como objetivo produzir o homem. E dentre os homens, naturalmente, os vencedores e os vencidos. A burguesia seria a classe social dominante porque estaria composta dos indivíduos mais aptos. Da mesma forma os povos europeus teriam o direito de conquistar as raças bárbaras da África, Ásia e América pois seriam superiores. As diferenças históricas entre as classes e os povos, os processos de dominação pela força, etc., foram grosseiramente apagados da história por essa grotesca teoria do “darwinismo social”.

As conseqüências mais trágicas do darwinismo social foram vivenciadas no século XX, quando, em nome do triunfo da “raça ariana”, os nazistas perpetraram o extermínio de milhões de judeus. O projeto de eugenia, ou melhoramento da raça, realizado pelos nazistas é o mais dantesco corolário do darwinismo social. Desde então os adeptos desse pensamento foram forçados a disfarçar um pouco as conexões abusivas que fazem entre teorias da natureza e da sociedade.

Entretanto, tais teorias continuam despontando, como aquela que foi formulada na década de 1970 segundo a qual o único objetivo dos seres vivos é transmitir seus genes. Todo o comportamento animal (e humano) seria explicado por um instinto que o obriga a difundir seus genes. A teoria do “gene egoísta”, transforma um instrumento, os genes, em causa de todo o processo, justamente porque não contempla a perspectiva da totalidade do processo.

 

História natural e emancipação humana

As diferenças e semelhanças entre a história natural e a história social só podem ser compreendidas na moldura de uma lógica dialética, que explica a continuidade na descontinuidade e a descontinuidade na continuidade. O homem rompeu com a natureza e ao mesmo tempo continuou sendo parte dela. As duas esferas preservam sua ligação e ao mesmo tempo sua especificidade, sua lógica própria, que não pode ser transposta de uma esfera à outra.

A luta pela sobrevivência na natureza não é feita apenas de competição entre os organismos, mas de cooperação e mutualismo, tão abundantes quanto à sobrevivência do mais apto. É falso transpor o individualismo liberal burguês para a história natural, assim como é falso explicar as diferenças sociais por causas naturais. Na história humana, a cooperação e o coletivismo são fenômenos presentes durante milênios, muito mais disseminados que a competição, a qual é típica apenas da época capitalista.

A burguesia enquanto classe é incapaz de desenvolver essa compreensão abrangente da história natural e social. Ao mesmo tempo em que necessita da ciência, a burguesia precisa distorcê-la, fragmentá-la, transformá-la em conhecimento altamente especializado de partes limitadas do real, impedindo uma visão da totalidade. Por negar a compreensão da realidade como um todo, a burguesia acaba repondo a necessidade do mito. Nos Estados Unidos há uma intensa luta de setores religiosos para impor o ensino do criacionismo nas escolas, negando a evolução e defendendo a existência de um “desenho inteligente” na natureza, que só poderia ser obra de um criador.

A sociedade que desenvolve ao máximo a ciência é a mesma que reproduz o obscurantismo religioso. A causa dessa contradição está na divisão social do trabalho e na existência de uma classe dominante que vive às custas do trabalho alheio. O homem somente será livre dessa dominação quando se tornar senhor do seu trabalho, do qual atualmente é escravo. Foi a partir do trabalho que os primatas evoluíram para humanos, quando gradualmente seu corpo, suas mãos, seu cérebro, sua mente, se converteram em instrumentos altamente sofisticados. A evolução dos primatas até se tornarem humanos é explicável no quadro da teoria da evolução descoberta por Darwin. A transformação do homem em efetivamente humano só é realizável por meio da teoria marxista da emancipação do trabalho.

Daniel M. Delfino

21/03/2009

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Crise expõe barbárie capitalista: avanço da xenofobia

 

A mobilidade do trabalho, ou dos trabalhadores de um lugar para outro no intuito de ocupar postos de trabalho, em razão da escassez destes ou por conta de melhores condições no trabalho e de rendimentos maiores, provoca grandes êxodos, entre regiões localizadas em um mesmo país ou internacionais.

Esse deslocamento em massa provoca conseqüentemente o aumento da densidade populacional nos locais de destino desses trabalhadores e também a elevação da competição entre os próprios trabalhadores. Esse processo em última instância é interessante aos detentores dos meios de produção e aos tomadores de serviço na medida em que se amplia quantitativamente o exército industrial de reserva, gerando a diminuição do valor dos salários.

Como desdobramento desse fenômeno, também ocorre nesses lugares de destino o aumento do desemprego e da precarização das condições de vida dos trabalhadores de um modo geral, seja por conta de uma super ocupação combinada com a despreocupação dos Estados em construir infra-estrutura para readequar o espaço urbano a sua nova dimensão populacional. Essa massa humana em deslocamento acaba sendo segregada em locais desfavoráveis do ponto de serviços públicos, nas periferias das cidades, constituindo grandes bolsões de pobreza e miséria, como as favelas ou bairros degradados. Sendo que esse estado de déficit habitacional é apropriado mercadologicamente pelos empresários do setor imobiliário para especular e construir moradias, por meio de subsídios estatais ou de financiamentos públicos, moradias as quais são construídas nesses lugares distantes ou em outros tão desfavoráveis para o deslocamento aos centros urbanos quanto os lugares de favelização. Inclusive, nos Estados Unidos, a crise do setor imobiliário afetou os trabalhadores pobres mutuários que perderam as casas, hipotecadas como garantia de pagamento, e quanto a essa questão em particular, o geógrafo norte americano David Harvey, em entrevista concedida a revista Le Monde Diplomatique Brasil do mês de março de 2009, explica que:

 

“a estrutura da crise financeira nos Estados Unidos é notadamente urbana no que diz respeito a suas origens. E é justamente essa relação que eu considero importante a analisar. Um dos resultados da crise é que cerca de 3 milhões de pessoas perderam suas casa nos Estados Unidos no último ano. Provavelmente, antes que esse processo termine, entre 6 e 10 milhões de pessoas estarão na mesma situação. Se observarmos onde isso aconteceu, a onda inicial de inadimplência ocorreu em duas áreas específicas: uma delas, as velhas cidades dos Estados Unidos, como Cleveland, Baltimore e Detroit; a outra coincide com a distribuição da população negra. Na realidade, tivemos o que podemos chamar de um Katrina financeiro, que atingiu todas as cidades, simplesmente varrendo do mapa os bairros pobres em municípios como Cleveland e Baltimore. Em Cleveland ocorre uma sobreposição perfeita entre bairros ocupados por afro-americanos e os lugares onde estão o maior número de pessoas que perderam suas casas por causa das execuções hipotecárias”

 

Esses bairros pobres a que se refere David Harvy são ocupados principalmente por imigrantes de origem latino-americana e de regiões pobres do oriente e da Europa, que serão lançados em estado de maior degradação humana.

Esse movimento de mobilização humana tem provocado o descontentamento de setores da extrema-direita, que, não de hoje, perseguem e procedem a assassinatos de imigrantes, como, por exemplo, o movimento contra o negro e o latino-americano nos Estados Unidos, que ganha coro junto com o movimento da Lei e Ordem, de cunho nitidamente fascista. E esse processo da crise econômica mundial, que se encontra em aprofundamento e que já colocou a economia mundial em recessão, está gerando aumento vertiginoso dos índices de desemprego no mundo todo, a começar pelos centros do capitalismo. Então, os imigrantes, que já são alvo de políticas de extermínio, passam a ser entendidos por parte dos trabalhadores demitidos, que são obrigados a disputarem postos de trabalho mais precarizados, como inimigos, desconsiderando categoricamente o aspecto de classe e possibilitando as condições para disputas violentas entre os próprios trabalhadores. Esse fenômeno ideológico e medonho é apropriado pelos setores da ultradireita, que tentam catalisar essa relação destrutiva. Por isso, verifica-se, não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa, o avanço da xenofobia, inclusive estatal, que se manifesta por meio de políticas de barreira nas divisas contra a imigração, o não fornecimento de vistos e as perseguições policiais. Exemplos disso são o vergonhoso muro que separa a divisa entre os Estados Unidos e o México, em cujo lado americano existem mercenários que literalmente caçam imigrantes e criam uma rede de corrupção para permitir a entrada de alguns, e os assassinatos de latino americanos em países europeus pela própria polícia, sob o argumento de que seriam criminosos ou suspeitos. Portanto, a crise tem acentuado o deslocamento do trabalho para países mais industrializados e confrontado isso com o desemprego nestes países.

Nesse cenário, os Estados europeus ocidentais têm hostilizado os imigrantes provenientes da África, América, Oriente Médio e, sobretudo, do leste europeu. A crise já impactou com grande intensidade os países do leste europeu, de tal forma que alguns países como a Letônia passam situação de instabilidade política no governo em razão do desemprego e da falta de medidas eficientes para a sua contenção, que levou o então primeiro ministro a renunciar em 20 de fevereiro de 2009. Na Ucrânia a crise causou a diminuição da exportação de aço e o endividamento do Estado tem dificultado medidas de intervenção na economia. Isso tudo provocou êxodos imigratórios em direção aos países da Zona do Euro, os quais estão aplicando medidas para dificultar esse movimento. O Estado Alemão tem assumido forte intenção de impedir a imigração e em abril de 2009 pretende discutir uma lei que proibirá a concessão de vistos para imigrantes de cerca de 8 (oito) países do leste europeu. Na mesma direção, a Holanda também tem dificultado os fluxos imigratórios.

Recentemente, a Europa foi palco de fortes insurgências relacionadas com o desemprego e a questão da imigração. O ano de 2008 na França foi marcado por violentas manifestações de imigrantes, africanos na maioria. Esses imigrantes criticavam a política do governo Sarkozy de expulsar imigrantes ilegais e exigia a legalização e também apontava o forte nível de desemprego, sendo as manifestações duramente reprimidas pela polícia francesa. Paris tornou-se um campo de guerra urbana. Contudo esse movimento dos imigrantes africanos pela legalização não se iniciou em 2008, já em outubro de 2005 foram travados violentos enfrentamentos com a polícia, que foram deflagrados após dois jovens imigrantes morreram eletrocutados durante perseguição empreendida pela polícia. É, portanto, nítida a postura xenofóbica do Estado francês, a qual continua sendo conduzida pelo governo Sarkozy, que deverá, inclusive, ser fortalecida diante da crise econômica. Além disso, na Grécia também ocorreram enfrentamentos em dezembro de 2008, organizados principalmente por anarquistas em conjunto com organizações da esquerda, sendo que a maioria dos manifestantes era de estudantes que ocuparam diversos prédios públicos e procederam a fortes manifestações de rua. O poder público grego adotou, não de agora, uma política endurecida contra as manifestações populares e contra os imigrantes, por meio da criminalização dos movimentos sociais e por investidas contra imigrantes ilegais, resultando, inclusive em mortes não esclarecidas pela polícia e também marcadas por absolvições, criando certa dose de crise nas instituições do Estado, sobretudo o Judiciário. Tanto que as grandes manifestações de dezembro de 2008 foram iniciadas após o assassinato pela polícia do estudante Alex Grigoropoulos , em 6 de dezembro. Após esse fato, estudantes invadiram as ruas de diversas cidades gregas, dentre as quais, Atenas, Salônica, Patras, Larissa, Iraklion, Chania (Creta), Ioannina, Volos, Kozani, Komotine. A propósito, em Petras ocorreu um ataque violento de radicais de direita contra a sede de uma organização política de imigrantes, tendo sido lançada uma bomba contra a janela do prédio em que se encontravam os militantes, durantes a realização de uma reunião.

Esses fenômenos de levantes populares, incluindo os imigrantes segregados e perseguidos pelos aparelhos de repressão estatais, não estão assumindo maiores dimensões por acaso, sendo eles conseqüências diretas da crise estrutural do capital que tem provocando o aumento do desemprego e a precarização das condições de trabalho e de vida do proletariado no mundo todo e nesse cenário os imigrantes são parte dos setores mais explorados e expropriados pela burguesia, e cuja situação civil os coloca em posição de extrema precariedade no tocante aos direitos sociais. A crise econômica em curso acentuará a xenofobia e os partidos de direita já estão utilizando isso para aumentar a hostilização em relação aos imigrantes e, principalmente, para dividir os setores da classe trabalhadora e dificultar sua organização para a luta contra o capital.

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Diplomacia e guerra: dois instrumentos de dominação do imperialismo

 

Desgaste dos estados unidos e competição imperialista

Os anos 2000 apresentaram uma novidade em relação aos anos 90: o neoliberalismo começa a perder sua força política. Os povos do mundo logo fizeram a experiência com essa política ditada por Washington e Londres e a rejeitaram, protagonizando mobilizações importantes como na Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e outros tantos países. Junto com essa perda de legitimidade do neoliberalismo, os Estados Unidos também perderam espaço no mundo com inúmeras manifestações de rechaço à sua política.

A perda de legitimidade do imperialismo estadunidense no mundo foi um fator importante que dificultou a implementação do projeto de dominação. Foram inúmeras dificuldades: América Latina com sucessivas rebeliões, Oriente Médio com uma feroz resistência à invasão tanto no Iraque como no Afeganistão e a rebelião dos Palestinos. Internamente, o imperialismo estadunidense também enfrentou resistências importantes que foram massificadas com a crise econômica.

O desgaste do governo Bush e a invasão a países como Iraque e Afeganistão só fizeram aumentar a oposição dos povos ao imperialismo estadunidense. Esse processo, em conjunto com as mobilizações de massas dos trabalhadores, sobretudo no continente americano, impôs limites para a política de Washington. É neste contexto que a eleição de Obama se explica: os Estados Unidos precisam mudar a sua aparência perante o mundo e se apresentar com um novo governo para recuperar o prestígio e conseguir impor sua política de dominação. A maneira de enfrentar o anti-estadunidismo é se colocar como algo novo e simular que houve mudança na política.

A atual crise econômica e a tendência à depressão também têm colocado graves problemas para as economias imperialistas, pois o seu mercado interno não é suficiente para o escoamento da produção, o que obriga cada um desses países a buscar uma maior presença no mercado mundial. Essa presença precisa ser garantida ou pelas vias diplomáticas ou pelas vias militares.

A crise de superprodução expressa uma contradição básica do capitalismo, que é o fato da capacidade de produção gerar um montante de mercadorias muito superior ao que pode ser consumido. O alto desenvolvimento de técnicas de produção faz com que esse problema se agrave, pois pode se produzir muito mais do que em qualquer outro tempo. É isso que basicamente ocorre na atual crise econômica, há uma restrição no mercado mundial.

Como um conjunto de países centrais tem uma enorme capacidade produtiva e o mercado mundial tem limites físicos (geográficos) e político-econômicos, inicia-se uma feroz competição entre os países imperialistas para ter o controle do comércio mundial. Essa competição é uma das chaves da situação política que a crise econômica fez emergir: os países imperialistas precisam (pelas leis do capitalismo) acelerar a competição e dominar a maior parte possível do comércio mundial.

A competição entre as grandes potências pode resultar em luta direta por mercados, como ocorreu nas duas guerras mundiais. Essas duas guerras não foram outra coisa senão uma disputa pela partilha do mundo, ou seja, aos vencedores caberia a maior fatia do mercado. A guerra em si torna-se também uma das soluções para a superação da crise no capitalismo, pois a destruição massiva de forças produtivas cria novas possibilidades para o mercado capitalista. Ao contrário do que dizem os analistas burgueses, a solução da crise de 1929 não ocorreu pelo new deal estadunidense ou qualquer outra política, mas sim pelo resultado da Segunda Guerra Mundial, que abriu imensas possibilidades para o capitalismo. Ou seja, a “era de ouro” do capitalismo dos anos 50 e 60 se deu às custas da morte de milhões de seres humanos.

 

Estados unidos se preparam para a competição

Nenhuma classe social é homogênea, há distintas frações em seu interior. A burguesia se divide como industrial, comercial, financeira e no interior de cada uma delas há outros setores e também outros interesses. No interior da burguesia industrial há, por exemplo, o setor ligado à indústria armamentista. Entre a burguesia de um país e de outro também há interesses distintos.

Nos momentos em que há uma certa estabilidade, esses diversos setores conseguem fazer uma partilha e amenizar as contradições, ou seja, mantém uma certa unidade. No entanto, quando há uma crise essa unidade fica mais instável e surgem as disputas em que um setor precisa derrotar o outro para sobreviver. Essa disputa ocorre, por exemplo, entre a burguesia industrial e financeira ou ainda entre empresas que produzem o mesmo tipo de produto, como eletrodomésticos. Nessas disputas a insanidade da burguesia se revela. A lógica de sobrevivência da burguesia ameaça o mundo.

A essa disputa soma-se outra questão, que é o aumento da capacidade de produção. É preciso criar um mercado consumidor que seja compatível com o volume de produção. Com a crise econômica em curso – não há ninguém que não reconheça que ela é profunda e muito próxima daquela registrada na década de 20/30 – a disputa entre os diversos setores da burguesia torna-se mais intensa.

É no contexto dessa profunda crise econômica que precisamos compreender o significado da política internacional dos Estados Unidos, sob o governo Obama. Os Estados Unidos sabem que precisarão usar nessa disputa as ações da diplomacia e a pressão sobre diversos governos para conseguir acordos que garantam livre acesso para o capital estadunidense.

E essa crise, pela sua profundidade, já colocou em movimento todos os países na disputa por novos mercados. O desgaste que os Estados Unidos sofreram na América Latina e no mundo fez com que perdessem espaço e se abrisse a oportunidade para outras potências imperialistas. A França e a Rússia, por exemplo, já realizaram importantes acordos comercias na América Latina, tradicional “reduto dos Estados Unidos”. Não é uma disputa que está começando, pois a invasão do Iraque e do Afeganistão na verdade já é parte dessa disputa pela ampliação dos mercados. Com o agravamento da crise o controle sobre matérias-primas como petróleo e gás são fundamentais para reduzir custos e melhorar a posição na disputa.

Já temos discutido com bastante insistência o fato de que a crise estrutural do capital é um elemento fundamental nessa competição imperialista, porque cada saída que o capital apresenta para a crise trás em si limites e novas contradições insolúveis. Uma solução em longo prazo para o imperialismo só é possível com uma guerra que destrua as forças produtivas, condição para um novo “boom” do capitalismo. Manifesta-se o caráter destrutivo do capitalismo, que para continuar existindo tem que matar milhões de pessoas.

 

Com qual política

As armas e formas de disputa sempre são uma questão em aberto, pois dependem essencialmente da correlação de forças entre esses setores da burguesia mundial e também entre o proletariado e a burguesia. Uma guerra, ainda mais quando envolve vários países, sempre é um risco para o capitalismo (ainda que se chegue a algum momento em que, na lógica capitalista, isso se torne impossível), pois há um desgaste do regime e o perigo de que o proletariado, como ocorreu na Rússia em 1917, a transforme em uma revolução socialista.

É por isso que, geralmente, o primeiro instrumento de pressão são as gestões diplomáticas, com todo tipo de pressão política e econômica (como imposição de cotas de importação, aumento de impostos para determinados produtos, etc), mas sempre visando impor o projeto de controle do país alvo. Nesse momento, o governo Obama tem utilizado muito esse instrumento, mas, repetimos, buscando por essas vias concretizar seus interesses. Isso não quer dizer que a via militar tenha sido abandonada, pelo contrário, ela é cada vez mais uma possibilidade. A diplomacia é uma política que se combina com a ação militar. O caráter militar é na verdade a característica central do imperialismo, ou seja, não há imperialismo sem poderio militar. Nas ações diplomáticas já está representado de maneira subliminar o poderio militar de cada país.

Na década de 30, portanto no período da depressão econômica, em um momento em que a Alemanha fazia uma forte ofensiva comercial para a região, os Estados Unidos lançaram para a América Latina a “política da boa vizinhança”, que consistia em ter como centro de suas relações com os países do continente americano as negociações diplomáticas. Ao contrário do discurso do governo estadunidense, essa política não representava uma mudança no conteúdo, mas tão somente na forma em que foram adotadas novas armas e novos mecanismos de pressão. O caso mais famoso foi a imposição de cotas de importação para o açúcar cubano, que era a única fonte de renda de Cuba e tinha os Estados Unidos como o principal cliente. Também se destaca o fato de que, quando a diplomacia não era suficiente para garantir a dominação, a tática militar entrava em ação, como foi a invasão da República Dominicana, e mais tarde da Baia dos Porcos em Cuba, assim como as dezenas de golpes militares que foram patrocinados pelos Estados Unidos.

Outro elemento que contesta a versão de que o novo governo estadunidense dá mais destaque para a diplomacia é a presença de forças militares de ocupação no Iraque e Afeganistão e sucessivos ataques militares a várias regiões do Paquistão. A promessa de redução de parte do contingente militar no Iraque não muda essa caracterização. Em primeiro lugar porque, pela ação militar, conseguiuse constituir no Iraque um governo extremamente servil aos Estados Unidos. E segundo, no Afeganistão houve aumento do efetivo militar. O recente anúncio de que os Estados Unidos vão priorizar a ação política em relação ao Irã é outra balela, pois a simples presença de milhares de soldados nas fronteiras é na prática um elemento que desequilibra qualquer negociação.

Esses são apenas alguns dos elementos que comprovam que a diplomacia é apenas uma (e não a mais importante) das táticas utilizadas e que o aparato militar é elemento fundamental na política do governo Obama. A própria proposta de negociação com o Irã é mais uma jogada, pois como pode haver negociações com a presença de tanques, mísseis e milhares de soldados na fronteira?

O importante é compreendermos que a diplomacia na política dos Estados Unidos está a serviço de uma política de dominação do mundo e não de “formas respeitosas” de relação com outros países. As conferências entre Estados, as reuniões, os tratados, enfim toda a política da diplomacia dos Estados Unidos tem um objetivo muito bem definido que é submeter outros países aos seus interesses.

Não pode restar nenhuma dúvida para os trabalhadores de que a principal política do governo Obama, assim como foi de Bush, é a política belicista. A diplomacia é parte dessa política de expansão dos seus domínios, é um complemento da força bélica.

 

O poder militar dos estados imperialistas

Não é possível falar de Estados imperialistas sem falar de poder bélico. Toda crise provoca um acirramento na disputa pelo mercado mundial, em que o avanço de um significa que o outro tem que recuar. Daí a importância do poder bélico, que é, em última instância, o que decide a correlação de forças em nível mundial.

Nenhuma crise do capital, ainda mais as parecidas com a atual, é resolvida no âmbito da política ou da economia, instrumentos que permitem no máximo adiá-las. Uma característica do conceito de crise estrutural é que sua solução (ainda que pela própria lógica do capital outras crises sempre virão) passa por impor uma derrota histórica ao proletariado mundial, submetendo-o a um regime de trabalho baseado na superexploração em escala mundial. Essa correlação de forças só pode ser alcançada com uma guerra generalizada.

O poder e o forte armamento dos Estados imperialistas visam assim pelo menos três objetivos, que são a manutenção de seu poder na relação com outros Estados, o controle do proletariado e a preparação para possíveis conflitos armados, que são fatos comuns na sociedade capitalista. As disputas políticas e econômicas não raro se resolvem militarmente. Assim, a indústria militar passa a ter nesses países um papel central também na esfera da política.

A relação dos governos com a indústria de armas é tanto econômica como política. É econômica porque são os Estados – que detém o monopólio das armas – que sustentam esse ramo da indústria capitalista. E é política porque a indústria de armas é quem muitas vezes impõe posições belicistas aos Estados. Para se ter idéia da relação orgânica entre Estado e indústria bélica, nos Estados Unidos o Pentágono tem escritório permanente dentro das empresas bélicas, ou seja, funcionários do Estado trabalham dentro das empresas. Também é comum que oficiais de alta patente das forças armadas, quando se aposentam, passem a ocupar postos de direção nas empresas bélicas.

Nessa perspectiva, os Estados têm verdadeiros arsenais de destruição, capazes de jogar pelos ares cada grão de areia que existe no mundo. Na economia capitalista a produção só se efetiva se houver consumo, e como o consumo de armas depende de guerras, torna-se fundamental para a sobrevivência econômica dessa indústria a existência de guerras.

 

O poder militar dos Estados Unidos

Como sempre o discurso é um e a prática é outra. Os dados desmentem facilmente o discurso mentiroso de Obama. Os países imperialistas, em especial os Estados Unidos, são verdadeiras máquinas de guerra. O anúncio do orçamento dos Estados Unidos para o ano fiscal de 2010 (que se inicia em outubro) é uma demonstração cabal, uma vez que destina nada menos do que 664 bilhões de dólares para os gastos militares.

O exército dos Estados Unidos é formado por cerca de três milhões de homens e mulheres, o que representa 1,5% da população dos EUA. Segundo o jornal Brasil de Fato, os Estados Unidos possuem 725 bases militares espalhadas pelo mundo e por volta de 500 mil soldados servindo fora de suas fronteiras, sem falar nos que estão no Iraque e no Afeganistão. As despesas militares passaram de 345 bilhões de dólares em 2001 para 528,7 bilhões em 2006, e agora os recém-anunciados 664 bilhões. Os gastos militares desse país são tão gigantescos que correspondem a 45% de todos os gastos militares do mundo.

Por trás dessa política de Estado (que já é condenável) estão as bilionárias empresas da indústria bélica. Das dez empresas líderes do setor no mundo, seis são estadunidenses. São cerca de 3% do PIB destinados para a defesa. Após a invasão do Iraque e Afeganistão, empresas como Am General, Armor Holdings e Oshkosh Truck, que fornecem veículos militares, aumentaram seus faturamentos em 40%. O controle das empresas é tamanho que várias áreas das forças armadas foram privatizadas, como a administração dos quartéis, sua segurança, abastecimento, etc. Isso sem falar na investidura de funções militares para as milícias. O seu poder não é só econômico, é sobretudo político, com influência em cargos importantes na hierarquia de decisões de Estado.

Com esses dados é possível destacar duas questões fundamentais: a primeira é que a política belicista não é deste ou daquele governo, mas é uma política de Estado e isso significa que Obama vai continuar com a política belicista de Bush. O diferencial é que no governo Obama a diplomacia ganha mais peso, mas como já dissemos, não substitui, e sim reforça a ação militar sobre os povos do mundo. A segunda questão é que esse mesmo Estado está sob controle das empresas do setor de armas e conseqüentemente todas as decisões dos governantes atendem a esses interesses.

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