Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

Construindo o novo internacionalismo

Vivemos uma época dominada pela produção de mercadorias. A acumulação capitalista acontece em escala mundial, a uma velocidade crescente, controlada pelas corporações e os investidores transnacionais.

            A ação dessas corporações monopolistas mundializadas visa elevar a lucratividade desse setor do capital, procurando responder à crise que se abateu de modo persistente sobre esse sistema desde os anos 70. Para tanto, contam com a ajuda de agências internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), cuja atividade junto aos Estados Nacionais tem levado à adoção de medidas que tem o objetivo de dar maior liberdade ao grande capital, para transitar por onde lhe interesse, explorando pessoas e recursos naturais de forma ainda mais intensa.

            Os efeitos da mundialização econômica se expandem pelo tecido de sociedades e comunidades do mundo e integram seus povos em um gigantesco sistema único, voltado à extração do lucro e ao controle dos povos e da natureza. O movimento hierarquizado do capital tem retirado o acesso à produção dos meios de vida de amplas camadas populacionais, inclusive nos países ditos desenvolvidos, criando situações onde a convivência entre as elites e os setores sociais desprivilegiados tem se dado pela mediação crescente da repressão policial, tornando a vida cotidiana um fardo muitas vezes insuportável.

            Mas é de nossa resistência que queremos tratar. Neste aspecto, é necessário criar situações reais de confronto com as relações de mercado, baseadas na cooperação e na solidariedade em lugar da competição e do lucro. Na prática, significa constituir diferentes formas de organização, fundamentadas na democracia direta, capazes de responder aos problemas do cotidiano.

            Estas novas formas de organização autônoma deverão emergir de e se enraizar em comunidades locais, enquanto ao mesmo tempo pratica a solidariedade internacional, pois na medida em que o capital reafirma seu caráter mundial, temos que responder-lhe à altura.

         É preciso unidade entre as diferentes formas autônomas de organização dos povos, a fim de conformar as resistências locais no âmbito de um movimento total para a superação do capitalismo em nível mundial. A Ação Global dos Povos é, neste sentido, um dos momentos da necessária conexão entre os movimentos de base. Mas não pode ser o único. Na verdade, devem ser infinitos os momentos de interligação horizontal desses diversos movimentos populares, de acordo com os objetivos comuns a que se proponham.

            Nesse espaço de interação não há lugar para o sectarismo, pois não se trata de levar às últimas conseqüências a defesa de um programa fechado que levará a humanidade ao “mundo novo”. Mas trata-se de buscar o entendimento a partir da diferença. Abrir espaço para a diversidade cultural e nela encontrar a melhor maneira de gerir a vida, livre do mercado e do Estado.

Se queremos construir relações diretas entre as pessoas, livres da dominação do dinheiro, a hora é agora. Não podemos esperar que uma guerra civil nos coloque o poder nas mãos. O poder do povo não está acima, mas entre nós. Sendo assim, nossa revolução já está em curso; resta-nos propagar essa mudança de atitude.

(*) Os trechos em itálico foram extraídos do manifesto da AGP, aprovado na sua 2ª Conferência Mundial, realizada em agosto de 99, em Karnataka, Índia.

 

                                                            André Vasconcelos – membro do coletivo contraacorrente.

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Sobre o critério de partido

Como os leitores que nos acompanha devem ter percebido no último número havia um artigo por  escrito em que colocava sobre o governo PTista aqui do MS este artigo provocou por parte dos companheiros do PSTU uma resposta que também esta sendo publicada neste número. O artigo dos companheiros tenta explicar porque os companheiros apoiaram e continuam a apoiar a idéia da frente dos trabalhadores para as eleições, digo continuam a apoiar porque acabaram de fechar um acordo eleitoral com o PT  para as eleições municipais que agora  se aproxima tal  política é ainda pior o que demonstra o grau e adaptação a democracia burguesa que este partido vem sofrendo pior porque se em 1998 o PT podia cumprir um papel de oposição as oligarquias e as elites papel esse mesmo na época já questionável agora é indefensável ainda mais com os partidos coligados que vai  inclusive a direita sua desculpa agora é que na ”coligação proporcional”  não esta presente os partidos burgueses.

Daí começamos a perguntar como se caracteriza um partido burguês ou operário???? Gostaríamos de perguntar aos companheiros qual é o critério  que se caracteriza o PT como partido operário ? Segundo algumas definições clássicas o PT já não é a muito tempo um partido operário . Vejamos como definir um partido operário se sua direção é uma direção burocrática que funciona como um colchão entre o movimento e o capital basta lembrar-mos da greve da Petrobrás onde Lula o máximo dirigente do partido agiu literalmente como um fura greve, sua política de defesa do capital não se pode chamar de socialista ou operária é na melhor das hipóteses e com muitas boa vontade uma política de desenvolvimento do capital, ou seja , uma ideologia burguesa reacionária que não é possível de realizar  na atual etapa de desenvolvimento do capital. A base desse partido e aqui é bom lembrar que não é só o PT mais também os chamados partidos da esquerda com mediações é cada vez menos operaria e popular e cada vez mais de funcionários do aparato sindical e agora diretamente  do estado burguês. Chegamos a uma encruzilhada para caracterizar tais partidos como operário para justificar sua política  o  PSTU  chega a brilhante  caracterização de que o PT e não só o  PT  mais inclusive o PC do B  são partidos operários porque as  massas tem confiança, continuam seguindo-os e votando nesses partidos a perguntamos em nosso pais o Getulismo teve muito mais base social no movimento operário e nem por isso o caracterizamos com sendo um movimento operário , Mussoline ídem , se ter a confiança das massas é um critério temos que dizer que todos esses populista  também são representantes da classe operária.

   O que esta em jogo na verdade é a esquerda tradicional e ai  também incluso a ultra esquerda esta empreeguinado de desvios eleitorais e no fundo estão preocupados em eleger vereadores e parlamentares e em alguns casos em não se enfrentar com a burocracia . Ao definir sua política como de exigências se denuncias na verdade fica somente na exigência nua e crua.

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Movimento “Basta”: paz para a burguesia

“Não nos falta nada, minha mulher,

 meu filho, para sermos livres como os

pássaros; nada, a não ser o tempo!”

(Dehmel, citado por Rosa Luxemburgo)

           

A grande imprensa tem alardeado uma dita campanha pela paz, que se intitula como o “Basta”. Esse movimento é composto e liderado pela própria imprensa, por empresários, artistas, profissionais liberais, pela…(pasmem!) polícia militar e outros setores, na imensa maioria ligados a órgãos governamentais e empresariais, com raras exceções.

Logo surgem algumas perguntas: Quem realmente quer a paz? O que explica a violência em que boa parte do mundo está atolado? Como acabar com a violência e principalmente quem e como se pode conseguir uma paz duradoura?

É evidente que não se trata aqui de fazer um estudo aprofundado dessas questões, mas sim de procurar entender minimamente os objetivos dessa campanha e abrir essa discussão sobre o significado da violência, que é fundamental para entendermos a nossa realidade.

A primeira questão que deve ser destacado é que a violência está localizada centralmente nas grandes concentrações operárias e na periferia e que são os trabalhadores e pobres que são as principais vítimas. É aí que aconteceram as chacinas(só na grande SP foram 47 com 169 mortos até julho desse ano), é aí que estão os traficantes encastelados e sob a proteção da polícia, é ai que milhões de jovens se entregam às drogas por pura falta de perspectiva de vida e por falta de lazer, é ai que a educação burguesa tem como  pedagogia oficial colocar o jovem para fora da escola e não atraí-lo. 

A burguesia e a dita “classe média alta” não conhecem a violência, pois seus bairros são bem protegidos pela polícia e por seguranças e guardas particulares. O grande problema, para eles, é que também têm que sair para “mundo real” e aí se deparam com a violência contra os seus bens, fundamentalmente nas esquinas e faróis. Essa campanha, para o burguês, é preventiva, é para evitar que a violência chegue aos bairros “nobres”. Porque não fizeram campanha contra as chacinas e assassinatos que a polícia comete diariamente contra os pobres e explorados? Porque não se rebelaram contra as chacinas da candelária, do Carandirú  e de Eldorado dos Carajás? Porque se calam diante da violência da polícia nas desocupações e destruição de bairros inteiros da periferia (só para atender aos especuladores imobiliários)?

 A questão da violência na sociedade moderna (o Brasil é só uma parte dessa realidade) está diretamente relacionada com a manutenção da ordem econômica e política do capitalismo. A violência na atualidade tem cada vez mais a cara do capitalismo contemporâneo, se estruturou de tal maneira que adquiriu características de um Estado.

Quando falo de Estado, me refiro exatamente como um poder estruturado, pois possuem parlamentares (família Farias de AL, Hildebrando do Acre, etc), juízes (com a tarefa de expedir os “habeas corpus”, relaxar a prisão e outros mecanismos processuais), policiais e carcereiros (para facilitar as fugas, proteger o local do tráfico, etc), oficiais das forças armadas (lembram dos oficiais da aeronáutica?) e, como todo Estado, é fortemente armado. Enfim há toda uma rede de sustentação do crime e da violência que se institucionalizou e que além do conhecimento das “autoridades” também tem a proteção das instituições oficiais. Atuam com a conivência do Estado oficial, pois cumprem um papel fundamental para a manutenção do capitalismo: o controle dos trabalhadores e dos explorados. Basta ver que nos grandes centros não existe mais o bate papo entre vizinhos e amigos seja nos “botecos” ou nas praças, todos se recolhem cedo (se não tem conversa não tem troca de experiência e questionamento coletivo da econômica, do governo, da polícia). Nestes locais é proibido se reunir à noite e qualquer organização popular deve ter o consentimento dos chefes do crime organizado.

Nos morros, favelas e periferia estão “escondidos” (todo mundo sabe onde estão, até a polícia…) os traficantes (lembram do Fernandinho Beira Mar?) e  que literalmente controlam essas regiões, impõem toque de recolher, decretam a  necessidade de autorização para entrar e para sair, realizam julgamentos e execuções sumárias daqueles que ousam desafiá-los, ou seja, o que a ditadura fazia agora é este Estado paralelo que faz.

Há uma divisão de tarefas, onde o Estado oficial cuida da entrega das estatais, de gerir os negócios da burguesia e dos aspectos legais da repressão (os processos “legais”, as prisões políticas “dentro da lei”, etc.). O Estado paralelo tem como principal tarefa o controle dos trabalhadores e do povo oprimido, podemos dizer que temos um “Estado Democrático de Direito”, representando o oficial e um “Estado Ditatorial” que é o paralelo, mas os dois têm o mesmo objetivo.

Não pensem que esta organização paralela atua só com a força, pois também tem seu lado “democrático” quando realizam funções sociais como a distribuição de cestas básicas, ajuda para enterro, planos médicos, creches e até empréstimo de dinheiro (claro que deve ser pago…). Protegem a comunidade, conversam e ouvem os problemas dos moradores, enfim um papel digno das instituições do Estado oficial.

DA SEGURANÇA PARICULAR AOS GRUPOS PARAMILITARES

Outra questão que deve ser analisada é o armamento privado que é cada vez mais presente. Além do armamento das quadrilhas e do tráfico, no campo há anos temos a UDR e os fazendeiros com seus jagunços que desde 1995 já assassinaram 214 trabalhadores sem terra em processos de luta pela terra e não houve nenhuma condenação. Nas grandes cidades os empresários estão formando um verdadeiro exército particular. As empresas de segurança particular (quase sempre de propriedade da oficialidade da policia e que vários policiais fazem “bico”), tanto nas cidades como no campo, vão se constituindo como uma base real e objetiva para formação de grupos paramilitares e que diante de qualquer ameaça à propriedade privada executam sem nenhum constrangimento.

Essa questão do armamento particular dos capitalistas é de fundamental importância entendermos, pois a Colômbia e seus grupos paramilitares, os paramilitares das ditaduras do Cone Sul e mesmo aqui no campo brasileiro com a UDR e seus jagunços  se originaram a partir de seguranças particulares dos fazendeiros e grandes latifundiários.

QUE PAZ QUEREMOS?

Estou contra essa campanha cínica  porque ela não tem como preocupação central a paz para todos, mas sim para os ricos. Estão preocupados com os seus Rolls Royce, Mercedes, seus importados e relógios “rolex”. Não pensam nos jovens da periferia nem nos sem terra, nos desempregados, nos favelados. Não se referem às medidas necessárias para pôr fim à violência, pois teriam que discutir soluções para o desemprego, o lazer, a educação, a reforma agrária o que levaria a colocar em xeque a própria existência da dominação capitalista.

A paz plena só será alcançada quando conseguirmos construir uma sociedade que não tenha como a exploração do homem pelo homem, quando a vida for mais importante que o dinheiro e os bens materiais,  quando a realidade for tão maravilhosa que não se precise de drogas para “fugir da realidade”, quando, como disse Trotsky,  livrarmos a vida de todo o mal e possamos desfrutá-la plenamente. Só conseguiremos a paz quando a humanidade extirpar  o mal capitalista e os “falsos socialismos” . Só o socialismo verdadeiro, democrático, livre de toda e qualquer burocracia, pode nos dar a paz., ou seja, só quando existir uma sociedade sem explorados e exploradores, onde a coletividade auto-organizada, exerça diretamente o poder, sem qualquer intermediação ou “representante”.

E essa tarefa só os trabalhadores e aos explorados podem realizá-la. Os capitalistas não tem paz para nos oferecer.

A campanha do “Basta” jamais conseguirá a paz , pois ela não ataca o principal sustentáculo da violência que é o capitalismo. Só colocando fim ao capitalismo é que teremos paz, pois a violência é inerente ao capitalismo.

Duarte – ABC/SP

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A contra-revolução que foi longe demais

A poeira do muro derrubado em 89 vai baixando lentamente, podemos então começar a distinguir algumas correntes do  pensamento marxista em meio aos escombros da crise política desencadeada pelos acontecimentos na  antiga União Soviética e leste europeu.

As interpretações do processo são as mais variadas, não é nossa intenção nos deter sobre elas, mas buscando entender os novos posicionamentos que surgem na vanguarda militante temos que discutir o significado do que desencadeou tanta polêmica e novas elaborações.

A contra-revolução  consumada no final dos anos vinte na União Soviética pela burocracia stalinista, resultou em seis décadas de opressão. Ao se apropriar das vantagens da planificação econômica, que tirou do atraso secular o povo russo, essa burocracia conseguiu estabilizar o seu regime político, apoiada ainda num sistema repressivo brutal  contra qualquer tentativa de organização operária independente ou oposição política.

As conseqüências para o proletariado soviético de um período tão longo de dominação burocrática  não poderiam ser mais nefastas. Foram duas gerações cultivadas no mais completo obscurantismo político e ideológico, na total ausência de iniciativa e organização política independente. A contra-revolução só se sentiria segura quando aniquilasse a consciência revolucionária e de classe do proletariado russo.

DERROTA NA VITÓRIA

Por mais que tenha se estendido ao longo do tempo, ( em parte também devido a heróica resistência e posterior vitória do povo soviético contra o nazismo que trouxeram enorme prestígio para o PC) o regime da burocracia contra-revolucionária só poderia ser transitório, sua vitória final também seria sua derrota, seu desaparecimento enquanto intermediário do capitalismo. A ausência de uma alternativa revolucionária frente a derrocada desse regime obscurantista só pode ser compreendida dessa forma: como um proletariado derrotado, desorganizado, poderia ser o dirigente político das mobilizações anti-burocráticas  levantando o programa da revolução socialista? Seria um verdadeiro milagre.

Um aspecto ainda mais grave dos acontecimentos soviéticos, é que a contra-revolução estendeu sua influência ao movimento revolucionário no mundo. Primeiro nos partidos comunistas que permaneceram atrelados a III Internacional, e mesmo as organizações marxistas que buscavam se contrapor ao stalinismo não escaparam da influência dos novos métodos dos vitoriosos.

Foi assim que o centralismo democrático, ferramenta das mais potentes para levar adiante o combate da classe trabalhadora contra o imperialismo, foi transformado em centralismo burocrático, em mandonismo, em cupulismo, em dirigismo e etc. O partido revolucionário, entidade de libertação dos trabalhadores, dos subalternos, a verdadeira universidade operária, exercício de democracia mais autêntica, construído na estratégia de fomentar o fim da diferença entre dirigentes e dirigidos, se transforma em aparato, em superestrutura política, onde a divisão de tarefas se consolida entre os guias geniais, e os simples executores. Muito distante do partido sonhado por Gramsci, que assim o definia em um artigo do L´Ordine Nuovo de 1920, “O Partido Comunista é o instrumento e a forma histórica do processo de íntima libertação pela qual o operário passa de executor a iniciador, passa de massa a dirigente e guia, passa de braço a cérebro e vontade; na formação do Partido Comunista pode-se colher o germe de liberdade que terá o seu desenvolvimento e a sua plena expansão quando o Estado Operário tiver organizado as condições materiais necessárias.”

UM RESGATE NECESSÁRIO

Se tomamos essas mudanças no movimento marxista mundial, como resultado histórico da vitória da contra-revolução, concluímos que o resgate do Partido e do seu método, o centralismo democrático,  são decisivos para recolocar o proletariado no centro da luta mundial contra o capitalismo. Mais ainda, considerando o atual estágio de centralizaçao e militarização do imperialismo, e a crescente degeneração capitalista com a violenta exclusão social, podemos prever um endurecimento cada vez maior dos embates, e a necessidade de uma verdadeira disciplina fundada na relação de confiança entre revolucionários. Os que imaginam arranhar o poder do capital com manifestações que atrasam em algumas horas encontros de organismos financeiros internacionais, são coerentes ao defender “organizações horizontais”, e que “a força do movimento  independe de quem esteja em sua direção”.

Não se pode falar de socialismo, de revolução e luta de classes, sem discutir organização a sério. Não temos nenhuma pretensão a descobridores ou inventores de novas teorias,  o marxismo-leninismo nos legou um arsenal suficiente, como seus discípulos nos cabe desenvolve-lo e impulsiona-lo. Em “Um Passo  em Frente, Dois Passos Atrás”, Lenin apontou os elementos fundamentais da organização que seria a dirigente do processo revolucionário de 1917 na Rússia. Esclarece confusões que vêm a tona hoje em dia, com a roupagem moderna das relações horizontais com a classe, quando definia que “Se considerarmos membros do partido apenas os aderentes às organizações que reconhecemos como organizações do partido, então as pessoas que não possam entrar diretamente em nenhuma organização do partido podem, no entanto, militar numa organização que não seja do partido, mas que esteja em contato com ele. Por conseqüência, não se trata de modo algum de deitar pela borda fora ninguém, isto é, afastar do trabalho, da participação no movimento. Pelo contrário, quanto mais fortes forem as nossas organizações do partido, englobando verdadeiros comunistas, quanto menos hesitação e instabilidade houver no interior do partido, mais larga, mais variada, mais rica e mais fecunda será a influência do partido sobre os elementos das massas operárias que o rodeiam e por ele são dirigidos. Com efeito, não se pode confundir o partido, como destacamento de vanguarda da classe operária, com toda a classe.”

O movimento extremamente progressivo  de negação das práticas espúrias do stalinismo e da influência que exerceu no movimento operário, não pode nos levar ao exagero ou ao invencionismo, mesmo porque os acontecimentos de 89 na antiga União Soviética demonstraram de forma cabal a falência do modelo fundado pela contra-revolução, parteira da restauração capitalista em curso, abrindo um novo tempo para o movimento operário, um tempo de reafirmação de nossos princípios, confirmados pelo passado e pelo presente.

Ney – militante do Coletivo Bandeira Vermelha – Rio de Janeiro, 03/07/2000.

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Luta de categoria ou luta unitária dos explorados?

 

( considerações sobre a greve dos professores de São Paulo)

A greve dos profissionais da educação da rede estadual por 43 dias, que ocorreu no mesmo período que a greve dos trabalhadores da saúde, universidades, ETE´s e paralisação dos metroviários, foi  marcada por uma dura realidade: a falência do padrão de lutas de categoria corporativas e centradas na reivindicação salarial ou na melhoria da carreira.

Torna-se impossível saber com certeza qual foi a adesão ao movimento, tanto pela sua oscilação constante, quanto pela utilização manipulatória – pelo governo e pelo sindicato (APEOESP) – dos números da paralisação. As estimativas em momentos de crescimento falavam de 50% com muita desigualdade, principalmente entre o interior do estado, onde a adesão foi maior, e a região da capital e ABCD em que a greve foi um fiasco.

Nos últimos 10 dias as assembléias regionais e até a estadual já expressavam o fim da greve com o esvaziamento quase total e o retorno ao trabalho de quase todos os professores.

A intransigência do governo Covas – ao se recusar a negociar com os professores, ao colocar a tropa de choque para impedir ou intimidar as assembléias, nas diversas provocações ao movimento e, depois da greve, em descontar os dias parados e impor um calendário de reposição – expressa o interesse em preservar acima de tudo a garantia da manutenção das remessas de juros da dívida externa e a necessidade de manter as escolas como instrumento de contenção social.

Essa intransigência do governo de São Paulo, que também se demonstrou na desocupação em Guaianazes, se enquadra numa ofensiva nacional (prisão e assassinato de sem-terras) e até mundial de repressão aos movimentos sociais. Essa repressão se impõe com mais facilidade sobre os movimentos isolados, ao não serem capazes de despertar as energias dos imensos contingentes de proletários, cuja participação poderia mudar totalmente o rumo dos acontecimentos.

A DECADÊNCIA DO ENSINO PÚBLICO E DO MOVIMENTO SINDICAL…

 

Nas escolas enfrentamos desde os problemas com a falta de materiais pedagógicos, passando pelo despreparo e desmoralização de muitos profissionais até a acomodação com a crescente violência instalada ao nosso redor, o desânimo,  o baixo nível de ensino e falta de perspectiva e de interesse aos estudos de nossos jovens.

Nos últimos quatro anos foram demitidos mais de 60 mil professores e aumentou a fragmentação da categoria (efetivos, estáveis, ACT’s, substitutos, eventuais, monitores, etc). Milhares de novas demissões estão previstas para o próximo ano com a Reforma do Ensino Médio. Desenvolve-se uma campanha permanente de incentivo à competição entre escolas e professores, sobre quem pesa, além de tudo, o mecanismo da avaliação anual de desempenho.      

O desemprego e a fragmentação das categorias, a mundialização da produção e dos movimentos de capitais financeiros são os fatores objetivos que levaram as lutas de categoria à decadência. Foram reações dos empresários e governos de diversos países no sentido de aumentar a exploração e a dominação sobre os trabalhadores, dificultando sua resistência.

Mas, não podemos nos esquecer da ação e da ideologia desenvolvidas pelas direções sindicais que foi de aceitar e até implementar junto com  os empresários e o governo  suas principais políticas.

A perda de referências e alternativas geradas por essas mudanças enfraqueceram as antigas formas de luta. Acentuaram-se então o individualismo e a ideologia de que só resta nos submeter e aceitar, “se não, é pior”.

O padrão anterior, de lutas de categoria, que se desenvolveu nos anos 70 e 80, também teve como problemas a adaptação e dependência frente ao poder de Estado. Os sindicatos foram criados à imagem e semelhança do estado e neles predominam relações centralizadoras, burocráticas e corrompidas.

Mesmo que esse tipo de movimento e de estrutura, com todos os problemas, tenham obtido conquistas nas décadas anteriores, mostram-se completamente ultrapassados e impróprios para enfrentar os desafios atuais.

No caso dos professores e do funcionalismo público, também foi reproduzida a relação impositiva com os alunos e pais. Isso tudo se expressa quando uma greve é decretada e conduzida de cima para baixo, não considerando os diretamente afetados (professores, pais e alunos).

Ao insistir na questão salarial, como eixo da pauta,  ao invés das condições de ensino, mesmo depois de perder essa votação em assembléia, a direção do sindicato e parte da “oposição” prejudicaram nosso movimento em três aspectos: deram ao governo e à imprensa burguesa o argumento para limitarem nossa luta à  reposição dos 54%; jogaram parte da população contra o movimento e contrariaram os professores, que entraram em greve visando centralmente a luta contra o corte de aulas (Reforma do Ensino Médio) e a precarização geral do ensino.

BUSCANDO NOVOS CAMINHOS…

Com tudo isso, hoje os problemas que nos afligem são muito maiores do que o salário. A luta a ser travada necessita romper com as fronteiras da luta de categoria  colocando-se como luta da classe trabalhadora, tendo como primeiro passo a união das comunidades (professores, alunos, pais e demais trabalhadores). 

A total degradação do ensino público, que é também da saúde pública, do transporte e da moradia que atendem aos trabalhadores, desempregados e seus filhos nos empurram aos guetos e ao aprofundamento da miséria na periferia.

É necessário um novo padrão de luta e organização que permita e desenvolva as iniciativas de romper com a passividade e a representatividade em cada escola e bairro. 

A união de professores, alunos e pais numa luta pela ocupação democrática do espaço da escola, tanto no cotidiano das aulas como nos finais de semana; as iniciativas de auto-organização como oficinas de Hip-Hop (rap, grafite, street dance) teatro, capoeira, etc são importantes para desenvolver o senso de solidariedade e consciência de classe em nossas comunidades.

O desenvolvimento dessas e de outras práticas comunitárias e solidárias pode se constituir como ponto de apoio para novas lutas contra a degradação do ensino público, pelo aumento das verbas e  pelo direito de decidirmos coletivamente sobre o seu uso.    

Com a extensão desse movimento se desenvolverão novas formas de intercâmbio e coordenação entre as comunidades e com outros movimentos sociais.     

Assim, estaremos ao mesmo tempo lutando contra o capitalismo e buscando construir os germes de uma nova sociedade.

 

Iri, Alex, Neu e Re – ( ABC- SP )

 

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A Internacional

De pé, ó vítimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!

Refrão (bis)

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional.

Messias, Deus, chefes supremos,
Nada esperemos de nenhum!
Sejamos nós quem conquistemos
A Terra- Mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair deste antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!

Refrão (bis)

Crime de rico a lei o cobre,
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!

Refrão (bis)

Abomináveis na grandeza,
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha!
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu.
Querendo que ela o restitua,
O povo só quer o que é seu!

Refrão (bis)

Fomos de fumo embriagados,
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados!
Somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
Nos quer à força canibais,
Logo verá que as nossas balas
São para os nossos generais!

Refrão (bis)

Somos o povo dos ativos
Trabalhador forte e fecundo.
Pertence a Terra aos produtivos;
Ó parasitas, deixai o mundo!
Ó parasita que te nutres
Do nosso sangue a gotejar,
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar!

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