Resoluções sobre situação internacional da Conferência de 2012
Esse documento se compõe de três partes: 1º) elementos de análise – Economia, Fatores estruturais; Consequências de longo
Leia maisDesde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto! |
Esse documento se compõe de três partes: 1º) elementos de análise – Economia, Fatores estruturais; Consequências de longo
Leia maisDepois do genocídio de 2008, em que Israel invadiu a Faixa de Gaza e massacrou cerca de 1300 palestinos, na maioria mulheres e crianças indefesos e desarmados, o terror volta a assolar o povo palestino. O Estado teocrático, sionista e racista de Israel, com o apoio do imperialista Barack Obama, novamente agrediu a população de Gaza e matou mais de 100 pessoas com bombas e mísseis disparados a quilômetros de altitude, de forma covarde e a esmo, contra alvos aleatórios e quase todos civis. Esta atrocidade incluiu a destruição de escolas, hospitais e até a torre Shuruq – prédio que abriga a imprensa internacional, concentrando várias empresas de mídia estrangeiras – foi alvo de bombardeio pelo 2º dia consecutivo.
Israel pratica o holocausto palestino há quase 70 anos e novamente iniciou a guerra. O Hamas, alvo principal do ataque sionista, por governar Gaza, teve dirigentes mortos por mísseis e a população palestina inteira está sofrendo as consequências de mais esta agressão israelense. Os impostos confiscados dos palestinos que trabalham em Israel e que moram até mesmo na Cisjordânia, administrada pelo partido colaboracionista Fatah, foram retidos por Israel. O envio de alimentos, remédios e todo o restante foi suspenso e o território palestino está sob um bloqueio ainda mais brutal, mesmo após a deflagração de um “cessar-fogo”.
A luta em defesa dos palestinos começa por questões básicas e humanitárias: o fim do bloqueio que impede os palestinos de conseguirem comida e remédios; o fim dos assassinatos de militantes, para os quais pode chover um míssil a qualquer hora do dia; e o fim das invasões ao território já recuperado pelos palestinos – Gaza e parte da Cisjordânia. Este é o programa mínimo necessário na Palestina, e o mínimo que se pode exigir para manter o cessar-fogo da parte palestina. Mas nem isso Israel está disposto a conceder. O suposto cessar-fogo decretado na região viola até mesmo as insuficientes convenções e resoluções da própria ONU e representam uma violação gravíssima dos direitos humanos e da autodeterminação dos povos.
O governo terrorista de Israel insiste na argumentação de que tem o monopólio da violência na região, podendo ser o exército, a polícia, a Justiça e o governo de palestinos, que são os verdadeiros donos da terra usurpada pelos sionistas. Mesmo depois do “cessar-fogo”, Israel continuou bombardeando os palestinos e avançando em outras medidas que na prática representam mais invasão, como a expansão e construção de novas casas, procurando consolidar a colonização sobre a Cisjordânia. Para consolidar esses assentamentos, Israel precisa ampliar o genocídio e a limpeza étnica que pratica contra os palestinos.
Israel é um Estado imposto de fora, pelo imperialismo, como parte de um plano para manter fortes influências em uma região rica em petróleo. Por isso os estadunidenses o financiam e o repassam as armas mais mortíferas, incluindo a tecnologia da bomba atômica.
A necessidade de expansão contínua – pela disputa de riquezas minerais, diminuição da densidade demográfica, etc. – leva Israel a uma condição de guerra permanente, variando somente a intensidade. Já estão na conta desse Estado sionista milhares de mortes de homens, mulheres, crianças e idosos.
O próprio território hoje reconhecido pela maioria dos países como sendo Israel, é parte da Palestina, ocupada pelos sionistas por meio de atentados na década de 40 e, depois, pelo massacre sustentado pelo imperialismo contra as massas árabes, após a imposição deste enclave militar ilegítimo em 1948.
Além dessa ocupação ilegal e ilegítima, assim como sua própria existência, Israel é quem leva ao disparo de foguetes de autodefesa por parte de Gaza, ao bloqueá-la e confiná-la numa enorme prisão, em que 1,5 milhão de pessoas vivem amontoadas, sem emprego, salário, saúde e comida.
Quando o cessar-fogo foi decretado havia, segundo a mídia burguesa, 108 palestinos mortos e 850 feridos. Destes, 21 pacientes em estado grave foram transferidos para hospitais do Egito, por meio da passagem fronteiriça de Rafah. Houve centenas de vítimas queimadas, amputadas e barbaramente feridas! Fontes médicas do território afirmam que 24 crianças e 10 mulheres palestinas estão entre os mortos apenas dos últimos dias de ataque. Enquanto israelenses vivem do que extraem dos palestinos e se assustam com sirenes de mísseis que caem a quilômetros de distância, o drama dos palestinos, expulsos de sua terra e impedidos de ter seu país de direito, é encontrado em cada casa, aterrados por mortes, sofrimento e humilhações.
É importante destacar que a ONU, por mais que se declare neutra, está ao lado do Estado sionista. O reconhecimento de um Estado palestino, além de não significar a saída de Israel dos territórios palestinos ocupados, tem o objetivo de fazer com que os palestinos reconheçam como fato consumado a existência do Estado de Israel. Dito de outra forma: a ONU é conivente com o massacre promovido por Israel e, lógico, conta com o apoio e o silêncio dos demais Estados.
LUTAR JUNTOS PELA LIBERTAÇÃO DA PALESTINA. COMBATER AS DIREÇÕES BURGUESAS POR UMA VITÓRIA VERDADEIRA!
O Hamas, pressionado pela radicalização das massas, que lhe obriga a ir mais longe do que pretendia, afirmou que em caso de incursão terrestre em Gaza os israelenses seriam “enterrados” no território. Este anúncio não pode ficar apenas no discurso e é preciso realmente preparar a resistência, pois há a possibilidade de que Israel invada Gaza para consolidar a “sua fronteira”. O cessar-fogo não acabou com esse risco e, depois das eleições parlamentares israelenses de janeiro, esta invasão pode ser lançada com toda fúria.
Por isso, os palestinos devem repetir o exemplo dos trabalhadores de outros países da região que, de armas na mão, combateram e seguem combatendo seus déspotas genocidas. Da mesma forma, a resistência expulsou o imperialismo do Iraque e o está fazendo no Afeganistão. Israel e o imperialismo não deixam alternativas: só a resistência armada, combinada com a mobilização dos trabalhadores palestinos e dos trabalhadores israelenses que são contra a política do governo sionista, e também a solidariedade internacional e a pressão política e econômica sobre os governos que negociam e sustentam Israel podem obrigar o sionismo a recuar e parar com esse e outros ataques que certamente está tramando.
Não temos acordo com os métodos do Hamas de usar da violência indiscriminadamente contra alvos civis, muito menos com sua prática de ataques a outros grupos combativos palestinos. Tampouco temos acordo com seu programa burguês e fundamentalista religioso, que defende um Estado teocrático islâmico e capitalista.
Mas, apesar de nossas diferenças com o Hamas não se atenuarem um milímetro sequer, há uma guerra neste momento. E, ou se luta junto dos trabalhadores agredidos palestinos, ou se está junto do imperialismo e dos agressores sionistas de Israel. Defendemos o direito de todo povo atacado a se defender. A neutralidade ou a postura diletante, sem dizer o lado da trincheira em que se está, faz coro com os agentes sionistas e com as posturas pró-imperialistas, tal como faz o próprio governo Dilma.
Em todas as horas, e mais ainda nessa, somos todos palestinos e esta guerra também é nossa!
O governo Dilma deveria ter uma posição bem definida: denunciar o massacre do povo palestino, exigir a retirada de Israel dos territórios ocupados e utilizar todos os mecanismos de pressão, como o rompimento das relações diplomáticas, proibição da importação de produtos de empresas israelenses ou controladas por sionistas. Mas não temos nenhuma ilusão de que isso possa vir a ocorrer, tendo em vista o compromisso que este governo tem com o imperialismo e com o capital. Afinal, o próprio governo Dilma é um governo dos capitalistas.
Cada palestino morto é um dos nossos que se foi. A solidariedade com o povo palestino é parte da luta de classes mundial. É parte da mesma luta das manifestações que ocorrem na Europa ou das greves que se deflagram contra os patrões e governos no Brasil, Argentina e demais países.
As massas árabes já mostraram o caminho e Israel já não é mais invencível como se dizia. Já foi escorraçado de Gaza e do sul do Líbano. Esse é o momento de derrotar o sionismo outra vez e preparar a destruição desse Estado terrorista e teocrático, para assim construir um único Estado onde possam conviver árabes e judeus, independentemente de suas convicções religiosas.
Por fim, é importante destacar que o islamismo, seja lá qual for a variante, não representa uma saída de classe para os trabalhadores árabes. A solução definitiva somente poderá vir a partir do momento em que os trabalhadores conseguirem impor uma política classista, por fora das correntes do islamismo e da burguesia árabe.
Também é importante uma política que busque atrair os trabalhadores israelenses que são vítimas do sionismo. Por isso defendemos um Estado multiétnico que congregue o proletariado árabe e israelense e que esteja sob controle dos organismos dos trabalhadores.
Espaço socialista e Movimento Revolucionário, dezembro de 2012
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Este texto é uma contribuição individual, não necessariamente expressa a opinião da organização e por este motivo se apresenta assinado por seu autor.
CURIOSIDADES SOBRE AS ELEIÇÕES ESTADUNIDENSES
Daniel Delfino
Em fins de 2008 os Estados Unidos estavam no epicentro da maior crise econômica mundial em várias décadas (epicentro hoje deslocado para a Europa), e estavam com sua imagem perante a opinião pública mundial arruinada pelas estúpidas aventuras militares de Bush. As prévias eleitorais do Partido Democrata para escolha do candidato, que opuseram Obama e Hillary Clinton, foram mais disputadas do que a própria eleição presidencial. Qualquer que fosse o candidato democrata, a vitória estava certa, por conta do imenso desgaste dos republicanos, e produziria um presidente inédito, fosse um negro ou uma mulher. Para recompor a imagem interna e externa do país, foi preciso realizar uma imensa operação política, ideológica e midiática para criar a impressão de que uma mudança absolutamente inédita e “revolucionária” estava acontecendo, da qual Obama foi o produto.
Duas alas do partido da burguesia
Nas eleições de 2012, nada espetacular desse tipo está em curso. Obama deve se reeleger, mesmo não sendo com ampla margem. Seu adversário, Mitt Romney, não está identificado com a ala dos neoconservadores do Partido Republicano, de onde saíu Bush, com seu discurso belicoso, apocalíptico e ultra-chauvinista, nem com a ultra-direita do Tea Party. As alas mais fanáticas de seu partido gostariam de ver uma campanha centrada em teorias da conspiração delirantes, como a de que Obama não nasceu nos Estados Unidos (e portanto legalmente não poderia ser presidente), pratica secretamente o islamismo e pretende instalar um governo comunista a serviço da ONU. Sites na internet defendem o assassinato de Obama como um ato patriótico para livrar o país da invasão de imigrantes muçulmanos, africanos, latinos, comunistas e homossexuais.
Essas imbecilidades encontram larga credibilidade entre amplos setores do eleitorado estadunidense, que são suficientemente ignorantes, provincianos e chauvinistas para acreditar em qualquer bobagem (isso por si só é o indício de uma direitização de um setor da população). Entretanto, a campanha de Romney segue morna e não propõe nada diferente do neoliberalismo a que já estamos acostumados: corte de impostos dos ricos e corte de gastos sociais com os trabalhadores. O foco de sua campanha tem sido a gestão econômica de Obama, que não conseguiu fazer a economia do país decolar novamente nem reduziu o desemprego (apesar do lucro das empresas ter voltado). A pobreza avança para os padrões estadunidenses, e é claro, nem Obama nem Romney estão de fato preocupados com os pobres. Governam para o grande capital e compõem as duas alas de um partido único, o partido da burguesia. O sistema eleitoral do país é montado para que não haja alternativas reais a esses dois setores do partido do capital, Republicano e Democrata.
Eleições indiretas
As eleições estadunidenses carregam uma série de características peculiares. Num país que se põe a dar lições de democracia para o mundo inteiro, as eleições presidenciais são indiretas! O eleitor estadunidense não vota diretamente para presidente, ele elege os representantes do seu estado no colégio eleitoral, onde de fato se elege o presidente. Cada estado tem um número determinado de representantes, conforme a sua população, que é atualizada a cada censo. Mas o mais curioso é que o voto dos representantes não é proporcional à votação dos candidatos: em 48 dos 50 estados o candidato vencedor leva todos os votos desse estado para o colégio eleitoral. Assim, por exemplo, no estado da Califórnia, o mais populoso do país, que tem direito a 55 representantes, não importa se o candidato vencedor tem 99% ou 51% dos votos dos eleitores, ele leva o voto de todos os 55 representantes para o colégio eleitoral.
Com isso, pode ocorrer de um candidato vencer num maior número de estados, mas com uma margem menor de diferença, e perder em menos estados, mas por uma diferença maior. Matematicamente, é possível o candidato que venceu em menos estados ter mais votos populares no total, e mesmo assim perder a eleição no colégio eleitoral. Historicamente, isso de fato aconteceu 4 vezes na história: em 1824, 1876, 1888 e em 2000, quando George Bush filho venceu Al Gore. Mas para ter os votos decisivos, Bush precisou dos representantes do estado da Flórida, onde houve fraudes de todos os tipos, facilitadas pelo fato de que seu irmão era governador do estado e chefe da autoridade eleitoral encarregada da apuração… Em meio aos pedidos de recontagem, a eleição de 2000 foi decidida na Suprema Corte, onde os republicanos tinham maioria, graças às nomeações feitas nos governos Reagan e Bush pai, entre 1980 e 1992.
Não há uma justiça eleitoral única no país, e cada estado decide seu sistema de votação e apuração, o uso de urna eletrônica ou cédulas, a vinculação ou não dos representantes ao voto popular (embora não haja uma regra constitucional a respeito, raríssimas vezes um representante votou contra a deliberação dos eleitores do seu estado, mas isso é teoricamente possível!), a nomeação dos representantes (que podem ser eleitos ou indicados de diversas formas pelo governo ou os partidos), a composição das mesas de votação e autoridades eleitorais (que podem ser filiados aos partidos!), a possibilidade de votar antes da data, etc.
A exclusão da votade popular
Mais do que uma curiosidade cultural ou uma excentricidade a mais da terra do baseball e futebol americano, o sistema de colégio eleitoral tem a função política precisa, que é a de impedir que outros partidos que não os dois gigantes, Democrata e Republicano, tenham chances de vitória. O sistema foi projetado pelos “pais fundadores”, os líderes da independência do país no século XVIII, explicitamente para impedir que a maioria do povo, inculto e despreparado, tivesse condições de interferir na escolha do presidente. Para ter chances de vitória, um partido precisa ter maioria numa grande quantidade de estados, no país inteiro. Isso só é possível para as gigantescas máquinas de campanha dos partidos do capital. Existem candidatos de partidos menores e independentes, legalmente habilitados a concorrer, mas que não conseguem nada além de uma repercussão anedótica.
As campanhas eleitorais estadunidenses são decididas pelo poder econômico. O voto não é obrigatório como no Brasil e não há horário político obrigatório (não que o sistema brasileiro seja bom, ao contrário, ver nossas matérias sobre as eleições). Nem todos os cidadãos habilitados a votar se inscrevem como eleitores e nem todos os eleitores comparecem na votação. Para convencer o eleitor a votar é preciso gastar fortunas em campanha. Para arrecadar essas fortunas, os candidatos são obrigados a realizar eventos (chamados “fundraisers”), onde passam o chapéu entre doadores.
Os custos das campanhas eleitorais têm subido astronomicamente. O custo total das campanhas para as eleições atuais (que além da presidência inclui legislativos estaduais, prefeituras e plebiscitos em vários estados) deve chegar a US$ 9,8 bilhões, o que significa o triplo das eleições de 1992 (Estadão, 10/09). Em 2008 Obama obteve a maior parte de suas doações de pequenos contribuintes. Mais de 3 milhões de doadores participaram da campanha democrata, com quantias que na média ficavam em torno de US$ 100. Esse tipo de campanha reforçou a demagogia do candidato em sua suposta identificação com os trabalhadores e os pobres, além de uma série de expediantes de mídia viral na internet, que conquistaram o voto dos jovens.
O investimento da burguesia nas campanhas
Numa tentativa de virar a mesa em favor dos republicanos, uma mudança recente na legislação autorizou doadores individuais a contribuir com qualquer valor (antes havia um limite), o que deu origem aos “super PACs” (comitês de ação política, na sigla em inglês) compostos por milionários. Em 2012 os super PACs estão virando a balança da arrecadação em favor de Romney. Mas mesmo com uma campanha milionária à altura do rival, o candidato republicano provavelmente não conseguirá fazer frente à popularidade de Obama. O carisma do presidente permanece elevado entre os negros, latinos e jovens. Celebridades como Michael Jordan, George Clooney e Madonna já protagonizaram eventos para arrecadar fundos para a campanha de Obama.
Quando a burguesia faz uma contribuição para uma campanha eleitoral, isso não é uma doação, é um investimento. A doação retorna na forma de contratos da empresa doadora para fornecer ao governo seus produtos, serviços, obras, etc. Essa é a base da corrupção, que é inerente ao sistema capitalista e seu estado burguês. Além da compra das decisões dos políticos por meio do financiamento de suas campanhas, existe o lobby, a pressão direta sobre parlamentares e funcionários de alto escalão para beneficiarem determinados setores empresariais, por meio de subornos, propinas e “presentes”. O lobby é uma profissão legalmente reconhecida e regulamentada nos Estados Unidos!
Como se vê, não há nas eleições estadunidenses uma alternativa que contemple as necessidades dos trabalhadores. Ambos os partidos são instrumentos do capital. Não há meios de furar o bloqueio dos dois partidos gigantes através do sistema de colégio eleitoral. Não há possibilidade de que a vontade democrática da maioria se expresse através do voto e das instituições. Os sindicatos, movimentos de minorias, ONGs, acadêmicos “de esquerda”, etc., estão todos ligados ao partido Democrata, portanto não servem como alternativa. Por isso, a classe trabalhadora estadunidense precisa desenvolver instrumentos e organismos de luta independentes, com um caráter classista, e combativo, para criar um movimento político que se coloque contra o sistema capitalista vigente. Somente organismos de poder da classe trabalhadora, independentes e opostos ao Estado burguês, poderão liderar um processo de mudanças que atenda às necessidades da classe, que terá que romper com o capitalismo e iniciar a transição ao socialismo.
Declaração sobre as Eleições e o Golpe No Egito
A Junta Militar, para se manter no controle e evitar a mudança real do regime, que abriria condições mais favoráveis para as lutas dos trabalhadores e a da juventude desempregada, deu um verdadeiro golpe miltar, em meio ao processo eleitoral.
Primeiro a Suprema Corte (em que a Junta tem o controle) cancelou (dissolveu) o parlamento em que a Irmandade Muçulmana tinha obtido maioria, após as eleições de novembro passado, e proclamou a Junta Miltar o poder legislativo no país. A Junta Militar irá convocar novas eleições parlamentares apenas depois de pronta a nova Constituição, que será escrita… sob o controle da mesma Junta.
Em seguida, prevendo que seu candidato (um ex-primeiro ministro do governo Mubárak) seria derrotado, a Junta militar na prática esvaziou o cargo de presidente das suas funções, transferindo-as para si própria.
Por último, assim que a apuração mostrou a vitória de Mohamed Mursi, o candidato da Irmandade Muçulmana, a Junta Militar recusou-se a divulgar o resultado, a fim ganhar tempo para pressionar o presidente eleito a aceitar os termos de governo da Junta Militar.
Assim, o Egito tem hoje um presidente figurativo, pois todo o poder de fato está concentrado nas mãos do Exército.
O Exército do Egito representa sua burguesia, associada ao imperialismo. O próprio Exército como instituição é dono direta ou indiretamente de cerca de 33% da economia do país, e tem receio de que o governo da Irmandade Muçulmana queira de alguma forma diminuir esse controle.
O Exército do Egito recebe ajuda dos Estados Unidos (2ª maior verba no mundo depois da que é destinada a Israel). Por sua parte o Exército é fiador dos acordos com o imperialismo americano e com Israel.
A Irmandade Muçulmana
Os 30 anos da ditadura de Mubárak sufocaram o desenvolvimento da organziação independente dos trabalhadores, e então a oposição ao regime foi capitalizada pela Irmandade Muçumana, uma organização islâmica, que também representa setores da burguesia e da classe média do Egito que têm alguns conflitos de interesses com os EUA e Israel, mesmo que no marco da manutenção da exploração e submissão dos trabalhadores.
A maioria dos trabalhadores e jovens, que protagonizaram as grandes mobilizações de 25 de janeiro de 2011, que derrubaram Mubárak e obrigaram os militares a tolerarem greves e lutas e a chamarem eleições, depositaram suas esperanças nos candidatos da Irmandade Muçulmana, tanto nas eleições parlamentares quanto na presidencial.
Fizeram isso esperando que esse partido enfrentasse os acordos com o imperialismo e Israel e tomasse medidas para resolver os problemas sociais, entre eles o desemprego e os baixíssimos salários, em um pais com uma das principais economias da região e que exporta grande quantidade de petróleo.
Nesse sentido, por trás da Irmandade Muculmana estavam as massas com suas reivindicações, que poderiam levar ou a uma esquerdização mínima desse partido ou ainda a serem ultrapasados pelas mobilizações em um curto espaço de tempo, à medida em que fizessem a experiência com os limites de um govenro da Irmandade.
A liberdade de mobilização e de organização conquistada a partir da Rebelião/Revolução Democrática de 2011 trazia imensas preocupações à burguesia e ao imperialismo e por isso devia ser contida e retrocedida.
Essa tendência de retrocesso na liberdades democráticas dos trabalhadores vêm se dando em vários países e expressa o fato de que o capital em crise estrutural precisa impor níveis de exploração cada vez mais intensos e é incapaz de conceder as liberdades democráticas mínimas, pois tendem a ser utilizadas pelos trabalhasdors e jovens para questionar e ameaçar jsutamente esse padrão de exploração necessário ao capital.
Dessa forma, mais do que temer um governo da própria Irmandade, o imperialismo e a burguesia temem a mobilização popular que pode vir a ultrapassar esse partido e que assim já havia feito nas mobilizações de 2011.
Para ganhar posições no Estado, a Irmandade, aceitou covardemente o golpe, não chamando à mobilização quando o movimento estava disposto a resistir, em meio ao processo eleitoal. Preferiu o jogo de cena que no último desenlace levou à sua completa capitulação à Junta Militar para que pudesse “assumir” a presidência, quando o poder real permanece com os militares.
De fato, a Irmandade Muçulmana, não vai mobilizar a população contra o regime, pois agora faz parte dele, em posição submissa.
O golpe pretende ir fechando gradualmente os espaços democráticos de mobilização pelas demandas populares. Resta saber se conseguirão, pois nenhum dos grandes problemas sociais que levaram milhões às ruas e às praças foram atacados. A situação social segue agravando-se. Não se pode esperar estabilidade, pelo menos por enquanto.
Assim, a situação do Egito só pode ter um desenlace positivo para os trabalhadores e a juventude pobre e desempregada se não interromperem sua luta, se conseguirem impor na prática a liberdade de organização e de manifestação que os militares devem buscar sufocar e reprimir, com a conivência da Irmandade.
Abre-se um novo período em que os trabalhadores e a juventude devem apostar no desenvolvimento de suas lutas e formas independentes de organização, dessa vez enfrentando mais diretamente o capital e seus representantes: a Junta militar e a Irmandade Muçulmana.
– Abaixo o Golpe Militar!
– Fora a Junta Militar e a Suprema Corte!
– Por um governo dos trabalhadores surgido e apoiado nos movimentos e nas suas organizações de luta.
– Redução da jornada de trabalho sem redução dos salários!
– Aumento geral dos salários!
– Ruptura dos acordos com os EUA e com Israel!
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Atualmente a França assume novo protagonismo no cenário mundial, como país onde novamente a classe operária ressurge e luta contra os ataques capitalistas, dando exemplo de luta e das dimensões das tarefas que os lutadores e lutadoras do mundo terão que cumprir.
Desde o anúncio de Sarkozy acerca do plano de austeridade – plano este que aumenta a idade mínima para a aposentadoria de 60 para 62 anos; os anos de contribuição para receber a aposentadoria integral sobem de 40,5 para 41 em 2012, e para 41,3 em 2013; e ainda a idade para receber aposentadoria integral passa de 65 para 67 anos -, trabalhadores e estudantes saíram às ruas para barrar este ataque aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras da França.
Escolas, universidades, refinarias foram ocupadas por trabalhadores e estudantes nas últimas semanas. Carros e ônibus foram queimados e as ruas de Paris, por vezes, apareceram para o mundo como verdadeiros campos de batalha – o que deixou estarrecida uma parte da burguesia que ainda não esqueceu os idos de 2005 e 2006, quando a juventude francesa lutou contra a repressão racista e xenofóbica da polícia francesa e no ano seguinte contra o Contrato do Primeiro Emprego (Contrat Première Embauche – CPE).
O plano de austeridade – plano de contenção de gastos dos Estados – anunciado e aprovado pelo senado francês no dia 22/10, não aparece no cenário europeu como especificidade francesa, mas antes como parte do processo de recuperação de danos e reposição de recursos dos Estados europeus, recursos que no auge da crise econômica iniciada em 2008 foram despendidos aos bilhões para salvar bancos e empresas da falência.
Agora os capitalistas, por meio dos Estados nacionais, mandam a conta da farra para os trabalhadores pagarem. A contenção de gastos públicos por meio de reformas na previdência, redução de investimentos sociais, aumentos na carga tributária, redução de postos de trabalho e salário, entre outras, tem sido fato comum à maior parte dos Estados, que compõem ou não a zona do euro, com impacto redobrado sobre os elos mais frágeis da Europa Ocidental.
No início de junho, a Alemanha anunciou o seu plano de austeridade, com cortes de investimentos sociais, direitos trabalhistas e aumento de impostos. Desde o anúncio de Angela Merkel, vários países europeus também começaram a apresentar seus planos de austeridade para "equilibrar" as contas públicas. Depois da Alemanha, a Grécia anunciou seu pacote de maldades, que também teve uma enorme demonstração de força por parte dos trabalhadores gregos, e a seguir, Portugal, Espanha, Grã-Bretanha, entre outros, somam-se à lista de países que lançam o saldo da crise sobre os trabalhadores.
Calcula-se que na França, a cada protesto participavam cerca de 3,5 milhões de trabalhadores e estudantes; 70% da população estava contra o plano de austeridade e a favor dos protestos; e tudo isso intensificado pelo processo crescente de radicalização dos métodos de luta de trabalhadores e estudantes, que paralisaram escolas, aeroportos, rodovias, refinarias, etc, deixando o país quase sem gasolina, e enfrentaram com bravura nas ruas a repressão de Sarkozy.
Apesar de o plano ter sido aprovado pelo senado Francês, trabalhadores e estudantes deram o exemplo de como lutar contra os ataques que têm se espalhado pela Europa e que provavelmente atingirão outros países como o Brasil – com a reforma da previdência anunciada na campanha de Dilma – e a maioria dos Estados que gastaram seus recursos no resgate de bancos e empresas durante a crise.
Fica claro que hoje emerge novamente a necessidade da reconstrução da alternativa socialista em todo o mundo, pois mesmo com intensas lutas como as da Grécia e França, não poderemos sair plenamente vitoriosos enquanto persistir a falta de uma resposta ofensiva e não apenas defensiva da classe trabalhadora, que recoloque no panorama atual o socialismo como único projeto de superação não apenas da crise econômica, mas da crise societal contemporânea. E para que isso ocorra, faz-se necessário a reconstrução e o esforço de unidade da esquerda revolucionária, e o rompimento com políticas reformistas – como as da CGT na França -, para dar novos rumos às revoltas trabalhistas e fazer ressurgir como alternativa real e única viável o socialismo.
Leia maisDe tempos em tempos Cuba ressurge no noticiário e cada vez que isso acontece chove todo tipo de polêmica entre os militantes da esquerda, um sinal de que o tema está longe de ter um consenso. A proposta do presente texto é propor uma reflexão distinta das que se apresentaram até o momento entre os militantes da esquerda brasileira. Trata-se de uma reflexão pessoal e não do Espaço Socialista, uma vez que esse debate segue em aberto na organização, para o qual esse texto também serve como contribuição.
Cuba, um pequeno país no Caribe, com uma economia predominantemente agrária e uma indústria pífia e quintal dos Estados Unidos (onde se praticava todo tipo de sujeira) foi testemunha de uma magnífica ação revolucionária dos trabalhadores que resultou, forçosamente, na expropriação da burguesia alocada naquele país e expulsão dos agentes americanos que praticamente mandavam no país.
Revolução que, com a estatização dos meios de produção, proporcionou escola e saúde gratuitas para a população, destaque em várias categorias esportivas, etc. A direção política desse processo é o que se convencionou chamar de castrista e serviu de referência para várias gerações de militantes em todo o mundo que tinha como base de sustentação um movimento popular muito aguerrido, ou seja, não tinha a classe operária como vanguarda. O poder foi desde o início exercido pelo setor militar do movimento 26 de julho. Uma revolução que fugia do "modelo" que "muitos marxistas" procuravam.
Para muitos a queda do Muro e dos Estados do Leste também significaria o fim de Cuba, mas para surpresa também de muitos, Cuba continua a causar polêmica. Ocorre que essas polêmicas, no campo da esquerda, tem representado pouco coisa nova, uma vez que a maioria a faz com as fórmulas prontas, como se fosse possível encaixar a realidade nas concepções de cada uma das forças. Aqui procuramos partir da negação de fórmulas prontas e estáticas, próprias dos mecanicistas.
Além das questões colocadas acima há outro elemento que é o fato de que a discussão está para além de Cuba, pois envolve as tarefas e desafios para o período de transição capitalismo-socialismo-comunismo, tema muito pouco teorizado pelos grandes teóricos do marxismo. Essa é sem dúvida uma grande dificuldade desse tema e que tem levado a que muitos se percam nas discussões. Como o tema é demasiado amplo esse artigo busca tão somente discutir o caráter do Estado e do regime político que vige em Cuba.
No campo da esquerda temos várias caracterizações sobre o caráter do Estado cubano. Para um setor da esquerda que tem, entre outros, o PCB, MST, Cuba é um país socialista, pois o controle da economia está nas mãos do Estado e tudo que os irmãos Castro fazem se enquadra na necessidade de que a revolução seja -e, segundo eles, é preciso ser- defendida dos ataques do imperialismo e das forças contra revolucionárias. Essa posição trata com sinal de igual a defesa da revolução com a defesa do governo liderado por Raul Castro. É a mesma que defendiam em relação a ex-União Soviética e outros Estados pós-capitalistas.
Outra posição que é defendida pela maioria dos grupos de tradição trotskista é de que Cuba é um Estado operário burocratizado ou degenerado. Essa posição no Brasil é defendida por correntes como LBI e LER, mas foi melhor sistematizada por essa última corrente. Defendem esse conceito porque com a "expropriação da propriedade privada e a planificação da economia, se instauraram o monopólio do comércio exterior, e se constitui o primeiro Estado operário, ainda que deformado (…), pois a "não tinha uma estratégia baseada na luta pelo desenvolvimento dos organismos de democracia operária, os soviets, e na centralidade desta classe e seus métodos."
A partir dessa conceituação iniciam um esforço para provar suas palavras. Para eles o Estado é operário porque 73,07% das empresas são estatais (controladas diretamente pelo Estado e mais as cooperativas), nas quais se concentra 60,95% da população economicamente ativa, e ainda, porque nas empresas controladas diretamente pelo Estado (20,27%) encontra-se 42,42% da força ativa. Os demais trabalhadores (18,53%) atuam nas Unidades Básicas de Produção Cooperativa também sob controle estatal. Assim, a expropriação da burguesia, o monopólio do comércio exterior, o controle estatal dos meios de produção e a planificação econômica formam a base do Estado operário. A deformação do Estado ocorre por conta da falta de democracia e o controle político do Estado é exercido por uma burocracia. A próxima revolução deveria se concentrar na política com uma reformulação das instituições políticas.
Nessa definição há vários problemas, sobretudo pela unilateralidade dos próprios dados que os autores fornecem. É como se não houvesse nenhuma contradição, como a existência de empresas privadas e trabalhadores submetidos ao capital privado não representasse nada, como se o fato de a planificação ser burocrática também não ter nenhuma importância, elementos essenciais para a discussão de qualquer tema. Nenhum objeto pode ser conhecido se não se conhece o seu oposto.
Pensando pela política desse Estado afirmam que as conquistas da revolução de 59, ainda que tenham se deteriorado, não foram extintas, pois "tendo ainda elementos de monopólio do comércio exterior e de planificação econômicas vigentes, coloca a população de Cuba em melhores condições de vida que muitos países capitalistas…."
Desprezando completamente os dados relativos a empresas e trabalhadores que não tem vinculação com o Estado, a conclusão que tiram, a partir desses dados, é de que o Estado é operário. Um problema teórico de maior envergadura é resolvido por equações matemáticas e uma confusão absurda da categoria dialética de quantidade e qualidade, como se fosse possível atribuir arbitrariamente valores a essas categorias. Entendemos o por que, pois se colocam esses elementos na análise não teriam como justificar tal conceito.
Como toda caracterização tem suas conseqüências, a da LER resulta que em Cuba está colocado a necessidade "de um programa de revolução política, que derrube a burocracia castrista e instaure os organismos de auto-determinação das massas, e se combine à reconquista dos logros sociais corroídos pela burocracia, ou seja, basta a mudança do regime burocrático (que realmente seria uma conquista) para que o Estado seja agora autenticamente revolucionário.
Porque não é Estado operário: Um Estado operário pressupõe antes de tudo que é a classe operária -e não outra- que detém o poder político e econômico, mesmo que de forma indireta poderíamos aceitar tal conceituação. Ocorre que em Cuba a classe operária nunca esteve no poder.
A revolução cubana, pelo tamanho e importância, teve como conquistas fundamentais a sua libertação nacional (se livrando do jugo imperialista) e a expropriação da burguesia, com a estatização dos meios de produção, ou seja, a passagem do poder econômico para as mãos do Estado. Mas o detalhe fundamental é que esse Estado não estava (e não está) sob controle dos trabalhadores e sim nas mãos, nas palavras dos companheiros da LER, do "partido-exército", órgão que representa politicamente a burocracia. A classe operária não está no poder. A pergunta que fica é como uma revolução que não tem a classe operária e nem as suas organizações como sujeito político e social pode desembocar em um Estado operário? É possível um Estado operário sem a classe operária e suas organizações no poder? Estado operário só pode existir se a classe operária e suas organizações tiverem o controle não só do Estado, mas também dos meios de produção.
O caráter da revolução cubana é, portanto, anti-imperialista, pois chegou até a expropriação da burguesia, mas não avançou ao socialismo e ao poder da classe operária.
2) Planificação burocrática e socialismo: Para os defensores da tese de "Estado operário burocratizado" é secundário que a planificação seja burocrática, processo em que a classe operária não tem nenhuma participação (a não ser da execução que é compulsória). A planificação trata-se de um plano em que são decididos o que e como produzir, a distribuição, o consumo, enfim tudo que diz respeito às bases econômicas do Estado. Ela pode ser democrática, quando está sob controle dos trabalhadores ou burocrática quando é a burocracia quem a controla. Em Cuba toda a planificação é feita pela burocracia e de acordo com os seus interesses. A planificação é essencial no processo de transição ao socialismo/comunismo e por isso o seu modo deve ser o democrático, que é a expressão da democracia operária no controle da vida social e política. Ocorre que em Cuba a planificação era e é burocrática, feita de cima para baixo, de forma impositiva aos trabalhadores e ao povo.
Outro elemento dessa planificação é que está voltada para impor uma acumulação de capital que fica sob controle da burocracia e para isso há de fato uma apropriação do excedente produzido que é destinado aos privilégios da burocracia cubana. A alienação no processo produtivo é reproduzida da mesma forma que nas economias capitalistas clássicas, etc.
O socialismo necessariamente depende de uma economia planificada democraticamente e sob controle da classe operária, de maneira de que tudo que se produz deve ser decidido pelo conjunto dos trabalhadores. O grau de democracia na planificação é a medida da forma como se exerce a democracia operária.
3) Socialização e estatização: O controle da propriedade privada pelo Estado (ainda que seja uma vitória) não é suficiente para caracterizá-lo como operário, pois mesmo em economias capitalistas há situações em que o Estado tem controle importante sobre a economia e as empresas. A estatização não é suficiente (mas um meio) para se combater todas as relações econômicas-sociais herdadas do capitalismo. Diferente é a socialização dos meios de produção que significa que se modificam todas as relações sociais na sociedade e também na própria relação entre o operário e os meios de produção. Na socialização são os trabalhadores que tem -diretamente -o controle (e administração) dos meios de produção ao passo que em uma economia estatizada o Estado é uma mediação entre o trabalhador e o meio de produção, ou seja, o Estado atua como um administrador.
A socialização é a melhor expressão da democracia operária e do poder operário porque se acabam as mediações entre o trabalhador, o trabalho e os meios de produção. São os trabalhadores organizados como classe dirigente.
Novas formas de exploração e alienação: com a manutenção do controle dos meios de produção pelo Estado este centraliza a distribuição da massa da mais-valia, que atende não os interesses da sociedade, mas da burocracia que a controla. Parte importante, que deveria voltar para a sociedade, é destinada ao pagamento de salários muito maiores para os burocratas e seus aliados (que nada produzem), aos privilégios e bens de consumo que a maioria da população não tem acesso. A apropriação não é um elemento secundário porque ela estabelece relações sociais características de regimes de exploração uma vez que se alguém se apropriou de algo sem trabalhar é porque o trabalho de outro não é livre de exploração. Em vez de adotar medidas que vão paulatinamente acabando com o assalariamento esses Estados, pelo contrário, aprofundam essa relação. As sociedades de transição não acabam de imediato com leis tipicamente capitalistas, como o valor e a mais valia. Por isso é de transição e por isso é um processo. Na sua jornada de trabalho o operário produz um valor excedente que fica nas mãos dos donos dos meios de produção. O problema é que nesses Estados, e em Cuba, o sobretrabalho é apropriado pelo Estado que é o patrão.
Essa caracterização de estado operário burocrático é também unilateral porque só leva em conta a forma jurídica da propriedade, desprezando um elemento essencial que são as relações de produção (relação entre o produtor e o apropriador da riqueza) que ocorrem nessas sociedades. A definição de um Estado ocorre principalmente pelas suas bases materiais e econômicas, sobre as quais desenvolvem superestruturas políticas e jurídicas. Assim um Estado operário só poderá se desenvolver quando os trabalhadores puderem exercer diretamente o poder político-econômico estabelecendo assim uma relação dialética entre as relações de produção, em que os trabalhadores são os "produtores organizados", e o caráter social e político da propriedade.
Outra posição em relação a Cuba que consideramos equivocada (defendida pelo PSTU e a sua internacional, a LIT) é a de que em Cuba já está em vigência o capitalismo, ou seja, um Estado burguês atípico que "surgiu como produto da restauração do capitalismo em um Estado operário" (marxismo vivo nº 14,pg.11). O regime é definido como bonapartista e ditatorial, ou seja, uma ditadura burguesa. E mais: considera que Cuba está em um processo de recolonização encabeçado pelo imperialismo europeu.
As bases para a fundamentação de que em Cuba já operou a restauração são: o fim do monopólio do comércio exterior pelo Estado, o fim da planificação (dissolução da junta central de planificação) e o fim da estatização dos meios de produção que ocorre pela privatização controlada pelo capital do imperialismo europeu. Os fatos que apresentam resumem-se a apontar alguns setores da economia cubana (exploração de petróleo, minério de ferro e outros) são controlados por empresas mistas entre o Estado cubano e o capital estrangeiro).
Se o artigo da LER leva em consideração só os dados da economia que estão sob controle do Estado, o PSTU não leva em conta nem os que estão sob controle do Estado. A omissão de dados nesse caso é a única forma de justificar sua posição de que Cuba é capitalista. Portanto, um conceito sem nenhum amparo na realidade. Nesse sentido os dados apresentados pela LER poderiam ser esclarecedores para os companheiros.
Como dissemos anteriormente, quem controla toda a economia e a política em Cuba é uma burocracia formada pelos dirigentes do PC cubano, funcionários graduados do Estado, do exército e outros tantos dirigentes sindicais e de organizações populares controladas pelo PC cubano. Uma burocracia que tem privilégios, oprime e explora os trabalhadores e controla toda a economia cubana. Esse é o poder em Cuba.
Devemos esclarecer que não entendemos a burocracia como uma classe social e nem dona dos meios de produção (por isso não é classe social), mas tão somente um setor ou uma casta que se apropriou do aparato estatal de Cuba e se alimenta materialmente dele. Nas palavras de Trotsky: "uma casta social privilegiada e dominante no pleno sentido desses termos". Já uma classe social ou tem os meios de produção ou tem a mercadoria -força de trabalho- que faz funcionar esses meios de produção e esse não é o caso de Cuba, pois quem é dono dos meios de produção é o Estado.
A burguesia é uma classe social "concreta", formada por homens e mulheres que são donos ou donas dos meios de produção e para dizer que um Estado é burguês também é preciso apontar que papel a burguesia cumpre nas relações de produção. No Brasil podemos apontar Setúbal, Antonio Ermírio; nos Estados Unidos os Rockfeller. E em Cuba que burguês o PSTU apresenta?
Os acordos (que resultam nas empresas de economia mista) que a burocracia tem com o imperialismo -seja estadunidense ou europeu- não alteram o caráter do Estado, que continua sendo dominado pela burocracia, ainda que a dinâmica aponta para o processo de restauração capitalista. Mas isso ainda não se efetivou porque a burguesia nem tem o controle da economia e nem o controle direto do poder político.
Para o PSTU é secundário o fato de que em Cuba não haja burguês, pois para eles "a economia funciona segundo as leis capitalistas de mercado"(Correio Internacional 157). Absurda tal afirmação, porque esse nunca foi o critério para definir um Estado como capitalista ou operário e depois porque não se encontra em nenhum lugar dos clássicos que com a revolução se acaba com as leis de mercado, pois o período de transição para o capitalismo é exatamente para que se acabe com os resquícios da lógica capitalista. Se fossem coerentes, então todos os Estados pós revolução do século XX seriam capitalistas (Rússia, China, etc). As "leis capitalistas" só acabarão definitivamente com o comunismo.
As posições contra as quais debatemos tem em comum o fato de verem as coisas sob a ótica da lógica formal, de modo que ou o Estado é operário (deformado) ou é burguês. Posições simplistas e mecânicas que não atentam para a complexidade que significou o surgimento da burocracia nos processos revolucionários e sobretudo o seu desenvolvimento.
Todos tem acordo em que a revolução cubana realizou tarefas importantes no marco da independência nacional, inclusive indo além (contra a vontade da burocracia) e expropriando a burguesia, que logo se refugiou em Miami. As diferenças começam quando damos movimento aos conceitos, pois, para nós, a revolução cubana não significou que o poder fosse para as mãos da classe operária, pelo contrário, a classe operária permaneceu alijada do poder. A ausência da burguesia, a classe operária sem o poder, os meios de produção sob controle do Estado e o controle da burocracia sobre este nos colocam um novo fenômeno, o qual que precisamos analisar sob a luz do marxismo, que de pronto rejeita os esquemas. Uma nova realidade deve também ser encarada como uma nova perspectiva.
Assim, o estado cubano não é nem operário (deformado ou não) e muito menos já avançou para ser capitalista. Caracterizamos o Estado cubano como burocrático, não capitalista. Não capitalista porque os meios de produção não estão sob controle burguês. Burocrático porque os meios de produção estão sob controle estatal e o domínio do Estado está nas mãos de uma burocracia que nasceu junto com a revolução. "…o fato mesmo de que se tenha se apropriado do poder em um país onde os meios de produção mais importantes pertencem ao Estado, cria entre ela [a burocracia] e a riqueza da nação, relações inteiramente novas. Os meios de produção pertencem ao Estado. O Estado "pertence", de certo modo, à burocracia…" (Revolução traída. Trostky ).
Não participamos da concepção de que a burocracia seja uma nova classe, pois a burocracia não tem "direitos particulares em matéria de propriedade (…) os privilégios da burocracia são abusos. (…) sua apropriação de uma parte imensa da renda nacional é um fato de parasitismo social" (Revolução traída. Trostky ). O fato de que a burocracia não seja uma classe social não quer dizer, pelo contrário, que ela não realize apropriação da mais valia produzida pelos trabalhadores cubanos. O controle da política e do Estado, por ser dono dos principais meios de produção, lhe dá a prerrogativa de centralizar a mais valia e distribuí-la de acordo com os interesses da burocracia dirigente.
A extração da mais valia pelo Estado é o que determina as relações sociais na sociedade cubana e constitue relações de produção que oprimem e exploram os trabalhadores cubanos. Essa base que sustenta a burocracia é a mesma que empurra Cuba para a restauração capitalista.
De toda caracterização deriva uma política. No caso daqueles que consideram que Cuba é um Estado operário burocrático a política é voltada para modificar a relação política que existe no interior do Estado. Por isso formulam um programa que ataca (corretamente) os elementos antidemocráticos, com reivindicações democráticos (legalização dos partidos de esquerda, por exemplo) combinada com outras que interrompam o curso restauracionista. São reivindicações corretas, mas se colocam nos limites do regime econômico comandado pela burocracia. Trata-se de "reformas" que não questionam a exploração e opressão levada adiante pela burocracia, pois, segundo a LER, em um "Estado operário" não há exploração.
Como o PSTU caracteriza o Estado como burguês e o regime como ditatorial o centro da política são as reivindicações democráticas (burguesas) contra a ditadura cubana: "Por isso reivindicamos amplas liberdades democráticas, inclusive para os opositores burgueses e pequeno-burgueses" (CI157). Essa política é na prática estar ao lado dos gusanos e todo tipo de burguês que defenda "liberdades democráticas" para Cuba.
As conquistas da revolução de 59 estão se perdendo e por conseqüência da política da burocracia – e com esta continuando no poder – logo não existirão mais nenhuma delas. A burocracia é o grande perigo para essas conquistas.
As recentes medidas de abertura do mercado para empresas estrangeiras indicam que a burocracia caminha em direção a restauração capitalista na ilha, mas o faz controladamente de maneira que não perca o controle do processo. A dúvida é se os privilégios e os altos salários da burocracia -principalmente a ala militar- conseguem acumular a ponto de que ela mesma se torne os "novos burgueses" ou se vai prevalecer a restauração com a recondução dos gusanos (burguesia cubana que vive em Miami) ao poder e controle dos meios de produção..
Assim, pensamos que é necessário um programa que responda tanto no aspecto econômico com reivindicações que acabem com a exploração que a burocracia impõe aos trabalhadores e nos casos em que há qualquer tipo de administração privada essas empresas devem ser expropriadas; como no político com reivindicações que garantam o poder aos trabalhadores. Nesse sentido é fundamental que prevaleça a independência de classe, trabalhando na perspectiva de que os trabalhadores se coloquem como sujeito social da revolução. Lutar contra a burocracia cubana, mas com uma posição de classe.
Ao contrário do PSTU não apoiamos a atual dissidência cubana porque ela defende a mesma política do imperialismo tanto estadunidense como europeu. Não acreditamos que seja possível qualquer tipo de aliança com os gusanos assassinos porque seria a mesma coisa que fazer unidade de ação com o imperialismo, como é, na prática a política do PSTU. As "damas de branco" são na prática uma organização pró-imperialista. A nossa solidariedade é aos trabalhadores cubanos que lutam por liberdades democráticas não para que se restaure o capitalismo, mas para recuperar as conquistas da revolução de 1959 que a burocracia está atacando.
Por fim é importante destacar que diante de qualquer ataque do imperialismo aos trabalhadores e povo cubano nos colocamos incondicionalmente ao lado dos trabalhadores cubanos contra o imperialismo.
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