Unidade da esquerda para enfrentar a grave crise econômica
19 de dezembro de 2008
UNIDADE DA ESQUERDA PARA ENFRENTAR A GRAVE CRISE ECONÔMICA
Ao contrário do que dizem a imprensa burguesa e a propaganda governista, o Brasil não está descolado da crise econômica mundial. Há vários fatos que demonstram que a crise já está entre nós. Milhares de professores de SP estão sob ameaça do desemprego no ano que vem. Os setores ligados às exportações foram os primeiros a sofrer as conseqüências. As montadoras de automóveis já anunciaram férias coletivas, medida que precede as demissões em massa. Indústrias menores e auto-peças já estão demitindo.
Os trabalhadores do setor bancário vivem sob a ameaça de demissão por causa da incorporação do Unibanco pelo Itaú, e dos bancos estaduais remanescentes pelo Banco do Brasil, como a Nossa Caixa em São Paulo. O governo Lula, por meio de medidas administrativas do Banco Central, já liberou cerca de 200 bilhões de reais de ajuda aos bancos, a fim de manter a oferta de crédito. Era justamente o crédito que sustentava o crescimento econômico do setor automobilístico e da construção civil, por exemplo.
No setor público, existem várias ameaças contra a estabilidade dos trabalhadores. Os governos buscam maneiras de reduzir os “gastos públicos”, o que se traduz por arrochar os salários e promover programas de demissão “voluntária” (como o PDV dos Correios recentemente anunciado); além da precarização das condições de trabalho. A luta contra o desemprego é a principal luta do próximo período, tanto para os trabalhadores do setor privado quanto do público.
Com o fechamento das empresas, demissões em massa e “redução de gastos” no serviço público, serão os trabalhadores que sofrerão com os efeitos da crise. Servidores públicos, empregados com carteira assinada, terceirizados, trabalhadores do setor informal, todos vão experimentar dificuldades. Muitos dos que trabalham serão demitidos; os que não forem demitidos vão ganhar menos e trabalhar mais e em piores condições.
Os governos Lula e Serra já mostraram para quem governam: para os ricos, industriais e banqueiros. Jogam bilhões para salvar bancos e empresas, ou seja, ao invés de investir em saúde, educação, reforma agrária, etc, manda todo esse dinheiro para quem já tem muito.
São verdadeiros pais e mães dos patrões e carrascos para com os trabalhadores.
Nada podemos esperar das centrais sindicais governistas (CUT, Força Sindical, CTB) porque a grande preocupação delas é defender o governo Lula e sua política anti-operária, ou seja, elas estão do lado do governo e dos patrões.
O próximo período é de alerta máximo para os trabalhadores. É preciso a máxima unidade nas lutas para que sejam os patrões e não nós a pagar pela crise que eles criaram. Além disso, defendemos a realização de um Encontro Nacional de ativistas e lutadores de todo o país, a exemplo do Encontro de março de 2007, ocorrido no Ibirapuera, para deliberarmos um plano nacional de lutas e um programa dos trabalhadores contra a crise.
Esse Encontro deve ser aberto a todos os setores anti-governistas, como partidos, organizações e ativistas independentes que se coloquem no campo da classe trabalhadora, contra a burguesia e o governo Lula, bem como a todas as entidades do movimento social, como Conlutas, Intersindical, MST, Consulta Popular, pastorais sociais, sem teto, movimentos de minorias. Além disso, o Encontro Nacional deve ser precedido de encontros regionais preparatórios, construídos a partir da base e em cada região.
Assim reforçamos o chamado ao PSTU e ao PSOL e às demais forças de esquerda para que organizemos no início do próximo ano um forte encontro na região, preparando ações para derrotar os planos do governo.
Entre as medidas imediatas é preciso lutar por:
o Estabilidade no emprego;
o Redução da jornada de trabalho sem redução de salários;
o Estatização sobre controle dos trabalhadores das empresas que ameaçarem fechar ou transferir suas fábricas;
o Nenhum apoio do governo aos bancos e grandes empresas; que os capitalistas paguem pela crise;
o Não à alta dos alimentos, congelamento dos preços dos gêneros de primeira necessidade;
o Não às Reformas Trabalhista e Previdenciária do governo Lula;
o Carteira de trabalho e direitos trabalhistas para todos, em todos os ramos da economia, da cidade e do campo;
o Fim das terceirizações e do trabalho precário;
o Salário mínimo do DIEESE (+- R$2000,00) para toda a classe trabalhadora;
O sistema capitalista tem uma lógica contraditória. Por um lado, sua busca incessante pelo lucro e a competição entre as empresas faz com que se desenvolva a tecnologia, aumentando as escalas de produção e o intercâmbio entre os países. Mas a busca pelo lucro e a concorrência também fazem com que cada empresa use a tecnologia não para melhorar o padrão de vida das pessoas, mas para diminuir os postos de trabalho, precarizar os contratos, diminuir salários e direitos, bem como achatar os rendimentos da classe média.
Chega um ponto em que há uma capacidade de produção cada vez maior, porém cada vez menos pessoas podem de fato comprar o que pode ser produzido. Isso origina as crises de superprodução, que se manifestam na forma de recessão ou mesmo de depressão. Durante décadas, o capitalismo tinha a capacidade de deslocar e administrar as crises, por meio de medidas como os gastos do Estado e concessões à classe trabalhadora em alguns países. Essa política chegou ao limite por volta dos anos 70, com a crise estrutural do capital.
Incapazes de resolver a crise, os governos capitalistas desde então deram rédea solta ao crédito e à especulação, em um processo de endividamento monstruoso das empresas, das famílias e dos Estados. Esse endividamento foi o que possibilitou aos EUA e Europa retomarem o crescimento econômico por um período. Chegamos ao século XXI com uma situação em que o endividamento não pode mais aumentar. O volume de títulos de crédito, de ações, de dívidas públicas, de hipotecas, de empréstimos, etc., em circulação nos mercados financeiros globalizados é hoje cerca de dez vezes maior que o total da produção mundial.
Para se manterem competitivas as empresas e governos vão aumentar fortemente seus ataques sobre os trabalhadores. Milhões de empregos poderão ser eliminados, o que tende a expulsar milhões de famílias do consumo, negando até mesmo necessidades vitais básicas como alimentação e remédios. Está aberto um período na luta de classes de disputa entre os trabalhadores e a burguesia para ver quem vai pagar a conta dessa crise. As comoções sociais serão inevitáveis em vários países, possivelmente no Brasil. A partir deste momento, devem ganhar força e se unificar as lutas pela manutenção do emprego e pela reposição das perdas salariais.
O capitalismo nunca resolveu nenhuma de suas crises; apenas jogou os problemas para frente. As contradições se acumularam de tal forma que agora ameaçam até mesmo a sobrevivência da humanidade, com a fome, a destruição ambiental e até mesmo novas guerras ainda mais destrutivas que as já ocorridas.
Por isso essa crise coloca a necessidade de lutarmos por uma outra sociedade, na qual os trabalhadores tenham o controle da produção e das condições de vida, ou seja, uma sociedade socialista. A luta para construir o socialismo não está descolada dos problemas imediatos; ao contrário, deve começar por medidas como:
o Não pagamento da dívida pública, interna e externa, e investimento desse dinheiro num programa de obras e serviços públicos sob controle dos trabalhadores, para gerar empregos e melhorar as condições imediatas de saúde, educação, moradia, transporte, cultura e lazer.
o Reestatização das empresas privatizadas, sob controle dos trabalhadores, com reintegração dos demitidos;
o Estatização do sistema financeiro sob controle dos trabalhadores;
o Reforma agrária sob controle dos trabalhadores. Fim do latifúndio e do agro-negócio. Por uma agricultura coletiva, orgânica e ecológica voltada para as necessidades da classe trabalhadora;
o Por um governo socialista dos trabalhadores baseado em suas organizações de luta;
o Por uma sociedade socialista;
O ataque contra um trabalhador é um ataque contra a classe trabalhadora. E um ataque a um militante é também um ataque a nós. Brandão, funcionário da USP há 21anos e dirigente sindical do SINTUSP, foi -por um ato ilegal e arbitrário da Reitora Suely Vilela- demitido por justa causa e o motivo todos nós sabemos: perseguição política por conta de sua luta contra a destruição da universidade pública. Nos somamos à campanha pela readmissão do companheiro Brandão.