Derrotar os ataques aos direitos dos trabalhadores! Enfrentar a direita! Voto crítico na esquerda socialista!
13 de junho de 2018
Vivemos uma conjuntura de profunda crise econômica, com muitos ataques aos nossos direitos e com o avanço da direita. Esses são alguns dos elementos que apresentam a necessidade de construção de uma alternativa de esquerda e socialista para unificar a classe trabalhadora e fortalecê-la em apresentar uma saída à crise.
Enquanto isso, a burguesia se aproveita para tentar convencer a população, e vai aprofundar isso até as eleições, da necessidade da reforma da previdência e da necessidade de abrirmos mãos de mais direitos para o país “crescer” etc. Essa é a saída que a burguesia tem para apresentar.
Por outro lado, setores ainda mais reacionários vão continuar ameaçando com medidas mais duras como a intervenção militar.
Do lado da esquerda é necessário e urgente disputarmos a consciência da classe e mostrarmos a possibilidade de construirmos outro caminho. Para isso, somente a adoção de medidas radicais – como o não pagamento da dívida, a redução da jornada de trabalho sem redução de salário para ter empregos para todos e todas e tantas outras – poderá ser capaz de atender as reivindicações da classe trabalhadora.
Isso quer dizer que nas eleições estará, de forma direita ou distorcida, apresentado o debate sobre o rumo que o país irá seguir.
A necessidade da unidade da classe trabalhadora e da esquerda
Nos últimos anos foram muitos ataques aos nossos direitos. Alguns, como a Reforma da Previdência, conseguimos uma vitória temporária, mas, perdemos outras batalhas.
De uma coisa ficamos com a certeza: o próximo presidente continuará vindo para cima de nossos direitos.
Então, essa campanha eleitoral com o objetivo de esquerda deve estar a serviço das lutas e, principalmente, da luta contra a Reforma da Previdência.
Para nós do Espaço Socialista a unidade da esquerda no próximo período será fundamental, na verdade, é uma condição para termos qualquer expectativa de vitória contra a burguesia. Além disso, como chamar a unidade da classe trabalhadora se nós mesmos contribuirmos para fragmentar?
Quem é a esquerda?
Mesmo com divergências programáticas importantes consideramos, nessas eleições, dentre os partidos legalizados, como parte do campo da esquerda o PSTU, o PSOL e o PCB.
Em relação ao PCO não o consideramos no campo de esquerda por ter se dissolvido na candidatura do PT.
Importante demarcar esse campo porque não incluímos nesse critério o PT e o PC do B, muito menos, Ciro Gomes. A mídia burguesa vem colocando-os no campo de esquerda, mas tem como objetivo confundir e não permitir que a classe trabalhadora se aproxime de candidaturas mais à esquerda.
Esses candidatos e/ou partidos já foram governos e se notabilizaram pela aplicação de medidas de ataques aos direitos dos trabalhadores. Agora, fazem um discurso de esquerda e crítica ao Temer, mas até há pouco tempo estavam todos juntinhos governando para o capital.
Portanto, para as eleições desse ano chamamos a classe trabalhadora a ter um voto crítico e votar em candidatos e candidatas da esquerda socialista (PSTU, PCB e PSOL).
Nem coligação com partidos burgueses e nem com empresários
A participação dos revolucionários no processo eleitoral é tática, busca dialogar com a classe trabalhadora sobre a exploração, a enganação das eleições e fazer a propaganda do socialismo. Nesse diálogo, dentre outros pontos, insistimos que a independência de classe é, certamente, um dos mais importantes. Buscamos convencer a classe trabalhadora de que “burguês é burguês” e “trabalhador é trabalhador”, que somos duas classes sociais antagônicas e de interesses opostos.
Por isso, o voto crítico não se estende às candidaturas estaduais de empresários, pró-burguesas ou que recebam contribuição financeira de empresa ou empresários. É o caso da candidatura do PSOL no Rio Grande do Norte, um empresário.
Era possível, e necessária, a unidade da esquerda socialista
As alegações apresentadas pela esquerda socialista para não sair em unidade nessas eleições são muitas: diferença programática, objetivos de construção partidária, etc. Isoladamente são até justificáveis, mas considerando a atual conjuntura nos pareceu um erro.
Até porque havia e há formas de se construir essa unidade, como, por exemplo, a construção de um movimento político dos trabalhadores com a realização de encontros locais que culminassem em um grande Encontro Nacional para a construção de um programa e que, democraticamente, escolhesse as candidaturas junto aos ativistas e movimentos sociais.
Com esse processo, além da construção de candidatura unitária, poderíamos ter avançado na construção de uma alternativa classista fazendo frente a dispersão entre os ativistas e, mesmo, no interior da classe trabalhadora.
Infelizmente esses partidos privilegiaram seus interesses e já chegaram ao movimento com nomes e programas prontos, numa situação de “pegar ou largar”. No entanto, a posição política de chamar o voto crítico nas candidaturas de esquerda também levou em consideração a necessidade de unidade da esquerda.
O que queremos no processo eleitoral?
Comecemos pelo mais importante: eleições no capitalismo é para “enrolar” a classe trabalhadora e ficar só na superfície dos problemas como se fosse possível melhorar as coisas trocando apenas esse ou aquele governo. Mas, esse processo mobiliza milhões de pessoas que ainda acreditam na possibilidade de suas vidas melhorarem votando em alguém.
Os revolucionários, muitas vezes, desconsiderando esse fato deixam a classe trabalhadora à mercê da propaganda burguesa. É preciso disputarmos essa consciência, ganharmos a classe trabalhadora para confiar somente em suas forças e não na burguesia.
Entendemos também que é um momento de debate sobre as saídas para as crises, quando as pessoas estão mais propensas a ouvirem as propostas para os problemas. É nesse debate que os revolucionários devem atuar fazendo a crítica ao capitalismo e sobre sua responsabilidade pela situação de miséria da classe trabalhadora, fazendo a defesa de propostas anticapitalistas e da revolução socialista como única forma de solucionar todos os problemas.
Cada trabalhador que deixa de votar em candidatos ou partidos burgueses é um pequeno passo para romper com as ilusões burguesas e eleitorais. Contra o argumento de que não cabe aos revolucionários fazer o debate programático nas eleições porque significa alimentar ilusões, podemos lembrar a tese de Lênin de que não se pode fugir da realidade e deixar nas mãos dos oportunistas a luta pelas reivindicações imediatas.
Entretanto, defendemos voto crítico – e não apoio – por temos desacordo com várias das posições políticas defendidas por essas candidaturas.
Somente a luta muda a vida!
O chamado ao voto crítico na esquerda socialista não representa ter qualquer ilusão no processo eleitoral, inclusive, é uma das polêmicas com a candidatura Boulos que tem uma postura de se apresentar como o único candidato capaz de “fazer a coisa certa” como se o problema do Estado brasileiro fosse o tipo de gestor e político e não o próprio capitalismo.
Para nós, o voto crítico é uma posição tática, ou seja, uma resposta à conjuntura de ataques aos nossos direitos, ao avanço de setores de direita e à necessidade de derrotar as candidaturas que vão aprofundar os ataques aos direitos da classe trabalhadora.
Os problemas da candidatura do PSTU
O programa do PSTU é, de fato, mais coerente em relação ao do PSOL. Mas, apresenta questões importantes para serem debatidas com os companheiros. Uma delas foi a posição política adotada na ocasião da prisão de Lula, que capitulou às medidas do Judiciário. Outra, foi durante a mobilização dos caminhoneiros quando defenderam uma posição sem diferenciar os trabalhadores e a burguesia no setor de transporte.
E, por fim, entendemos que até o momento a candidatura tem priorizado a construção do partido e se fechado, sequer permite um debate mais amplo, inclusive, de construção da candidatura.
Os problemas da candidatura do PSOL
Boulos tem a favor de sua candidatura o fato de ser liderança de um movimento social que protagonizou lutas importantes pelo direito à moradia, o MTST. Apresenta um programa progressivo como posições como ser contra o pagamento da dívida pública, pelo direito à moradia, pela taxação dos ricos, dentre outros pontos.
Embora isso faça diferença entre as candidaturas de anos anteriores, ainda é insuficiente para o debate necessário diante da crise e de seus reflexos sobre a classe trabalhadora. Boulos, em síntese, defende um programa de “moralização da política”, reformista de esquerda com um Estado que cumpre programas sociais e controla a riqueza, ou seja, um ilusório “Estado-de-bem-estar-social”. Qual o problema desse programa?
Primeiro, a ausência da defesa do socialismo como única alternativa para a classe trabalhadora. Em suas entrevistas se refere a lutar pela igualdade de oportunidades como se fosse possível essa igualdade em um país com sua história marcada pela desigualdade;
Segundo, não faz a denúncia do capitalismo, um sistema incapaz de solucionar os problemas enfrentados pela classe trabalhadora;
Terceiro, consequência dos dois anteriores, semeia ilusões de que o problema é o gestor, o administrador, e não o próprio Estado capitalista.
Por isso, é importante a pressão a partir dos movimentos sociais, para que assuma uma posição radical de esquerda, que enfrente a burguesia e seus candidatos e, principalmente, defenda soluções radicais, de ruptura com esse sistema.
Algumas questões programáticas são urgentes como: o não pagamento da dívida pública aos agiotas e especuladores, a reestatização sem indenização de todas as empresas privatizadas, a redução da jornada de trabalho sem redução do salário ao nível necessário para acabar com o desemprego, a estatização do sistema financeiro, Petrobrás e sistema Eletrobrás 100% públicos, reformas agrária e urbana, tudo sob controle da classe trabalhadora organizada para impedir qualquer sabotagem da burguesia.
A possibilidade de se ter candidato eleito com um programa desse é quase nula. No entanto, é importante destacar que a esquerda não participa de eleições para ganhá-la, mas sim para apresentar um caminho para mudança e para fazer o debate com o conjunto da classe trabalhadora denunciando as eleições burguesas.
Essas são algumas das razões do voto ser crítico.
O significado do voto nulo nessas eleições
Mesmo identificando a existência de um setor bem minoritário com uma posição de esquerda defendendo o voto nulo, o qual consideramos como aliado na luta, entendemos que a dinâmica da imensa maioria de quem defende ou vai votar nulo, nessa eleição, reflete mais as posições conservadoras.
Há também um voto nulo como expressão de “precisar mudar o sistema político”, mas ainda pela direita, defendendo intervenção militar e, ainda, porque Lula não vai ser candidato. Ou seja, nessa eleição, o voto nulo não expressa, no movimento de massas, a dinâmica em direção à esquerda e que possa ser disputado.
Um programa socialista para acabar com a crise
A ferramenta que temos para disputarmos com a burguesia uma saída para a crise é a apropriação pela classe trabalhadora de um programa de esquerda e socialista para, assim, enfrentarmos concretamente a saída que a burguesia tem dado, que é de atacar os direitos da classe trabalhadora de conjunto.
Como dissemos acima, há ressalvas aos programas das candidaturas do PSTU e do PSOL. Por isso, achamos importante a esquerda revolucionária abrir o debate no movimento no sentido de construir um programa socialista, que responda às questões econômicas, também às políticas e, principalmente, de poder da classe trabalhadora, única forma desse programa se tornar efetivo e concreto.
Essa é a discussão que as candidaturas do PSTU, PCB e PSOL precisam adotar no processo eleitoral, aproveitando as emissoras de rádio e de televisão (em que a audiência alcança milhares de pessoas) para debater propostas de solução para a crise econômica na perspectiva da classe trabalhadora, pois a depender da burguesia quem vai continuar pagando a conta dessa crise seremos nós, os explorados.
Temos contribuições para esse debate e nos próximos artigos apresentaremos algumas delas.