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Zequinha Barreto e o 1º de maio de 1968


1 de maio de 2018

Este texto é uma contribuição individual que não necessariamente expressa a opinião da organização e por este motivo se apresenta assinado por seu autor.

Taylan Santana Santos[1]

            Em 01/05/1968, durante o período da ditadura civil-militar no Brasil, o movimento operário foi responsável por uma ousada ação política de resistência ao regime de exceção, protagonizada especialmente pelo militante revolucionário José Campos Barreto, o Zequinha. Naquela oportunidade, os operários juntamente com os estudantes de São Paulo suspenderam os “festejos” dos militares e seus apoiadores civis no dia dos trabalhadores, expulsando o governador Abreu Sodré do palco na Praça da Sé, culminando no eloquente discurso de Zequinha Barreto que conclamou as massas à luta contra a ditadura em vigor.

José Campos Barreto nasceu em 1946 na comunidade Pé do Morro, na região de Brotas de Macaúbas, sertão baiano, na solidária família de José de Araújo Barreto e Adelaide Campos Barreto, pais de Zequinha e seus seis irmãos, entre os quais, Olderico e Otoniel acompanharam a luta política de Zequinha, sendo Olderico um ex-preso político sobrevivente da ditadura, e Otoniel assassinado pela repressão militar juntamente com o próprio Zequinha em 1971 na Bahia. Em sua terra natal, a família Barreto destacou-se através da liderança e assistência comunitária, reconhecidos até os dias atuais como a principal referência do povoado em que viveram. Foi neste convívio que o viés político de Zequinha Barreto foi forjado na resistência ao lado do seu povo oprimido, em defesa da justiça social e do socialismo.

Aos dezoito anos, Zequinha mudou-se para Osasco na região metropolitana de São Paulo, onde teve uma curta passagem no Exército, e após ter servido no quartel de Quintaúna, iniciou sua experiência política na articulação estudantil-operária de Osasco, mediante uma unidade construída entre estudantes e trabalhadores na luta contra a ditadura instaurada após o Golpe de Estado em 1964. Inserido no movimento estudantil, Barreto foi atuante no Círculo Estudantil Operário (CEO), um espaço alternativo criado em 1965 com o objetivo de exercer o trabalho político em meio a clandestinidade do período de exceção.

Nesse referido contexto, a ditadura se consolidava enquanto um grande negócio para o capital, explicitado pela política econômica do capitalismo dependente no Brasil, cujas contradições podem ser sintetizadas pelo enriquecimento dos conglomerados capitalistas, atrelado ao arrocho salarial submetido aos trabalhadores. Como agravante, a repressão enquanto política sistemática do regime atuou duramente contra o movimento operário, com a imposição dos chamados “pelegos” interventores nos sindicatos destinados a desmobilizar o operariado e colaborar com a perseguição, prisões e mortes de trabalhadores insurgentes. Não obstante a este cenário crítico para a organização dos trabalhadores, a história do movimento operário caracteriza-se pela sua resistência frente ao autoritarismo do Estado burguês e o peleguismo dos conciliadores e traidores da classe operária. Como prova, em 1967, a formação do Movimento Intersindical Antiarrocho (MIA), foi uma amostra da disposição dos trabalhadores em não ceder perante a grave crise política e econômica imposta pela ditadura e seus colaboradores. Neste processo, Zequinha Barreto destacou-se como um militante atuante na oposição sindical de Osasco, cujo árduo trabalho político apostava no diálogo junto aos operários, a fim de fortalecer a consciência de classe e o engajamento na oposição aos patrões e o Estado ditatorial.

Durante 1968, Zequinha Barreto despontou na luta política em rede nacional no curso das mobilizações de massas no país. No “ano que não terminou” com a plena efervescência política das esquerdas no mundo, a exemplo do maio francês e a primavera de Praga, no Brasil, Zequinha foi reconhecido como um grande orador e um dos principais líderes nas batalhas campais de São Paulo, em denúncia da morte do estudante Edson Luís (assassinado em 28/03), e na resistência diante da violência do sistema capitalista revestido por um regime de exceção. Através do compromisso e a dedicação de um militante disciplinado, Zequinha, já inserido na POLOP- organização revolucionária marxista política operária, exerceu grande influência no movimento operário, ao lado de José Ibrahim, líder dos metalúrgicos, formando um grupo operário de Osasco que assumiu a vanguarda classista e combativa nas mobilizações de massas, especialmente no Dia do Trabalhador (01/05/68) e nas greves de junho/68 em Osasco.

Quanto ao 01º de Maio de 68, a ditadura havia programado os seus festejos cujos objetivos eram promover a dispersão do movimento operário e ludibriar as massas trabalhadoras através de solenidades que celebravam um crescimento econômico que beneficiava apenas a burguesia, em detrimento da classe trabalhadora, principal alvo do arrocho salarial, da exploração do trabalho capitalista e da repressão militar. Todavia, à revelia dos pelegos interventores nas direções sindicais e da ditadura, o movimento operário deflagrou uma ação direta que uniu as oposições sindicais e o movimento estudantil. Em um ato de ousadia revolucionária, os insurgentes liderados pelo grupo operário de Osasco tomaram o palanque situado na Praça da Sé em São Paulo, expulsando o então governador Abreu Sodré e as pretensas autoridades da ditadura no local. Em seguida, queimaram o palanque e realizaram uma passeata com mais de 1.500 trabalhadores e estudantes rumo à Praça da República, onde foi organizada uma assembleia inflamada pelo célere discurso de Zequinha Barreto. Sob um contexto de cerceamento das liberdades democráticas e intensa repressão aos movimentos sociais, Zequinha conclamou a classe operária para a “justa violência do oprimido contra a violência do opressor”, em uma luta revolucionária pela derrubada da ditadura e o fim do sistema capitalista em vigor, rumo à conquista do socialismo, a única alternativa viável para os trabalhadores.

Sem dúvidas, a insurgência protagonizada por Zequinha e as massas estudantis e operárias no Dia do trabalhador, foi um dos combustíveis para a radicalização das mobilizações em todo o país. Especialmente nas greves de junho em Osasco, no qual o militante Zequinha Barreto destacou-se mais uma vez como um líder revolucionário preparado para o combate em defesa de sua classe, mesmo sob as condições mais adversas. Portanto, atualmente no cinquentenário do 01º de Maio de 68, o resgate da história de revolucionários como José Campos Barreto, o Zequinha, faz parte do nosso processo político para a retomada da luta dos trabalhadores contra o Estado e seus patrões, os governos da burguesia e em defesa do socialismo contra a barbárie.

[1] Historiador. Email: Taylansantos@hotmail.com