Chacina de Cajazeiras: a indiferença do Estado frente a mortes de pobres e negros
5 de fevereiro de 2018
No dia 27 de janeiro de 2018 ocorreu no bairro de Cajazeiras, periferia de Fortaleza (CE), a maior chacina do estado. Durante a madrugada um grupo fortemente armado entrou no clube “Forró do Gago” atirando e matou 14 pessoas, com mais 4 mortes posteriores ocorridas no hospital devido aos disparos. A polícia diz que houve guerra entre facções, fato corroborado com um confronto entre detentos na cadeia de Itapajé (CE) onde ocorreram mais 10 mortes. Infelizmente, apesar de ser a maior chacina, não foi a única, nos últimos dois anos há pelo menos, registro de mais 6 outras chacinas ocorridas no Ceará.
O Estado cearense é hoje, segundo o Mapa da Violência 2016, o segundo estado mais perigoso do Brasil, com um aumento de 314% de assassinatos por arma de fogo em 10 anos. Só na capital, Fortaleza, o aumento foi de 380,1%, saltando de 422 mortes em 2004 para 2026 em 2014! É inclusive campeã quando se trata de crescimento de assassinatos por 100 mil habitantes!
Em contrapartida, vemos como o aumento da violência está relacionado à falta de educação, saúde, cultura e lazer para a juventude. Em Fortaleza, segundo o relatório “Trajetórias Interrompidas” da Assembléia Legislativa do Ceará, que pesquisou jovens assassinados com idade entre 12 a 18 anos, cerca de 85% dos jovens assassinados não concluíram o Ensino Fundamental, a pesquisa constatou que 61,7% já fez uso de maconha e 41,7% de álcool, mas segundo psicólogo entrevistado: “No CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas), direcionado ao público adulto, geralmente, não chega jovem”. Já em relação aos projetos sociais, mais de 50% nunca esteve envolvido com nenhum deles. Porém somente 4 nunca haviam trabalhado, o restante já começou desde cedo alguma atividade remunerada, a grande maioria informal. A fragilidade se mostra ainda no seu sistema que deveria cumprir o papel de educação e reinserção social, em que verificamos que 46% desses jovens assassinados já participou de alguma medida socioeducativa.
Dessa forma, constatamos que o Estado mais uma vez legitima o seu papel de agente da burguesia, exterminando a população mais vulnerável e que não é nem necessária como seu exército de reserva, e por isso, continua praticando o genocídio da juventude pobre e preta nas periferias do Brasil, como em Cajazeiras em Fortaleza. O descaso, é visto até pela mídia, que não promove a mesma comoção social de tragédias, quando a vítima são pessoas pobre e negras, pois estas não merecem sua atenção. E assim, se usando de todos os seus instrumentos, o grande Capital legitima a criminalização, exclusão e execução da pobreza, tratando esses casos como somente crimes de facções, como se o próprio crime organizado já não fosse fruto do próprio sistema, que organiza a população mais pauperizada a tais práticas, como única saída para a sua sobrevivência.
É necessário dar um basta a violência contra os trabalhadores! Precisamos nos organizar e enfrentar cada ataque que torna nossa vida cada vez mais miserável! A luta contra a Reforma da Previdência é um importante passo para isso! Por precisamos derrubá-la antes que o sistema derrube a gente!
Contra o extermínio da população jovem, pobre e preta!
Pelo fim de todo aparato estatal que legitima essas morte! Pelo fim da Polícia Militar!
Pela organização de trabalhadores na luta pelos seus direitos!
Por condições de vida adequadas à todos os trabalhadores!
Pelo socialismo!