Verbos à flor da pele
13 de novembro de 2017
Latifundiário escravagista ou os dois ao mesmo tempo
De norte a sul como pragas
Alastrando a fome que acampa em quilombos ambulantes
Na beira da pista é morte na pista na lista de morte
Dos modernos capitães do mato
F.UR.T.O.
No momento em que pisaram na América, os africanos transformados em escravos conspiraram e lutaram contra os senhores de terra no Brasil colonial. Enquanto durou a escravidão, no Brasil, homens e mulheres que para cá foram trazidos e vendidos como simples mercadorias resistiram. Utilizaram várias formas de resistência, desde pequenos furtos, envenenamentos, suicídios, sabotagens até fugas, revoltas e quilombos.
E foram vários os quilombos que se formaram e se espalharam pela Colônia, sendo o mais famoso, Palmares. Os quilombos foram comunidades formadas por povos africanos (também índios, fugitivos, desertores) de diferentes etnias que se recusavam à submissão, à exploração, à violência do sistema colonial e do escravismo, que acabaram formando novos laços de solidariedade e convivência coletiva.
Palmares foi o quilombo que mais resistiu à repressão colonial, derrotando diversas expedições militares (portugueses e holandeses), durou quase 100 anos. Composto por várias comunidades que se espalhavam pelas matas de Alagoas e Pernambuco ao longo do século XVII, seu núcleo ficava na Serra da Barriga (AL).
Os quilombolas eram bastante organizados em termos militares e políticos, tendo um governo próprio com líderes, conselhos e um sistema de defesa do seu território bem eficaz. Possuindo ainda diversas lavouras e uma estrutura de comércio que coexistia e se retroalimentava do comércio oficial com a sociedade vizinha.
Os quilombos mantinham redes de comércio, relações de trabalho, de amizades, parentesco, envolvendo escravos cativos, negros livres e libertos, comerciantes mestiços e brancos.
O governo da colônia criou várias estratégias repressivas que não conseguiram acabar com as fugas das fazendas de cana-de-açúcar. Evidente prejuízo causavam os quilombos. Com isso os fazendeiros tentaram manter sob controle o número de escravos fugidos e a formação de novos quilombos.
E, assim, surgiu a figura do capitão-do-mato. Bandos armados financiados pelos fazendeiros, que formavam uma milícia especializada na caça de escravos fugidos e na destruição de quilombos mediante recompensas e pagamentos.
Pode-se imaginar tamanha repressão contra os negros e índios por sua resistência contra a escravidão. A repressão brutal é parte constitutiva do funcionamento do Brasil, não apenas na Colônia, mas hoje inclusive. Garantindo estabilidade à exploração dos que trabalham, ontem e hoje. Basta pensar no papel da polícia nas periferias e lembrar imediatamente dos capitães do mato da Colônia.
“Embora em lugares protegidos, os quilombolas na sua maioria viviam próximos a engenhos, fazendas, lavras, vilas e cidades, na fronteira da escravidão, mantendo uma rede de apoio e interesses que envolviam escravos, negros livres e mesmo brancos, de quem recebiam informações sobre movimentos de tropas e outros assuntos estratégicos. Com essa gente eles trabalhavam, se acoitavam, negociavam alimentos, armas, munições e outros produtos; com escravos e libertos podiam manter laços afetivos, amigáveis, parentais e outros.” (João José Reis, 1996)
Com o objetivo de conter o crescimento do Quilombo de Palmares, o governador de Pernambuco propôs um “acordo” com os quilombolas. A contrapartida do “acordo” era o fim das fugas, portanto, a abdicação da luta pela liberdade por parte daqueles que ainda estavam nas senzalas.
Com isso as forças do Império português financiaram um grande cerco ao Quilombo de Palmares, contratando os bandeirantes (caçadores de índios paulistas) para derrotá-lo. Em 1675, o Quilombo é sitiado por soldados portugueses e bandeirantes.
Após várias batalhas em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do Quilombo de Palmares, comandando a resistência de uma guerrilha contra as tropas do governo. Apenas em 1694 o Quilombo é finalmente derrotado. Mas, só um ano após o líder dos Palmares é capturado e executado, tendo sua cabeça exposta em lugar público de Recife.
Depois do Quilombo de Palmares os donos do poder no Brasil (fazendeiros, latifundiários, grandes comerciantes) trataram de tentar apagar essa experiência da história para que esse exemplo de luta pela liberdade e resistência à exploração nunca mais se repetisse.
Hoje precisamos organizar novos quilombos. Nossas periferias são gigantescos acampamentos urbanos com enorme contingente de trabalhadores e trabalhadoras explorados e oprimidos, desempregados, subempregados e vivendo com baixíssimas condições de vida. É preciso um verdadeiro levante como os quilombos para promover uma luta não apenas de resistência e sobrevivência, mas de luta pelo socialismo no Brasil.
Luta pela socialização da terra, pela socialização da moradia, por uma democracia de trabalhadores e trabalhadoras, pela emancipação das mulheres.