Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

A crise se aprofunda e a direita cresce. É preciso uma política para mobilizar a classe trabalhadora


1 de agosto de 2017

A crise é generalizada

A crise brasileira é das mais profundas. É econômica, mas com repercussão social, política e até ideológica porque abre uma disputa de projeto de sociedade: qual classe social – a classe trabalhadora ou a burguesia – vai conseguir responder aos problemas de acordo com os seus interesses e necessidades.
A burguesia, detentora do poder político, já aplica medidas para salvar sua pele. Várias medidas estão sendo adotadas por Temer (as reformas previdenciária e trabalhista, o aprofundamento da terceirização, o limite de gastos públicos, etc.) visando jogar sobre as costas dos trabalhadores o custo da crise.
O resultado dessas medidas é o aumento da pobreza e da miséria. Então, aos olhos e no bolso da classe trabalhadora, a crise não se resolveu e nem deve se resolver em curto espaço de tempo.
São os pobres ficando mais pobres, a classe média perdendo emprego (reduzindo despesas de lazer, de viagens, etc.) e os serviços públicos sendo cortados para dificultar ainda mais a situação financeira de quem os usa. Além disso, ainda têm o endividamento generalizado, milhões de desempregados, redução de salários e renda, aumento da violência, etc.
A falência dos estados e municípios também parte da crise. A falta de segurança, de hospitais e de escolas públicas (com as existentes sem condições mínimas de funcionamento) e o atraso no pagamento de salários do funcionalismo paralisam boa parte dos serviços, parecendo que tudo fugiu ao controle.
O caos, o desespero e a desesperança começam a tomar conta do cotidiano das pessoas e o Rio de Janeiro é um exemplo extremo do que estamos enfrentando no país, há outros na mesma situação de falência da gestão pública.
Contudo, além do custo da crise sobre os trabalhadores a saída apresentada pela mídia, pela burguesia e pelos governos é o processo eleitoral para 2018.

As ideias de direita ganham força nas massas

Com o desenvolvimento da crise econômica e em resposta a ela, a aplicação dos planos de ajustes fiscais, a não manutenção da política de crédito, a queda no consumo, etc., os governos petistas (sobretudo no mandato de Dilma) foram se desgastando e perdendo a credibilidade.
Isso levou à uma ruptura tanto de uma parcela da classe média como de parcelas de regiões operárias com o PT. Esse processo, como já dissemos, foi pela direita e se expressou na votação em Aécio e na eleição desses deputados e senadores com perfil de direita que aí estão.
Com isso a direita tem conseguido vincular os problemas da crise à gestão petista e foi o que vimos também com impeachment de Dilma, inclusive com muitos defendendo saídas abertamente fascistas, como a “intervenção militar”.
Quem tem dado força a esse processo é parcela importante da classe média, principalmente sua “camada superior”, que se aproxima cada vez mais de ideias da direita, seja de Bolsonaro ou Dória. Buscam construir a ilusão de que podem resolver os problemas da crise econômica e ao mesmo tempo melhorar as condições de vida de todos.
Não é por acaso o fato de Bolsonaro ter mais de 25% de aprovação entre as pessoas com ensino superior e os que ganham entre 5 e 10 salários-mínimos.

As alternativas…

Durante toda a crise política (impeachment, denúncia contra Temer, desgaste de vários políticos, experiência com o PT, etc.) um fato que chamou a atenção foi a falta de liderança entre os partidos burgueses. Não se construiu nenhum nome capaz de liderar os vários setores da burguesia.
Aécio, antes um candidato natural, já foi descartado pelo envolvimento nos vários casos de corrupção. Alckmin não consegue deslanchar e ainda conta com oposição interna no PSDB e a própria concorrência com Dória. Maia está em um partido com pouca penetração política nos grandes centros econômicos do país.
A burguesia ainda não tem um nome de consenso. E é esse espaço que Bolsonaro e Dória procuram ocupar. Os dois, reconhecemos, têm um certo respaldo de massas. Qualquer um dos dois representam um sério risco para o conjunto da classe trabalhadora.

Candidaturas sendo construídas pela direita

As últimas pesquisas eleitorais trazem algumas questões para a esquerda refletir. Entre elas a força eleitoral de Dória e, principalmente, de Bolsonaro. Dória, prefeito-empresário, coloca em andamento o plano de privatização de parques, do Anhembi, de terminais de ônibus, do Bilhete Único, etc. Na área social também se destaca por ações de repressão aos usuários de drogas e população em situação de rua. De posições de direita vem tentando se viabilizar dentro do PSDB, onde há outros pretendentes como Alckmin. Em algumas pesquisas tem 10% das intenções dos votos.
Bolsonaro vem se destacando pelo discurso abertamente fascista. Não esconde suas posições machistas, homofóbicas e de defensor da tortura. Dependendo das combinações, Bolsonaro tem até 16%. Se considerar o colégio eleitoral de 144 milhões de eleitores, seriam 23 milhões de votos. Em algumas cidades como o Rio de Janeiro chega a liderar.
O crescimento dessas candidaturas se explica, a nosso modo de ver, pela combinação da desesperança das pessoas no atual “status” da política, na crise social e na ausência de uma força política e social capaz de se colocar como alternativa de esquerda. Consequências das crises econômica e política.

Bolsonaro não é alternativa nem para a burguesia

A nossa preocupação principal é com a consciência de parte da classe trabalhadora que está pensando em eleger uma figura como Bolsonaro e não propriamente com a possibilidade de ele se eleger. Mesmo com bons números nas pesquisas é pouco provável que a burguesia vá legitimá-lo, pois o fascismo não é ainda o último recurso contra o avanço das lutas no país. Há outros elementos a serem considerados: Primeiro, ele não está em um grande partido para lhe dar sustentação. Segundo, a maioria dos grandes industriais e banqueiros não o apoia. Terceiro, não tem sido a política da grande burguesia brasileira (e nem do imperialismo) ter um regime político semelhante ao período da ditadura militar. Quarto a democracia parlamentar tem cumprindo bem as funções necessárias para o capital manter seus lucros. Há ainda certas liberdades democráticas, e ao mesmo tempo, várias formas legais para reprimir o movimento social quando necessário.
De todo modo, partidos de esquerda e as organizações do movimento social precisamos ter uma política para enfrentar essa situação, derrotar a “serpente no ninho”.

PT não é alternativa. Nem agora e nem em 2018.

A política do PT, o apoio da CUT (e da maioria das centrais) aos governos petistas, a incorporação dessas centrais à gestão do capital e o respaldo de várias direções do movimento social à essa política foram determinantes para a desarticulação política do movimento dos trabalhadores.
Isso não era por acaso, a política dessas burocracias sindicais conseguiu abafar as lutas contra as políticas de Lula e Dilma e também manter os sindicatos sob controle. E isso foi decisivo para o crescimento da direita.
Com o desgaste de Temer e o crescimento das lutas contra as reformas, o PT buscou se colocar à frente das mobilizações e deslocar as lutas para fortalecer a candidatura de Lula em 2018.
Para nós, o PT e Lula, juntamente com a CUT que os apoiam, não são alternativas para a classe trabalhadora. O recuo da CUT na greve geral do dia 30 de junho (para uns traição, para outros apenas constatação) é uma demonstração de que a burocracia não tem nenhum compromisso com as reivindicações da classe trabalhadora.

E a alternativa dos trabalhadores?

Para nós é urgente uma política que coloque em cena a classe trabalhadora. Somente a classe mobilizada poderá puxar todos os setores oprimidos e explorados da sociedade para enfrentar o crescimento da direita e desses fascistas.
Como sabemos, nada se pode esperar da CUT, do PT, da CTB ou do PC do B. Cabe à esquerda socialista uma política de intervenção na realidade, organizando a classe e a juventude em cada local pelas reivindicações contra o desemprego, por moradia, por serviços públicos gratuitos e de qualidade, etc. e pelo não pagamento da dívida.
Somente assim poderemos construir a resistência, com o fortalecimento no dia a dia da classe trabalhadora para que a saída para a crise econômica seja na defesa de nossas necessidades e não da burguesia.
Não dá para esperarmos em eleições. Em muitos momentos as eleições até fortalecem a direita, mesmo não ganhando podem ampliar a influência política junto aos simpatizantes.
É responsabilidade de todas as forças políticas da esquerda socialista, dos militantes independentes e das organizações do movimento social construir a luta contra as reformas, contra o desemprego, contra o aumento de preços, contra os cortes nos serviços públicos, etc. Enfim, lutar é a nossa saída!