Jornal 94: A saída de Cunha e o jogo do sistema político burguês
13 de outubro de 2016
No dia 12 de setembro ocorreu a votação sobre a cassação de mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com uma votação massiva de 450 votos a favor contra 10 contrários (incluindo aqui Marco Feliciano – PSC/SP e o Paulinho da Força – SD/SP), além de 9 abstenções. Esse processo ocorre pouco depois da realização do impeachment de Dilma.
Cunha vive já há algumas décadas da “carreira política” (como se fosse uma profissão). Bem conhecido e conhecedor de diversas figuras do meio, já esteve articulado junto a Eliseu Resende (ex-ministro do ditador Figueiredo), PC Farias, Anthony Garotinho e no apoio à última eleição de Dilma à Presidência.
Ficou popularmente conhecido recentemente ao assumir a Presidência da Câmara dos Deputados e por suas diversas posições conservadoras contra os direitos de mulheres e LGBTs.
É, de fato, uma das personificações da direita no Brasil, uma expressão bem caricata do político conservador, fundamentalista religioso, corrupto e moralista (que contribui para o fortalecimento do machismo, racismo e da homofobia). Também cabe ressaltar que esteve à frente do processo de impeachment de Dilma Rousseff, pouco depois de romper as alianças com o PT.
Assim, muitos movimentos sociais, organizações e ativistas atuaram na campanha pelo #ForaCunha, algo de fato necessário, visto o quanto essa pessoa não tem interesse em atuar pela demanda da classe trabalhadora e ainda incorpora e favorece os discursos de ódio. Porém, setores petistas e próximos, rapidamente, se incorporaram nessa ação e “se esqueceram” das alianças mantidas com essa figura, o que nos leva a entender que foi justamente para opor à pressão pelo #ForaDilma. Como sempre, se aproveitando de determinada situação para mudar o foco e se manterem no poder.
Com toda essa pressão ocorreu a queda de Cunha, algo comemorado por muitos. Mas, elencamos aqui outros elementos que dizem respeito a essa cassação, afinal um Congresso tão reacionário e bem atuante politicamente, com os mesmos propósitos que Cunha, o retira numa votação massacrante. O que de fato buscam com essa saída?
Primeiro precisamos compreender que a Justiça, nessa sociedade controlada pela burguesia, nunca se aterá somente aos fatos em si para apurar um caso, justamente porque necessita manter esse aparato para realizar o controle social. Assim, não temos que ficar somente no debate se a saída de Dilma ou de Cunha teve elementos que os incriminassem judicialmente. O próprio aparato burocrático do poder político capitalista condiciona as representações políticas (representantes eleitos ou não) a tomarem ações que favoreçam o lucro do capital e se não tiver previsão na lei entrará, quando for necessário.
A rigor há diversos casos e esquemas de corrupção de MUITOS políticos e que sabemos que jamais serão julgados, além disso temos aí uma dívida pública que é uma irregularidade em si e nem sequer é mencionada ou investigada. Ou seja, os motivos desses afastamentos são políticos a partir dos interesses e necessidades de manutenção do lucro de grandes empresários e banqueiros, quando não tocam exatamente no ritmo ou atrapalham de alguma forma atender a essas necessidades são afastados.
Vejamos, a crise política que assolou o país nos últimos meses, tensionou os espaços burocráticos de poder (Congresso, Senado, Presidência, Judiciário, etc.) e dificultou coligações para aprovar imediatamente algumas medidas de ataque aos trabalhadores (veja sobre esses ataques nesta edição e anteriores): A burguesia não tinha, de fato, uma compreensão unitária sobre a saída de Dilma, mas com a pressão cada vez maior de alguns setores, como o industrial, acabou se unificando nesse sentido.
Porém, muitas feridas ficaram abertas nessas relações, no entanto, a saída de Cunha mostrava uma possibilidade de negociação e de reconciliação entre os diversos setores. Essas tentativas de acordos ainda estão em andamento e pode ser que mais pessoas possam ser “queimadas” (com as recentes denúncias contra Lula) para garantir que as ações contra os trabalhadores possam ocorrer sem demoras e com estabilidade desse terreno lamacento da política institucional…
Ainda teremos muitos episódios nessas disputas, o próprio Cunha já está se rearticulando e fez uma delação contra Moreira Franco, secretário do Programa de Parcerias e Investimentos, uma pessoa de destaque no Governo Temer, por escândalos no Porto Maravilha no RJ, financiado pelo bilionário fundo FI-FGTS. Ainda afirmou que fará um livro sobre os bastidores do impeachment de Dilma. Parece que continuará pelo cenário político evidenciando os elementos desse jogo sujo…
Quanto à nós, trabalhadores, é imprescindível avaliarmos nossas táticas, pois mesmo que direcionemos nossas lutas contra uma figura reacionária, nossa estratégia não pode se perder, precisamos acumular forças no ataque contra o sistema do capital. Atacar somente suas peças, que podem ser substituíveis a qualquer momento, não contribui para fortalece verdadeiramente a nossa luta!
Hoje quem preside a Câmara dos Deputados no lugar do Cunha é o Rodrigo Maia (DEM-RJ), mais um político da burguesia que em outros momentos já apoiou Eduardo Cunha e que foi eleito com apoio do PSDB, DEM, PPS, PSB, PCdoB e PT!
O jogo da democracia burguesa tem à sua disposição todo o aparato para garantir sua lucratividade e é para isso que existe. Não podemos cair no engodo de defender quem irá nos atacar.
O processo de enfrentamento tem que avançar na luta com mobilizações de rua e uma forte Greve Geral, por pautas que afetam a nossa vida cotidiana (como o ataque aos direitos e o pagamento da dívida pública) e tornam a nossa vida sem sentido. O nosso objetivo maior precisa ser o de construirmos alternativas de poder de nossa classe. Somente assim levantaremos, em meio as lutas e manifestações, a agitação com força popular para colocar toda essa corja de politiqueiros burgueses para correr e fortaleceremos a construção de uma outra estrutura social, capaz de fortalecer quem de fato produz a riqueza. Resgatar a alternativa Socialista nas lutas e na vida cotidiana!