Com ou sem Dilma, a agenda de ataques aos trabalhadores se aprofundará
18 de março de 2016
A velocidade dos acontecimentos na crise política brasileira e seus reflexos sociais trazem grandes desafios para os revolucionários. A caracterização de que a possibilidade do impeachment poderia ser superada ganhou novos contornos.
Nas últimas semanas ganhou força novamente a pressão pelo impeachment, bem como a campanha de desgaste (queimação) do PT e de Lula com grande apelo midiático. A condução coercitiva de Lula, sua indicação para ministro da Casa Civil, sua posterior suspensão pelo judiciário e o vazamento das ligações da Operação Lava-Jato são alguns fatos que agravaram a crise política e colocam o governo Dilma cada vez mais em cheque pela sua oposição de direita.
Por trás das ações que levaram a esses acontecimentos,está a inflamação da crise política para servir na convocação de atos contra o PT/Dilma/Lula, numa tentativa de massificar esses atos, o que de fato aconteceu.
A confirmação do vínculo, mesmo que não oficial, do juiz Moro e outros com os movimentos pró-impeachment só traz mais à tona o fato de que essa disputa também passa pelo poder judiciário que, longe de ser neutro, toma todas as ações para desgastar o PT ao máximo enquanto poupa a oposição de direita, mesmo que tenha sido citada várias vezes na Operação Lava-Jato e seja tão corrupta quanto o partido que está no poder.
Procurou-se e procura-se criar todo um caldo, uma atmosfera política, que busca inviabilizar o PT no governo federal e para as próximas eleições municipais e paras as eleições gerais em 2018.
O isolamento político do governo se aprofunda com a posição de outros partidos da base aliada. No mesmo ínterim, ocorreu a Convenção do PMDB. Esta aprovou um prazo de 30 dias para se retirar ou não do governo Dilma. O que já ocorreu com o PRB, partido do vice de Lula, José de Alencar. O desgaste com setores do empresariado também aumentou, sendo que, alguns deles declararam rompimento, passando agora a defender o impedimento de Dilma. Vemos um governo que caminha para um isolamento cada vez maior, com rejeição crescente dentro do próprio PT, apesar deste ainda defender seu governo. Este isolamento se deu mesmo após uma série de concessões e medidas drásticas em favor da burguesia, negociando e proporcionando o aumento de setores ultra conservadores no parlamento. Desde o começo do ano, o que se vê é o PT cedendo cada vez mais aos caprichos e ataques que a burguesia o encomendou. Aprofundando políticas extremamente duras com os trabalhadores: corte de verbas, ajuste fiscal, serviços públicos precários, desemprego altíssimo, etc. Os trabalhadores têm sofrido na pele, a cada dia mais, o peso dos ataques que significam a forma PT de governar, isto é, atendendo ao desejos dos detentores do capital.
Nesse sentido, o PT jogou, apostou no “tudo ou nada” ao bancar Lula no governo Dilma. Sendo essa sua última cartada para manter Dilma em seu mandato e salvar o governo. No entanto, Lula na Casa Civil não representou até agora nenhuma mudança de rumo econômico e político do governo Dilma.
Os atos pró e contra impeachment
A massificação dos atos contra o PT/Dilma/Lula, e na defesa de Moro e da Polícia Federal (PF), continua se dando no Centro-Sul, sobretudo, nas principais capitais, sendo os maiores atos de rua desde março de 2015 e do movimento pelas Diretas Já. A maior concentração se deu em SP, na av. Paulista, seguida pelo o RJ e Curitiba. Houve também um crescimento significativo nas principais capitais do Nordeste e em cidades médias por todo o país. Vale ressaltar que as principais redes de TV aberta, continuam contribuindo para a ampla convocação despolitizada. Também as redes sociais são usadas para massificar a convocação dos atos.
É importante constatar que a discussão do impeachment de Dilma saiu dos círculos da classe média e atingiu uma parcela significativa dos trabalhadores. Os atos do dia 13 de março foram massivos, mas é importante fazer uma caracterização correta da composição social desses atos: a classe média continua sendo o principal segmento social presente. Basta olhar nas fotos para perceber que a composição social dos atos é majoritariamente de pessoas brancas de classe média. Pesquisas mostram que o perfil se manteve elitizado, com 79% dos participantes ganhando mais de 5 salários mínimos. Um outro dado importante é que 73% dos participantes tinham entre 36 ou mais anos (a população de 12 a 25 anos representava somente 9%) o que demonstra a ausência da juventude nestas manifestações.
É importante ressaltar também que a FIESP e outros setores da burguesia tem papel fundamental de financiamento das manifestações. Bonecos, cartazes, bandeiras, faixas, toda a estrutura tem investimento pesado da oposição de direita ao governo Dilma. Os mesmos que receberam inúmeras incentivos fiscais e empréstimos à juros baixíssimos nos governos do PT, agora procuram se descolar de Dilma com amplo apoio midiático. Soma-se a isso a pressão que alguns trabalhadores recebem dos patrões para participação nos atos pro-impeachment, inclusive com ameaça de terem ponto cortado caso não compareçam.
Trata-se de uma artimanha que visa não apenas o controle político do país, mas para que a política econômica de seus interesses aprofunde as reformas estruturais, avance nas medidas pró-capital. Além de uma forma de massacrar a história da formação do PT, seu inicial caráter de alternativa aos trabalhadores, de operários no parlamento/poder, da estrela do vermelho, de uma promessa de erradicação da pobreza, etc. O afastamento de Lula da disputa de 2018 e a desmoralização do PT, uma consequência, com os mesmos objetivos. É uma cartada, uma tentativa de sufocar, matar e enterrar, inviabilizar e/ou desqualificar saídas a esquerda, a partir dos movimentos sociais e organizações independentes para a crise numa campanha de desacreditamento nos movimentos antigovernistas e anticapitalistas.
Ou seja, impedir qualquer possibilidade de algum movimento social de esquerda ou expoente deste se coloque como alternativa política. É por isso que coloca-se o PT como de esquerda e joga-se no mesmo balaio todos os demais setores antigovernistas e anticapitalistas, que lutam contra a oposição de direita e também contra o governo Dilma.
Com isso, acoberta-se a crise do capital dizendo que trata-se de uma crise do governo Dilma e se coloca como alternativa política.
Em meio a essa situação há também o apoio das polícias militares de proteção aos atos e o crescimento do militarismo como uma alternativa, mesmo que ainda de forma minoritária. Propostas de saídas para resolver esse período agudo, que tendem mais à direita, ao ultra conservadorismo, ao controle das vidas dos trabalhadores em todas as esferas, ao aumento de violência e opressão a setores já tão oprimidos da classe.
Nesta sexta-feira, dia 18, como contraposição, são chamados atos contra o impeachment, “com a presença de Lula” que são iniciativas para tentar salvar o governo Dilma. Toda a burocracia da CUT está voltada para construir este ato.
Apesar de serem chamados como atos “em favor da democracia” denunciamos que tratam-se de iniciativas para tentar salvar o governo que, mesmo que se mantido, aprofundará a agenda de ataques contra os trabalhadores.
Governo do PT não é alternativa
Com distinções mínimas, sobretudo, quando estão na oposição, e em algumas pautas, os governos de PT, PSDB, DEM, PMDB, PPS, PSB, Rede, etc. estão todos dentro do mesmo barco e têm o mesmo projeto político. A semelhança dos projetos é tão gritante que as discussões de um partido contra o outro giram em torno de qual é mais corrupto, pois não há diferenças programáticas para serem discutidas. Todos eles viabilizam a gestão do capital e sua lucratividade, se distinguindo apenas no discurso. O grande vencedor nesse processo é o capital que sai ileso a todas as suas responsabilidades pela crise.
O Espaço Socialista foi uma das primeiras organizações políticas a caracterizar e dizer que os governos do PT (desde de Lula) são burgueses por suas alianças e seus comprometimentos com os interesses do capital.
Por isso, não fazemos a defesa desse governo e não compactuamos com a oposição de direita! É evidente que existe todo o simbolismo de o PT ser de esquerda e dos trabalhadores, mas cabe aos revolucionários fazer a denúncia do PT como um governo a serviço da burguesia e que, mesmo nesse momento acirrado, não muda de posição, o que se deduz da própria declaração de lula, quando fez defesa das empreiteiras em seu discurso após o seu depoimento na PF.
O PT está provando do próprio veneno
As manifestação de junho/julho de 2013, os atos às vésperas da Copa do Mundo de 2014, bem como a manutenção do governo Dilma/PT, fez com que o este adotasse uma série de medidas, dentre elas a Lei Antiterrorismo, colocada em prática não apenas por este governo, mas por inúmeros governos estaduais, que, desde então, passaram a criminalizar os movimentos sociais.
Nos estados em que ocorreram as principais mobilizações (SP, RJ e MG), até nesse momento há presos políticos de movimentos populares e sociais, com as justificativas mais absurdas.
Este foi o principal legado da Copa do Mundo de 2014, que será usado nas Olimpíadas e em possíveis lutas contra o desemprego, sucateamento dos serviços públicos, por reajustes salariais, dentre outras que virão.
Isto, permitiu a instalação de uma conjuntura mais favorável para criminalização dos movimentos sociais, uma das moedas de troca nas negociações que permitiu que governassem até agora. Os mesmos setores que o governo criminalizou, agora o PT quer que vão às ruas em sua defesa.
A esquerda de conjunto precisam avançar em ações práticas
Apesar da situação de polarização e uma confusão e certa apatia da esquerda, é importante citar as potencialidades deste período. A ausência da classe operária nas manifestações e também da juventude que protagonizou as várias lutas pela educação pública traz tarefas enormes, mas de grande potencialidade aos revolucionários.
Temos que avançar em ações práticas de denúncia dos governos e do capital, avançando na construção de uma alternativa política em que os trabalhadores e a juventude sejam de fato protagonistas de suas lutas.
Como parte disso, coloquemos em prática Campanhas Nacionais de Denúncia do capitalismo, dos governos Dilma, do PSDB, PMDB, PSB, Rede, PPS, Solidariedade, DEM, dentre outros partidos, da mídia burguesa (Rede globo, Record, etc.) Contra as Reformas Trabalhista e da Previdência e, Criminalização dos Movimentos Sociais, contra o pagamento da dívida pública.
Ressaltamos a construção de uma Frente de Esquerda, Socialista e dos Trabalhadores, com ampla participação de lutadores, ativistas, trabalhadores de base, grupos, partidos do campo antigovernista e a realização de plenárias de base com vistas à construção de um programa em resposta à crise política e econômica, que priorize as demandas, necessidades e prioridades dos trabalhadores. Já estamos em debates com alguns setores, com a preocupação de nos organizar, de planejar políticas para esse período, e construção de ações e atos de resposta dos trabalhadores a esse momento.
Por fim, é importante construir o ato do dia 1° de abril em todos os lugares onde for possível, e construir uma alternativa socialista e revolucionária dos trabalhadores!
Por uma Frente de Esquerda, Socialista e dos Trabalhadores, com ampla participação de lutadores, ativistas, trabalhadores de base, grupos de partidos do campo antigovernista!
Prisão à todos corruptos e corruptores sem distinção partidária!
Nem Impeachment, Nem Dilma! Construir a partir das Lutas uma Saída Anticapitalista dos Trabalhadores!
Participaremos e convocaremos o dia 1º de Abril, Dia Nacional de Luta com Paralisações, Manifestações e Atos Públicos Pelos os Estados e Regiões!
Lutar não é crime! Pela Liberdade dos presos e perseguidos políticos de esquerda!