Jornal 73: Nem Dilma, nem Aécio! Lutemos nas ruas por uma nova sociedade!
17 de outubro de 2014
A intervenção nas eleições burguesas sempre foi tema polêmico entre os revolucionários. Nessas eleições não poderia ser diferente, ainda mais por que houve fragmentação e confusão inéditas.
Seguindo o que, ao nosso ver, representa o melhor da tradição socialista revolucionária, lançamos o debate público das posições existentes na Organização sobre o Balanço do primeiro turno e da tática adotada por nós e pelos demais setores da esquerda.
As divergências e debates internos não são estanques, refletem e também estão entre os ativistas no movimento. Se feitos em um clima de respeito são ricos e proveitosos. No contexto atual de crise de alternativas e reconstrução da alternativa socialista se fazem ainda mais necessários.
A intervenção nas eleições burguesas sempre foi tema polêmico entre os revolucionários. Nessas eleições não poderia ser diferente, ainda mais por que houve fragmentação e confusão inéditas.
Seguindo o que, ao nosso ver, representa o melhor da tradição socialista revolucionária, lançamos o debate público das posições existentes na Organização sobre o Balanço do primeiro turno e da tática adotada por nós e pelos demais setores da esquerda.
As divergências e debates internos não são estanques, refletem e também estão entre os ativistas no movimento. Se feitos em um clima de respeito são ricos e proveitosos. No contexto atual de crise de alternativas e reconstrução da alternativa socialista se fazem ainda mais necessários. Iniciamos a publicação (no nosso jornal e site) de artigos referentes ao Balanço das eleições, táticas e estratégias empregadas pela esquerda a fim de buscarmos as lições que sirvam de orientação para as tarefas e para os próximos períodos. Com esse texto abrimos o debate e continuaremos nas próximas edições. Chamamos os leitores a acompanharem e participarem.
NEM DILMA, NEM AÉCIO! LUTEMOS NAS RUAS POR OUTRA SOCIEDADE
Terminado o primeiro turno dessas eleições, cabe-nos reafirmar nossa posição de não apoiar nenhuma candidatura nesse segundo turno. Mesmo no calor do processo e com o risco de fazermos caracterizações precipitadas sobre os elementos políticos que estão postos, devemos nos posicionar sobre o quadro político atual e apontarmos algumas diretrizes para o próximo período.
Uma vez colocados lado a lado nesse segundo turno, o PT e o PSDB, como sabemos, representam os interesses das grandes corporações empresariais, dos latifundiários e dos banqueiros. Sabemos que são esses setores quem estão financiando cada um desses candidatos.
Afirmamos no primeiro turno que nenhuma das candidaturas postas pelo conjunto dos partidos políticos representavam os interesses da classe trabalhadora, inclusive as apresentadas pelos partidos de esquerda. Resolvemos fazer uma campanha de boicote as eleições e denunciar a “festa da democracia”. (Ver texto: “Voto nulo contra o capitalismo! Com organização de base dos trabalhadores, ação direta nas ruas e socialismo” site: espacosocialista.org).
Por um lado, temos os partidos e as organizações de esquerda. Boa parte destes partidos se utiliza da argumentação de que lançar candidaturas é uma tática para aproveitar o momento e o espaço que se abrem nas eleições para divulgar o seu programa da esquerda e denunciar o processo eleitoral como uma farsa, no qual o povo é iludido a achar que é exclusivamente através do voto que se pode mudar alguma coisa em suas vidas.
Além disso, esses partidos costumam acusar as demais organizações que decidem não apoiar algum candidato da esquerda. Acusam-nos de sermos utra-esquerdistas, anarquistas, sectários responsáveis pela não unificação da esquerda e de estarmos fazendo a leitura errada da realidade ao não apoiarmos os seus candidatos.
Por fim, dizem que ao não fazermos campanha para as suas candidaturas estamos nos isolando do conjunto da classe trabalhadora e, consequentemente, não contribuindo para o avanço da tomada de consciência dos setores explorados e despossuídos da sociedade.
Colocadas as devidas ponderações em torno de algumas exceções que em nada dialogaram com a classe trabalhadora com seus antigos jargões panfletários em alguns poucos segundos na TV e no rádio, o que vimos – a exemplo de outras campanhas – foi justamente uma inclinação cada vez mais latente desses partidos para a via reformista do capitalismo do que de fato a exposição de uma alternativa para superação dessa sociedade.
Longe de denunciar a farsa das eleições, a falência e necessidade de superação dessa sociedade o que assistimos foi a confirmação da tendência que nos fez não apoiar nenhum deles. Vimos um rebaixamento cada vez maior das pautas de interesse dos trabalhadores, a reprodução de métodos estritamente eleitoreiros e, infelizmente, partidos de esquerda implorando por votos como qualquer outro partido da ordem, se utilizando de argumentos como ética, confiança e honestidade!
Por outro lado a direita, com os grandes empresários, latifundiários e magnatas do mercado financeiro tentam através da mídia salvar a ideia de que é somente por meio das eleições que as pessoas podem resolver os problemas sociais. Q querem nos fazer acreditar que as tragédias enfrentadas por nós no transporte, na Saúde, Educação, segurança, etc. são resultados das nossas péssimas escolhas. Sendo isso verdade, basta-nos “votar consciente” que o nosso cotidiano vai mudar para melhor.
No entanto, como em toda e qualquer ideia, é necessário que exista uma conexão entre o que se diz com a realidade. Se a realidade se mostra diferente daquilo que nos acostumamos a escutar da mídia, por mais peso que esta tenha na opinião das pessoas, mais cedo ou mais tarde, o conjunto da população tende a não mais acreditar em algo que lhe foi dito e que, na prática, não se mostra verdadeiro. As manifestações de junho do ano passado são um exemplo disso.
Por mais que a mídia vendesse a ideia de que protestar era coisa de “vândalos” e que atentava contra o “direito de ir e vir” das pessoas, a realidade imposta pelo descaso do governo para com direitos básicos com a Saúde, transporte e Educação fizeram milhões de brasileiros irem às ruas, obrigando as grandes empresas de comunicação a engolirem o seu discurso mentiroso, forçando-as a recuarem e assimilarem toda a revolta popular durante quase um mês.
De dois em dois anos nós brasileiros somos obrigados a eleger os ocupantes dos cargos do poder executivo e legislativo do Estado e, mesmo com a ideia vendida de que é somente através do voto que podemos mudar o rumo da nossa sociedade, o número de eleitores descrente e desconfiado com o processo democrático só aumenta.
A exemplo das últimas eleições, o índice de votos nulos, brancos e abstenções por parte de uma gama dos eleitores foi alto. Somando-se esses votos tivemos 29% de eleitores em todo o país que não votaram em qualquer um dos candidatos e legendas. Para se ter uma ideia, só em Alagoas, se esses votos fossem colocados no ranking junto com as candidaturas teriam ficado em 3 ° lugar para o senado e governo estadual, seriam o 3° deputado estadual mais votado e ficariam em primeiro na corrida para deputado federal.
Uma pesquisa divulgada no site do Correio Braziliense abstenção-brancos-e-nulos-somam-29-dos-votos-percentual-foi-menor-em-2010.shtml aponta que parte desses eleitores não confia nos políticos, independe dos partidos que eles pertencem. Acreditam eles que os políticos são todos iguais.
Longe de afirmarmos que essa parcela significativa da sociedade está cada vez mais tomando consciência sobre o processo eleitoral, o que nos interessa aqui é pensar o papel dos revolucionários nas eleições considerando esse fator como um dos elementos conjunturais e, a partir daí, afirmarmos nossas posições e formulações para o próximo período.
Através das abstenções, votos nulos e brancos, assim como aqueles que, mesmo votando em algum candidato afirmam que todos são iguais e não acreditam em algum tipo de mudança efetiva via eleições, parte dos brasileiros é capaz de perceber que a “ideia” vendida pela grande mídia sobre as eleições não tem correspondência com a dura realidade desses últimos 25 anos de redemocratização. É preciso avançar nesse sentido.
Dentro deste quadro e em cima das considerações feitas em nossa posição no primeiro turno, resolvemos participar dessas eleições fazendo campanha pelo voto nulo, apontando a farsa da democracia dos ricos e colocando a necessidade de outra forma de sociabilidade. Não nos abstivemos do processo.
Em nossa opinião, não é porque optamos em divulgar a necessidade de outro modelo de sociedade por meio da campanha do voto nulo que somos os responsáveis pela divisão da esquerda. Muito menos deixamos de dialogar com a base – mesmo sendo uma organização numericamente pequena – por não termos apoiado algum candidato e acreditarmos que as mudanças necessárias não se fazem por dentro do Estado.
Assim, mais uma vez ratificamos o nosso voto nulo para este segundo turno. Continuaremos mostrando que a democracia não passa de uma mentira. Uma mentira muito perversa, aliás.
A democracia é uma farsa não somente por ser injusta com os partidos nos horários desproporcionais na TV e no rádio. Também não é porque o financiamento dos principais candidatos é feito por grandes empresas que desprendem milhões e milhões às campanhas publicitárias e compras de voto. Também não é uma mentira por permitir que corruptos sejam eleitos tirando a vaga de gestores honestos e de confiança. Longe disso.
A democracia é uma farsa porque não é no campo político que se tomam as decisões mais importantes do rumo da nossa sociedade. Não é no congresso, no executivo ou judiciário que se tomam as decisões sobre a economia, modelo previdenciário, reformas na Educação, investimentos na Saúde, etc. Todas as grandes decisões são tomadas no campo econômico. São as grandes corporações empresariais do mundo, as reuniões do FMI, do Banco Mundial que decidem, “o que” , “como” e “quando” os presidentes devem fazer em seus respectivos países. No Brasil não é diferente.
Aliados aos grandes empresários nacionais, essas organizações mantêm o controle sobre os governos para a manutenção dos seus interesses e privilégios, Não é por acaso que eles concentram em suas poucas mãos a maior parte da riqueza produzida pelos trabalhadores no mundo.
Eles não vão largar tão fácil assim esse “osso”. É preciso nos organizarmos para irmos para além dessa grande farsa eleitoral deles.
Dessa forma, ressaltamos mais uma vez que tanto a Dilma (PT) quanto Aécio (PSDB) representam os interesses dos grupos que fazem parte classe dominante no Brasil, cada um a seu modo particular de gerir o Estado e os interesses de manutenção e ampliação das taxas de lucratividade necessárias à reprodução do capital. Sendo que, o projeto do PT se adéqua melhor à atual conjuntura, visto que tem o controle de boa parte das direções de sindicatos importantes estrategicamente e ainda resguarda uma determinada inserção junto às direções dos movimentos sociais – em especial, do campo.
Acreditamos que independente do partido que esteja a frente do Estado brasileiro nos próximos quatro anos, as contradições expostas pelas manifestações de rua em junho do ano passado irão se aprofundar cada vez mais. Cabe-nos nos preparar para as lutas políticas do próximo período. Todo o conjunto das organizações de esquerda deve fazer um esforço a mais para unificar as suas lutas, deixando de lado os seus interesses particulares em detrimento dos interesses da classe trabalhadora. Nas lutas devemos fazer a unidade necessária que a atual conjuntura nos impõe.