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Jornal 47: Dezembro de 2011


21 de dezembro de 2011

Leia as matérias online:

 

 

AS CAMPANHAS SALARIAIS DO 2º SEMESTRE E O OBSTÁCULO DAS DIREÇÕES GOVERNISTAS

            O discurso de que tudo vai bem no país

            Está em curso um operativo político-ideológico que visa convencer o conjunto da população de que o país está no rumo certo para o “crescimento”, e de que a classe trabalhadora deve continuar “fazendo a sua parte”, o que na verdade significa que os trabalhadores devem continuar suportando o aumento da exploração em benefício da burguesia. Esse convencimento permite ao governo Dilma/PT/PMDB seguir aplicando o projeto de interesse da burguesia, mantendo a classe trabalhadora sob controle. Parte essencial desse operativo politico-ideológico são os próprios organismos de luta da classe trabalhadora.

            Os principais sindicatos e centrais do país, que representam as principais categorias, estão sob controle de um grupo politico, a Articulação, grupo hegemônico do PT e da CUT, que juntamente com outras correntes (CTB, Força Sindical, UGT, etc.), tem como objetivo impedir o desenvolvimento de lutas que questionem a aplicação do projeto do governo. No segundo semestre de todo ano acontecem as datas-bases de importantes categorias, tais como metalúrgicos, petroleiros, químicos, bancários, funcionários dos correios, que atuam em setores-chaves da economia. As campanhas salariais dessas categorias, se fossem bem organizadas, teriam o poder de paralisar a economia e colocar em xeque a aplicação do projeto do governo, forçando a patronal a fazer concessões. Justamente por isso, as direções sindicais cutistas/governistas trabalharam de todas as formas para desorganizar as campanhas e impedir o seu desenvolvimento.

            Os métodos para enfraquecer as greves

            O enfraquecimento das campanhas salariais começa pela separação entre as diversas categorias, ou seja, por um calendário em que as datas para deflagração das greves não coincidem. Greves conjuntas poderiam resultar em piquetes conjuntos, assembleias conjuntas, atos e passeatas unificadas, ações de grande impacto junto à sociedade, em que as reivindicações dos grevistas se contrapusessem ao discurso de que “o país está no caminho certo”. Para evitar isso, as datas de assembleias e greves são escalonadas pela burocracia, para que não coincidam. Apenas bancários e correios estiveram em greve simultaneamente por alguns dias.

            O segundo dispositivo consiste em, no interior de cada categoria, despolitizar a campanha, tirando o foco das questões políticas de fundo. Em correios, por exemplo, a greve foi marcada para meados de setembro, depois da votação da MP 532 no início do mês, que criara o marco legal para a transformação da Empresa de Correios e Telégrafos em SA e para a privatização. Com isso, impediu-se que a greve tivesse um conteúdo de luta contra a privatização.

            O terceiro passo consiste em rebaixar as reivindicações. Quem começa pedindo pouco acaba fechando por menos ainda. Assim, em bancários, por exemplo, as perdas salariais acumuladas desde o plano real em 1994 estão em 89% no Banco do Brasil e 98% na Caixa Econômica. Mas a Articulação começou a campanha reivindicando apenas 12,5% e fechou acordo com míseros 9%! E ainda sai propagandeando “ganho real” acima da inflação (o índice oficial de inflação maquiado pelos institutos governistas foi de 7,5%).

            O quarto componente do método da burocracia se refere à própria condução da campanha, à falta de espaços democráticos. O comando de negociação é composto apenas por dirigentes sindicais, afastados dos locais de trabalho, fechados com a linha da Articulação, sem participação de representantes de base.

            A ditadura do microfone

            Nas assembleias dirigidas pela Articulação e seus satélites vigora a ditadura do microfone, em que apenas a diretoria fala e os trabalhadores comparecem apenas para votar a favor ou contra. Não são abertas inscrições, não se permite fazer propostas, não se colocam as propostas em votação. E o cúmulo do desrespeito acontece quando as propostas apresentadas pelas oposições (depois de muita luta pelo direito básico de falar) ganham uma votação, mas não são encaminhadas pela diretoria.

            Na greve dos bancários, em São Paulo, na assembleia de 05 de outubro, foram aprovadas várias propostas organizativas defendidas pelas oposições (assembleias unificadas, no horário das 16:00, para barrar os fura-greves), mas a mesa não aceitou o resultado e encerrou a assembleia, num brutal atentado contra a democracia operária! Vídeos e textos sobre essa assembleia se encontram disponíveis na internet (http://frentedeoposicaobancaria.org/noticias/a-assembleia-de-510-em-sp-e-a-luta-por-democracia/). Novas assembleias só aconteceram 12 dias depois, no dia 17, para esvaziar o processo de auto-organização dos trabalhadores que estava ocorrendo nas plenárias espontâneas após as assembleias. Além disso, as assembleias do dia 17 foram marcadas desrespeitando ostensivamente os encaminhamentos organizativos aprovados no dia 5. Em assembleias separadas de BB, CEF e privados, depois das 18:00hs, com a presença massiva de gerentes e fura-greves, a Articulação conseguiu aprovar o acordo rebaixado e encerrar a campanha, pois jamais conseguiria aprovar esse acordo com o voto dos grevistas.

            O cerco da mídia e do Estado

            Outro elemento importante do operativo de combate às greves é a participação da mídia. Os meios de comunicação em geral jogam a população contra os grevistas e atuam em sintonia com as direções governistas para sabotar o movimento. Na greve dos Correios as rádios e os jornais da manhã do dia 4 de outubro davam como encerrada a greve, pois “os trabalhadores” haviam aceito o acordo negociado com a mediação do TST no dia anterior. Acontece que os dirigentes sindicais não falavam em nome dos trabalhadores, pois nas assembleias do dia 4 os ecetistas recusaram a proposta e prolongaram a greve, que continuou até a semana seguinte.

            Quando todos esses elementos falham, a patronal, o governo e a burocracia sindical podem contar com a repressão pura e simples. Para encerrar a greve dos Correios, o TST determinou os termos do acordo e impôs o desconto e a compensação de parte dos dias parados. Os ministros do TST ainda passaram um “pito” nos dirigentes sindicais, que não haviam tido a competência de fazer seu trabalho, ou seja, encerrar a greve na semana anterior.

            As limitações das oposições e a alternativa

            Contra todas essas armas da burocracia da Articulação e seus satélites, a postura das correntes que se reivindicam como oposição, como Conlutas e Intersindical, se mostrou bastante insuficiente. A começar pela questão ideológica, o eixo escolhido pela Conlutas, “O Brasil cresceu, o trabalhador quer o seu”, não serviu para armar os trabalhadores. Essa formulação tem vários problemas: reduz ao economicismo, como se o objetivo das campanhas fosse apenas aumento de salario; vincula a remuneração do trabalhador ao desempenho das empresas, pois condiciona a parte do trabalhador ao crescimento do lucro, legitimando assim o aumento da exploração; endossa o discurso do governo Dilma de que o país está no rumo do crescimento, sem questionar a custa de quê esse crescimento esta sendo obtido; não arma para os períodos de crise, em que não vai haver crescimento. Além disso, os militantes da Conlutas aceitam acordos com as direções cutistas e seus satélites que lhes permitem usar o microfone nas assembleias, mas desde que não usem para questionar todo o caráter burocrático e cupulista das assembleias e da campanha.

            Para que os trabalhadores possam ter o controle de suas lutas nas campanhas futuras, não há outro caminho a não ser desenvolver um forte trabalho de base, com organização a partir dos locais de trabalho para as lutas cotidianas. Somente assim os trabalhadores podem chegar com força ao momento das campanhas salariais e enfrentar o controle das burocracias governistas. É preciso ainda desenvolver a consciência de que as lutas devem ser travadas não por categorias isoladas, mas pelo conjunto da classe, e não apenas contra uma ou outra empresa ou setor da economia ou do Estado, mas contra todo o sistema capitalista.

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 Combater o capitalismo é combater a corrupção!

Hoje novamente o assunto “corrupção” ocupa os palcos da mídia burguesa, e como não poderia ser diferente, traz a discussão de forma rasa, que mais contribui com a continuidade da própria corrupção – da qual inclusive a indústria midiática é agente ativa – e semeia a confusão naqueles que realmente penam com suas consequências: os trabalhadores.

Marchas por todo o país têm sido convocadas sumariamente pela internet trazendo como consigna o combate à corrupção e a luta pela ética na política. Marchas organizadas com altos investimentos em infra-estrutura (caminhões de som, palcos, sistema de iluminação, etc.) que deixam dúvidas sob seu caráter espontâneo.

Na maioria desses atos e marchas o caráter apartidário traz ainda mais um agravante: o impedimento a participação de partidos e organizações, sobretudo de esquerda.

Como se não bastasse, as discussões no site que divulga esses atos e marchas são marcadas por uma visão estreita da corrupção, impregnada de moralismos e chamados à ética que colocam a questão da corrupção como um problema cultural e de má índole. Apresentam como centro de suas indignações os políticos de forma genérica e buscam o enfrentamento por meio do enrijecimento das leis e da fiscalização.

Esse discurso tem seduzido parte da opinião pública e mesmo alguns setores da esquerda, mas ao não apontar a relação intrínseca entre capitalismo e corrupção, acaba por reforçar a ideia de que o sistema é bom e que precisa apenas de correções.

Além disso, movimentos como esse tendem, num quadro histórico de crise econômica como o atual, a facilmente servir de aporte para a reorganização da extrema direita e podem fomentar políticas de controle social como as da cidade de São Paulo, onde o Prefeito Gilberto Kassab, usando o discurso de combate à corrupção, promoveu uma verdadeira “coronelização” das subprefeituras (atualmente todos os subprefeitos são coronéis da Polícia Militar).

A corrupção enquanto fenômeno necessário ao capitalismo

A corrupção não é um fenômeno exclusivo do período correspondente à história capitalista, já foi mesmo identificada em momentos da história social muito antigos. Porém é no capitalismo que este fenômeno, antes pontual, torna-se um instrumento fundamental para o objetivo de reprodução ampliada do sistema capitalista.

Se atualmente a corrupção vem se ampliando como instrumento de dominação, devemos buscar sua explicação nas próprias dificuldades para a reprodução ampliada do capital, marcada pela queda tendencial da taxa de lucro, em que se estreitam os laços entre Estado e capital de tal forma que as origens do primeiro remetem às necessidades do último.

Sendo o Estado a expressão da divisão da sociedade em classes sociais opostas e inconciliáveis e o aparato legal de representação dos interesses da classe dominante, a corrupção na estrutura estatal surge como um instrumento necessário ao desenvolvimento do capitalismo.

Assim, o Estado apresenta-se como representante do “bem comum”, porém, suas origens históricas remetem aos interesses das classes opressoras que se utilizam dele não apenas como instrumento de controle social, mas também como instrumento necessário à acumulação, sendo a corrupção um fenômeno inerente às relações de disputa entre os próprios setores capitalistas (que disputam ininterruptamente mercados entre si) e um instrumento necessário para o desvio de recursos públicos a fim de atender interesses de setores da classe dominante.

Não podemos esquecer que a atividade corrupta no que se refere aos políticos é impulsionada por interesses ligados à produção. Grandes empresas financiam as campanhas políticas de seus representantes que por sua vez, buscam construir políticas que favoreçam seus mecenas. Assim a compra de votos, o lobby, o tráfico de influências e outros instrumentos congêneres encontram seu sentido de existência.

Por trás dos corruptos surgem os interesses de grandes empresas que buscam benefícios contratuais, favorecimento em licitações, financiamentos e outras formas de privilégios através da utilização da máquina do Estado. Além disso, renúncia fiscal, suborno, superfaturamentos e outros instrumentos são corriqueiros nas disputas entre as empresas no mercado financeiro.

Combater a corrupção, combatendo o capitalismo

Por isso devemos entender a corrupção não como a base dos problemas sociais, mas sim enquanto um fenômeno sintomático, expressão de uma relação social em que os interesses sociais dão espaço para os interesses do capital.

É legitimo e substancial combater a corrupção, porém é imprescindível que esta se dê por meio do combate ao capitalismo e a seu instrumento superior, o Estado Burguês. A renúncia a esta luta acaba por reforçar o sistema capitalista, sistema este que é a base de sustentação das práticas corruptas, da violência, do crime organizado, etc.

Aos trabalhadores cabe a tarefa de se organizar nessa luta e desprender-se dos discursos “oficiais” que buscam confundir as massas de trabalhadores. Discursos esses muito bem representados pelos chamados às marchas da corrupção, que não questionam o sistema nem apontam para o futuro.

Devemos combater toda e qualquer política autoritária e de controle social, tais quais as Unidades Pacificadoras (UPPs) do Rio de Janeiro, as políticas de internação compulsória de moradores de rua, a “coronelização” e militarização do Estado, a vigilância policial nas universidades, etc.

À esquerda cabe retomar a luta contra o Estado Burguês, não deixando-se seduzir pelos discursos “moralizantes” que buscam esconder a natureza incorrigível do capital.

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A Copa do Mundo e o Estado de Exceção

                                                            Heleno Rouge

Em 2014, o Brasil sediará os jogos da Copa do Mundo, competição futebolística notória, a qual dispensa maiores apresentações. Em que pese o oportunista discurso de apelo popular, no sentido de ser uma festa dos povos e, especial, do povo brasileiro, a Copa do Mundo é um acontecimento de interesse do empresariado, o que implica, necessariamente, em maior exploração das classes trabalhadoras.

É curioso o recorrente discurso dos que defendem as iniciativas do governo federal no sentido de que têm propiciado um capitalismo “avançado” e “inteligente”, com geração de empregos e aquecimento da economia nacional. Sim, curioso, pois qual a vitória popular diante de um bastante ativo sistema que explora a força de trabalho extraindo altos índices de mais-valia?

Nesse artigo procuramos analisar a questão da Copa do Mundo num outro prisma, a partir do chamado Estado de Exceção Permanente, ainda que tal questão também seja intimamente conectada à exploração capitalista.

O que se pode entender por Estado de Exceção? Do ponto de vista da teoria geral do constitucionalismo, disciplina da ciência jurídica, trata-se da situação político-jurídica em que, no afã de se preservar a ordem social (em última instância, leia-se, preservação das relações de produção do tipo capitalista), o Estado e o direito prevêem a exceção de suas próprias regras em momentos de instabilidade político-institucional. É o que se verifica, por exemplo, nos chamados estado de sítio e estado de defesa, nos quais algumas garantias constitucionais, como liberdade de locomoção, reunião, expressão,  são atenuadas. Em tese, é um momento transitório, excepcional, de flexibilização das regras constitucionais, com necessidade de retorno à normalidade jurídica o quanto antes.

E quando a normalidade sempre é excepcionada? Explicamo-nos: no chamado Estado de exceção permanente, a anormalidade das regras jurídicas e institucionais é uma constante. Não se tratam de situações dramáticas, desastres ou guerras, nas quais se clama pela decretação do Estado de Sítio ou de Defesa. Não! Estamos num momento de normalidade institucional e o apelo econômico do patronato é que gera a exceção.

Agora, a exceção se torna a regra. O progresso econômico (no capitalismo, progresso econômico significa arrocho das condições de vida dos trabalhadores) exige que se ultrapassem certas regras jurídicas em função do bom andamento dos negócios.

Percebam que a legalidade, sempre tão louvada pela ideologia burguesa, é a primeira a ser desconsiderada.

Nós, comunistas, somos acusados de inimigos da lei (o que para nós é um elogio, na verdade, não?), porém a burguesia mesma rasga sua legalidade quando melhor lhe convém. A hipocrisia é escancarada!

Não nos cabe aqui analisar toda a chamada Lei da Copa, mas é necessário observarmos pontualmente três aspectos para demonstrarmos a flexibilidade das regras:

Primeiro, pela lei, os pedidos da FIFA serão tratados com prioridade pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e em curto prazo, sem contar a gratuidade do registro das marcas, obrigatório para empresas nacionais. Segundo, a FIFA terá exclusividade na geração de imagens, o que implica em necessário pagamento pelo direito de transmissão. Terceiro e último, os preços dos ingressos serão estabelecidos pela própria FIFA. Tais aspectos demonstram que os princípios constitucionais da isonomia, livre iniciativa e concorrência foram abrandados.

Não estamos numa situação formal de guerra ou de catástrofe, entretanto, nossa normalidade jurídico-institucional é colocada em cheque. E as exceções não se interrompem aí. A FIFA obteve total isenção tributária dos impostos federais referentes a bens e serviços relacionadas à Copa, inclusive a isenção da contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE), decorrente da importação e comércio de combustíveis.

Ainda, a lei de licitação e contratos administrativos será excepcionada pelo chamado regime diferenciado de contratações (RCD).

A crítica apresentada por nós é no sentido de que, mesmo sob os “rigores” da lei de licitações já existem fraudes de toda sorte. Imaginemos diante de sua flexibilização… Estão definitivamente abertas as portas para os superfaturamentos e desvios de recursos públicos!

Ainda, a fim de atender a gigantesca demanda de transportes já foi anunciada a privatização da gestão de, pelo menos, três importantes aeroportos: Guarulhos, Viracopos (Campinas) e de Brasília. Ou seja, a urgência nos preparativos permite o avanço do neoliberalismo, da lógica do lucro, pois é num setor estratégico de tamanha sensibilidade como a aviação.

Temos ainda uma nova proposta de reforma do Código Florestal em debate no Legislativo Federal que segue no sentido de se autorizar a derrubada da mata nativa em áreas de preservação permanente (APPs) para a construção de obras relacionadas à Copa.  As APPs são toda extensão de terra e vegetação disposta às margens dos rios e também nas encostas dos morros. O objetivo principal é a preservação ambiental assegurando-se a qualidade dos solos e da água. O equilíbrio ambiental e a sustentabilidade das próximas gerações são afastadas em função da corrida por todos os preparativos.

Assim sendo, o discurso da legalidade enquanto canal do bem comum e dos interesses da legalidade mais uma vez revela seu caráter classista. A legalidade busca camuflar a luta de classes e é tão nítida a sua artificialidade que, sem a menor cerimônia, é afastada convenientemente quando os interesses do capital carecem de novas regras para seu bom desenvolvimento.

Dessa forma, a Copa do Mundo que poderia representar apenas o encontro saudável do futebol-arte transforma-se em um espetáculo cuja regra é a lucratividade do empresariado de toda espécie e com o respaldo do Estado brasileiro em exceção permanente.

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O PLEBISCITO PELOS 10% DO PIB JÁPARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA E ALGUNS APONTAMENTOS NECESSÁRIOS

Núcleo de Professores

“É por isso que hoje o sentido da mudança educacional radical não pode ser se não o rasgar da camisa-de-força da lógica incorrigível do sistema: perseguir de modo planejado e consistente um estratégia de rompimento do controle exercido pelo capital, com todos os meios disponíveis, bem como com todos os meios ainda a ser inventados, e que tenha o mesmo espírito”. (Mészáros)

Primeiramente deixamos claro que estamos participando e organizando o Plebiscito. Mas, não nos furtaremos de apresentar a nossa reflexão e o nosso ponto de vista.

         É sabido o quanto é necessário investir-se nos serviços sociais (Saúde, Habitação, Educação, Transporte coletivo, Lazer) essenciais à vida dos trabalhadores e seus filhos. No caso da Educação Pública isso possibilitaria uma maior valorização do professor em termos de salário e plano de carreira descente, uma infra-estrutura melhor nas escolas e, consequentemente, um digno processo de ensino-aprendizagem e ampliação do ensino público superior.

         No entanto, é necessário cuidarmos para que não sejamos iludidos por uma ou outra posição que não se preocupa em fazer do Plebiscito, um momento para discutirmos os problemas da ordem burguesa, pois visa apenas às eleições municipais do ano próximo ano. Tal posição repercute diretamente na consciência dos trabalhadores ao não vislumbrar saídas que não sejam as da sociedade capitalista.

Nesse sentido, alguns questionamentos se fazem necessários: Qual é o percentual necessário do PIB para a Educação Pública? 10% do PIB são suficientes para termos uma Educação Pública de Qualidade? De que modo serão investidos? Quem irá administrar esses recursos? A serviço de qual modelo de Educação estará disponível esse recurso? É possível uma saída para os problemas, do ponto de vista dos trabalhadores?

A IMPORTÂNCIA DO PLEBISCITO

Temos em vista que vivemos, nos dias de hoje em todo o mundo, a nacionalização dos danos causados pela crise na estrutura econômica na qual se assenta a sociedade capitalista.

Entendemos que as medidas adotadas pelos governos dos mais variados países visam salvar os lucros das empresas e bancos em detrimento do fornecimento de serviços públicos de qualidade para os trabalhadores. No Brasil não é diferente. Nesse sentido, o Plebiscito merece a mais devida importância, pois esperar “uma solução feliz para esses problemas vinda das operações de resgate do Estado capitalista seria uma grande ilusão. (Mészáros. A Estrutural do Capital, p.25).

 Pensamos que taticamente, o Plebiscito serve também para alertar e esclarecer os trabalhadores em relação ao sucateamento que compromete e deverá comprometer ainda mais os serviços públicos dos quais usufruímos. Assim, abre possibilidades, além da discussão colocada pelo Plebiscito, de discutirmos os problemas da Saúde, do Transporte coletivo, da Habitação e, é claro, da Educação Pública em conjunto com os funcionários desses serviços. Assim sendo, possibilita quebrar o corporativismo existente atualmente no Brasil.

         Dessa forma, colabora para que o funcionalismo público se arma e se organize para melhor enfrentar os desafios que nos atingem e ainda atingirão. A forma como as greves do funcionalismo público foram tratadas em 2011 denotam o quanto os governos do PT, PSDB, PMDB, DEM etc. endureceram com os trabalhadores e com todo o auxílio máximo do judiciário.

O Plebiscito é um momento rico para evidenciarmos os problemas que nos atingem cotidianamente e que resultam de um modelo de sociedade que privilegia apenas os interesses de alguns poucos. Uma sociedade de mercado em crise que não visa o interesse geral dos trabalhadores, capitalista e que tem a violência como combustível, portanto, impossível de humanizar-se de modo que atenda as necessidades daqueles que labutam.

 Com isso, procuramos a partir dos problemas imediatos, discutir uma saída para demais problemas, de acordo com os nossos interesses, ou seja, a construção de uma outra sociedade. Dessa forma, não podemos cair no conto de fadas de eleger alguém a partir de eleições municipais, estaduais e federal aguardando que resolvam os nossos problemas. Precisamos nos juntar em luta pelos nossos interesses.

MAIS DINHEIRO PARA QUE TIPO DE EDUCAÇÃO?

Uma Educação que priorize a infra-estrutura física das escolas? Uma Educação que objetiva os padrões de eficiência determinados pela ordem dominante? Uma Educação voltada para atuar nas atividades econômicas informais? Uma Educação Pública emancipatória? O que é necessário para os trabalhadores?

         Defendemos uma educação pública de qualidade para os trabalhadores e seus filhos, combinada com a luta pela transformação da sociedade. Uma Educação que assuma um caráter emancipatório, que vislumbre uma sociedade sem classes, fraternal em que a escola, em todos os níveis, não seja precária, em que o ensino público defenda exclusivamente os interesses dos trabalhadores!

         A ordem reinante não está sob nosso controle. Temos que ter isso bem claro. Não estamos sob um governo federal de frente popular. A nosso ver, é um governo frente burguesa, pois está em aliança com partidos que defendem a ordem vigente (PMDB, PTB, PP do Maluf e PPS).

         Os governos do PT e suas coligações com a direita conservadora e do PSDB. PV, DEM, PSD, entre outros não investem na Educação Pública visando reservar o dinheiro para planos e obras de interesses dos empresários e empreiteiros e não para a Educação a serviço da população trabalhadora.

 Daí a necessidade de lutarmos para mudarmos não apenas a Educação, mas a própria sociedade, questionando e buscando quebrar e superar a lógica capitalista, como forma inclusive de conseguir uma Educação digna de fato para os trabalhadores e seus filhos.

QUEM IRÁ ADMINISTRAR O DINHEIRO? A RAPOSA TOMARÁ CONTA DO GALINHEIRO?

Os governos municipais, estaduais e federal estão envolvidos o tempo todo em corrupção e fraudes, pois são formas utilizadas para manter os lucros daqueles que sempre são favorecidos pelas ações governamentais. Por conta disso, a participação dos pais e alunos na APM, no Conselho de Escola e Comitês de Trabalhadores assume uma importância muito grande. Sabemos das limitações desses órgãos colegiados no interior das redes de ensino público, mas deve ser o ponto de partida para um envolvimento de todos nas questões diárias das escolas públicas.

 Sem isso, o caminho fica livre para os desvios fraudulentos que sustentam a sociedade capitalista.

UMA ALIANÇA NECESSÁRIA ENTRE OS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO PÚBLICA E OS DEMAIS TRABALHADORES

Os problemas da Educação pública no Brasil não podem ser mais tratados apenas pelos trabalhadores da Educação. A solução para esses problemas deve ser uma luta dos funcionários da Educação que extrapole os muros das escolas e dos limites da própria rede de ensino para envolver os trabalhadores de um modo geral (pois somos nós que matriculamos nossos filhos na escola pública)  e dos mais variados ramos da economia a fim de participarem das discussões sobre a qualidade de ensino e da luta dos professores. Os sindicatos de um modo geral, e as centrais sindicais, sobretudo, de esquerda devem discutir no âmbito de suas categorias os problemas da Educação tendo no horizonte a transformação social.

 Enfim, devemos lutar por um processo educativo que em sua plenitude tenha como princípio uma nova forma de sociabilidade que transcenda a sociedade de classes, possibilitando que os trabalhadores e seus filhos possam fazer uso da riqueza cultural e material produzida pelo processo civilizatório.

 Por uma Educação Pública que seja a alavanca essencial na luta pela emancipação humana contra a barbárie capitalista.

 Pelo desenvolvimento contínuo da consciência socialista a campanha pelos 10% do PIB Já para a Educação Pública deverá alcançar todas as categorias de trabalhadores!

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