Nestes tempos de Copa do Mundo, as pessoas ficam divididas entre as críticas e os elogios ao evento, entre aquela vontade de torcer e aquela de gritar contra a corrupção que apareceu por conta da Copa. Uma coisa que ficou bem clara, porém, é que a copa do mundo não é minha, nem sua, nem nossa, nem de nenhum brasileiro, mas da tal da FIFA. E afinal o que é essa FIFA?

A FIFA é uma associação/federação internacional de futebol, que foi criada em 1904 para organizar o futebol de areia, futsal e futebol associado e que está envolvida em vários escândalos de corrupção. Tanto que em 2006 um jornalista inglês chamado Andrew Jennings lançou um livro sobre a corrupção la dentro, acusando principalmente o presidente da FIFA, Joseph Blatter de receber propinas e de estar envolvido em fraudes eleitorais que o levaram a se manter continuamente como presidente da federação. O vice presidente foi até julgado em um processo e teve que deixar o cargo e devolver o dinheiro que recebeu por propina na Suíça, que é o país onde a organização está sediada.

Fica claro que o futebol está nas mãos de uma empresa privada que atende aos seus interesses internos e que está envolvida em denúncias de propina. Assim, mesmo quem torce apaixonadamente não fica livre de uma leve desconfiança: será que algum resultado de jogo no mundo foi comprado? será que algum país no mundo foi escolhido para sediar a copa por esses interesses das empresas? Chamam também a atenção os privilégios que a FIFA é capaz de conseguir junto aos governos dos locais que sediam a copa.

Na Africa do Sul, a FIFA conseguiu a criação de Tribunais próprios para julgar qualquer um que fosse contra os interesses da copa do mundo, como manifestantes, camelôs ilegais etc. Fugindo às regras comuns dos tribunais, o julgamento era realizado em curto prazo e a pena era aplicada imediatamente. No caso da Copa, esquadrões especiais de investigação reuniram provas que favoreciam as acusações em prazo recorde, baseados em novas regras que a Fifa mandou acrescentar às leis do país.

No Brasil não teremos Tribunais nesses moldes, mas lembra da Lei de 2003 que abolia a bebida alcoólica nos Estádios? Pode esquecer! Afinal uma das patrocinadoras da FIFA é a cerveja Budweiser, por isso a FIFA exigiu que a lei fosse revogada para que a cerveja fosse vendida nos Estádios, mantendo seu compromisso com a empresa e desrespeitando a população. Acima dos interesses do Estado brasileiro e de seu povo, está o interesse comercial de uma empresa ligada à FIFA. E o governo aprova!
Outro absurdo que o governo permite e que tem causado revolta é a FIFA e todas as empresas envolvidas terem sido isentas de impostos. Ou seja, mais uma vez somos obrigados a gastar nossos salários com impostos e taxas sendo que quando é hora dos empresários pagarem, o governo simplesmente os isenta!

Na preparação para a Copa do Mundo no Brasil, o que chamou bastante atenção foram os problemas na construção dos estádios, e o fato de a FIFA determinar a construção de estádios novos, do zero, como por exemplo o da Arena Corinthians, enquanto existiam cidades onde já havia estádios quase prontos que poderiam receber os jogos, ou em cidades nas quais não existe tradição de massas no futebol, como Cuiabá e Manaus. Foi evidente que a manobra da FIFA, com a colaboração das elites locais, visava beneficiar construtoras e investidores, garantindo seus grandes lucros.

No caso da Africa do Sul, os estádios construídos que fizeram crescer o futebol e, por consequência, não tiveram público para lotá-los após a Copa do Mundo, dão tanto prejuízos para os governos o manterem, que algumas pensam até na demolição desses estádios, a exemplo da Cidade do Cabo.

Além de tudo isso, a FIFA ainda agride a soberania do país, uma vez que faz o governo adotar diversas medidas que violam direitos protegidos por uma constituição democrática, tais como, o fato da Força Nacional de Segurança, a Polícia Federal e o Exército irem para as ruas durante a Copa do Mundo, sob a justificativa de evitar manifestações que possam supostamente “descumprir” das leis ou o fato de as sedes só poderem ter festas e eventos na rua se as organizações conseguirem aval da prefeitura da cidade, porque cabe à FIFA determinar quais eventos devem acontecer em paralelo ao seu.

Por tudo isso não devemos depositar nossas energias e desejos nos duelos futebolísticos promovidos e alimentados pela FIFA, pois não é pensando em nós, pessoas comuns, que tem chefe mala, num emprego precário, que pega transporte caro e lotado todos os dias, e não tem grana pra entrar nos estádios. O evento da FIFA é para aqueles que não pagam impostos, não paga impresso para ver o jogo, é dono da empresa que investe em propaganda e das empresas que constroem os estádios, é para eles poderem continuar lucrando em cima do suor, do sangue e da vida, nossas e de nossos filhos.

Este texto faz parte do Boletim Fora do Ar – Edição 4