Brasil, entre a copa e a luta de classes
25 de junho de 2014
O Brasil, em 2014, passa por um processo de lutas, que se seguiu após as Jornadas de Junho, como há muitos anos não víamos.
A importante greve dos garis do Rio de Janeiro tinha aberto uma conjuntura que se estendeu até o início da Copa, indicando o que estava por vir: mobilizações de diversas categorias se espalharam pelo país: Greves dos Rodoviários; Metroviários; Professores Federais e municipais; Técnicos e funcionários de universidades dando à dinâmica das lutas até poucos dias antes um acontecimento (inter)nacional, a Copa.
Essa é parte da resposta dada pela classe trabalhadora aos efeitos da crise econômica, um tanto abafada pela mídia com o evento da Copa do Mundo, mas que é bastante sentida com o crescente redução do poder de compra dos salários, com o também crescente índice inflacionário (especialmente com o aumento de preço dos alimentos e aluguéis) e para os mais de 7 milhões de desempregados no país, além dos ameaçados de desemprego nas montadoras com processos de férias coletivas e Lay-off.
Essa conjuntura (momento) esteve marcada por mobilizações que ao mesmo tempo contaram com certo nível de radicalização – quando, em alguns casos, os trabalhadores se auto-organizaram de forma independente passando por cima das direções sindicais, retomaram a prática dos comandos de greve e desafiaram o desmando do Poder Judiciário (que busca impor 70% de funcionamento das atividades durante a greve e multas exorbitantes aos sindicatos) – apesar de não terem conseguido conquistar as necessárias reivindicações.
Nesses últimos dias, no entanto, houve um grande endurecimento por parte dos governos, patronal e Judiciário e algumas derrotas com a demissão e a criminalização de trabalhadores, como no caso de Rodoviários e, principalmente, em Metroviários de São Paulo, em que, além das 42 demissões, o sindicato sofreu multa de mais de 500 mil reais e teve suas contas bloqueadas.
Vemos também o endurecimento do governo Dilma com as greves dos Técnicos das Universidades Federais (já há 100 dias em greve) e dos professores dos Institutos Técnicos Federais. O governo e a Justiça burguesa judicializaram essas greves, ameaçam os sindicatos com multas e os trabalhadores com o corte do ponto.
O acordo do MTST com o governo Dilma para a inclusão da ocupação Copa do Povo (próxima ao Itaquerão) no plano diretor da cidade de São Paulo, se por um lado representa uma conquista parcial, por outro lado, não representa a inclusão de outras ocupações, como a Nova Palestina, maior da América Latina, e teve o efeito de não permitir a unificação e o fortalecimento das mobilizações de rua CONTRA A COPA, justamente no momento em que teriam mais visibilidade internacional.
Por outro lado, observar o movimento do governo Dilma para sustentar a burguesia – com a recomposição sistemática de sua margem de lucro como o novo “pacote de bondades” ao empresariado, isenção de tributos e incentivos ao capital financeiro, com gastos públicos utilizados para o favorecimento de empreiteiras, com o pagamento da dívida pública e com financiamento da Copa do Mundo – indica o quanto a unidade das lutas dos trabalhadores se faz urgente para inverter esse processo desigual na correlação de forças entre os que produzem a riqueza e os que se apropriam da riqueza produzida.
A necessidade do governo e da burguesia em manter o país sob controle do capital e a tentativa de impor ampliado Estado de Exceção (em que se une executivo, legislativo e judiciário para impor a suspensão, na prática, do direito de greve; da liberdade de manifestação; busca e apreensão em domicílio; prisão para averiguação dos que estão em luta; intensificação da utilização do aparato repressivo, etc.) contra trabalhadores e manifestantes, nesse momento de Copa do Mundo, indicam o quanto o regime democrático burguês é utilizado para tentar derrotar qualquer luta da classe trabalhadora.
Além disso, o governo destina mais de 42% do orçamento para pagar uma dívida pública que já foi paga várias vezes e não pára de aumentar, como mais uma forma de destinar o dinheiro público para o empresariado. Ou desvia fortunas para FIFA, com a Copa do Mundo, que sequer está pagando impostos, mas, impõe leis, festas e destruição cultural e não deixa nenhum retorno para o país, que seguirá com suas imensas carências.
No entanto, apesar de um aumento do apego à Copa, a partir de seu início, não temos um clima de festa (muitos ficam apenas esperando o dia de sair mais cedo e se livrar do trabalho) e otimismo com a realidade do país. Contamos com instituições desacreditadas, aprovação de governos em baixo, aumento da intenção de votos nulo nas próximas eleições, radicalização em greves, intensificação da resistência em atos e manifestações, aumento das ocupações, etc.
Assim, apesar de não estarmos na mesma conjuntura que se abriu com a greve dos Garis do Rio e se estendeu até o início da Copa, seguem havendo Atos em várias capitais e lutas importantes como a greve dos professores do Rio de Janeiro, as manifestações de rua do MPL, principalmente em São Paulo, e mesmo do MTST por moradia. Continua e continuará havendo lutas. A indignação popular, contida durante anos, e emergindo a partir de junho tem se expressado das mais diversas formas.
Não é à toa que a necessidade de criar o clima de medo, perseguição nas redes sociais e terrorismo policial nas ruas e periferias das grandes capitais têm sido sistemáticas. Bem como, a necessidade dos governistas de tentar barrar a luta direta por moradia popular com promessas aos movimentos.
Tudo isso, ao mesmo tempo em que a extrema-direita nacionalista e a mídia burguesa buscam ocupar espaços com discursos voltados para a juventude.
Todo esse processo vivenciado no país aponta para a necessidade de fortalecermos e construirmos o enfrentamento do conjunto dos trabalhadores contra o projeto do governo e da burguesia.
As tarefas centrais desse momento são: Em primeiro lugar, rompermos o cerco da mídia, com divulgação e apoio por todos os meios às lutas e manifestações existentes, desde aquelas nos locais de trabalho, as lutas por moradia, as manifestações contra a Copa, as greves em curso e outras que venham a existir. Unificar as manifestações, calendários de luta e divulgação de cartas abertas, etc.
Segundo, precisamos realizar no movimento a Campanha Pela Readmissão imediata dos Metroviários e Rodoviários demitidos a partir das greves. Formar Comitê de solidariedade e incluir nas pautas de todos os movimentos, realizarmos atos, etc., pois essas punições são formas de dificultar novas lutas que enfrentem os governos e tribunais burgueses.
Terceiro, manter e fortalecer uma Campanha contra a repressão, pelo direito de greve e de manifestação dos trabalhadores e da juventude, contra a criminalização das manifestações, dos ativistas e contra a judicialização das greves.
Perspectivas para o Segundo Semestre: unificar as campanhas salariais, na perspectiva de uma greve geral!
Nesse segundo semestre, temos as campanhas salariais de categorias como metalúrgicos, correios, bancários, petroleiros e é importante que apontem uma nova possibilidade para a retomada e construção das lutas. Para isso, é preciso a auto-organização e processos de luta nos locais de trabalho que levem a superação das burocracias sindicais, que estão comprometidas em manter os lucros da patronal e a ordem para as eleições de outubro.
Assim defendemos a unificação e integração das campanhas salariais dessas categorias e de outras lutas que venham a se colocar, com a possibilidade de uma Greve Geral para o segundo semestre.
Para que essa possibilidade se concretize é preciso a unificação das lutas em torno de problemas comuns a toda a classe trabalhadora: perda do poder de compra do salário, inflação, aumento da exploração, do assédio moral nos locais de trabalho, da repressão, da deterioração dos serviços públicos e das condições de vida em geral.
Obviamente, o chamado a uma greve geral, como ferramenta de unificação das lutas, evidentemente não será feito pelas direções sindicais da CUT, Força Sindical, CTB, UGT, etc. Essas direções não querem nenhum enfrentamento e poupam os governos (do PT, PSDB, PMDB, etc.) e a patronal, porque se beneficiam da situação atual e apóiam o poder da burguesia contra a luta dos trabalhadores.
O chamado a greve geral sempre coube às centrais sindicais antigovernistas, como Conlutas e Intersindical em conjunto com o MTST, o MPL e coletivos independentes, a fim de unificar trabalhadores e juventude em greve, ativistas em manifestações e ocupações para equilibrar a situação do país a favor dos que lutam.
É necessária a radicalização e organização da classe trabalhadora para barrar a radicalização da repressão e a criminalização dos movimentos de luta por direitos. É necessária a unidade das lutas dos trabalhadores, juventude e ativistas contra o pagamento da dívida pública e utilização do dinheiro para os serviços públicos. É necessário impor em campo a vitória dos que produzem a riqueza do país!
– Contra a repressão e a criminalização aos que lutam! Pelo direito de greve e de manifestação!
– Pela readmissão dos trabalhadores Rodoviários e Metroviários!
– Pelo não pagamento da dívida pública e utilização para a Saúde, Educação, Moradia e transporte públicos!
– Unidade das lutas dos trabalhadores!
– Contra o capitalismo, por uma sociedade sem exploração. Por um Poder dos trabalhadores baseado em suas organizações de luta! Por uma Sociedade Socialista!
Espaço Socialista, 20 Junho 2014.