Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

A quem interessa uma educação pública de qualidade? E o que está por trás da avaliação dos professores? – Novembro-Dezembro/2008


14 de outubro de 2013

 Novembro-Dezembro/2008

Este artigo foi publicado originalmente na edição nº 28 do Jornal do Espaço Socialista

 

“A proclamada morte da História que significa, em última análise, a morte da utopia e do sonho, reforça, indiscutivelmente, os mecanismos de afixia da liberdade. Daí a briga pelo resgate do sentido da utopia de que a prática educativa humanizante não pode deixar de estar impregnada tenha de ser uma sua constante”.

Fala-se bastante nos dia de hoje sobre a qualidade do ensino público no país. No estado de São Paulo, a discussão é mais aguda. Procura-se o responsável pelo o sucateamento do ensino público estadual. O governador José Serra e sua secretária Maria Helena Guimarães responsabilizam os professores e, a partir daí, tramam toda uma campanha (que não se restringe a São Paulo) para responsabilizar os professores pelos índices negativos dos alunos nas avaliações extra-escola (SARESP, ENEM, PISA e Prova Brasil).

Com a responsabilização do professor pelo fracasso escolar, o que se pretende é encobrir que esse é o modelo que interessa ao capital.
Do ponto de vista do sistema capitalista e seus agentes (empresários e governos), não interessa uma educação de qualidade para jovens desempregados ou precarizados. São custos absolutamente desnecessários, ou pior, gastos esbanjadores… As empresas pressionam os governantes para reduzir os gastos estatais com os serviços públicos a fim de que o Estado direcione mais dinheiro para ajudá-las a se manter lucrando.
O modelo de Educação hoje em vigência não é um resultado da incompetência, desorganização ou falta de informação dos governantes, nem muito menos culpa dos professores, mas representa a intenção do Estado e das empresas de que as coisas sejam realmente assim. É justamente desse tipo de Educação precarizada que o Estado precisa para manter a situação de alienação das pessoas e formar uma mão-de-obra precarizada. E é somente este tipo de Educação que o Estado se dispõe a manter, dada a nova situação pela qual o sistema do capital está passando.

Além disso, boa parte dessa mão-de-obra é formada para trabalhar em shoppings, lojas, padarias, mercados, oficinas, etc, em atividades que não necessitam de grandes habilidades intelectuais. Trata-se de uma mão-de-obra precarizada e barata.
Por outro lado, o crescimento vertiginoso da tecnologia, aliado às políticas de fusões de empresas e aumento da intensidade do trabalho imposto sobre toda a classe trabalhadora, fazem com que o sistema, como um todo, possa produzir mais mercadorias com uma quantidade menor de trabalhadores, o que faz com que se amplie o chamado desemprego estrutural, agravado agora pela crise econômica em andamento.

Na etapa atual, o capitalismo e seu Estado querem que a função prioritária da escola seja de contenção, difusão de habilidades mínimas e doutrinamento dos jovens, para que esse setor do proletariado aceite ideologicamente que não há outra saída e que a culpa por estar nessa situação é deles mesmos e não do sistema. A escola passa a ser uma instituição, acima de tudo, de caráter assistencial, o que traz graves conseqüências para o aprendizado e o trabalho docente.

Por sua vez, a situação de exclusão social e educacional a que esse setor amplo da mão-de-obra juvenil está sujeito – pelo caráter precário do tipo de trabalho que o sistema lhe oferece – faz com que a chance de superar essa situação através dos estudos seja muito difícil, o que acarreta a perda de estímulo de grande parte dos jovens para estudar.

Essa situação de perda de perspectivas e de sentido de vida se espalha pelo conjunto da sociedade em uma decadência geral da cultura, que mergulha a existência das pessoas num individualismo e imediatismo cada vez maiores, a ponto de as atividades mais humanas parecerem inúteis, e a as atividades mais animais e instintivas aparecerem como as mais realizadoras.

Vemos que a falta de motivação dos jovens em aprender é produzida pelo próprio sistema capitalista

Para que isso não seja questionado, o Estado hierarquiza as escolas (a divisão entre algumas escolas, com alunos de melhor condição econômica, taxa de APM maior e melhor estrutura, e as escolas de periferia, sem qualquer condição e totalmente abandonadas), de modo que se tenha algumas escolas que se destacam perante as demais e com isso sejam usadas para que se possa dizer que esse modelo de educação é eficiente, e só não funciona por culpa do professor.

Daí a importância de uma ampla campanha de denúncias e mobilizações junto aos professores, pais e alunos, explicando que essa situação faz parte da divisão que o Estado capitalista quer criar entre um setor da classe trabalhadora com um pouco mais de condições, e outro setor que, desprovido de quase tudo, já está direcionado para os piores serviços, para o desemprego, ou até mesmo para as duas situações combinadas.

Essa fragmentação é funcional ao sistema no aspecto da dominação, pois divide não apenas as comunidades, mas também os professores com realidades diferenciadas, uma vez que passa a idéia de que os professores e a comunidade de uma determinada escola são mais capazes ou mais esforçados do que os outros.

A ação do Estado visando difundir que esse modelo de educação é correto e eficiente ganha agora um novo contorno com a avaliação do professor. Procura-se com isso, caso o professor tenha um resultado insatisfatório, responsabilizar ainda mais os professores pelo caos do ensino público e fragilizar a sua imagem perante a opinião pública. Com isso se viabilizam posteriormente novos ataques, seja através da retirada de direitos, seja para culpabilizar o professor pela ineficiência do sistema de ensino público.

Assistimos com isso ao enquadramento do professor, tanto em termos profissionais como também ideológicos, já que o professor é avaliado dentro da lógica de funcionamento do Estado capitalista.

Diante dessa situação precisamos combinar a luta contra a política educacional dos governos Serra e Lula e por condições dignas de ensino com a luta contra o capitalismo e a vida sem sentido que ele oferece aos filhos dos trabalhadores, a fim de demonstrar que o problema não é apenas a Educação atual , mas o capitalismo como um todo.

Ao mesmo tempo, precisamos apresentar as propostas de transição que sejam capazes de retomar, junto aos trabalhadores, o debate e a luta por uma sociedade socialista.