Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

Honduras: mais uma prova de que não se deve cofiar em político burguês


25 de abril de 2010

jornada de trabalho, do aumento salarial, etc., ou seja, poderia surgir um movimento massivo dos trabalhadores pelos seus direitos.

Manuel Zelaya não é socialista e muito menos revolucionário. Foi eleito pelo partido Liberal e se caracteriza por ser um governo capitalista. Mas, por conta da pressão da crise econômica e das manifestações populares passou a defender algumas medidas que, além de afetarem minimamente as margens de lucro da burguesia reacionária de Honduras, também poderiam abrir caminho para processos de luta e organização dos trabalhadores que viessem a ultrapassar os limites desejados até mesmo pelo próprio Zelaya.

Caracterizamos de caráter preventivo o golpe contra o governo Zelaya a fim de evitar que as reformas – mínimas e insuficientes – que estavam sendo implementadas pudessem mexer no lucro da burguesia, numa demonstração bem evidente de que não tem disposição nenhuma de fazer ou aceitar qualquer reforma por menor que seja.

 

Só os trabalhadores podem garantir mudanças

A burguesia é incapaz de defender e levar adiante as reformas. É assim com todo tipo de governo reformista (Chávez, Correa, Morales, etc.) que, diante de qualquer conflito com o setor mais reacionário, recua, sabota e até reprime as mobilizações mais radicalizadas.

Durante todo o processo de luta contra o golpe, Zelaya e seus seguidores apostaram na “via pacífica”, de negociação com os golpistas e o imperialismo com o único objetivo de  retomar o seu cargo de presidente. Esse era o seu objetivo. Nada mais além.

Podemos destacar algumas medidas políticas apresentadas por Zelaya que foram contrárias aos interesses, necessidades e até mesmo contra os objetivos dos trabalhadores o que demonstra sua limitação. Primeiro disseminando a ilusão de que o governo dos Estados Unidos e as organizações a serviço do imperialismo (ONU, OEA, etc.) pudessem estar contra o golpe (afirmamos em Boletim do Espaço Socialista que na verdade os Estados Unidos foram um dos organizadores do golpe). Segundo, que ao optar pelas negociações, tratou de frear todo tipo de mobilização dos jovens e trabalhadores que pudesse desestabilizar o conjunto do regime e abrisse caminho para uma ação independente dos trabalhadores que fosse além das medidas que tinha adotado. Terceiro, terminou por legitimar o processo eleitoral organizado – e fraudado – pelos golpistas em que menos da metade dos eleitores compareceram. Política que levou à derrota o movimento contra o golpe e legitimimou-o.

As bases dessa traição são objetivas, pois Zelaya, como burguês e proprietário de terras que é, não adotaria uma posição contra a sua classe social. Um processo radicalizado que avançasse contra a propriedade privada significava que a sua propriedade também estaria em risco.  Zelaya , com essa política, buscava substituir a luta contra os interesses da burguesia em geral para uma luta movida unicamente pelos seus interesses, que é uma combinação da luta pelo seu poder com a manutenção dos interesses da burguesia.

O ensinamento mais importante para os trabalhadores e principalmente para os militantes e ativistas é que não devemos confiar em nenhum burguês e nem em seus agentes, pois ao primeiro sinal de que os seus interesses políticos e materiais estejam em risco irão mostrar a sua cara e trair os trabalhadores e que também pela via de negociações com o inimigo nada se consegue. É uma lição da história. Desde as revoluções burguesas do século XIX até as contemporâneas (Boliviana de 1952, Nicaragüense e Iraniana de 1979, etc.) tem-se em comum a traição e a conseqüente derrota dos trabalhadores.

Quando são obrigados a irem além de suas pretensões o fazem para não perderem o controle da situação, mas no primeiro momento de descuido do movimento operário voltam a trair. Exceção que confirma a regra.

Somente os trabalhadores a partir de uma ação política independente da burguesia podem levar adiante as tarefas de enfrentar as ditaduras fascistas e ao mesmo tempo se emanciparem politicamente. Somente os trabalhadores, pela relação de explorados que mantêm com a propriedade privada, podem acabar com a propriedade privada. Nenhum burguês vai lutar e garantir a democracia plena porque significaria o seu fim.

 

As mobilizações assustaram os golpistas e Zelaya

Em todo processo de mobilização, principalmente quando provoca alguma instabilidade no regime político, a questão do poder está colocada, seja como tarefa imediata (quando há condições objetivas e subjetivas) ou como propaganda. As mobilizações e as greves levam os trabalhadores a refletirem sobre a sua condição de vida, sua força na sociedade, a se organizarem, a vislumbrar a possibilidade de tomarem em suas mãos o seu próprio destino, ou seja, de que as coisas podem mudar. Por isso as mobilizações, por menores que sejam, deixam a burguesia apavorada.

Após a ida de Zelaya para a embaixada brasileira o movimento deu um salto de qualidade, inclusive com a possibilidade de construção de uma greve geral. O enfrentamento direto era a única forma de obrigar os golpistas a abandonarem o poder, mas Zelaya, como todo burguês reformista, se assustou com a possibilidade de que a classe trabalhadora, radicalizada, se colocasse como sujeito social e fosse mais além de suas tímidas medidas reformistas.

Tudo que Zelaya conseguiu pela via da negociação foi ser enganado pelo representante do governo dos Estados Unidos, o direito de sair do país “pelas portas da frente”, mas na prática foi obrigado a reconhecer o resultado da eleição de 29 de novembro, da qual saiu vencedor Pepe Lobo – que se não apoiou diretamente o golpe foi um dos cúmplices mais importante. Um acordo de cavalheiros em que tudo continuou como antes.

Na base do movimento essa política se expressava pela defesa, por parte dos zelaystas, de que o momento é de reconciliação nacional e as negociações e acordos visam construir as condições para que se dê tal reconciliação. Não falam, entretanto que essa reconciliação tem como pressuposto a aceitação das condições impostas pelos golpistas: nenhuma reforma constitucional, nenhuma concessão para os trabalhadores, que o poder fique nas mãos da burguesia e de seus lacaios (igreja, judiciário e legislativo) e nenhuma punição aos golpistas assassinos.

Não há nenhuma possibilidade de reconciliação com a burguesia de Honduras e nem com nenhuma outra. Reconciliação para a burguesia significa que as coisas ficam como estão. Lição fundamental que os trabalhadores hondurenhos precisarão compreender para as próximas lutas, ou seja, construir as suas próprias organizações políticas e se colocarem como direção e força política do processo em oposição a toda burguesia.