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Boletim 01 – Novo partido


3 de janeiro de 2009

Endereço eletrônico: espacosocialista@hotmail.com    Página: http://www.espacosocialista.org

Setembro de 2003 – Número  01 

Como produto da política neoliberal do PT/LULA, vários setores da esquerda estão chamando a construção de um novo partido (pelos vários chamados certamente não será só um). O que chama a atenção é a pressa desses chamados e o que também nos faz perguntar: Essa “pressa” é para se enquadrar na lei eleitoral burguesa que exige pelo menos um ano de filiação partidária para concorrer na eleição do ano que vem? Esse novo partido é para ajudar a desenvolver a consciência revolucionária dos trabalhadores ou é para “lutar” pelos cargos no ilusório aparato burguês?

Queremos participar deste debate, mas a partir da discussão de um programa para a revolução que rompa com a falsa democracia burguesa e que denuncie o engodo eleitoral onde o que prevalece é o dinheiro e o poder econômico, que a luta direta seja a prioridade da atuação desse novo partido, que se implemente a independência das organizações dos trabalhadores em relação aos partidos (ou seja, as entidades deixarem de ser um instrumento desse ou daquele partido), um partido que acabe com as exclusões por diferenças políticas, pelo fim do burocratismo (que se expressa em direções profissionais permanentes), etc. Estas são apenas algumas das novas questões de primeira monta que estão colocadas nessa discussão e que vários setores da esquerda se recusam a encará-las de frente.

 

FAZ FALTA UMA ALTERNATIVA REVOLUCIONÁRIA E SOCIALISTA QUE...

Vivemos em um período onde, mais do que nunca, a falta de uma alternativa política e ideológica dos trabalhadores e explorados tem marcado a vida e as lutas dos trabalhadores contra a exploração.

As mudanças objetivas no interior da classe trabalhadora e as derrotas que esta sofreu em todos estes anos não só diminuíram seu peso numérico na sociedade, mas também a colocaram na defensiva.

A decadência ideológica e política pela qual passam as organizações tradicionais (sindicatos e partidos) fruto de anos de domínio das burocracias estalinistas e social democrata, é a outra cara desta moeda.

Por muitos anos, as ditas organizações  pactuaram com o capitalismo e iludiram  os trabalhadores com mitos, como o de que era possível reformar ou mesmo coexistir pacificamente com o capitalismo. Hoje, no seu mais alto grau de degeneração, passaram de mala e cuia  para o lado da burguesia, fazendo coro de que não há mais alternativa e de que o único caminho é dar ao capitalismo uma “face humana”.

Já as organizações que se proclamam revolucionárias, tem hoje sua prática voltada ou dominada pela luta por cargos nos falidos aparelhos sindicais e nos parlamentos burgueses. Capitulam sistematicamente às direções tradicionais das organizações sindicais e políticas que dominam o movimento operário atual.



…. ROMPA COM A DEMOCRACIA BURGUESA E COM OS APARATOS SINDICAIS



Primeiramente devemos romper com o método que tem predominado nas organizações revolucionárias que é discutir as eleições mesmo antes da burguesia. Falta mais de um ano para as eleições municipais e vários setores “de esquerda” já estão se organizando pensando no processo eleitoral. Será esse é um bom motivo para tanta pressa? O debate programático não tem importância ou não é decisivo? Ou esse partido é uma frente só para participar das eleições?

Na nossa opinião não há qualquer possibilidade de uma transformação revolucionária da sociedade pela via eleitoral. Qualquer participação em um processo eleitoral deve ter como primeiro objetivo denunciar as manobras da burguesia que usa as eleições só para  desviar o descontentamento e a luta dos trabalhadores e dos explorados. A participação no processo eleitoral é mais importante que a discussão programática?

 

POR UM NOVO PARTIDO?



Caracterizando que existe a possibilidade de ruptura no PT, o PSTU e outros apressaram-se em lançar a consigna “por um novo partido”. Essa proposta também é defendida por outros setores de esquerda. Cada qual faz o seu chamado, querendo ocupar o espaço deixado pelo PT e pela chamada esquerda desse partido.

Esta questão não é secundária, pois está em jogo a construção de uma alternativa que primeiro possa romper o isolamento que os revolucionários estão submetidos (entre outros motivos, pelos próprios erros do passado) e depois a possibilidade de oferecer uma ferramenta aos trabalhadores que possa contribuir com o desenvolvimento de uma consciência socialista e permitir apresentar uma alternativa de ruptura com o capitalismo.

O problema central dessa proposta é que ela procura responder só um dado da realidade, ou seja, as próximas eleições municipais..

Assim esse chamado apresenta problemas graves: 1) trata de uma manobra que abortará qualquer processo mais amplo de reorganização política, desviando as discussões programáticas para o campo eleitoral burguês; 2) Não é uma proposta que se propõe a discutir concepção de partido (democracia interna, funcionamento, formação política e teórica, etc).

A própria dinâmica de construção do PSTU, imposta por sua direção, demonstrou que a construção de um novo partido deve-se levar em conta necessidades do desenvolvimento de uma nova forma de partido/organização política. 3) Também não apresenta uma proposta de discussão programática como critério de uma atuação em comum. Essa proposta começa pelo final, fazendo um chamado a todos que achem necessário um novo partido independente das discussões sobre a posição do papel dos revolucionários em um processo eleitoral, a relação do partido com os organismos sindicais, o papel que cumpre os dirigentes nesses partido, o funcionamento, como as decisões serão tomadas, etc. Partem do pressuposto de que esse modelo (programático e de funcionamento) é o ideal e sequer o coloca em discussão.



 
A HISTÓRIA DOS... CHAMADOS A NOVOS PARTIDOS



Para aqueles que não sabem, a formação do PSTU foi um processo de construção a partir de pequenas rupturas com o PT. Com a expulsão da Convergência Socialista e de outros grupos  criou-se a necessidade de construir um novo marco organizativo. Foi evidentemente um processo muito rico e que inclusive demonstrou a possibilidade de uma reorganização dos revolucionários. No entanto, a política implementada pela direção da CS, hoje direção do PSTU, acabou com esse processo, enterrou a possibilidade da unificação dos revolucionários.

De maneira burocrática, todos aqueles que discordavam de aspectos de sua política foram colocados para fora do partido. Através de expulsões e da desmoralização dos militantes o  processo de confluência de diversas correntes, de origens distintas, foi abortado. O sectarismo e o aparatismo foram tomando conta do partido e somente aqueles que tinham a mesma posição política da direção tinham vez, como em todos os outros partidos. O resultado é que a absoluta maioria dos grupos que se juntaram para construir o PSTU saíram ou foram expulsos.

Isso por que a direção do PSTU tinha um enorme desejo: criar um partido dócil para poder incorporar a esquerda do PT (balanço que se faz necessário).

Assim, caso nasça esse “novo” partido, sem que discuta seriamente e profundamente o tipo de partido que é necessário, poderá fazer com surja, na verdade, um novo aparato, com militantes despolitizados, sem formação teórica e sem vida orgânica. Talvez  com alguma presença parlamentar ou sindical, mas sem espaço para discussão, elaboração e intervenção consciente na luta de classes.

Não precisamos mais disso. Basta de aparatos burocráticos sem vínculos reais com a realidade, com a luta dos trabalhadores. 

UMA NOVA REALIDADE EXIGE UMA NOVA ORGANIZAÇÃO DOS REVOLUCIONÁRIOS!

O Espaço Socialista,  no seu número 0 de 1999, nasceu conclamando os revolucionários para a construção de uma nova forma de Organização Revolucionária e da necessidade de uma nova prática, após profundo balanço da história da Esquerda.

Os revolucionários devem se organizar para buscar influenciar e ajudar a classe operária a se conscientizar e construir suas formas de poder. Nesse sentido a grande tarefa que temos no momento é combater a dispersão que se encontram cada um em sua ilha, sem nenhuma organicidade com a classe trabalhadora. É dever de cada grupo e de cada revolucionário procurar romper com esse espírito sectário e excludente do passado.

Nesse sentido devemos com uma revolução em matéria de organização. A construção dessa organização, revolucionária sem dúvida nenhuma, passa primeiro por estar inserida nas lutas da classe trabalhadora procurando influir para que rompam com os limites da democracia burguesa. Depois por ser uma organização o mais horizontal possível, onde o militante tenha realmente voz e poder  de decisão, sem uma direção que mande e uma base que obedeça (relação que só reproduz a forma burguesa de divisão do trabalho, entre trabalho intelectual e manual). Uma organização em que as diferenças sejam tratadas não como crime, mas sim,  compreendidas como parte do processo de compreensão da luta de classe e de aprendizado.

Neste sentido, não concordamos que a criação de um novo partido seja, em si, a solução para os problemas atuais como defendem alguns companheiros, mas sim de fazer um profundo balanço das concepções de partido que predominam na esquerda e, a partir desse balanço, discutir que tipo de “novo partido” é necessário. Assim a questão central não é se tem que ter ou não novo partido, mas que tipo de partido é necessário.

Precisamos aprender com nossa história. Não podemos repetir os mesmos erros, pois já fizemos essa experiência  e não ajudou em nada a classe trabalhadora.

Temos que construir uma organização que seja marcada pela coerência com seus princípios, mas também pela tolerância na discussão interna, pelo respeito à posição dos companheiros por menos representativa que ela seja, pela camaradagem e solidariedade entre aqueles que, apesar de terem divergências, são, acima de tudo, revolucionários, até que a luta de classes prove o contrário. Podemos realmente construir uma organização assim.

A construção de um novo partido deve ser fruto de uma proposta endereçada a todos os revolucionários e não somente àqueles que têm deputados entre seus quadros, pois isso não é um processo de construção, mas sim um oportunismo espúrio.