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As milícias chegaram ao Estado sob o governo Bolsonaro


4 de fevereiro de 2019

O “caso Queiroz” apareceu primeiro como uma movimentação suspeita de dinheiro. Depois, chegou a suspeita de um esquema no gabinete de Flávio Bolsonaro (um dos ídolos da direita brasileira) com a apropriação de parte dos salários de funcionários do gabinete. Em seguida com. um cheque de 24 mil reais na conta da esposa de Jair Bolsonaro. Depois a filha de Queiroz recebendo salário do gabinete de Jair Bolsonaro mas, sem trabalhar (crime de falsidade ideológica, atestava presença sem ocorrer de fato).

Tudo isso já seria motivo para perda de mandato, processo criminal e até prisão a fim de garantir o êxito das investigações tanto para Flávio Bolsonaro (o mandante e paladino da honestidade), Queiroz (quem faz o serviço sujo) quanto para Jair Bolsonaro.

Mas, quando o tapete foi levantado surgiram outros problemas: Flávio Bolsonaro recebeu sem trabalhar na Câmara de Deputados (na liderança do partido de Bolsonaro à época), apresenta patrimônio e movimentação financeira incompatíveis com a renda de parlamentar, realiza compra e venda de imóveis típicas de lavagem de dinheiro.

E poderão vir outros de proporções inimagináveis se seguirem as investigações, que são em relação as milícias e milicianos com condenações por assassinatos, suspeitas de chacina e prisões por outras condenações criminais.

Ligação com as milícias

Qualquer morador das comunidades do Rio de Janeiro sabe das práticas de milícias: extorsão do povo da periferia, execução sumária, “serviços” como gatos de luz, de televisão por assinatura, de proteção patrimonial, de cobrança de mensalidades, de grilagem de terras, de compra e venda de casas construídas ilegalmente, de agiotagem, enfim, práticas consideradas criminosas. Quem se recusa é simplesmente assassinado.

Os bolsonaros nunca esconderam a simpatia, as relações e o apoio às milícias do Rio de Janeiro. Fotos em festas, proteção em atividades políticas, discursos no parlamento apoiando as ações das milícias e honrarias na assembleia legislativa expõem o quanto próximas são essas relações. Em troca de quê ainda é um mistério.

Flávio Bolsonaro, em especial, cultiva relações muito mais próximas às milícias. Proposta de homenageia na Assembleia Legislativo do Rio de Janeiro (foi entregar a medalha na cadeia porque um dos homenageados estava preso); faz defesa da atuação onde, segundo ele, o Estado não chega; empregava mãe e esposa de um dos líderes da milícia “escritório do crime”.

E o pai Bolsonaro?

Flávio Bolsonaro estaria fazendo tudo isso à revelia do pai? Tudo indica que não. Primeiro, o pai tinha as mesmas práticas com funcionários do gabinete. Segundo, defesas de milícias já declaradas em sessão na Câmara como “enquanto não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo…”.

Entre pressões internas ao governo, de opinião pública e de parte da imprensa que busca maior participação nas verbas de propaganda, Jair Bolsonaro chegou a dizer que o “garoto” estava sendo perseguido e estavam querendo atingir seu governo. Jair Bolsonaro quer maior proteção?

Os bolsonaros têm ligação com a morte de Marielle e Anderson?

O aparecimento das milícias e de acusados do assassinato de Marielle no escândalo fizeram vários militantes de direita pedirem abertamente a renúncia de Flávio Bolsonaro para livrar a cara do pai, algo como “vão-se os anéis e ficam os dedos”. Querem parar a sangria e assim afastar a possibilidade de as investigações sobre a morte de Marielle chegarem ao Palácio do Planalto, fato que mergulharia o país em uma grave crise política.

A pergunta acima tem razão de ser. As investigações apontam para o “escritório do crime” (grupo miliciano especialista em execução por encomenda) como o mandante e executor das mortes de Marielle e Anderson, próximos aos bolsonaros. Raul Jungmann já disse abertamente que as autoridades estão ligadas a esse crime.

Os suspeitos são dois dos mais próximos a Flávio Bolsonaro. Um é Adriano, da cúpula do escritório do crime, ex-capitão do BOPE, está foragido. A proximidade com Flávio Bolsonaro inclui a mãe e a sua esposa trabalharem por anos no gabinete da Assembleia Legislativa, exoneradas somente diante da ameaça desse escândalo vir a público. Outro miliciano é o major Ronald, também da cúpula do “escritório do crime”, está preso atualmente.

Milicianos têm representação no topo do Estado

Há todo um esforço para desviar o foco dessa investigação e deixa-la só como “um problema do gabinete” de Flávio Bolsonaro, como disse o Mourão: “É preciso dizer que o caso Flávio Bolsonaro não tem nada a ver com o governo”.

É sim um problema de Estado, pois senador e presidente têm ligações com as milícias e com milicianos suspeitos de envolvimento em um crime político contra militantes do movimento social.

A ligação com os políticos representa maior liberdade de ação para os milicianos, ainda mais quando esse apoio se trata de senador e Presidente da República.

E há outro aspecto importante que é o fato de as milícias chegarem a representar maior repressão do Estado, servindo como controle repressivo sobre a população pobre e impedindo manifestações populares onde controlam.

Essa é uma questão importante nas atuais democracias parlamentares, mantem-se um mínimo de espaço democrático, tem-se eleição, mas, os aspectos repressivos como a polícia, com o judiciário. No caso do Rio de Janeiro são as milícias e em outros lugares há acordos do Estado até mesmo com o crime organizado para exercer o controle sobre a população.

Quem matou Marielle e Anderson?

Esse foi um crime político. Uma tentativa de silenciar mulheres, negras, negros e a população LGBTT, ou seja, foi um atentado contra o movimento social.

E é fato reconhecido o envolvimento de milícias. E pelo enraizamento que grupos têm no aparelho de Estado se compreende os entraves, as idas e vindas e a paralisia nessa investigação que já duram 10 meses do triste acontecimento.

Necessitamos ampliar os movimentos de pressão sobre os órgãos de investigação para chegarmos aos executantes e aos mandantes desse crime. É o mínimo que o Estado brasileiro deve fazer.