O avanço das lutas de mulheres e LGBTs em países orientais tradicionalistas
22 de outubro de 2018
Vivemos num período de muitas mudanças com o aprofundamento da crise societal, que nos cobra, cada vez mais, ações para transformarmos o que gera a crise em algo não mais aceitável entre nós, a exploração.
Por um lado, temos o crescimento de governos e movimentos de direita com suas propostas conservadoras e sua aceitação por parcelas da classe trabalhadora. Isso tem contribuído para disseminar ideias e ações xenofóbicas, homofóbicas e racistas que nos enfraquecem e dividem para favorecem quem nos explora no avanço da retirada de direitos. Por outro lado, temos levantes em alguns países que, até mesmo sem uma organização e propostas estratégicas bem definidas, enfrentam o poder de governos e organizações de direita com suas ideias e ações conservadoras nesse momento de intensificação da exploração.
Exemplos importantes são os levantes de mulheres ocorridos em muitos países. Em vários desses países, a luta de mulheres tem conquistado direitos civis importantes. Isso demonstra o quanto é necessária para compreendermos que a condição servil imposta ao gênero feminino impede de avançarmos em uma sociedade anticapitalista que possibilitará a continuidade da espécie humana.
Diferente do que conhecemos no Brasil, há países com poucos ou quase nenhum direito para a mulher em que ainda é considerada propriedade do homem, sua vida está nas mãos dele e somente pode realizar algumas vontades e sonhos sob sua permissão como trabalhar, estudar, viajar, ter determinados documentos, etc. Isso quando esses direitos já foram conquistados!
Avançar também nas lutas contra a intensificação da exploração
Ainda que leis seculares se mantenham em vigência em vários países, vemos algumas medidas ocorrendo nesse último período da crise:
Em junho de 2018, mulheres na Arábia Saudita conquistaram licença para dirigir. Isso ocorreu após um processo de muitas lutas, com 17 ativistas presas sob o “crime de traição”. Esse “crime” pode levá-las a graves penas. No entanto, o príncipe Mohamed Bin Salman (MBS) que promoveu a reforma deslegitimou a luta e se colocou como o benfeitor por ter “concedido” a medida. A luta de mulheres árabes se mantem e avança para combater a tutela masculina e a obrigatoriedade de obediência ao homem (pai, irmão, esposo, etc.) que deve ou não autorizar na realização de necessidades, vontades, desejos e sonhos – incluindo uma simples licença para dirigir!
Na Índia, no mês de setembro, os e as homossexuais conquistaram a importante vitória de descriminalização! Há anos esse embate ocorre no país. A Índia possui o regime democrático burguês mais populoso do mundo e as pessoas homossexuais enfrentaram diversos grupos religiosos que insistiam em manter a homossexualidade como crime e reivindicavam a nulidade da decisão. No entanto, após votação unânime da Suprema Corte as práticas homofóbicas se tornaram “discriminatórias e uma violação dos princípios constitucionais”. Essa decisão alterou a lei colonial de mais de 150 anos! Segundo dados da ILGA (Associação Internacional de Gays e Lésbicas), em 2015, quase 1.500 pessoas foram detidas e enquadradas nessa lei retrógrada. Muitas LGBTs comemoraram a decisão pelo país com suas bandeiras!
No Marrocos, também no mês de setembro, houve o avanço da luta contra o casamento forçado e pela criminalização da violência contra a mulher. A importante lei conquistada, quando avaliada por entidades internacionais de direitos humanos, demonstra lacunas pois trata da violência dentro do casamento e não especifica o conceito de violência, o que deixa muitas margens para interpretação. No entanto, surgiu após indignação e repercussão do caso de Khadija Okkarou, de 17 anos, que durante 2 meses foi abusada sexualmente por mais de 10 homens, queimada com cigarro e tatuada por todo o corpo.
De fato, essas conquistas em países de tradições religiosas e conservadoras, que nos parecem anacrônicas, exigiram muitas lutas, duros embates e são vitórias significativas das liberdades democráticas.
Mas, sabemos que o capitalismo não é benevolente e, especialmente na atualidade da crise estrutural, busca formas e saídas para estancar a queda nos lucros. Uma dessas formas é absorver setores que antes podia ignorar desde que ganhe com isso. Assim, até aprova determinadas decisões que possam permitir reduzir as lutas e ao mesmo tempo permitir algum estímulo às compras com menos prejuízos aos grandes empresários.
Um exemplo disso é a licença para dirigir na Arábia Saudita, que já preconiza o aumento na venda de carro. Isso indica também aumento do emprego, inclusive para a mão de obra feminina. Segundo previsão do governo, a expectativa é de que mulheres se tornem 30% da força de trabalho no país (são 10%). Como país extremamente patriarcal que é, a superexploração da força de trabalho feminina torna-se necessária para substituir a força de trabalho masculina em postos com altos salários e considerados custosos a fim de reduzir isso.
A população LGBT, que também muito luta e avança na conquista de direitos, é constantemente vista como nicho de mercado para exploração de mão de obra mais barata e capaz de consumir. O modelo capitalista Pink Money, utiliza as lutas LGBTs para comercialização de produtos, muito recorrente no Ocidente avança através de grandes empresários também sobre o Oriente.
Assim, as várias lutas que se espalham em diversas partes do mundo – inclusive da legalização do aborto na Polônia e Argentina, contra presidenciáveis machistas e misóginos como Trump nos EUA e o #EleNão no Brasil – são importantes demonstrações de resistência e contrárias a aceitação da imposição do conservadorismo com o avanço da direita e necessitam avançar também na luta contra a intensificação da exploração.
Desse modo, necessitamos avançar nas lutas e em sua unificação considerando que mulheres e LGBTs da classe trabalhadora – além de toda opressão, machismo e homofobia – enfrentam a superexploração e a utilização de suas lutas para os capitalistas, de alguma forma, aumentarem seus lucros.
Portanto, é importante que a classe trabalhadora de conjunto assuma essas lutas e as incorporem no cotidiano do local de trabalho, de estudo e moradia para combatermos todas essas injustiças, construirmos relações de solidariedade e impedirmos que a burguesia se favoreça com as nossas necessidades, com a nossa divisão e se fortaleça para avançar na exploração e contra direitos conquistados por séculos de luta.