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A guerra civil na Síria diante da crise estrutural do capital


15 de maio de 2018

Texto publicado no Boletim N.º 17 (maio) do Movimento de Organização Socialista (MOS) do Rio de Janeiro.

Quais os interesses na Síria?

Lá se vão 7 anos de guerra civil na Síria. Milhares de mortos e outros tantos milhões de refugiados. São milhões de bombas sobre a população, destruição de cidades importantes, bombardeios de países estrangeiros para apoiar Assad ou para apoiar grupos armados de oposição.

O que um pequeno país e nem é tão importante em termos de reservas e produção de petróleo é capaz de despertar interesses em países como Estados Unidos, Inglaterra, França e Rússia como vem ocorrendo nessa guerra?

A importância do petróleo e do gás natural para a acumulação de capital

A Síria não está entre os principais produtores de petróleo do mundo, mas está bem localizada tem muita importância para o transporte de petróleo e gás, além de servir de barreira entre Israel e outros países que ainda não se renderam a construção do Estado sionista.

O petróleo é fundamental para a economia capitalista mundial, não é importante somente para a indústria automobilística é utilizado também em muitos outros produtos consumidos no dia a dia como roupas, colchões, móveis, embalagens, medicamentos, cosméticos, dentre outros tantos. Sem essa mercadoria a produção de todos essas outras poderia ser interrompida.

Então, não são somente os capitalistas do ramo petroleiro e de automóveis que se interessam pelo controle dessa fonte de matéria prima e, sim, de todos os ramos do capital, pois maior ou menor oferta no mercado influencia diretamente nas taxas de lucro de grandes monopólios pelo mundo.

Outra mercadoria importante é o gás natural, composto por hidrocarbonetos leves, muito comum nas jazidas de petróleo. Possui também larga utilização no mundo pela indústria de serviços domésticos, transportes, energético, etc.

O controle sobre o Oriente Médio

A Síria está localizada no Oriente Médio, região onde se produz cerca de 25% (índice que varia conforme a política de preços da OPEP e de aumento da produção de outros países) de todo o petróleo do mundo. Já as reservas são de, aproximadamente, 2/3 das descobertas comprovadas.

Nessa região também estão países como Iraque, Afeganistão, Arábia Saudita e Israel, este o principal aliado de países organizados em torno da OTAN (tratado militar liderado pelos países imperialistas da Europa e Estados Unidos), agente direto dos Estados Unidos na região.

Os Estados Unidos e em menor medida Inglaterra e França mantêm grande influência política sobre a maioria dos governos dessa região, situação que lhe garante apoio para ações militares e bons negócios para empresas imperialistas.

Mesmo após a “Primavera Árabe”, que chegou a representar uma ameaça a essa hegemonia na região, o controle se manteve com bastante força. O melhor exemplo é o do Egito que – com o golpe militar do General Sissi completando o serviço da Irmandade Mulçumana (que assumiu após a queda de Mubarak) e sufocando de vez a revolta popular – manteve o país alinhado com o imperialismo estadunidense.

Nos países em que havia governos com algum grau de contradição à presença estadunidense, como Kadafi na Líbia, os serviços secretos da CIA e do MI5 inglês organizaram e armaram grupos de oposição e internamente combinaram bombardeios com as forças militares da OTAN e Estados Unidos.

Contradições na região

Mesmo com o controle do imperialismo sobre a maioria dos países da região há algumas contradições com setores burgueses nacionais que, sem enfrentar o imperialismo, procuram manter alguma independência.

O caso mais emblemático é o Irã, considerado pelo imperialismo como eixo do mal, único país em condições de enfrentar Israel militarmente.

O governo da Síria, mesmo sendo um governo burguês e opressivo contra o povo sírio e sem medidas concretas de enfrentamento ao imperialismo, também tem contradições com o imperialismo.

Em ambos os casos se trata de governos burgueses que buscam manter sob controle as riquezas naturais e, assim, preservar seus interesses econômicos, base do domínio político.

Nessa relação e em base a essas contradições, a existência do Estado racista de Israel é um elemento central. Com armas químicas e ogivas nucleares, representando diretamente os interesses imperialistas (sobretudo, os estadunidenses) na região, os sionistas representam uma ameaça real a todos os países.

Dessa forma, muitas das medidas adotadas pelos Estados Unidos têm visado a proteção de Israel. Para conseguir o controle da fronteira entre a Síria e o Iraque, por exemplo, têm buscado impedir o abastecimento das forças militares da Síria e do Hezbollah pelo Irã, fato que pode alterar a correlação de forças na região e colocar em risco a supremacia do Estado israelense.

Trump busca acordo

A derrota do Estado islâmico e, principalmente, a reconquista de Alepo em 2016 fortaleceram militarmente o exército sírio e puderam dar início a uma ofensiva militar, que conseguiu expulsar a oposição de várias cidades, inclusive da capital Damasco.

Com a aproximação da vitória do exército de Assad, Trump determinou a realização de ataques pontuais para forçar uma negociação com o regime sírio, buscando o reconhecimento da presença estadunidense na região Norte e Leste do Rio Eufrates, onde as milícias curdas construíram um governo independente e que, contraditoriamente, está de acordo com essa presença de cerca de 2000 militares.

O ataque mais recente ocorreu em 13 de abril. Com a desculpa de combater armas químicas e com o apoio da Inglaterra e da França, forças militares estadunidenses lançaram mais de 100 mísseis contra Damasco.

Entendemos que não há nenhum caráter humanitário nesses ataques, são somente para defender interesses do capital na região. É mais um crime das forças imperialistas contra povos do mundo. São ações criminosas contra o povo sírio, visando apenas preservar os seus interesses. Portanto, o rechaçado deve ser com força.

Não podemos aceitar potências imperialistas intervindo em outros países, pois além de toda a destruição que isso significa também ampliam o seu poder pelo mundo. Nesse sentido, a expulsão dos soldados estadunidenses do solo sírio é uma luta fundamental.

Nem Rússia e nem Irã devem intervir também

Sob a perspectiva dos interesses da classe trabalhadora, a participação e a presença da Rússia e do Irã também precisam ser rechaçadas, pois esses países nada têm a oferecer aos sírios. Buscam ter influência sobre Assad e assim também manter os interesses do capital e se apropriarem das riquezas existentes no solo sírio.

Por isso, também somos contra a presença das forças russas e do Irã em território sírio.

Cabe ao povo sírio enfrentar as forças que o explora e decidir como resolver a Guerra Civil. Assim, apoiamos incondicionalmente a luta da classe trabalhadora da Síria e do Oriente Médio, vítimas verdadeiras dos ataques imperialistas, dos grupos de oposição reacionários, de Assad e da Rússia.

Assad e a oposição contra o povo sírio

Assad é um governo burguês e, como tal, explora e oprime o povo sírio. Para manter o seu poder e seus interesses, durante o período da Guerra Civil, foi responsável pela morte e mutilação de milhares de sírios, com a desculpe de atacar os rebeldes. Para isso, não poucas vezes, contou com o apoio militar da Rússia e do Irã

De outro lado, estão os “rebeldes”, grupos de oposição armados e ligados a grupos fundamentalistas do Islã, ideologicamente reacionários, apoiados e financiados por governos reacionários da região como Arábia Saudita, Qatar e os próprios Estados Unidos.

Nesse quadro, também devemos colocar as forças da OTAN, que de forma direta ou indireta participaram ativamente dessa Guerra Civil.

Ainda que dizem defendê-lo esses três setores são, na prática, inimigos do povo sírio.

Trata-se, portanto, de uma disputa entre frações burguesas para ver quem vai ter o controle sobre as riquezas naturais. Nenhum dos lados merece qualquer confiança.

A guerra civil síria e suas consequências são, na verdade, resultado da inexistência de uma alternativa da classe trabalhadora e dos explorados, que possa enfrentar tanto Assad quanto os grupos fundamentalistas.

Diante da crise do capital em que os capitalistas buscam resolvê-la explorando cada vez mais os trabalhadores e as riquezas naturais, a apropriação desses bens pela classe trabalhadora é fundamental e determinante para colocar esses recursos a serviço das necessidades do conjunto do povo sírio e para demonstrar ao mundo o quanto é necessária essa luta e não as guerras, que buscam dizimar e destruir para se construir e se explorar com lucro.