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Eleições na França, 2017: disputa entre as frações do Capital


1 de junho de 2017

Alex Brasil – Movimento de Organização Socialista

Ao final do segundo turno das eleições francesas de 2017, realizado no dia 07 de maio, o resultado apontou a vitória do candidato Emmanuel Macron, do partido político Em Marcha!, o ex-banqueiro do Rothschilld e coprincípe de Andorra, sobre a candidata Marine Le Pen, do partido Frente Nacional e filha do fascista Jean Marie Le Pen. Com 66,10 % dos votos, o “jovem” Macron de 39 anos venceu sua adversária que obteve 33,90% dos votos.

No mundo e aqui no Brasil, as eleições francesas repercutiram bastante. Os grandes meios de comunicação procuraram mostrar Macron como o “mal menor”, assim como fizeram com Hillary Clinton, na disputa em que a ex-primeira dama norte-americana perdeu para Donald Trump, no final do ano passado. O que é alarmante é como muitos militantes honestos de esquerda brasileiros compraram esse “discurso do mal menor”.

Talvez, preocupados com o fato das pesquisas últimas para as eleições no Brasil (antes das denúncias feitas pela JBS, envolvendo Temer, Aécio, Lula, Serra, Dilma, Kassab e outros) apontarem para um segundo turno entre Lula e o ultradireitista Jair Bolsonaro, muitos ativistas já ensaiam o discurso para justificar o voto no “menos pior” Lula, traçando até paralelos históricos equivocados com o fato do Partido Comunista Alemão ter se recusado a compor uma frente com o Partido Socialista, em 1933, para derrotar Adolf Hitler e o partido nazista.

Venhamos e convenhamos: Emmanuel Macron não é de uma socialdemocracia reformista e não revolucionária ou de um stalinismo empedernido e burocrático, correntes do movimento operário europeu e francês na época, com influência de massas. Muito pelo contrário: seu histórico o mostra como um “reformista” pró-capital. Em 2007, por exemplo, participou da Comissão para a Libertação do Crescimento Francês, do presidente Nicolas Sarkozy, este último conhecido pelo seu ódio aos imigrantes. Nessa época, Macron era integrante do Partido Socialista.

O socialista passou um período curto e “enriquecedor” à frente do banco Rotschilld: intermediou a transação de compra de uma filial da Pfizer pela Nestlé, em 2012, quando se tornou um milionário. Depois, largou o banco para se tornar secretário adjunto do então presidente francês, o “social-liberal” François Hollande. Em 2014, virou o responsável pela pasta de economia, indústria e assuntos digitais do primeiro-ministro Manuel Valls.

O yuppie no aparelho de Estado francês propôs a chamada “Lei Macron”, que a pretexto de impulsionar o crescimento econômico, incluía a liberalização do código de trabalho, como permitir o aumento do número de domingos laborais e a liberalização do acesso a profissões muito reguladas, como os advogados, notários ou oficiais de justiça. Também previu a simplificação dos procedimentos na resolução de conflitos e flexibiliza os despedimentos. Algo muito parecido com a história de que o “negociado” passa a prevalecer sobre o “legislado”, algo muito parecido com o que está embutido na Reforma Trabalhista de Temer, Henrique Meireles e do Congresso.

Aproveitando-se de uma brecha na Constituição francesa, o projeto foi aprovado por decreto em final de 2014, sem votação, pois o governo não tinha segurança de que ia vencer e conseguir a sua aprovação. A “Lei Macron” foi a senha para que Hollande e Valls levassem ao Congresso um projeto de Reforma Trabalhista para “melhorar a competitividade das empresas francesas”, que enfrentou greves e protestos explosivos em toda a França, em 2016 e 2017.

Foi nesse ambiente de mais um desencanto com a chamada “esquerda oficial”, mas também refletindo o crescimento e vitórias de alternativas de extrema-direita (o progresso do Alternativa para a Alemanha – AFD, na Alemanha. O Aurora Dourada, na Grécia. Os governos da Áustria e Polônia) na Europa e no mundo, que Marise Le Pen construiu a sua plataforma eleitoral. Em um país atingido pela desindustrialização e por um desemprego endêmico de 10%, o discurso nacionalista da candidata da Frente Nacional, anti-União Europeia e a Zona do Euro, tinha bastante espaço. Ainda mais com a saída da Grã-Bretanha da Zona do Euro, o chamado Brexit.

Já a plataforma anti-imigrantes de Le Pen ganhou peso com a histeria antiterrorismo, principalmente depois dos ataques ao jornal Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, e o ataque em Champs de Élysée, em novembro do mesmo, ambos em Paris, atribuídos a árabes mulçumanos. A xenofobia, base dessa plataforma, agravou-se com a chegada de milhares de refugiados, inclusive, de países destruídos por guerras que vieram a calhar com os interesses imperialistas, como Líbia e Síria.

Diante desse quadro e temendo a repetição de uma vitória ao estilo Trump, a burguesia francesa mais vinculada ao capital financeiro e ao projeto de globalização da economia se uniu na França, para barrar a vitória de Le Pen. Mesmo obtendo somente 1/3 dos votos apurados, a Frente Nacional obteve o seu mais expressivo resultado eleitoral, desde a sua criação, em 1972.

Quanto à classe trabalhadora francesa houve mais resistências à chantagem do voto no “mal menor”. Diferentemente de 2002, quando ocorreu quase uma unanimidade do movimento sindical francês em apoiar o “mal menor”, o direitista Jacques Chirac contra o fascista Jean Marie Le Pen, dessa vez houve mais resistências a tal adesão.

Mesmo com os marqueteiros e os meios de comunicação tentando “pintar o bezerro de ouro” e mostrar Macron como a volta da terceira via de Bill Clinton, Tony Blair e Gerhard Schröder (como se a mesma fosse de alguma valia para os trabalhadores), no primeiro dia, após a sua vitória, o presidente eleito já enfrentou protestos de trabalhadores contra as suas reformas.

Alguns resultados do 1º turno dessa eleição na França mostram que existe um espaço à esquerda, mas ainda difuso. O candidato Jean-Luc Mélechon, da França Insubmissa (frente com apoio do Partido Comunista Francês; de um racha do Partido Socialista, Partido da Esquerda e de um racha do Partido Comunista, Pólo do Renascimento Comunista em França), obteve 19,58% dos votos e Philippe Poutou do Novo Partido Anticapitalista (veio da antiga Liga Comunista Revolucionária, de orientação trotskista) ficou com 1,09% da votação. Esses novos agrupamentos de esquerda na França refletem muito alternativas neorreformistas como o Podemos, na Espanha, o Syriza na Grécia e o próprio PSOL no Brasil. Já Nathalie Arthaud, do tradicional partido trotskista Lutte Ouvrière (Luta Operária) obteve somente 0,64% dos votos, bem distantes dos 5,3% dos votos que sua candidata Arlette Laguiller conseguiu no pleito presidencial de 1995.

O país de Revoluções Burguesas com forte conteúdo e radicalização popular (1789, 1830, 1848) e de revoluções operárias e situações revolucionárias derrotadas pela burguesia (1871, 1936, 1945 e 1968) vive uma conjuntura em que hoje as duas frações do Capital são as protagonistas. Resta a classe trabalhadora francesa impulsionar a busca pela unificação dos agrupamentos revolucionários que não apostam na saída eleitoral, como também a unidade da luta do proletariado com a juventude e com os imigrantes, este segmento importante por ocupar os postos do trabalho mais precarizado na França. Essa é a única alternativa para enfrentar os ataques sociais do capital globalizado que Macron representa e o crescimento do fascismo societal que Marise Le Pen é o atual rosto.