Nota de esclarecimento sobre a saída de alguns militantes de Alagoas
10 de novembro de 2016
Apresentamos esses esclarecimentos ao conjunto do movimento revolucionário e aos ativistas que acompanham o Espaço Socialista durante esses anos na luta.
Em setembro recebemos uma “carta de desligamento” de um grupo de camaradas de Alagoas. Dentre as pessoas que a assinaram, a maioria não tem nosso reconhecimento e nem a nossa autorização para que se reivindiquem como “ex-militantes” do Espaço Socialista, pois essa maioria não partilhava e não respondia por nossas posições políticas, bem como não participava organicamente de fóruns de discussão e deliberação.
Ainda assim, julgamos importante publicar esse esclarecimento por compreendemos que esta situação está inserida em um contexto bastante complexo de ataques, de lutas e necessidade de sua superação.
Algumas Divergências Políticas
A intensificação da exploração (contrarreformas, desemprego, etc.), dos ataques, o avanço da repressão (criminalização dos movimentos sociais, etc.), a ofensiva da direita e das ideias reacionárias atingem toda a classe trabalhadora. E também têm reflexos nos seus espaços de organização política (sindical, movimento estudantil, etc.).
Além disso, nos deparamos ainda com a crise decorrente da alternativa socialista, que têm afetado profundamente as organizações de esquerda tanto na forma com que nos organizamos internamente, na relação com os vários movimentos de luta, quanto em relação as linhas políticas que adotamos.
Algumas, voltam a se aproximar das concepções reformistas, o que pode até negar a luta de classes, já que passaram a minimizar, desconsiderar ou até anular os ataques dos governos do PT à classe trabalhadora (por não o considerar como continuidade do “projeto” do capital e de seus demais partidos). Canalizam as lutas para o Parlamento. A inserção em alguma categoria profissional se dá, na maioria das vezes, através de disputas para controle de entidades sindicais ou estudantis. Seguem criticando a fragmentação da esquerda ou as lutas fragmentadas e reivindicando até a necessidade de destruição do capital e a unidade na luta dos/das trabalhadores/as diante do acirramento da luta de classes, mas reeditam as experiências anteriores realizadas pela esquerda.
Outras, que se posicionam junto à classe trabalhadora e até atuam nesses espaços, têm abandonado a importância de apresentar para os/as trabalhadores/as a necessidade de destruição do capital, de sua sociedade que explora e mata, e a necessidade de construção da sociedade socialista. Esse abandono tem contribuído para que a classe trabalhadora se afaste da necessidade de construção dessa outra sociedade e na hora do enfrentamento limite suas lutas a manutenção de direitos ou a conquistas pontuais e efêmeras.
Outras ainda, têm negado, na prática, a própria necessidade da organização política ou sindical – inclusive, afastando-se desses espaços de organização da classe, por julgá-los como já superados.
Essa problemática das divergências políticas também tem impactado o Espaço Socialista e trazido duros desafios. Contamos, nesse último período, também em nossas fileiras, com esses diversos posicionamentos e alguns/algumas já não falam mais em nosso nome.
Entretanto, reafirmamos a disposição de nos mantermos em luta junto à classe trabalhadora contra a intensificação da exploração e sem abandonar as lutas que nos possibilitem contribuir para o avanço da consciência de classe dos trabalhadores e da necessidade de destruição do capital.
As lutas consideradas “fragmentadas”
Nossa compreensão do atual momento histórico, de crise estrutural do capital, torna ainda mais difícil e urgente a tarefa revolucionária de transformação social da realidade. A compreensão dessa tarefa além da análise e caracterização da atual conjuntura exige o entendimento das transformações que ocorrem no mundo do trabalho. Essas mudanças colocam também o desafio de entender por onde as lutas passam e quais são as novas e as velhas expressões do capital (tanto na esfera produtiva quanto em nossas vidas).
Por que dizemos isso? Para nós, a classe trabalhadora não é homogênea, é cheia de contradições e não é uma classe abstrata. Tem demandas reais, contradições reais, características reais e o capital se apropria desses elementos concretos para legitimar a exploração. A esquerda não pode negligenciar ou secundarizar essas “particularidades” existentes no seio da classe trabalhadora.
O Espaço Socialista defende a classe trabalhadora em sua totalidade, buscando compreender suas contradições, demandas e características de forma dialética. Nesse sentido, entendemos que haja parcelas mais oprimidas da classe (mulheres, negros, LGBT) e que demandam também lutas adicionais (também chamadas de lutas de pauta única). Suas pautas correspondem diretamente à necessidade de emancipação humana em sua plenitude e nos mostra os limites absolutos do capital, pois sabemos que não teremos emancipação humana sob o modo de produção do capital. No entanto, não poderemos esperar pelo comunismo para lutarmos contra questões que afetam tão profundamente a classe trabalhadora.
Portanto, lutar contra maior opressão sobre parcelas da classe (a qual o capitalismo se alimenta para efetuar as mais desumanas formas de exploração) é também lutar contra o capital.
No atual momento histórico entendemos que precisamos considerar determinadas mediações. Isso ocorre de forma diferenciada nas organizações políticas. No entanto, não estamos dispostos a forçar um reconhecimento de possíveis “mediações” que chegam a negar a atual realidade.
Por isso, faz-se necessário propostas a curto, a médio e a longo prazo para não chegarmos a um imobilismo diante de situações políticas, posto que, reconhecermos a centralidade do trabalho não significa ficarmos indiferentes a essas lutas.
Entendemos também que secundarizar essas lutas pode silenciar a participação política de mulheres, homossexuais, negros, etc. nos movimentos de esquerda. Para nós, esse debate é importante também para disputar a consciência de classe, não podemos deixá-lo à margem. Necessitamos construir coletivamente um projeto para toda a classe trabalhadora, abarcando as necessidades mais humanas.
Compreendemos que a centralidade do trabalho, tendo o proletariado como sujeito revolucionário, coloca para as organizações políticas a necessidade de contribuir de várias formas para que se recoloque na cena política e cumpra a sua tarefa histórica. No entanto, essa conquista não se dará somente a partir de discussões teóricas. Há tarefas práticas importantes, especialmente, a de como intervir numa realidade por essência contraditória.
Uma postura de negação dessas lutas e de suas histórias pode levar a uma posição proclamatória, ou seja, “nada do que fizeram deu certo” e “temos a resposta do que fazer, que seja feito”, o que pode contribuir ainda mais para o distanciamento da classe.
Entendemos as tarefas de táticas conjunturais como posições necessárias para indicar contradições e contribuir para o avanço de consciência de classe dos/das trabalhadores/as. Enfim, para nós, a centralidade do trabalho também é prática.
Isso merece dos revolucionários a insistência em participar dessas várias formas de lutas, construir e organizar cada uma delas com o objetivo de fortalecê-las em suas pautas, buscando apresentar a alternativa socialista, a qual é possível e necessária em cada uma. Contribuindo, assim, para unificá-las, para trilhar o caminho no sentido de colocar abaixo a ofensiva do capital.
O mesmo entendemos com as lutas da juventude e do movimento estudantil. Não podemos impor sobre essa parcela de filhas e filhos da classe trabalhadora uma dinâmica engessada, que chega a negar a própria criatividade. Precisamos fortalecer essas lutas, contribuir para o seu dinamismo e organização, fortalecer a unidade, a compreensão do papel do reformismo na colaboração com o capital e as ideias reacionárias e construir juntos o sonho da realidade de uma sociedade socialista.
Repudiamos qualquer ação que vá no sentido de negar as lutas da juventude, de mulheres, negros/as, LGBT, etc. Entendemos que são questões que afligem profundamente e matam grande parte da classe trabalhadora. Com isso não negamos, como já dissemos, o papel do proletariado para a revolução, mas reafirmamos a totalidade social e o papel do revolucionário diante das imposições do capital e da realidade em que a miséria capitalista e repressora, com o seu reacionarismo, buscam aprofundar o machismo, o racismo, a homofobia e o extermínio da juventude nas periferias.
Não acreditamos que essas lutas desenvolvidas isoladamente, sem o referencial de classe, sem a perspectiva socialista superem, obviamente, a perspectiva ou necessidade imediatas. Tão pouco acreditamos que as negando ou não considerando suas especificidades possamos contribuir com a práxis revolucionária.
Entendemos que a luta para contribuir com o desenvolvimento da consciência socialista da classe trabalhadora passa pela construção de organizações políticas revolucionárias e socialistas (portadoras de programas que rompam com o capital e que vão para além de programas mínimos). Abrir mão dessa luta, para nós, significa sucumbir às pressões imediatistas e economicistas.
Reafirmamos também que, para contribuir com essa luta, não necessitamos capitular ao reformismo e aos desmandos da democracia burguesa. Não nos calamos diante de ataques às conquistas históricas da classe trabalhadora e seguimos combatendo as ações e ideias reacionárias.
O processo histórico em que vivemos tem demonstrado o quanto acertamos na necessidade de contribuirmos para a construção do avanço da consciência de classe e da necessidade de derrotarmos a crise de alternativa socialista. As relações entre lutadores, no campo da esquerda, merecem considerar essa realidade que, mesmo diante de toda a miséria capitalista, não pode nos fazer sucumbir às formas com as quais a burguesia conduz, com mediocridade, as relações entre as pessoas. Precisamos lutar também para superar essas formas.
Seguir o Caminho da Luta
Diante disso, não acreditamos em verdades absolutas e, por essa razão, não buscamos impô-las a ativistas ou militantes no campo da esquerda, a fim de “disputá-los”. Debatemos ideias e, muitas vezes, somos duros/as na crítica, bem como, respeitamos também as críticas recebidas, por mais duras que possam ser. Isso expressa a realidade e como é manter a atuação militante nos locais aos quais estamos inseridos, mas não abrimos mão da solidariedade de classe e da camaradagem.
Obviamente que quando as críticas alcançam tom moral (calúnia, denúncias, acusação sem prova, etc.) não compartilhamos e não aceitamos. Destacamos que, no nosso caminhar, há erros e equívocos. Bom seria se não os tivéssemos. Porém, reconhecê-los para buscar superá-los não têm sido um problema para nós.
Não acreditamos na “história conformista”, que somente aponta vícios e debilidades na esquerda, o que pode levar à paralisia. Estamos abertos para compreender a dinâmica histórica e pensarmos em cada lugar de atuação, com suas realidades e nossas debilidades, as táticas para avançarmos e contribuirmos com a história da luta revolucionária, que tem como razão de ser o poder daqueles/as que produzem a riqueza material.
Visto isso, temos convicção da necessidade de construção da tão difícil unidade entre revolucionários/as, a esquerda e os/as lutadores/as. Diferenças políticas ou teóricas, para nós, não são obstáculos para essa construção.
Seguiremos construindo o Espaço Socialista por acreditar que as organizações revolucionárias têm papel decisivo na construção do processo revolucionário e que o nosso acúmulo teórico e prático pode contribuir com o processo de reorganização da esquerda socialista e revolucionária.
Seguiremos com todas e todos que insistem no caminho da luta e estão dispostos/as a construir organizações revolucionárias (não nos colocamos como a única organização, mas como uma das que se colocam no campo revolucionário) para enfrentar os desafios colocados pelo momento atual da luta de classes, que tem recolocado intensamente a necessidade radical da alternativa socialista para a sociedade.
À luta, na luta e pela luta!