Contra Crivella voto crítico no PSOL, no Rio de Janeiro
25 de outubro de 2016
As eleições não são um campo de batalha que favoreça a classe trabalhadora. Muito pelo contrário, é o campo onde se busca reafirmar a democracia dos ricos ou a ditadura sobre os pobres com a ideia de que estamos elegendo candidatos comprometidos com os problemas que nos afetam no dia a dia. ´
Mas, em determinadas momentos as eleições servem também para fortalecer o governo ou, mesmo que momentaneamente, a esquerda. É isso que estamos presenciando com essas eleições municipais e, especialmente, no segundo turno no RJ.
Por um lado, tem Marcelo Crivella (PRB) que representa exatamente a candidatura desejada por vários setores do empresariado, da igreja universal e outras fundamentalistas e da direita reacionária. Sua candidatura expressa nitidamente a possibilidade de aplicação a fundo, em uma das principais capitais do país, de todos os ataques direcionados à classe trabalhadora.
Não há dúvidas, em sua campanha e em sua trajetória como parlamentar, do quanto defende propostas contra os serviços públicos e medidas que servem ao lucro de empresas, que criminalizam os movimentos sociais, que fortalecem o machismo e a homofobia e que caminham juntas com o governo Temer.
Por outro lado, temos o PSOL com seus limites e os de suas campanhas eleitorais. Trata-se de um partido com pautas reformistas que, além de já ter feito aliança com partidos da direita em alguns municípios e estados, recebeu financiamento do setor privado nas últimas campanhas para presidência da República.
Seus programas eleitorais, disponíveis na internet, têm como foco a solução de problemas das cidades através da defesa de uma “gestão eficiente e transparente” (ainda que isso tenha importância, não deveria ser o eixo de uma campanha à esquerda) como se o problema se resolvesse com troca de gestor. Isto é, não se propõe a qualquer política radical e sustenta a ilusão de que é possível, sob o capitalismo, gerir cidades de maneira “honesta e ética” como se isso – e não o capitalismo – fosse o problema das prefeituras pelo país afora.
Os graves problemas nacionais, as reformas propostas pelo governo Temer, o desemprego, a crise gerada pelo sistema do capital etc. não têm sido temas centrais nas campanhas desse partido, o que expressa nitidamente o quão distante está da luta necessária pelo fim dessa sociedade que a cada dia intensifica a exploração da classe trabalhadora.
Porém, é importante reconhecer que a campanha de Freixo, no RJ, têm se caracterizado pela oposição à ofensiva da direita reacionária (como Crivella, Bolsonaros, MBL) e têm servido como pólo de aglutinação de vários setores de esquerda e ativistas, que lutam contra Temer e suas medidas.
É no RJ, também, que a campanha tem se identificado com a luta contra a Escola Sem Partido, contra a violência estatal aos pobres (e as milícias) e no combate à violência contra as mulheres e às práticas homofóbicas, dentre outras lutas consideradas democráticas.
Esse processo eleitoral no Rio de Janeiro também colocou um debate importante para o conjunto dos ativistas: não se pode governar para todos no capitalismo. E é fundamental para nós da esquerda, que o trabalhador e o pobre reconheçam isso e entendam a sua própria condição diante da democracia burguesa.
Em uma conjuntura nacional como a desse processo eleitoral, a derrota da direita e do governo Temer no Rio não representam derrotas de medidas políticas já em andamento, mas representam, no mínimo, o fortalecimento da oposição e das lutas que ocorrem nesse momento contra esses ataques.
Nesse sentido, todo obstáculo que pudermos colocar, minimamente, no caminho do capital – sem que isso represente qualquer retrocesso ou fortalecimento da péssima experiência que o país fez com o PT – é importante.
Esse importante elemento de que a maioria da vanguarda e ativistas do RJ está aglutinada em torno da candidatura Freixo como forma de enfrentar a direita e o governo Temer é fundamental para fortalecer as duras lutas que temos pela frente (PEC 241, Reformas da Previdência, Reforma do Ensino Médio, etc).
Para nós, o posicionamento eleitoral é uma questão tática e para isso levamos em consideração a avaliação da conjuntura política.
Diante de tantos enfrentamentos e com a ofensiva da direita, como dissemos acima, esse processo eleitoral se tornou uma referência para diversos/as ativistas e lutadores/as do país depois das várias derrotas sofridas com o fortalecimento de partidos da ordem. Por isso que a eleição no RJ se nacionalizou atraindo a atenção pelo país.
Por outro lado, é importante considerar que um setor da direita no RJ (PMDB, PSDB e PDT) anunciaram “neutralidade” nesse segundo turno enquanto os Bolsonaros estão apoiando Crivella e fazendo uma campanha violenta e agressiva contra a esquerda, suas pautas e contra Freixo, que também é promovida por Malafaia e outros setores das igrejas neopentecostais.
Nesse contexto, não somos neutros e não nos colocamos como indiferentes. Estamos juntos/as com ativistas e lutares/as que têm construído e organizado as lutas no RJ sem nenhuma ilusão na candidatura Freixo, mas na luta que reúne bandeiras, minimamente, progressistas contra as bandeiras da direita reacionária.
Por essas razões defendemos o voto crítico no RJ e voto nulo nos demais locais do país onde haverá segundo turno. E reafirmamos que a luta contra o capital é fundamental em qualquer agenda da classe trabalhadora, inclusive contra todos esses ataques.