Balanço sobre as eleições 2016
21 de outubro de 2016
No primeiro turno o voto foi contra o PT e em alguns locais contra Temer
Espaço Socialista
Movimento de Organização Socialista – MOS
O PT foi o grande derrotado no primeiro turno das eleições municipais deste ano. Das 93 maiores cidades (que têm segundo turno) do país, o PT somente elegeu um prefeito no primeiro turno. Nas que acontecem o segundo turno, se mantem em disputa em 7 cidades. E as chances de ganhar em todas elas são pequenas dado que a maioria das candidaturas de oposição largaram com grande margem de intenção de voto. Com isso, encolheu 60% em relação ao que havia eleito em 2012 (sendo que muitos desses eleitos saíram do partido para se livrar do desgaste e concorrer com outras legendas). A militância e as bancadas de vereadores desmoralizadas também foram drasticamente reduzidas.
O PMDB, ainda que tenha mantido o número de prefeitos eleitos, sofreu derrotas importantes no Rio de Janeiro e São Paulo. A maioria dos eleitos foi em cidades menores (como nas regiões do agronegócio) e médias. Nas capitais chegou no segundo somente em Porto Alegre.
Esses dados nos permitem chegar a conclusão da intensidade do desgaste do PT e de setores do PMDB que estavam mais vinculados a Temer, expressando também a impopularidade do governo que tem índices de reprovação já semelhantes ao de Dilma.
Sabemos que o resultado eleitoral não é o meio mais seguro de avaliar os processos políticos e, principalmente, a consciência média dos trabalhadores porque tem muitas distorções, no entanto, o conjunto dos elementos que aparecem na realidade aponta para a constatação de que, nas grandes cidades, onde os candidatos estavam mais identificados com o PT e com Temer foram muito mal como São Paulo, Rio de Janeiro, cidades do ABC, Campinas, etc.
Em relação ao PT ainda é importante destacar duas outras questões: A primeira que, desde 2015 já apontávamos, a experiência com o PT era generalizada e atingia regiões tradicionais com peso eleitoral do partido. Nessas eleições, além de confirmar essa experiência, demonstra que se aprofundou. No ABC, por exemplo, a votação no partido não ultrapassou 20% e, depois de muitos anos, perdeu nas regiões periféricas da cidade de São Paulo. A segunda, é que a direita conseguiu colar (ou enganar, pois sabemos muito bem que o PT não tem nada de esquerda) o discurso de que as gestões do PT eram de esquerda, o que levou também, em geral, à diminuição dos votos nessas eleições na esquerda socialista.
Direita se fortalece, PT e esquerda perdem votos
Um dos problemas dessa experiência com o PT é que a imensa maioria das pessoas se aproximam dos partidos e representantes da direita.
Dentro de um crescimento eleitoral de setores mais conservadores o PSDB foi o que mais se fortaleceu, conquistando cidades importantes como em São Paulo.
Esse fortalecimento se explica muito por ser o PSDB um partido de oposição de direita ao PT (como parte do bipartidarismo que se instalou no país nos últimos anos), que unifica parcelas da burguesia, não fazia parte da base aliada no governo petista e é protegido pela grande mídia. Assim, conseguiu atrair os votos daqueles que se diziam contra o PT. Um bom exemplo foi o final da campanha do primeiro turno em SP quando havia a possibilidade de Haddad ir para o segundo turno, os muitos votos de Marta e Russomano migraram para Dória para retirar qualquer chance de reeleição.
Somente a falta de consciência de classe dos/as trabalhadores/as explica a contradição de, para se opor a Temer e ao PT, fortalecer o partido que defende com maior ênfase medidas contra os trabalhadores como os cortes de verbas dos serviços públicos, a Reforma do Ensino Médio e a Reforma da Previdência.
Junto com o PSDB, outros setores conservadores também saíram vitoriosos no processo eleitoral: A eleição de membros do MBL (como Fernando Holliday, que coloca seu discurso racista a serviço da elite branca), os 14 % na ultradireita no RJ (Bolsonaro), a reeleição da bancada da bala em SP e de vários policiais pelo país afora. Casos como esses nos dão elementos importantes para considerar e entender as razões do fortalecimento das forças de direita e de seus partidos. Dentro do PSDB o mais fortalecido foi Alckmin. Elegeu os apadrinhados e sai na frente na disputa que tem com Serra e Aécio para ver quem vai ser o candidato a presidente em 2018.
Seguindo nessa dinâmica, os votos em partidos de esquerda como PSOL, o PCB e o PSTU também tiveram redução em números absolutos. Mesmo o PSOL teve redução na quantidade de votos. A diferença é que dessa vez foram mais concentrados nas grandes cidades e capitais, o que permitiu, inclusive, que sua bancada de vereadores crescesse e que fosse para o segundo turno em 3 cidades (Rio de Janeiro, Sorocaba e Belém).
Depois de mais de 10 anos de sua fundação, começa a ocupar o espaço eleitoral de esquerda que há muito tempo foi deixado pelo PT. Mas, é preciso ressaltar que as campanhas eleitorais desse partido seguem ainda o velho padrão do PT dos anos 90, já com um programa de gestão do Estado burguês. Basta ver suas campanhas eleitorais deste ano, que tiveram como eixo a gestão da máquina municipal, como se fosse um a gestão o grande problema que os trabalhadores enfrentam nas cidades.
Os nulos, brancos, abstenção…
O aumento do número de votos nulos, brancos e abstenções também foi um fato que suscitou muitos debates. Para uns essa quantidade enfraquece e deslegitima os eleitos. Para outros até mesmo a democracia burguesa está questionada. Além de enganosa essa caracterização é perigosa porque pode desviar da análise aquilo que é essencial.
Primeiro porque mistura abstenções (em um país com dimensões continentais: quantos mudaram, estão em trânsito, etc.?) com um tipo de voto que pode expressar muita coisa: ser de esquerda, de direita, ignorância e também indiferença no processo político, ou seja, devemos fugir da análise facilista de que expressam apenas rebeldia contra as eleições ou contra a democracia burguesa ou mesmo uma ação pela esquerda. Essa forma de ver esse processo nos desarma em relação às tarefas políticas necessárias para a conjuntura.
O que são, então? Não se pode dizer que esses votos nulos, brancos e abstenções são propriamente de direita, mas também não são progressistas. Não são de direita porque quem queria expressar suas convicções de direita tinha vários candidatos à disposição e muitos com potencial para derrotar “qualquer espectro a esquerda”.
De esquerda? Muito menos. É senso comum entre nós que os problemas atuais de consciência de classe dos trabalhadores impedem até mesmo de identificar os inimigos e de avançar em direção às suas conquistas. Predomina ainda um nível de consciência de classe rebaixado e em muitos casos de apoio a às ideias de direita e conservadoras.
Dialeticamente falando, essa particularidade no primeiro turno (voto nulo, branco, abstenção, etc.) não é contraditória com o resultado eleitoral que foi essencialmente conservador. Ou seja, é parte da mesma realidade conservadora e expressão da descrença e de sentimentos contra a esquerda (e contra os partidos falsamente vistos como de esquerda) que se instalaram sobretudo nos setores médios da sociedade. Não tem como dar aos votos nulos, brancos e abstenções, mesmo dentro de sua diversidade, um caráter de negação da democracia burguesa ou das eleições, pois para isso exigiria um nível de consciência de classe avançado.
Outro argumento utilizado por muitos é o de que esse processo é a negação da política e assim seria progressivo, isto é, negar a política, em tese, pode ser algo progressivo. Em tese, pois nesse caso não foi e como dissemos acima se insere no processo de um movimento geral de predomínio das posições conservadoras.
A indiferença em relação aos problemas políticos e sociais muitas vezes é uma postura tão complicada que, em ultima instância, é se posicionar ao lado do governo ou dos patrões. Em uma greve ou uma luta, por exemplo, a indiferença das pessoas fortalece quem? O movimento? Não, fortalece a patronal ou o governo. Nas lutas os indiferentes não são contados como aliados. E porque os contaríamos como algo a ser, nessas condições concretas, comemorada pela esquerda?
Essa indiferença (com os votos nulos, brancos, abstenção), até mesmo em relação ao mínimo que significa a democracia burguesa, no contexto atual, pode ser explicada, também com o processo eleitoral, no marco do fortalecimento das ideias conservadoras e de direita.
Greve Geral contra as reformas
Como parte do fortalecimento da direita no processo eleitoral, a burguesia e o governo trataram logo de colocar em prática o plano de votar medidas em favor do capital. A aprovação do PLP 257 e da PEC 241 na Câmara, a construção da proposta de Reforma da lei previdenciária (aumento da idade e igualando os regimes previdenciários), entre outras medidas, mostra que se construiu uma união entre os vários partidos burgueses no Congresso Nacional.
Sabemos que as eleições não são um campo de batalha que nos favoreça, mas também é inegável que podem, em determinadas conjunturas, servir para fortalecer o governo ou mesmo a esquerda. Um exemplo histórico são as eleições de 33 na Alemanha que, com a vitória do partido de Hitler, criou as condições necessárias para a ascensão e fortalecimento do nazi-fascismo. Ou mesmo no Brasil com a eleição de FHC em 94 que deu impulso ao processo de privatização e derrotas históricas que a classe sofreu nas décadas seguintes.
E com essas eleições, fortaleceu-se a conjuntura de avanço dos ataques aos já poucos direitos sociais e também aqueles que defendem as reformas e as medidas em andamento. Não por acaso, Temer – mesmo com a sua impopularidade – logo colocou em andamento, como já era previsto, a articulação da base parlamentar (unidade de diversos partidos) para a aprovação das medidas.
Isso tudo nos diz que a greve geral se coloca ainda mais urgente como a única forma de derrotar esses ataques contra nossos direitos. Sem a construção de uma luta nacional que unifique as diversas categorias e articule os demais movimentos sociais para a construção da greve geral, será bem mais difícil derrotar Temer e seus planos.
A derrota que a burocracia petista tem sofrido impõe contradições para a burocracia sindical que precisa se recompor com a sua base social, isso obriga a burocracia sindical cutista se pronunciar pela realização de uma paralisação geral, inclusive já propondo a data do dia 11 de novembro.
No entanto, a morosidade nas propostas de ação, a não realização da construção efetiva da greve em cada local de trabalho, a falta de chamados e agitação para a unidade dos trabalhadores e categorias na construção da greve geral não contribuem para a sua realização e exige que cada trabalhador/a assuma em suas mãos essa luta e imponha o divisor exato de nossas reivindicações.
As centrais sindicais, como CSP-Conlutas, também precisam dar passos decisivos no sentido de unificar as diversas lutas que ocorrem nesse momento contra a PEC 241, contra a Reformas da Previdência e Trabalhista, contra a Reforma do Ensino Médio. Fortalecer as ações com a unidade!
É urgente a greve geral! Barrar as reformas, barrar a ofensiva da direita e derrotar o governo já, agora é a hora!