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Aceitar o amor ou aceitar a barbárie?


20 de junho de 2016

 

 

Há discursos que colocam que a opressão às LGBTs diminuiu, pois já conseguimos o direito ao casamento, há novelas e propagandas com representações homossexuais, existem diversas secretarias, conselhos e políticas públicas para LGBTs, temos Jean Wyllys no Congresso… Já demos alguns passos, mas muito menos do que a quantidade de mortes e de outras diversas violências à essa população.

 

Apenas em 2015, segundo o banco de dados do Grupo Gay da Bahia, foram registrados 318 assassinatos de LGBTs no Brasil, 1 a cada 27 horas. As pessoas trans são as maiores vítimas dessa violência, sendo 14 vezes mais provável acontecer o assassinato de um indivíduo dessa população do que de um gay. Segundo agências internacionais, mais da metade de homicídios a transsexuais ocorre no Brasil. Ademais, cabe destacar que a realidade é muito pior, visto que muitos casos sequer são notificados, devido a própria LGBTfobia.

 

O massacre ocorrido em Orlando, na madrugada do dia 12 de junho, na qual um homem entrou armado na boate Pulse, atirando e matando 49 pessoas e deixando mais 53 gravemente feridas (sendo a maioria de origem latina), é mais um ataque de ódio contra a parcela LGBT da sociedade. O Estado Islâmico, grupo religioso fundamentalista, reivindicou o ataque.

 

E ainda, como se não bastasse tamanha crueldade, várias outras expressões de agressão e preconceito surgiram em apoio a esse ato terrorista e homofóbico, como a manifestação da Igreja Batista de Wesboro (EUA) que comemorou o ataque, considerando como a “boa nova”, incluindo hashtags nas redes sociais: “Arrependaseoupereça”, “VisiteOrlando” e “deusodeiaviados”.

 

Em nome de crenças religiosas, alguns humanos se arvoram o direito de deixar viver ou não outros humanos. Nossa crítica, nesse momento, está voltada para os fundamentalistas religiosos que apregoam a morte às populações oprimidas. O ideário religioso fundamentalista e a política inconsequente do governo norte-americano, a concessão do porte de armas, são fatos com os quais precisamos nos preocupar. Caso contrário, estaremos condenados a uma rendição à estupidez.

 

No país da “democracia plena”, as chacinas são uma constante. Isso é bastante intrigante. A existência real nega a liberdade formalizada na Constituição, ao constatarmos a execução de atos violentos, como o ocorrido recentemente nos Estados Unidos. Fatos assim suscitam questionamentos: o que é liberdade? Liberdade de quem? Afinal, as ações diárias com as quais nos deparamos, negam a opinião comum que considera que todos sejamos livres para sermos quem somos. O massacre em Orlando é mais um exemplo claro do que estamos afirmando.

 

A crise estrutural do capital se aprofunda e as contradições desse sistema inviabilizam cada vez mais seu desenvolvimento. Agrava-se a dominação e a exploração capitalista e assim vemos, com mais frequência, crimes bárbaros como esse, expondo o nível de decadência desse sistema.

 

Estamos mergulhados em relações sem sentido algum. A limitação imposta pelo capital ao nosso desenvolvimento humano está evidente e insuportável. Não podemos admitir como um fato inevitável o massacre de pessoas que são lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis simplesmente porque assim elas são. A sociedade em que vivemos revela, todos os dias, que nascer índio, mulher ou negro, além das pessoas LGBT, é motivo de nos colocar como seres marginais. A “normalidade” (que normalidade é essa?) e o poder são vivida e exercido pelo macho, que é branco, heterossexual e burguês.

 

Que religião é essa que legitima o ato de matar pessoas que não se enquadram no padrão social acima descrito? Onde, de fato, está a doença, o desvio e a perversão: nas pessoas que ousam ser quem são, sem impedir que outros vivam suas diversidades, ou nos “iluminados” que idealizam e proclamam sua fé exterminadora e nos seus seguidores que executam tais planos? É mais saudável amar o igual ou vender e comprar armas indiscriminadamente, alvejando pessoas em nome de uma crença religiosa?

 

Não dá para silenciar diante de tanta barbárie. A direita conservadora tira a máscara e mostra-se de cara limpa e amedrontadora nos quatro cantos do mundo. Citemos como exemplo o Donald Trump, candidato à presidência dos EUA, um representante da extrema direita, com as suas falas sobre a redução de direitos aos oprimidos (mulheres, negros, latinos, LGBT…). Aqui no Brasil, os deputados federais Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, os quais também apoiam o massacre de Orlando. Além desses dois fascistas extremistas, figuras públicas como Silas Malafaia e Joaquim Levy Fidelix também já deram as suas declarações de ódio contra a população LGBT.

 

A política defendida por esses senhores é a política da opressão declarada. Eles não medem palavras na propaganda do terror. Sem argumentos, as suas falas se apoiam em um cristianismo fundamentalista, que tem por objetivo último exterminar as pessoas que não sigam a moral da família patriarcal monogâmica.

 

Precisamos compreender que, através de um suposto discurso inofensivo, os religiosos tentam impor a sua moral para todos nós. Essa imposição é violenta e antidemocrática. Por isso, precisamos falar, debater e, sobretudo, lutar. Apesar de tanto terrorismo, precisamos mostrar que, de fato, não somos minorias!

 

De tal modo, conclamamos mulheres, negros, índios, trabalhadores – todos que sofrem com a opressão imposta pelo patriarcado, pelo racismo e pelo capitalismo, para combater todas as formas de opressão. Precisamos ocupar todos os espaços e responder aos massacres diários que nos são dirigidos. Precisamos denunciar as criaturas monstruosas, ainda que tidas como “cidadãos de bem”, que ameaçam, com a sua postura intolerante e equivocada, a liberdade do afeto LGBT – tão legítimo quanto qualquer outro. Vamos proclamar, em todos os lugares, que o corpo é nosso, e que não aceitamos qualquer imposição do Estado ou das Igrejas!

 

Ato ocorrido em São Paulo para protestar contra o massacre ocorrido em Orlando
Ato ocorrido em São Paulo para protestar contra o massacre ocorrido em Orlando

 

Por tudo isso, nós, população LGBT, precisamos tomar posição política frente aos ataques da direita. Temos que compreender quais são os fundamentos da sociedade capitalista, a fim de nos situarmos na luta de classes. Temos que estudar para compreender que, no modo de produção capitalista, nunca teremos liberdade plena, que garanta o livre exercício de nossa sexualidade. Defendemos a importância de unirmo-nos – trabalhadores, mulheres, negros, índios, LGBTs, contra a força do capital e pela construção de uma sociedade comunista. Afinal,

 

“[…] o cativeiro é o maior mal que pode acudir aos homens.” (Cervantes)