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Jornal 88: Empresa Almaviva oferece emprego… e exploração!


4 de abril de 2016

3Falar sobre o papel da empresa Alma Viva no Brasil é falar sobre a precarização do trabalho e sobre a falta de alternativas para o Capital oferecer qualidade de vida para a classe trabalhadora e, sobretudo, para a juventude. Em meio à crise inexorável que o modo de produção capitalista vem sofrendo desde a década de 1970, com sua expressão mais recente no Brasil em 2008, o Capital busca novas formas de se sustentar, abrindo novos mercados, nichos de exploração e extração de mais-valia e barateamento da produção. A precarização do trabalho, assumindo as mais diversas formas, mais uma vez se coloca como uma dura realidade para a classe trabalhadora.

Contrastando com os dados fornecidos pelo governo, o qual é gerente dos interesses do Capital, as condições de trabalho mostram claro desgaste nos últimos anos. Apesar de o índice de desemprego não demonstrar números tão alarmantes, o que vemos é um deslocamento das oportunidades de trabalho saindo do setor formal para o setor informal.

Segundo o IBGE, entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, cerca de 18,3% de brasileiros migraram para os subempregos e empregos informais. Isso significa dizer que, durante este período, cerca de 114 mil pessoas buscaram oportunidades em empregos sem carteira assinada, bicos ou tentaram abrir um pequeno negócio.

Em 2015, ainda conforme o IBGE, o índice de trabalhadores autônomos nas principais cidades brasileiras atingiu a marca de 19,5%, o maior índice dos últimos oito anos. Esse setor representa uma parcela da sociedade que sobrevive com um rendimento de R$ 1.300 ao mês, entre altos e baixos, devido à instabilidade que essa prestação de serviços oferece.

Soma-se a isso a dificuldade que esses trabalhadores possuem em contribuir para a previdência social. O que se tem são pessoas que passam a maior parte de suas vidas trabalhando em condições precárias, sem direitos trabalhistas e que se aposentam sem receber o devido retorno da sua contribuição para a sociedade.

A precarização das condições de trabalho e o desemprego são elementos essenciais do modo de produção capitalista. É a partir disso que o capital pode curvar a vida das pessoas às suas necessidades. Sobre a pena de ter a nossa vida jogada na miséria, sujeitamos-nos a qualquer forma de exploração e expoliação do nosso trabalho.

A escassez de empregos formais e as demissões em massa que ocorreram em decorrência da crise, empurraram os trabalhadores para o setor de trabalhos autônomos e informais. Essa lógica é extremamente interessante para o Capital, pois as empresas que oferecem a carteira assinada agora podem explorar de forma cada vez mais direta os trabalhadores, os quais, temendo ser colocados para fora do mercado de trabalho, sujeitam-se a condições desumanas de exploração.

É nesse quadro, de precarização do trabalho, que a empresa italiana AlmavivA se instaura em Maceió. Chegando na capital alagoana em 2013 – a partir de incentivo fiscal dados pela prefeitura de Maceió às empresas de Call Center e Telemarketing –, a multinacional se expandiu a ponto de contar, ainda no final do ano passado, com três unidades de trabalho que se localizam nos bairros do Salvador Lyra, da Serraria e do Benedito Bentes.

Cada passo de sucesso dado pela empresa tem sido celebrado, desde então, por parlamentares e por parte da grande mídia local. O atual prefeito, Rui Palmeira (PSDB), com muito louvor, destacou a geração de empregos no atual contexto nacional de crise econômica. Um fato importante a ser ressaltado é que, dentre todas as cidades onde a AlmaVivA possui sede (em países como a África do Sul, Bélgica, Brasil, Colômbia, Estados Unidos e Tunísia), Maceió é a que mais possui trabalhadores empregados pela empresa, contando – atualmente – com cerca de 8 mil trabalhadores empregados.

Toda essa situação, evidentemente, traz profundo entusiasmo à ordem política local. Entre sorrisos e aplausos, em novembro de 2015, a Câmara Municipal de Maceió concedeu títulos de Cidadão Honorário aos presidente e vice-presidente da empresa AlmavivA no Brasil pelos “benefícios trazidos para o desenvolvimento local”. Jovens em sua maioria, as trabalhadoras e trabalhadores contratados pela empresa italiana, no entanto, têm uma opinião diferente sobre a multinacional.

As denúncias feitas por pessoas empregadas pela AlmavivA em Maceió tem crescido. De acordo com o Ministério Público do Trabalho, enquanto no ano de 2014 a empresa recebeu 4 denúncias por maus tratos a trabalhadores, no ano de 2015 esse número saltou para 37. Desde que a AlmavivA se instalou na cidade, a Justiça do Trabalho de Alagoas contabilizou cerca de 300 processos feitos por empregados da empresa.

A lista é vasta, as injúrias são profundas: sobrecarga de trabalho, assédio moral, demissão sem aviso prévio, horas extras não-pagas, falta de atendimento médico, descontos indevidos de salário, não-registro profissional na Carteira de Trabalho e Previdência Social, controle abusivo das idas ao banheiro, pressão por produtividade, expedientes aos domingos e feriados, pausas muito breve para alimentação etc. Essas agressões aos trabalhadores, para a felicidade dos cofres da multinacional, são praticadas pelo preço de um salário mínimo. O discurso da empresa, todavia, é de que ela “valoriza a integridade e bem-estar de seus colaboradores, segue estritamente a legislação trabalhista e não admite comportamentos tidos como impróprios dos gestores”.

Apesar do cinismo, as feridas gritam: além de todas as acusações que a AlmavivA tem recebido de seus próprios trabalhadores em Maceió, uma médica que atendia os operadores de telemarketing da empresa relatou no ano passado, ao jornal Tribuna Hoje, que as várias enfermidades que aqueles desenvolviam estavam associadas às suas condições de trabalho. A Procuradoria do Trabalho em Alagoas indicou que as doenças diagnosticadas com mais frequência são infecção urinária e transtorno mental. Em Sergipe, em junho do ano passado, a trabalhadora Bárbara Monique Souza morreu após sofrer convulsões e ataque cardíaco enquanto trabalhava em uma das unidades da empresa.

Este fardo, carregado pela juventude alagoana, é ocasionado pelo funcionamento do modo de produção capitalista: defende-se, acima de qualquer coisa, o lucro empresarial; impondo-se contra o bem-estar da classe trabalhadora.

Cada uma das negligências, assédios e violências praticadas pela empresa italiana representam maneiras de barateamento dos custos do serviço de telemarketing, e de amordaçamento político desses jovens trabalhadores. Na medida em que estão sob constante ameaça de demissão e num frenético ritmo de trabalho, os operadores de telemarketing se veem em constante perigo. É preciso, pois, combater essas condições de emprego!

  • Fim do assédio moral e da pressão por metas!

  • Por um local de trabalho onde se tenha acesso ao atendimento médico!

  • Chega de descontos e advertências por pequenos atrasos!

  • Pela contratação de mais funcionários para acabar com a sobrecarga de trabalho!

  • Por maiores pausas para alimentação, necessidades fisiológicas e repouso!

  • Por uma sociedade sem exploração!