Jornal 84: Palestina: nova revolta contra a ocupação israelense
12 de novembro de 2015
Não é desse último mês a escalada de violência de Israel contra palestinos, tampouco se restringe à reação por pronunciamento ou hasteamento de bandeira em órgão internacional, como a ONU.
Essa violência remete à história de um povo que tem sido sistematicamente massacrado e dizimado desde a divisão e expropriação de seu território.
No entanto, o que tem chamado à atenção nesse último mês além do insistente confronto desproporcional de Israel – uma das maiores potências bélicas do mundo, com produção, inclusive, de arma química – é o nível de resistência da juventude palestina.
O discurso racista, a quantidade de prisões, inclusive, de crianças e mesmo o alto número de assassinatos cometidos pelo governo e pela repressão israelense não calam e nem paralisam as ações radicalizadas de muitos jovens palestinos, que em último caso, se suicidam, mas não se rendem.
No último Dia de Ira, centenas de jovens palestinos, armados de pedras, facas e coquetéis molotov reagiram novamente às investidas do governo israelense em intensificar as demolições de casas palestinas.
Segundo a ONU, mais de 11 mil ordens de demolição estão sendo executadas por Israel nesse momento e 77% delas são possuídas ou estão em território palestino. Demolição de casas, hospitais e escolas tem sido uma das formas de Israel tentar varrer cerca de 300 mil palestinos da região da Cisjordânia a fim de sustentar sua invasão e ampliar os assentamentos.
Ainda assim, o governo de Israel nesses últimos dias, com seu poder militar, fechou o acesso palestino para Jerusalém Oriental (território palestino invadido por Israel), prendeu centenas de pessoas (sem direito a intervenção judicial) e reformou leis para prender e abrir fogo contra “crianças atiradoras de pedras”.
Junte-se a situações como essas a alta taxa de desemprego entre a população palestina ativa que é de 42% e entre os jovens de 60%. Segundo o Banco Mundial, 39% da população vivem abaixo da linha de pobreza e 80% dependem de doações.
Para o sistema capitalista não é viável manter apenas a superexploração da força de trabalho em todas as partes do mundo. É necessário também destruir, matar e exterminar povos para dominar completamente suas riquezas naturais, especialmente quando se trata de gás e petróleo. Assim é esse projeto de expansão da ocupação do território palestino. Além de sistemático, carrega em si a necessidade de fortalecimento dos Estados Unidos e também do capital sionista na região do Oriente Médio.
A falência dos acordos com Israel
Com isso torna-se sistemático também a crescente indignação da população palestina, que resiste cotidianamente a cada ofensiva israelense.
Desde a Primeira Intifada (1987-1993) passando pela Segunda (2000-2005) e pela escalada de violência entre 2013-2014 milhares de palestinos, principalmente jovens, perderam suas vidas ou têm que suportar as consequências de acordos não cumpridos, o Muro que separa o seu próprio território, as intensas investidas de Israel contra suas moradias e, até mesmo, a proibição de circularem livremente com Israel controlando seus passos. Mas, não suportam calados ou parados.
Além da “Guerra das Pedras” ter se tornado o meio de defesa e de ataque da juventude palestina contra os soldados israelenses – conforme noticiou recentemente o Jornal El País – 42% dos palestinos consideram a luta armada como a melhor saída para a conquista de um Estado Palestino, ou seja, quase metade da população não acredita em acordos com o imperialismo e também aprovam o uso da violência. Contudo, ainda o que se possui massivamente são armas menos potentes e com pequeno poder de alcance como as facas, que surgiram nos confrontos desse último mês.
Sendo assim, não é sem sustentação real que Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, diz abandonar os Acordos de Oslo. Isso significa deixar a atual administração dos territórios palestinos (manutenção da ordem pública, alimentação, garantia de saúde e serviços educacionais públicos, etc.) ocupados pelas tropas do exército de Israel, sob domínio do “poder ocupante”, isto é, coloca parte dos 80% da população – que depende de doações internacionais recebidas pelo governo palestino – na linha de confronto e na dependência direta de serviços públicos a cargo do governo israelense.
Com esse discurso de abandono dos Acordos, Abbas procura atacar várias questões: procura pressionar, perante o mundo, o cumprimento de negociações e cobrar responsabilidade de Israel; reivindicar a intervenção da ONU; procura enfraquecer o Hamas, principal organização impulsionadora da luta armada entre a população palestina e com o respaldo popular.
Os chamados “Acordos de Oslo” – sempre muito questionados entre os palestinos foram a razão do fortalecimento do Hamas, contrário a eles – já duram 22 anos e Israel nunca cumpriu as obrigações firmadas e nem deu passos para o reconhecimento, pelos israelenses, do Estado de Palestino. Nas mesas de negociações têm prevalecido as “negociações permanentes”, ou seja, enrolação.
No entanto, o que fará a burguesia da Autoridade Nacional Palestina sem o poder político e com a perda de cargos e de altas doações internacionais recebidas de países árabes e europeus não se pode prever.
Mas, certamente é possível entender o que acontece com o povo trabalhador em situações como essa. Contra o povo palestino tem se tornado imprescindível intensificar as várias formas de opressão, repressão e de criminalização dos movimentos de resistência.
E se já não bastasse tudo isso, além das prisões de milhares de jovens, Israel também alterou a legislação para que os franco-atiradores possam abrir fogo contra crianças e estabeleceu sentença para prender atiradores de pedras, o que encarcerou mais de 150 crianças somente em Jerusalém Oriental.
Esse tem sido o papel do Estado de Israel, junto com outras potências imperialistas, especialmente em períodos de crise, exterminar povos para manter a superioridade territorial em regiões férteis e garantir a apropriação das riquezas naturais. Portanto, não se poderia criar ilusões em acordos com Israel, fadados previamente ao fracasso.
Israel jamais permitiria a existência sequer de dois Estados. Reconhecer o Estado Palestino significaria, para Israel, recuar nas invasões, levantar acampamentos e, acima de tudo, abandonar parte do projeto do capital americano para a região, além de fragilizar todo o discurso religioso que alimenta a consciência de um “povo de Israel” pelo mundo.
Por essa e outras razões que os Acordos de Oslo representam uma ilusão da direção palestina, negociando com um inimigo que jamais vai aceitar pacificamente a existência de um Estado Palestino e, muito menos, do povo palestino.
Dessa forma, o “ultimato” de Abbas representa, na verdade, uma corda no pescoço da população trabalhadora palestina e dos movimentos de resistência para forçar uma intervenção da ONU.
A necessidade urgente de unidade da classe trabalhadora mundial
Com a crise estrutural do capital não temos outra saída a não ser o fortalecimento da luta global e da unidade da classe trabalhadora mundial para enfrentar a intensificação da exploração em cada país.
É fundamental a unidade da classe trabalhadora palestina e israelense para a resistência contra todas as formas de opressão, de intensificação do trabalho e de exploração na região, ou seja, contra todos os ataques do capitalismo em crise no sentido de sua superação. A defesa do povo palestino é a defesa de um Estado laico, onde convivam os trabalhadores árabes e israelenses, no lugar desse Estado racista e excludente! Somente com a dissolução do Estado sionista de Israel teremos uma Palestina laica, democrática e multiétnica capaz de agregar a classe trabalhadora palestina e israelense num mesmo território!
Portanto, é necessário que o internacionalismo seja ativo e concreto, já que as relações de produção/exploração são mundializadas. Precisamos construir esse internacionalismo no dia a dia, nos locais de trabalho, estudo e moradia. A formação de Comitês, campanhas de apoio e solidariedade em sindicatos, diretórios acadêmicos e grêmios estudantis são fundamentais para fortalecer essa luta.
Pela dissolução do Estado de Israel! Por um Estado laico, democrático e que agregue o proletariado multiétnico no território da Palestina! Por uma confederação socialista do Oriente Médi