Começam as mobilizações
26 de janeiro de 2015
Desde o início do ano, as passagens de ônibus, metrô e trem tiveram reajuste. E bem acima da inflação. Como em 2013 empresários e governos foram obrigados a recuar, aproveitam o momento (pós-eleições e férias escolares) para tentar recompor a lucratividade das empresas de
transporte com aumento mais que o dobro da inflação no período.
Mas, a resistência começou bem forte. Somos milhares de pessoas, sobretudo, jovens que voltamos às ruas enfrentando a repressão e as mentiras da mídia. E em vários estados.
Na capital de São Paulo, até esse momento, já foram três grandes manifestações reunindo milhares de pessoas. No ABC paulista já aconteceram manifestações em todas as cidades da região. No dia 16 de janeiro também aconteceram manifestações em várias cidades do país como Belo Horizonte, Florianópolis, Vitória e Rio de Janeiro.
As manifestações estão sendo impulsionadas por várias organizações dos movimentos sociais. Na capital de São Paulo o MPL está à frente e também se constituiu outros espaços de luta como o Comitê de Luta pelo Transporte Público (CLTP) com PCB, Esquerda Marxista, Movimento Revolucionário Socialista e Espaço Socialista. E o Comitê Contra o Aumento nas Tarifas no ABC, do qual participam as várias forças de esquerda da região. São os primeiros passos de uma longa luta.
Não é uma luta fácil e nem terá solução rápida porque enfrenta governos bem comprometidos com os donos das empresas e com o fortalecimento dos negócios privados. E em muitas cidades os donos das empresas de ônibus foram os maiores financiadores das campanhas eleitorais.
Ampliar a pauta
A luta contra o aumento das tarifas é sem dúvida muito importante. Mas, pensamos que é preciso ir além dessa luta. Uma das características das mobilizações de junho de 2013 foram as pautas que extrapolaram o tema da tarifa. A Educação, transporte (para além das tarifas) e Saúde públicas de qualidade foram algumas das reivindicações.
Reivindicações que eram contrapostas aos gastos com a construção de obras e estádios para a Copa. Pensamos que, para fortalecer a luta contra o aumento das tarifas, é importante as reivindicações da estatização do transporte público sob controle dos trabalhadores e usuários (de maneira que todos possam decidir sobre o itinerário, horários, etc.). Gratuidade e qualidade. Não basta dizer que é público e não decidirmos nada, não basta dizer que é público e pagarmos. Ônibus, metrô e trem precisam atender as necessidades da população, não das empresas. Também é necessário lutarmos contra o desemprego e estabelecermos unidade e solidariedade às lutas contra as demissões.
Retomar a pauta da Educação para exigirmos 10% do PIB já para a Educação Pública e mais 10% para a Saúde pública dentre várias outras reivindicações para melhorar a vida da classe trabalhadora. Precisamos também adicionar na nossa pauta a questão do direito à água, pelo menos em São Paulo. A crise hídrica (mesmo com a falta de chuva e a falta de investimento para garantir lucro dos acionistas) tem desabastecido, exatamente, a população das periferias.
Também sabemos a importância de a esquerda assumir essas bandeiras históricas, pois uma das lições de 2013 foi a demonstração de como a direita busca desviar o foco da luta quando percebe que a classe trabalhadora poderá ser favorecida. Obrigar os governos e o empresariado do transporte a revogarem o aumento das passagens é de grande importância para o cotidiano dos trabalhadores e estudantes mas, diante dos problemas que enfrentamos ainda é pouco.
Essas bandeiras possibilitam trazer mais pessoas para as mobilizações e construir a unidade da juventude com os demais trabalhadores, pois a maioria de nós depende da Saúde e de Educação públicas.
De onde poderia vir o dinheiro?
Muitas pessoas sempre perguntam de onde pode vir o dinheiro para custear essas reivindicações. Respondemos: Não pagando a dívida pública. Praticamente metade de tudo o que o governo arrecada (ou seja, da riqueza produzida por nós trabalhadores e absorvida por impostos) é desviada para pagar a dívida pública.
Para 2015 a previsão de arrecadação federal é de 1,35 trilhões de reais. Com esse dinheiro é possível garantir a gratuidade das passagens e as demais reivindicações. No entanto, os governos (PT, PSDB, etc.) preferem abrir a torneira para os especuladores e banqueiros se apropriarem do dinheiro público.
Passe escolar gratuito
Em várias cidades da Grande São Paulo e na capital, prefeitos e governador anunciaram que estavam concedendo o passe livre. Parece uma espetacular vitória, mas é preciso esclarecer o que está por trás disse e que se trata também de uma manobra para dividir quem luta contra o aumento.
Primeiro não se trata exatamente de passe livre gratuito, pois quem está pagando são os demais usuários com o aumento da tarifa. Além disso, há várias restrições para sua utilização: limita o uso aos estudantes de escolas públicas, limita horários e não autoriza a utilização nos fins de semana e feriados.
Isso significa que com o novo valor das passagens os prefeitos e Alckmin estão “dando esmola com chapéu alheio”. Portanto, quem deve financiar a tarifa zero é o próprio Estado (com a arrecadação) e não o bolso do estudante e o salário do trabalhador. A estatização do transporte coletivo é fundamental para colocar o dinheiro público no seu devido lugar e não a serviço dos empresários do transporte.
A luta contra as demissões
Mesmo pelos dados oficiais (menores do que outros institutos de pesquisa, como o DIEESE) indicam o aumento do desemprego, sobretudo, no setor industrial. Fechamento de postos de trabalho (demissões sem recontratação) em vários setores da indústria, milhares de trabalhadores em sistema de layoff (suspensão do contrato de trabalho por um período) e outras tantas ameaças.
Aproveitando essa situação as montadoras estão chantageando os trabalhadores e tentando retirar direitos. É o caso da VW e da Mercedes no ABC.
A VW, no fim do ano passado, com o apoio do sindicato, tentou mudar a Convenção Coletiva que retiraria a data base desse ano (ou seja, não teriam aumento salarial e os trabalhadores receberiam apenas um abono). Em 2016 só concederia a inflação e mais 1% de aumento real. Rejeitada a proposta, após o fim das férias coletivas, a empresa quebrou o acordo que garantia estabilidade e demitiu 800 trabalhadores com ameaça de mais 1300.
Os trabalhadores responderam com a maior greve dos últimos anos na empresa. Depois de 11 dias, as demissões foram revertidas. No entanto, o acordo que já tinha sido rejeitado foi aceito. Se por um lado foi uma vitória dos trabalhadores, por outro também demonstrou que se tratava de uma pressão da empresa para os trabalhadores aceitarem o acordo anterior, bastante vantajoso para a empresa garantir a sua lucratividade, ainda mais em tempos de queda de produção e de vendas.
Já na Mercedes são 750 trabalhadores em layoff até o fim de abril. E mesmo assim em janeiro foram demitidos 244 trabalhadores que já estavam em layoff, indicando que pode haver mais demissões.
A luta contra demissões é uma luta política e precisa de muita solidariedade. É urgente a unidade nas lutas e uma ampla campanha contra as demissões. Observamos, nesse processo, o quanto a direção sindical dos Metalúrgicos, ligada à CUT, tem sido submissa à patronal. Certamente não vai buscar se unir às lutas contra o aumento passagens, contra a falta de água, etc. E nem vai fazer uma campanha contra as demissões. Por isso é fundamental que uma central sindical de esquerda, como a CSP-Conlutas, construa as lutas e impulsione uma campanha de solidariedade com ações práticas e com ampla mobilização de todas as bases dos sindicatos filiados a Central.