Jornal 72: “Não deixe que a universidade atrapalhe seus estudos” (Maio de 1968)
18 de setembro de 2014
Muitos defensores do governo do PT podem discordar do sentido do título desse texto, afirmando que a universidade brasileira, pós-Reuni, tornou-se, de fato, uma universidade popular. Podem afirmar que o acesso ao ensino superior deixou de ser um privilégio da classe média, visto que com o FIES (Fundo de Investimento Estudantil) e o ProUni (Programa Universidade para Todos), bem como com a expansão das universidades federais, pessoas com baixo poder aquisitivo agora podem sentar nas cadeiras da academia.
Pois bem! Não negamos que a quantidade de pessoas com acesso ao ensino superior aumentou ao longo da gestão petista. Contudo, esse aumento quantitativo, nem de longe, foi acompanhado por um aumento qualitativo das condições de estudo. O “popular” do PT é um termo útil na tentativa de mitigar o antagonismo de classe próprio da nossa sociedade capitalista.
As jornadas de junho, do ano passado, levaram milhões de jovens às ruas, expressando a vontade de mudar os rumos do país. Mesmo com o grande contingente de manifestantes insatisfeitos, a consciência socialista não foi desenvolvida. Como consequência deste fato, a direita articula e apresenta “um novo caminho”: Marina Silva (a qual, diga-se de passagem, ganhou a simpatia – e os votos – de muitos pelo sensacionalismo da mídia em relação ao ocorrido com Eduardo Campos).
Europa, Oriente Médio, América Latina e em várias outras partes do mundo sabemos que juventude vive em condições muito complicadas. Sofremos com o desemprego, com a falta de lazer, com a falta de perspectiva de futuro. Enfim, a sociedade capitalista nada oferece a não ser uma vida sem sentido.
Para nós, jovens estudantes socialistas, a frase acima, pichada nos muros parisienses em 1968, ainda possui completa significância política. É uma frase que resume a nossa posição diante da atual conjuntura da Educação no Brasil.
Quem lucra com o saber?
As pessoas que estão nas faculdades privadas são, em sua maioria, jovens que se submetem a empregos precarizados, a fim de poderem pagar a mensalidade abusiva do seu curso; enquanto que nas universidades públicas, ainda conserva-se o caráter branco/pequeno-burguês de seu corpo discente.
O crescente repasse de verbas públicas para as instituições de ensino privadas é um fato alarmante que nos indica a crescente mercantilização da Educação. Muitos empresários especulam o valor do conhecimento e, junto ao governo federal, barganham isenção de impostos e outros benefícios que lhes trarão maiores lucros. Um exemplo disso é o movimento “Todos pela Educação”, um movimento de grandes capitalistas que, intervindo na construção do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) orientaram as metas do atual PNE (Plano Nacional de Educação) junto ao governo federal. A parceria público-privada é uma constante por todo o plano. Não é à toa que os 10% do PIB (Produto Interno Bruto) foram também destinados para as instituições de ensino privadas.
Se “os menos favorecidos” agora frequentam as faculdades privadas, quais são as suas condições de estudo? Seráque os estudantes podem se organizar para reivindicarem diminuição do preço da mensalidade ou qualquer outra pauta contrária à gerência da faculdade? Estas são perguntas importantes para nós do Movimento Estudantil que apoiamos estudantes em luta, seja na universidade pública ou nas instituições privadas.
Cadê a assistência estudantil e a democracia?
Muitos são os problemas vivenciados cotidianamente nas universidades públicas: pouca quantidade de vagas na residência/moradia estudantil (quando existe uma…); limite de usuários nos restaurantes universitários; carência de bolsas de pesquisa e extensão; precariedade na infraestrutura dos prédios, ou até mesmo a falta de prédios e de materiais de estudo, a exemplo dos pólos descentralizados da UFAL; exploração de mão de obra barata através das bolsas de trabalho, pelas quais o aluno exerce uma função burocrática para ganhar uma quantia no mesmo valor de uma bolsa de pesquisa (R$ 400,00) e etc.
Para enfrentar esses problemas é preciso entender que o PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil) nãoé um tipo de favor prestado pelo MEC (Ministério da Educação). A assistência estudantil é um direito dxs alunxs. Se o acesso à universidade já se dá de maneira injusta, dado que o vestibular/ENEM não passa de uma “peneira”, a permanência do estudante oriundo da classe trabalhadora, com a ausência de políticas de assistência eficientes, torna-se complicada, visto que muitos, para se manter, vendem sua força de trabalho em diversos tipos de empregos precarizados.
Além do acesso e da permanência, há outra questão: democracia na universidade. Esse é um ponto muito importante que precisa ser discutido, ainda mais em um momento em que a permanência da Polícia Militar no campus aparece como algo típico e necessário para a garantia da segurança.
Assim como a aprovação da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), a instalação da PM no campus da UFAL deu-se por um ato antidemocrático da reitoria. Não se discutiu com a comunidade acadêmica sobre essa política de segurança adotada e, muito menos, sobre a política de privatização do Hospital Universitário. Quem levantou o debate em torno dessas duas medidas, foi o Movimento Estudantil, os professores e os técnicos que não se deixam intimidar pela reitoria.
Só a luta muda a vida!
Atuar politicamente é uma experiência árdua, mas, também é, uma experiência repleta de prazeres. Muitos militantes, quando começam a pensar sobre a construção de uma sociabilidade para além dos ditames da sociedade burguesa e iniciar a militância política revolucionária, diante da primeira desilusão (sim, deparamo-nos com ela em muitos momentos…) podem se desestimular, desistindo, assim, de permanecer organizados.
Contudo, inseridos nessa realidade, a qual nos indica aparente solução para as crises que vivemos, não só na Educação com teorias escapistas, religiosas, individualistas, pós-modernas, etc., que buscamos ter uma sólida compreensão das leis que regem a sociedade capitalista.
Uma das formas de combater essas dificuldades é a formação política e teórica, onde podemos compreender e entender todas as dificuldades do processo revolucionário, nos fortalecendo e juntos podemos de fato fazer um enfrentamento real a essa realidade que nos oprime. Uma formação para qualificar a nossa intervenção prática.
Pavimentar o caminho da militância revolucionária da juventude para uma luta imediata, mas, especialmente, para a luta pela revolução (que não se esgota com a tomada do poder político de Estado) é uma tarefa diária.
Assim, compreendendo que a militância não pode ser algo imediato e passageiro é que se poderá absorver as lições das muitas derrotas e vitórias que encontramos no caminho da revolução e que continuarão a servir de exemplo para as gerações futuras.
Construir um coletivo da juventude!
O futuro da revolução depende da chegada de novos batalhões da juventude para a luta socialista. Novos militantes, mais energias, disposição revolucionária e esperança no futuro socialista são urgentes. Estamos lutando para construir uma alternativa.
Nós, que estudamos para compreender a realidade e atuar nela em prol da emancipação humana, estamos também organizados no Movimento Estudantil. Prezamos pela construção de um movimento que fortaleça as suas entidades de base (centros e diretórios acadêmicos) e que se coloque sempre contrário a qualquer tentativa de burocratização e aparelhamento dos instrumentos de luta estudantis.
Conforme a nossa concepção política de Movimento Estudantil, nós estamos unidos com o objetivo de apontar os limites da universidade burguesa. Esta que possui uma configuração completamente orientada para a defesa de interesses que não são os interesses dos explorados, mas sim dos exploradores.
Frente a tal antagonismo de classe, nós não reconhecemos o PT, senão como mais um governo burguês neoliberal. Um exemplo de partido que nos demonstra que o capital é inalterável em sua lógica de dominação de classe. Dilma, Marina Silva ou Aécio Neves representam um único projeto realizável no sistema econômico capitalista: o projeto do lucro para os capitalistas.
Não iremos deixar que a universidade atrapalhe os nossos estudos e a nossa organização política! Nossas reuniões já estão ocorrendo. Estamos discutindo um programa e quais as maneiras de nos organizar. A ideia é de construirmos juntxs com quem se propõe a fazer parte dessa empreitada. Pensar coletivamente o que fazer e como fazer! Construa conosco a luta no Movimento Estudantil!