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Jornal 70: Encarte especial: Eu vou à luta com essa juventude


24 de julho de 2014

“Eu vou à luta com essa juventude”

 

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Lutamos contra o capitalismo

Por mais que a gente lute no capitalismo, por mais que a gente consiga conquistas, logo em seguida os governos e empresários inventam um jeito (uma nova lei, a inflação, etc.) de retirar aquilo que conquistamos. É como o cachorro correndo atrás do rabo. Cada pequena conquista de hoje a roubam amanhã.

Todas essas lutas e conquistas são muito importantes para a juventude e para os trabalhadores. Mas, achamos que é preciso ir além. Precisamos lutar pela mudança da sociedade de conjunto. Enquanto os capitalistas continuarem governando o Brasil e o mundo não vamos ter mudanças de verdade.

Na sociedade capitalista tem um grupo pequeno de pessoas – que vive de regalias e alimenta o favorecimento de mais alguns para manter ou controlar o poder (os chamamos de burocratas) – que decide os rumos do país. Nada é decidido a nosso favor e para nosso favorecimento. Decidem para agradar o poder, que também os agradará. O capitalismo só nos oferece muita exploração, empregos com baixos salários ou desemprego, fome, miséria, guerras. É assim que os ricos continuam mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, mesmo com estatísticas mostrando mudanças na renda.

Lutamos pelo socialismo

Nós pensamos que tudo isso só vai mudar quando a classe trabalhadora puder decidir sobre tudo na sociedade. No socialismo a democracia verdadeira vai ser realizada pelos trabalhadores que vão decidir o que vai ser feito sobre os hospitais, escolas, transporte coletivo, praças, locais de lazer, etc. Nessa sociedade não haverá fome, exploração, guerras, desemprego. As pessoas serão muito mais importantes do que coisas, tudo que for feito será em benefício de toda sociedade e não de uma minoria, como é no capitalismo.

Mas essas mudanças só poderão acontecer com uma revolução socialista, com os trabalhadores tirando a burguesia e seus representantes do poder.

Por um poder dos trabalhadores.

Somos revolucionários porque não acreditamos que essas mudanças possam acontecer pela atuação no parlamento ou por mudanças e reformas graduais. Todos os governos que tentaram fazer mudanças sem fazer revolução fracassaram, pois a burguesia não aceitou as mudanças e terminou derrubando esses governos com golpes militares.

Em outros casos, esses governos e partidos que prometiam mudar o mundo sem fazer revolução passaram para o outro lado, fazendo o jogo da burguesia. Esse é o caso do PT, um partido que nasceu das lutas operárias dos anos 80, hoje é um dos mais fiéis aplicadores de uma política burguesa. Todas as suas medidas visam continuar garantindo o poder da burguesia.

 

Me organizando posso”… lutar para transformar!

Não nos conformamos com esse mundo cheio de desigualdades, de injustiças e com a burguesia (que é uma minoria de empresários) ficando com quase tudo que a imensa maioria (que são milhões) produz.

Toda a riqueza produzida por quem trabalha vai parar nas mãos do burguês. Quando fica na mão dos governantes, só fazem o que interessa aos ricos e poderosos.

Por isso, achamos que devemos nos dedicar e lutar para mudar as coisas!

Não estamos contentes com esse mundo, que não vai mudar se não lutarmos. A razão de nossa existência é contribuir para que trabalhadores e juventude tenham consciência da necessidade da luta e acreditem na força que têm para continuarem lutando.

Nada vem para nós sem luta.  A melhoria da qualidade da Educação, por emprego, aumento de salário, não aumento de preço da passagem, só conseguimos com muita luta mesmo.

Mas para lutar é preciso se organizar, se juntar. As pequenas ou grandes mudanças, como uma revolução, só fazemos quando as pessoas se juntam e se organizam para transformar a realidade.   Seja nas entidades do movimento estudantil, nos sindicatos, em grupos no local de estudo ou de trabalho, nos bairros e periferias, nos coletivos ou partidos revolucionários, enfim, para enfrentar a burguesia e toda a repressão só com muita unidade. Uma classe poderosa como a burguesia só será derrotada com muita luta e organização.

Fazer e não esperar acontecer… é pra quem sabe!

Sempre ouvimos que brasileiro é acomodado e que nunca luta. Essa ideia é falsa, pois na história brasileira encontramos muitas lutas e rebeliões de índios, escravos, trabalhadores, mulheres, camponeses e da juventude. Foram lutas tão fortes que os poderosos tremem ao pensar que podem acontecer outras.

Em muitas dessas lutas a presença da juventude foi intensa: Pelo fim da escravidão, pelo direito ao voto das mulheres, contra o Estado Novo, na Campanha pelo petróleo é nosso, contra a ditadura militar, pelas Diretas já, pelo Fora Collor, pelas Ocupações de reitorias.

E em junho do ano passado foi a mesma coisa: Milhões de jovens foram às ruas indignados com a condição de vida a qual estamos submetidos, falta de lazer, de transporte, de Educação e de Saúde públicas decentes e com um futuro sem perspectiva.

Mesmo com as manifestações de junho tendo colocado nas ruas um grande número de jovens e trabalhadores, que reivindicavam melhorias nos serviços públicos, não podemos dizer que ocorreram grandes mudanças. Continuamos sem emprego decente, com a escola pública cada vez pior, com muitos de nós sem conseguir entrar na universidades pública (e obrigados a ingressarem nas universidades particulares, em que o ensino foge cada vez mais do tripé pesquisa-ensino-extenção e admite o caráter tecnicista), as passagens de ônibus continuam caras e ainda estão lotados e a Saúde pública segue caótica. Enfim continuamos com quase nada, embora mais fortalecidos com as lutas.

Estudamos, trabalhamos e nos esforçamos para nos formar, mas não sabemos se teremos emprego ou sequer se teremos vida, diante de tantos problemas enfrentados pela juventude.

E quando olhamos para os governos e partidos: PT, PSDB, PMDB e os outros partidos burgueses vemos que são praticamente a mesma coisa. Não querem mudar nada. O discurso é para enrolar, confundir e buscar dividir os votos entre cada um deles.

Temos muita coisa para mudar e não queremos e nem podemos ficar esperando pela vontade dos políticos profissionais e por esses partidos! Vamos continuar lutando e do nosso jeito!

 

Onde tem luta, tem juventude

Praticamente em todos os lugares do mundo tem jovem se rebelando: Nas praças do Oriente Médio, nas ruas da Europa, em muitos países da América Latina, nas escolas e nas universidades, nas greves de várias categorias (como professores, bancários, dentre outras). A falta de emprego, o emprego precarizado (sem direitos, baixos salários, com dia e hora marcados para sair, etc.) e as condições de sobrevivência unem a indignação da juventude nesses protestos contra as injustiças, os problemas sociais e políticos.

No Brasil a juventude se fez presente nas jornadas de junho, com milhões de jovens ocupando as ruas, se enfrentando com a repressão policial e deixando os governos tremendo de medo com a gigantesca força das lutas. Também tem jovem se rebelando nas periferias e nos empregos precários.

Precisamos dar um sentido a essas lutas, unindo e colocando toda essa energia a serviço da transformação não só das coisas imediatas, mas do próprio sistema social, ou seja, contra o capitalismo.

 

Não tem outra saída: Precisamos construir uma alternativa socialista

Vários grupos de direita (que defendem a exploração, são racistas, machistas, homofóbicos e contrários a qualquer legislação que os possa contrariar e favorecer maior liberdade democrática) participaram das mobilizações de junho, tentando desviar o caráter de nossa luta e já ocupam lugar nas entidades estudantis nas universidades.

A direita e a burguesia sabem que muitas revoluções aconteceram exatamente nas crises e por isso, assustadas, fazem de tudo para ter mais controle sobre os trabalhadores. E nesses momentos, grupos de direita e fascistas se organizam e preparam golpes militares, impondo leis para restringir a democracia, utilizam a imprensa e as instituições como polícia e o judiciário para nos ameaçar.

Nas crises econômicas e sociais os socialistas precisam apresentar propostas de mudanças que favoreçam a classe trabalhadora e de ruptura com o capitalismo, pois é o momento que se aprofundam os problemas e os limites da sociedade regida pelo capital.

Por isso que consideramos fundamental a construção de uma alternativa socialista que possa levar à frente as tarefas de construção de uma organização revolucionária e de contribuição para desenvolvimento da consciência de classe entre os trabalhadores, que por produzir toda a riqueza do mundo, é a única classe com condição de se apresentar como alternativa de fato.

 

Por um Movimento Estudantil classista e combativo

O movimento estudantil existe para que nós, estudantes, juntamente com professores e técnicos, expressemos os nossos posicionamentos políticos a partir de onde estamos situados, ou seja, na universidade, que não é como uma máquina que opera automaticamente ao se apertar um botão. Diferente disso, a universidade é um espaço vivo, repleto de opiniões divergentes acerca de várias questões que perpassam a Educação.

Com as entidades de base – centros/diretórios acadêmicos e Diretório Central dos Estudantes – podemos participar dos meios deliberativos da universidade: reuniões de colegiado de curso, reuniões dos conselhos de institutos e reuniões do conselho universitário. Porém, a nossa participação na construção de uma universidade pública, gratuita e de qualidade não se restringe aos espaços institucionais. Afinal, foram os estudantes, com muita luta ao longo dos anos, que conquistaram o direito de também criar os seus espaços de discussão e deliberação, a exemplo das assembleias gerais estudantis, congressos e conselhos de entidades de base.

Historicamente, o movimento estudantil demonstrou a sua capacidade de organização e de luta. A partir de 2007 com a Reforma Universitária, implantada nas universidades brasileiras pelo governo do PT, questionou o plano da Reforma, levantando o seu caráter excludente.

E foram os estudantes que, unidos, partindo de uma ampla pauta sobre assistência estudantil, reivindicaram Restaurante Universitário para todxs. Se rebelaram contra a privatização dos Hospitais Universitários com a implantação da EBSERH, levantando a bandeira de defesa do Sistema Único de Saúde. Tivemos a ousadia de levantar um debate sobre segurança na universidade sem admitir, como um fato natural e irrefutável, a presença da polícia militar no campus. Enfrentamos, diariamente, os problemas de infraestrutura nos campus localizados em várias partes do país, especialmente no interior dos estados. Somos nós que, diversas vezes, enfrentando a autoridade descabida das reitorias, mostramos que fora dos muros da universidade, existe uma sociedade perpassada por conflitos de classe.

Portanto, é compreendendo que vivemos em uma sociedade de explorados e exploradores, que podemos começar a entender porque a vida do estudante oriundo da classe trabalhadora não é fácil na universidade. As políticas de assistência estudantil são falhas, quando não, inexistentes. Se enfrentamos, cotidianamente, a precarização do local de estudo, só nos resta nos organizarmos, a fim de nos mobilizarmos, pois a Educação pública, a cada dia que passa, está sendo ameaçada pelas iniciativas privatistas daqueles que lucram com o sistema educacional.

Aliado ao governo federal o empresariado elabora o seu projeto de Educação, o qual está inserido em um projeto maior de sociedade. E embora muito se fale a respeito de um maior acesso das camadas populares ao ensino superior, questionamos que ensino superior é esse que está posto para a juventude. Entendemos que é um ensino voltado para atender, puramente, as demandas do mercado de trabalho. Em várias dessas universidades particulares, não há preocupação alguma com o sentido da formação profissional para além das perspectivas mercadológicas de Educação. Afinal, só a acumulação de dinheiro tem sentido na sociedade em que vivemos atualmente, a sociedade capitalista.

Enfim, somos a favor de uma Educação pública, gratuita e de qualidade para todo/as que forme e pesquise em benefício do trabalhador e não em benefício dos empresários, governantes e demais gerentes do capital! Somos a favor de um movimento estudantil e da juventude da classe trabalhadora que preze pela unidade na ação e pelo fortalecimento da luta. Queremos construir um movimento orientado pelo espírito de radicalidade crítica, pois nos cabe a seriedade e o compromisso de estudar para interferir na luta de classes, lado a lado com aqueles que produzem a riqueza social que usufruímos no nosso cotidiano.

 

Propostas para a construção de um Coletivo

Ser contra as injustiças e ficar somente reclamando dos problemas não fazem a realidade melhorar, pelo contrário, só vão piorando.

Para mudarmos é preciso nos organizar nos locais de estudo, de trabalho, de moradia construindo debates e impulsionando ações concretas juntamente com quem realmente sente o peso da exploração. Nada cai do céu. É preciso esforço e dedicação militante.

A crise em torno da alternativa socialista faz com que não compreendamos a necessidade de nos organizarmos politicamente para transformar a sociedade. Há muita descrença e desesperança quanto a uma militância organizada.

Temos plena consciência das dificuldades que enfrentamos ao nos colocar esse desafio. Mas, se não superarmos essas dificuldades não conseguiremos derrotar o capitalismo e construir um novo mundo.

É para responder a essa situação e ajudar na construção de uma alternativa para a juventude que o Espaço Socialista está fazendo um chamado para a construção de um Coletivo Nacional de Juventude que, nesse momento, atuará junto ao movimento estudantil e à juventude da classe trabalhadora para organizar e atuar nas lutas.

Nessa edição apresentamos algumas propostas programáticas como referência para iniciarmos os debates sobre a construção desse Coletivo e também para expormos as linhas ideológicas iniciais para sua consolidação:

 

  • Anticapitalistas, revolucionárixs e Socialistas: Muitos acreditam que os problemas que os trabalhadores e a juventude sofrem são por azar ou porque Deus quer.  Para nós, esses problemas são decorrentes da exploração capitalista em que uns poucos ficam com aquilo produzido pelos trabalhadores. Somos contra a exploração. Somos contra o capitalismo.

Mas, não somos somente anticapitalistas, também lutamos para construir uma alternativa. Lutamos pelo socialismo. Com tantos problemas no mundo, com tantas guerras e tantas pessoas passando fome, a afirmação “Socialismo ou Barbárie” nunca foi tão verdadeira.

O socialismo é um sistema social, com a produção e o poder político sob controle dos trabalhadores, quem decide é quem trabalha e produz a riqueza. E põe fim à exploração do homem pelo homem. Somente alcançaremos o socialismo com a revolução socialista.  A burguesia não vai entregar “de boa” o seu poder e nem a riqueza que acumulou se apropriando daquilo que produzimos com o nosso trabalho.

 

  • Somos Classistas: Nos propomos a organizar a juventude da classe trabalhadora. Defendemos a independência política da classe trabalhadora e não nutrimos nenhum apoio ou confiança na burguesia. Estamos incondicionalmente juntos e somos parte da classe trabalhadora;

 

  • Somos internacionalistas: Trabalhador e juventude são explorados em qualquer país. Onde tem capitalismo, tem exploração. E onde tem luta de trabalhador nós apoiamos. Apoiamos os trabalhadores do Egito que lutam contra a ditadura, os espanhóis, os franceses e demais trabalhadores europeus que resistem à retirada de seus direitos. Apoiamos os povos que enfrentam a invasão dos exércitos imperialistas. Também apoiamos os palestinos que lutam contra a ocupação do exército israelense que já assassinou milhares de trabalhadores e jovens palestinos.

É uma necessidade eliminar a burguesia de todo o planeta, permitindo assim a construção de um mundo socialista. Por isso, lutamos pela revolução mundial, pois, acreditamos que o Socialismo será mundial, ou não será.

 

  • Antigovernistas: Não defendemos o governo da burguesia que garante a exploração, a intensificação da precarização do trabalho para juventude e administra o Estado para manter a acumulação para poucos e incentivos para as grandes empresas enquanto não temos Educação, Saúde e transporte públicos de qualidade e moradia digna para a classe trabalhadora. Não apoiamos governos e seus defensores que se dizem contrários à destruição da juventude, mas, não coíbem o trabalho escravo; o genocídio da juventude negra na periferia e o tráfico de drogas; tratam a juventude como caso de polícia; possibilitam o esgotamento físico/mental e o tédio com o excesso de trabalho ou a falta de emprego; e favorecem o modo de vida capitalista, em que a perspectiva possível é viver para trabalhar.

 

  • Não acreditamos que no parlamento possa ter conquistas reais para os trabalhadores: É um poder dos ricos e governa para os ricos. Esse sistema político se move pela compra de votos dos parlamentares, em que cada um representa algum setor do poder econômico. São financiados por banqueiros, empreiteiros, industriais ou empresas que vivem dos serviços do Estado, tudo o que fazem é para atender os interesses econômicos desses capitalistas.

Nos dedicamos a construir  a luta direta, ou seja, que não dependa nem do parlamento e nem de outra instituição burguesa  para ser feita. A luta direta é a unidade do trabalhador e da juventude na rua, enfrentando o poder burguês.

 

    • Por uma Educação a serviço dos trabalhadores: Destacamos que a universidade e a escola é um espaço por excelência de reprodução das ideias da burguesia. Por isso é preciso transformá-las. A luta pela qualidade de ensino e de aprendizagem, por mais verbas para a Educação pública, etc. é parte de uma necessidade e da crítica que fazemos do próprio modelo de Educação.

Por mais que possamos encontrar democracia em uma universidade ou escola, o fato é que a sua lógica está a serviço do capital (produção de conhecimento para as grandes empresas, transferência do dinheiro público para as instituições particulares, nas universidades particulares qualifica maior número estudante com menor qualidade científica para reduzir o valor salarial no mercado e aumentar a exploração no trabalho, etc.)

Consideramos fundamental que no interior da universidade e da escola o foco deva ser colocar a Educação sob controle dos trabalhadores para que possamos repensar seus principais fundamentos.

É com esse foco ou estratégia que lutamos pela Educação pública, gratuita, de qualidade.

 

A luta pela reconstrução do movimento estudantil

  • Acreditamos na reconstrução do movimento estudantil: Temos a convicção de que o movimento estudantil passa por uma crise de identidade, com pouco reconhecimento dos estudantes. Mas, ainda é um importante movimento para organizar a juventude brasileira.

Por isso, uma das tarefas do Coletivo é ajudar o movimento a se reconstruir e ser uma alternativa para os estudantes e para a juventude em geral. Essa reconstrução também passa por construir uma nova concepção e uma nova prática. Assim, o Coletivo visa contribuir com a tarefa de construção de um novo movimento estudantil colado à juventude em geral e que se pautará:

 

  • Por atuação em seus locais de estudo e trabalho (ou seja, trabalho de base): Uma das maiores deficiências do movimento estudantil é a falta de trabalho junto aos estudantes. Via de regra, as entidades estudantis têm pouca inserção entre os estudantes. Esse Coletivo se propõe a contribuir para reverter essa situação, atuando junto e na base do movimento, organizando os estudantes para as lutas locais e para as lutas gerais da juventude e da classe trabalhadora. É, ao nosso modo de ver, a necessidade de buscarmos novas formas de luta e de organização em que o próprio estudante tenha peso nas decisões das entidades para fortalecer um novo momento do movimento estudantil.

 

  • Por entidades coladas às necessidades dos estudantes (contra direções burocráticas): Impulsionaremos a construção de formas e mecanismos de democratização das entidades do movimento estudantil. Os CA’s, DA’s e DCE’s estão muito afastados dos estudantes, que consequentemente têm pouca participação nas decisões. Defendemos e lutaremos para que as gestões dessas entidades sejam extremamente democráticas. Essa democracia deve começar já na própria formação das chapas. Ao contrário do que ocorre hoje (em que Correntes políticas fazem acordo a portas fechadas) a composição das chapas deve ter como critério o programa e a construção de convenções de base (classista e de esquerda) em que se votam um programa e escolhem seus componentes;

 

  • Por independência política e financeira: Todo movimento classista precisa ter formas de se manter financeiramente. É a garantia de sua existência de forma independente, sem ter o “rabo preso” com ninguém. Todo movimento que recebe contribuição de empresas, reitorias, ONG’s, parlamentares, etc. perde sua independência política. O exemplo é o PT que depois de receber dinheiro das empreiteiras, dos bancos e de outros burgueses passou de mala e cuia para o lado dos patrões. Por isso, na construção do Coletivo uma questão a ser discutida é a sua manutenção financeira que virá única e exclusivamente com a contribuição de seus militantes.

 

  • Classismo: No interior de uma escola ou universidade, muitas vezes, convivem filhos de operários e filhos de burgueses, mas isso não quer dizer que seja espaço neutro, pelo contrário, é um local de reprodução dos valores burgueses. E a atuação dos revolucionários nesses espaços deve se pautar por uma intervenção classista defendendo os interesses dos estudantes e trabalhadores (lutar conjuntamente com professores e funcionários, cursos voltados para as necessidades da comunidade, livre acesso para os trabalhadores e seus filhos, etc.), organizando as lutas pelas questões imediatas, mas também disputando ideologicamente a própria universidade.

A juventude não é uma classe social, mas a maioria pertence à classe trabalhadora, o que significa dizer que devemos participar e tomar parte dos conflitos na sociedade. Nós defendemos que o movimento estudantil e a juventude devam estar ao lado de todas as lutas dos trabalhadores do Brasil e do mundo, construindo assim, uma unidade entre juventude, movimento estudantil e os movimentos dos trabalhadores.

Assim, levar para a universidade as lutas gerais da juventude e da classe trabalhadora é criar a possibilidade da universidade cumprir o papel social de pesquisa e produção de conhecimento para as necessidades humanas e não para o lucro das grandes empresas, apresentando aos estudantes as propostas de transformação: da sociedade do lucro para a sociedade humana.

 

    • Uma juventude que luta e se organiza contra o machismo, o racismo e a homofobia: Além da luta contra a exploração capitalista convivemos numa sociedade em que o negro, a mulher e os homossexuais ainda enfrentam várias situações de violência física e psicológica. Para nós, socialistas, somos socialmente iguais e não diferenciamos ninguém pela cor da pele, pelo gênero ou pela orientação sexual.

Já o capital em todos os períodos históricos inventou diferenças entre homens e mulheres, como forma de nos dividir e facilitar a sua dominação. Para o capital o homem é superior à mulher e ao negro, enquanto que os homossexuais são tratados como doentes. Assim, o capital joga trabalhador contra trabalhador.

Para nós, a luta contra toda forma de opressão (racismo, homofobia e machismo) é uma luta essencial. É um direito democrático, questão essencial na luta contra o capitalismo. Defendemos a construção de um mundo sem explorações e sem qualquer tipo de opressão. Buscamos combinar essa luta também com a luta contra o capitalismo, pois não haverá o fim da opressão sem o fim do capitalismo, um depende do outro.

Organizar a luta contra a repressão nas escolas secundaristas

Sabemos que as escolas secundaristas sofrem total descaso pelo governo brasileiro, assim como toda a Educação Pública. O movimento estudantil está fragmentado: há lutas isoladas nas escolas, universidades e cursos, mas não há bandeiras que unifiquem essas luta, trazendo força ao movimento. Precisamos renovar as formas de atuação e apresentarmos novas medidas para o conjunto dos estudantes.

Desde os movimentos de Junho/Julho, há um crescimento das lutas nas escolas públicas contra as condições precárias da Educação, materializadas nas escolas, e que já vinham sendo sentidas pelos estudantes: aumento da repressão e da imposição dos conteúdos, diminuição dos espaços de liberdade para o ensino formal e aumento da precarização das condições de aprendizagem para os jovens. Presenciamos lutas pela derrubada de direções ditadoras, contra o fechamento de períodos, turmas, contra o aumento das passagens, etc. A repressão nas escolas tem aumentado constantemente: grades por toda a parte, punições, assédio moral, entre outros problemas.

Não podemos nos calar diante disso, e aceitar a imposição de um Estado autoritário que tem a intenção de nos ensinar para a submissão, para o mercado de trabalho e para exploração, e não para desenvolvermos nossa criatividade, interesse e inteligência para a transformação dessa sociedade.

Quando desenvolvemos o senso crítico e entendemos a importância de lutar contra todo o sistema que nos prejudica quanto estudantes e pessoas, nós nos tornamos uma ameaça para o governo e para a burguesia. Precisamos lutar e exigir uma Educação publica de qualidade, que nos permita futuramente ingressar numa faculdade pública de qualidade (o que hoje é praticamente impossível, pois não temos preparação necessária), exigir direitos e trabalhos dignos, exigir que nossa realidade não seja mais uma realidade de exploração e opressão. Precisamos avançar nos debates e sobre as questões de gênero, raça, condição sexual e sobre as condições de vida da juventude, especialmente negra, compreendendo a realidade da periferia e como se dá a opressão decorrente do racismo na luta de classes.

Nós, como estudantes, precisamos pensar e se organizar para entender a realidade e transformá-la. Está em nossas mãos e de quem produz a riqueza do país o poder de mudar a Educação brasileira e a sociedade.

 

Devemos lutar por:

  • Perspectivas de continuidade dos estudos a partir do ensino médio, principalmente para a juventude negra, com o aumento das vagas nas universidades públicas, mais vagas e cursos técnicos públicos e de qualidade, etc.
  • Contra a precarização das condições de ensino: como falta de professores de determinadas matérias, por recursos como laboratórios, bibliotecas, salas de informática, rede wi-fi, condições para os professores prepararem melhor as aulas, liberdade de ensino-aprendizagem, etc.
  • Contra a repressão no interior das escolas: direito de entrada na segunda aula para todos, direito de permanecer no pátio nas aulas vagas, contra as câmeras nas salas de aula e corredores, contra a entrada da polícia no interior das escolas;
  • Participação dos alunos nos Conselhos de Escola, APM e grêmios livres ou comissões de alunos para lutar por suas pautas;
  • Encontros e interação entre alunos das várias escolas da região e com os demais movimentos, particularmente com os professores;
  • Denúncia e luta contra a exploração do trabalho juvenil nas instituições de aprendizagem, empresas que empregam na forma de estágios e outras;
  • Realização de debates e campanhas sobre aspectos mais gerais que dizem respeito à juventude como a questão de gênero, raça, sexualidade, entorpecentes, ambiental, cultura em geral, etc.

 

A luta por uma universidade a serviço dos trabalhadores

A universidade é um lugar de contradições: Ao mesmo tempo em que se configura como um instrumento de transformação social, estruturada no tripé ensino-pesquisa-extensão e, que na minoria das instituições, desenvolve conhecimento novo, crítico, acerca das contradições e necessidades da própria sociedade, mantém, na maioria delas, a produção do conhecimento voltada para atender as necessidades capitalistas.

Essa situação frustra a ideia de que a universidade seja um centro produtor de conhecimento a serviço das necessidades humanas. A universidade está cada vez mais excludente e expressa a crescente privatização e precarização realizadas através de reformas educacionais que, aparentemente, visavam “qualidade da Educação”, garantia de acesso e permanência dos estudantes. No entanto, o pano de fundo dessas reformas foram os interesses neoliberais, materializados na Reforma Universitária, com o REUNI, implantada em 2007.

Um exemplo é a expansão do IFES. O discurso era de inclusão social e de atendimento às principais reivindicações de estudantes, professores e técnicos (universidade pública gratuita, laica, de qualidade e socialmente referenciada). Contudo, a realidade tem se mostrado outra: A universidade expandiu, mas não preservou a qualidade necessária. Vemos campus que funcionam em espaços alugados, sem RU, sem salas suficientes e lotadas, sem transportes.

Os trabalhadores e seus filhos não estão nas universidades públicas e as particulares são, cada vez mais, mantidas pelas bolsas do PROUNI. Tanto nas federais quanto nas estaduais, a simples expansão sem a preocupação com a qualidade de ensino e com as condições de trabalho têm levado à precarização e privatização de diversas formas. O incentivo a pesquisa e a extensão têm diminuído e, quando têm, seus objetivos não correspondem às necessidades das comunidades, mas do grande capital.

Situações como essa impedem a ampliação de projetos de apoio ao estudante de baixa renda nas universidades. E, muitas vezes, acarretam no aumento do índice de retenção ou desistência e, consequentemente, em maior gasto para os cofres públicos.

Nas universidades públicas em que a assistência estudantil ainda é mantida, os recursos são retirados da verba para a manutenção de outras atividades o que compromete o custeio do ensino, da pesquisa e da extensão, o tripé da universidade. Os programas básicos estão sendo deteriorados: Não há RU para todxs, quando aumentam a possibilidade de acesso cobram taxas, as bolsas socioeconômicas são baseadas no critério de “quem é mais pobre”, o que divide e exclui milhares estudantes carentes.

Precisamos reconstruir o movimento estudantil, erguer nossas bandeiras e reivindicações. Precisamos nos organizar contra todos os problemas enfrentados no cotidiano das universidades públicas e particulares, contra a política do governo da burguesia e do empresariado de privatização da Educação Pública e da precarização do ensino para atender a demanda do mercado.