Cinegrafista Santiago Andrade, assassinado pela repressão estatal contra os trabalhadores
26 de fevereiro de 2014
Manifestantes, basicamente jovens, ocupam as ruas brasileiras desde o início do ano passado. No começo foi contra o aumento das passagens de ônibus, mas a partir de junho milhões foram as ruas e colocaram as demandas dos trabalhadores como saúde, Educação, transporte, moradia e cadeia para os corruptos e corruptores. Desde então, podemos dizer que em todos os meses há movimento de protesto no país.
Infelizmente, as maiores organizações da classe trabalhadora, como sindicatos e movimentos sociais organizados não estão participando desse mesmo movimento, porque seus dirigentes, ligados à CUT, ao MST e à UNE defendem o governo Dilma/PT e
procuram evitar que os trabalhadores enfrentem seu governo. Em 2013 as centrais sindicais evitaram que tivéssemos uma greve geral no país, pois não convocaram assembleias nas categorias para discutir como os trabalhadores poderiam se somar a essa luta.
Ainda faz falta um movimento que unifique as categorias organizadas com o setor mais jovem que está nas manifestações, muitas vezes sem organização sindical, para enfrentarmos com força o governo Dilma/PT e os demais partidos da burguesia (PSDB e outros).
Para construirmos esse movimento, temos que lutar para que os trabalhadores construam organizações de luta, independentes e opostas às centrais sindicais e movimentos governistas.
No entanto, enquanto ainda não estamos unificados podemos sentir na pele o quanto o aparelho do Estado se mostra unido e implacável para manter a “ordem”: Judiciário, Ministério Público e a Polícia.
Quase todos esses protestos legítimos têm sido reprimidos duramente (cassetetes, tiros, spray de pimenta, esculachos na delegacia). E fora das ruas, o Judiciário e o Ministério Público (o que dá no mesmo, na prática) dão resguardo judicial e legal para que o Estado tente calar as vozes das ruas, mesmo que seja com sangue.
Esse é contexto para compreendermos a morte do trabalhador da Band, o cinegrafista Santiago Andrade, que cobria uma das batalhas travada entre trabalhadores e “Estado Democrático de Direito”, no centro do Rio de Janeiro, contra o aumento do valor passagem dos transportes públicos na capital fluminense.
Santiago veio a falecer dias depois de ser atingido por uma bomba na cabeça, resultado direito da selvageria estatal.
Num escárnio à memória do cinegrafista e a dor da perda pela família de Santiago, o Estado e a mídia tentam colocar a opinião dos demais trabalhadores contra os protestos ocorridos. Afirmam que foram os manifestantes que o assassinaram, que os “vândalos” atiraram a bomba de propósito para atingir o câmera da Band. Buscam criminalizar os Black Blocs e tentam dividir o movimento.
SUPERESTIMA O BLACK BLOC E SUBESTIMA OS MANIFESTANTES
Uma vez que o Estado não pode assumir os reais motivos para a sanguinária repressão – isto é, que precisa garantir as condições para que uma minoria continue explorando a maioria e rebaixando suas condições de vida para sustentar a lucratividade – coube à imprensa burguesa arranjar como bode expiatório os “Black Blocs”, conhecidos nas manifestações em situações de confronto com a polícia pela tática de atacar símbolos da opressão estatal capitalista.
E isso foi se dando de forma descarada: de repente todo protesto, manifestação ou movimento de luta da classe trabalhadora virou coisa de Black Blocs. Com isso, a classe dominante, por meio da imprensa, manobra a opinião pública e tenta encobrir o fato de que a juventude e parte dos trabalhadores brasileiros voltaram a lutar. A burguesia não poderá suportar se a classe trabalhadora tomar consciência de que é a nossa humilhação no dia a dia (ônibus e metrô lotado, salário baixo, falta hospital, etc.) que enriquece o burguês.
A imprensa burguesa também busca esconder a intensificação da repressão policial e da criminalização dos movimentos sociais, joga todo o ônus nos Black Blocs. E não discute se os manifestantes tiveram os seus direitos vilipendiados pelo “Estado Democrático de Direito”, por meio de superexploração do trabalho, sucateamento dos serviços públicos, da falta de moradia, etc.
Burguesia e Estado estão levando o país a essa situação de manifestações cotidianas. Diante disso, impulsionar e unificar lutas contra o governo e o estado burguês é obrigação dos lutadores! Não podemos calar diante do aumento da exploração e da repressão! O capitalismo que é opressor e assassino!
CONTRA O ASSASSINATO DO CINEGRAFISTA SANTIAGO ANDRADE E PELA DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
O Espaço Socialista se solidariza com os familiares e companheiros de profissão do trabalhador morto no seu mister de registrar e informar sobre a real face do “Estado Democrático de Direito”. E assim como Santiago, continuaremos a defender a liberdade de expressão.
E pelo fim do assassinato de trabalhadoras e trabalhadores lutamos contra a repressão, contra a criminalização dos movimentos sociais, pela liberdade dos manifestantes presos e pelo fim do capitalismo!
Santiago Andrade: sempre presente.
Espaço Socialista, Fevereiro de 2014.