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Balanço do I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres em Luta


19 de fevereiro de 2014

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Nos dias 4, 5 e 6 de outubro de 2013, aconteceu o 1º Encontro Nacional do Movimento de Mulheres em Luta, MML, filiado à CSP-Conlutas, na cidade de Sarzedo em Minas Gerais.

Demonstrando também a nova realidade das lutas, mais de duas mil mulheres participaram desse Encontro. Estudantes, professoras, funcionárias públicas, operárias metalúrgicas e da construção civil, bancárias, desempregadas, etc., de diversos estados, estiveram presentes contribuindo para debates, buscando informação, organização e fortalecimento para enfrentar coletivamente os problemas quotidianos nos locais de trabalho, de estudo e na vida.

A vida da mulher sob o capitalismo exige, a todo o momento, formas de organização para resistir à opressão. Não foram poucas vezes na história que mulheres buscaram se reunir para enfrentar os problemas econômicos, políticos, sociais e culturais de suas épocas causados pelo sistema de dominação. E esse Encontro surgiu dessa necessidade.

A situação da mulher trabalhadora no Brasil nunca foi fácil e mesmo com Dilma no poder os índices oficiais da violência doméstica, de mortes por aborto clandestino, do salário desigual em trabalho igual, do desemprego e do trabalho precário são estarrecedores.

Os investimentos do dinheiro público em Delegacias da Mulher, em Hospitais da Mulher, em creches, etc. têm sido sistematicamente reduzidos nos últimos dez anos de governo do PT.

Além disso, com o avanço do conservadorismo e do tradicionalismo, setores da base de apoio do governo, ligados à igreja, buscam retroceder em algumas conquistas, como é o caso da lei que cria a bolsa estupro.

Com esse cenário, contribuir para a organização das mulheres da classe trabalhadora para avançarmos na luta por vida, por direitos, contra a ofensiva do conservadorismo e pela transformação da sociedade capitalista-machista torna-se imperativo para toda e qualquer força política de esquerda. Nesse sentido, as organizações presentes no Encontro cumpriram importante papel ao impulsionar e buscar viabilizar em seus locais de militância a participação dessas trabalhadoras.

No entanto, o Encontro não conseguiu armar politicamente esse conjunto de mulheres, dispostas a ir à luta, para uma intervenção anticapitalista, classista e antigovernista.

Muitas dessas trabalhadoras ainda acreditam que Dilma não definiu de que lado está. Outras ainda propagam o discurso do menos pior, isto é, de que esse governo é menos pior do que os governos da direita. Sabemos que qualquer partido ou governo, mulher ou não, quando está a serviço dos interesses dos empresários não é capaz de atender satisfatoriamente as necessidades das trabalhadoras. Diante disso, às forças políticas de esquerda presentes no Encontro cabia desmascarar essa falsa visão da realidade e fortalecer a luta contra os governos que retiram da classe trabalhadora o direito de serviços públicos de qualidade, especialmente das mulheres.

Mas, não foi o que fez a direção majoritária do Movimento Mulheres em Luta. O PSTU insiste em sustentar a dúvida, a ilusão ou confusão no governo da burguesia com a política de exigência cega ao governo federal e com o discurso de que é necessário “dialogar com a base”. Na verdade, procura manter o diálogo com setores próximos do governismo, o que tem impedido de direcionar a luta para uma crítica dura a Dilma e seus apoiadores.

Um movimento de mulheres em luta dialoga incessantemente com as trabalhadoras, mas tornar-se-á uma alternativa para a luta estratégica somente se assumir para si o papel revolucionário.

Não alimentar dúvidas de que Dilma governa para manter os lucros e as regalias da burguesia – se cala diante do avanço da direita e retrocede ou mantém estagnados serviços básicos e essenciais e que setores ditos de esquerda que continuam, após anos, como base de apoio desse governo compactuam com essa situação – e que se faz urgente a unidade das organizações de esquerda e ativistas para o avanço e fortalecimento das lutas nesses próximos anos é o mínimo.

Denunciar o que tem ocorrido com as mulheres da classe trabalhadora no país significa também dizer que Dilma tem um lado. Que não governa para transformar a vida da mulher trabalhadora, mas para mantê-la sob custódia. Que organizações – que estiveram no Encontro como o Marcha Mundial de Mulheres e CUT Pode Mais – fortalecem ideologicamente e na prática o papel desse governo.

Interessar-se por se apresentar como alternativa classista às trabalhadoras, que enfrentam no dia a dia a turbulência dessa sociedade que busca extrair todas as nossas forças até tirar a nossa disposição de resistir, deveria ser o objetivo do diálogo estabelecido no Encontro para construir o Movimento de Mulheres em Luta em vez de se priorizar os interesses do partido.

Os debates que seguiram durante o Encontro apresentaram as polêmicas da conjuntura internacional e nacional presentes na esquerda. No que diz respeito à vida da mulher trabalhadora as principais polêmicas pareciam ignorar a quantidade de mulheres mortas ou agredidas dentro de casa diariamente no país (contra as Delegacias da Mulher). Ou ainda pareciam não compreender que o aborto representa parte de um conjunto e que ainda criminaliza a mulher, portanto o combate deve ser global (eixo central para Campanha).

Contudo votou-se a Campanha Contra a violência à Mulher, que deverá englobar todas as formas de violência (física, psicológica, social, negação de direito, etc.), e resoluções que orientarão o MML durante o próximo período. No entanto, a ofensiva sobre a direita, o governo e sua base aliada não recebeu impulso.

Haja vista o encaminhamento para a construção do 8 de Março (primeiro Dia Internacional de Luta da Mulher após as jornadas de Junho/2013) em que permanece a dinâmica de buscar a aproximação com os setores que sustentam o governo Dilma e buscam impor a pauta da Reforma Política.

Sendo que o necessário é organizar, a partir dos locais de militância, atos que expressem a pauta das trabalhadoras, como não pagamento da dívida pública para construção imediata de Delegacias da Mulher em todos os municípios do país, não uso do dinheiro público com a Copa e investimento imediato em creches, passe livre, hospitais públicos, universidades e escolas públicas, garantia de direitos trabalhistas, etc. como defendido nos debates pelo Bloco de Oposição (Espaço Socialista, Renovar Pela Luta e Movimento Revolucionário Socialista). Ou seja, o Bloco de Oposição propõe que o MML construa e impulsione atos regionais ou nos estados que sejam anticapitalistas, classistas e antigovernistas.

O Movimento de Mulheres em Luta jamais poderá se tornar uma alternativa política e organizativa, que contribuirá para a unidade e o avanço da luta das mulheres trabalhadoras, sem que assuma claramente um programa e uma prática anticapitalista e antigovernista. Nesse Encontro, a direção majoritária ainda foi um impedimento, pois busca submeter o conjunto das lutadoras à estratégia partidária.

Além de tudo isso, fez falta a propagação dos ideias socialistas para o fortalecimento da luta, da consciência de classe e para contribuir em recolocar a necessidade da sociedade socialista como algo possível, necessário e urgente para a humanidade.

Fazemos o chamado a todas as mulheres para fortalecer essa luta, impulsionar atos e atividades anticapitalistas e antigovernistas também para o próximo 8 de Março.

Sem combatividade não há emancipação! Não às ilusões em Dilma, por um movimento de mulheres antigovernista, anticapitalista e classista!

Espaço Socialista