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Capitalismo, educação e transformação social: limites e possibilidades – Agosto/2012


16 de outubro de 2013

Este artigo foi publicado originalmente na edição nº 52 do Jornal do Espaço Socialista – Agosto/2012

 

Bruno Monteforte

A Educação não é isolada da sociedade. A separação é estabelecida na sociedade de classes, que subordina classes produtoras/não-proprietárias às classes dominantes/proprietárias e divide: para a classe dominante, preparo intelectual da gestão social na esfera escolar; para a classe dominada, trabalho prático e subordinação na produção.

A Educação formal generalizada vem do capitalismo com produção industrial e trabalho assalariado, sob o capital, em busca de lucro. A indústria/tecnologia aplica ciência à produção e exige formação mínima a todos os trabalhadores para o trabalho industrial. Assim mantém-se a divisão da Educação em: básica; técnica; elitizada para a dominação social.

A Educação formal serve duplamente ao capital, pois fornece força de trabalho às empresas e ideologia segundo os valores adequados ao sistema. No século XX, fase imperialista, isso se torna mais evidente. Na produção, vigora o taylorismo/fordismo: produção/consumo de massa, trabalho manual, repetitivo, parcelar, hierarquizado. Na Educação há tendências pedagógicas análogas: tradicional (autoritarismo, disciplina, mecanização de informações, subordinação) e tecnicista, Educação técnica ao mercado de trabalho.

No século XXI, após expansão mundial, o capital chega à crise estrutural e intensifica a exploração dos trabalhadores, sociedade e ambiente. Decorre a reestruturação produtiva, que substitui o taylorismo/fordismo pela acumulação flexível/toyotismo, combina inovações tecnológicas a novas formas de gestão: produção ligada à demanda, trabalho multifuncional, qualificado, intelectualizado, em equipe, flexibilizado, terceirizado, precarizado, informal, temporário, intensificado gerando miséria e desemprego estrutural. Estados e suas políticas neoliberais deslocam recursos para o capital. Na Educação, há análoga reestruturação educativa, orientações de órgãos mundiais (FMI, Banco Mundial, UNESCO) aplicadas por governos/países, subordinando a Educação às “novas” necessidades do capital. Concepções pedagógicas (aprender a aprender, competências) propõem formar indivíduos adequados à instabilidade, imprevisibilidade, precariedade: desde exercer várias funções na empresa até viver em desemprego e miséria. Estimula-se a interferência privada na Educação e a transforma de direito social em mercadoria. Ideologicamente estas tendências expressam adaptação, subordinação, individualismo, competitividade.

Nos países periféricos o quadro é ainda mais grave. Subordinados/explorados por países centrais não tiveram capitalismo pleno e geram sociedades desiguais, cujos setores atrasados/precários são condição aos avançados/modernos. Mobilização e organização, direitos e melhores condições de vida não se universalizaram. Reestruturação e neoliberalismo encontram condições favoráveis, retiram direitos e conquistas, ampliam o lucro das empresas e mantêm a precariedade. Não há Educação de qualidade a todos. Para a classe dominante convém contê-la.

Sua universalização é quantitativa. A maior parte das escolas públicas “periféricas” exerce a contenção de problemas sociais (miséria, violência, drogas) gerados pela crise e forma mão de obra precária. Algumas escolas e redes de ensino voltam-se à formação mais qualificada e de qualidade tornam-se monopólio privado, acessíveis às elites e mantêm reserva de postos de trabalho qualificados. Agrava-se assim a dualidade entre setores dominantes e classes trabalhadoras numa hierarquização e estratificação da Educação, respaldadas pelo neoliberalismo, que individualiza problemas e soluções educacionais/sociais, culpa professores, escolas, alunos, dirige recursos a alguns (mérito, bônus, projetos) sem investir em condições estruturais, ignora o caráter social destes problemas ligados à crise. Intensifica o trabalho e a cobrança sob os profissionais – investimento mínimo e cobrança máxima – desloca recursos, declara melhoras, mas mantém a precariedade/desigualdade.

A Educação que serve ao capital contrapõe-se ao bem-estar e a liberdade social/humana. Ao servir o sistema e não ser o único meio à sua manutenção, a Educação formal não pode apresentar, por si, perspectiva crítica/humanista/emancipatória, sendo incapaz de reformas de interesse social, sobretudo no capital em crise. Tais perspectivas partem de indivíduos que, cientes da destrutividade do sistema, por várias influências, se rebelam, mas só podem as concretizar combinando Educação com amplos processos de transformação social. A Educação deve ser tratada em sentido amplo, envolver todas as experiências dos indivíduos, buscar contra-internalização em favor de uma sociedade livre/autodeterminada, a serviço de interesses sociais/humanos. Seu papel é crucial para buscar estratégias adequadas de transformação social e tornar os indivíduos sujeitos autodeterminados, esse processo possibilitará reestabelecer a unidade Educação e sociedade. O capital em crise necessita de sua superação em favor do bem-estar e sobrevivência humana. Essa concretização cabe a todos nós!