Bancários em luta contra os bancos, o governo e os governistas!
9 de outubro de 2013
A categoria bancária se encontra fragmentada por várias divisões, que separam trabalhadores efetivos e terceirizados, de bancos públicos e privados, de nível básico (escriturários no BB, técnicos bancários na CEF) e comissionados (assistentes, analistas, gerentes, etc), etc. Os terceirizados se encontram fragilizados pela própria natureza do seu vínculo empregatício precário, os funcionários de bancos privados pela falta de estabilidade (somente no 1º semestre foram 7.000 demissões) e nos bancos públicos há uma política perversa de arrocho salarial que achata o salário básico e torna os funcionários dependentes da nomeação para cargos comissionados, que funcionam como uma chantagem para impedir as lutas e as greves. Mesmo com essas divisões, a categoria está em seu décimo ano consecutivo de greve, desde 2003. Depois da histórica greve de 30 dias em 2004, as greves diminuíram muito em duração, mas principalmente em participação nos piquetes e assembleias.
Isso porque a direção do movimento, centralizada pela Contraf/CUT, ou seja, comandada pelo PT, impõe um formato de campanha em que as reivindicações da categoria são discutidas numa mesa única com a FENABAN, entidade patronal dos banqueiros, em que predominam os bancos privados. Com isso, os trabalhadores dos bancos públicos, que são o setor mais mobilizado, não conseguem colocar em pauta suas principais reivindicações, como reposição das perdas, isonomia entre funcionários novos e antigos, plano de cargos e salários, etc. O objetivo da Articulação, setor do PT que comanda a Contraf/CUT, é evitar que os trabalhadores dos bancos públicos, como BB, CEF, BNB, BASA, se enfrentem diretamente com seu patrão, ou seja, o governo federal, que desde 2003 é comandado pelo PT, com Lula e agora Dilma. Sem colocar em pauta suas verdadeiras reivindicações, que teriam que se enfrentar com o governo, os funcionários dos bancs públicos diminuem sua participação. O discurso da burocracia é de que a mesa única é um instrumento de “unidade” da categoria, quando na verdade é uma forma de desmobilizar os funcionários de bancos públicos, impedindo que avancem nas próprias lutas, o que acaba prejudicando o conjunto da categoria.
Para completar, a Articulação recorre a manobras sórdidas para encerrar as greves, como trazer os gerentes e fura greves em massa, em acordo com a direção dos bancos, em número maior do que os grevistas, em assembleias marcadas especialmente para este fim no horário da noite, para votar a favor das propostas rebaixadas dos banqueiros, que nunca se aproximam sequer da própria pauta fictícia e rebaixada da burocracia (que eles próprios abandonam sem o menor pudor) e ainda por cima incluem punições aos grevistas, como a compensação das horas de greve.
Greve de pijama, greve de saco cheio!
Essa combinaçao de uma estratégia de campanha burocrática, que não inclui as verdadeiras reivindicações e não permite enfrentamento com o governo, com a falta de democracia no movimento, as manobras e traições explícitas nas assembleias de encerramento das greves, tem feito com que os trabalhadores dos bancos públicos diminuam a sua participação.
Mesmo assim, a adesão à greve vem aumentando muito há pelo menos três anos. Os trabalhadores dos bancos públicos aderem cada vez mais à greve, porque não suportam as condições de trabalho, o excesso de serviço, a cobrança de metas, o assédio moral, o adoecimento físico e psicológico. Apesar da propriedade dos bancos públicos ser 100% estatal no caso da CEF e de maioria acionária estatal no caso do BB, esses bancos sao administrados pelos seus dirigentes e gestores na agências como se fossem bancos privados, com metas de vendas de “produtos”, prática de venda casada e outras prejudiciais a clientes e usuários, assédio moral, perseguição aos ativistas que tentam organizar os trabalhadores, processos administrativos e ameaça de demissão, como a que foi veiculada por um diretor do BB antes da greve. Os diretores do BB, nomeados pelo PT e partidos governistas, vão receber R$ 1,2 milhões a título de participação nos lucros, o que explica porque raciocinam como se fossem banqueiros, donos do banco.
Temos então uma combinação paradoxal de greve com alta adesão, mas baixa participação. Alta adesão, porque os baixos salários e péssimas condições de trabalho obrigam os bancários a protestar contra os bancos e entrar em greve. Baixa participação, como uma forma de protesto silencioso contra os muitos anos de traições e falta de democracia nos sindicatos. Os bancários estão em greve, mas não têm a menor confiança nas direções sindicais e se negam a legitimar o próprio espaço das assembleias. A burocracia sindical consegue controlar com mão de ferro o aparelho da entidade sindical (literamente, já que há um paredão de seguranças contratados para impedir que os trabalhadores sequer se aproximem da mesa que dirige as assembleias), manipulando as assembleias e fóruns da categoria, mas não consegue reduzir a indignação e a revolta dos trabalhadores, que se converte em greve.
A crise que se aproxima e as jornadas de junho
Este ano temos um complicador a mais no cenário, o endurecimento dos banqueiros, que apresentaram propostas muito rebaixadas de reajuste (6,1% antes da greve e 7,1 duas semanas depois). Isso pode ser sinal de um certo grau de afastamento dos setores patronais com relação ao governo do PT, rompendo os tranquilos acordos dos anos anteriores, em que se fazia uma greve de fachada, os banqueiros fingiam que aumentavam a proposta, para chegar ao índice rebaixado que já havia sido combinado desde o começo, e o sindicato comemorava a “vitória” na campanha (e os bancários tinham que fingir que acreditavam nessa farsa grotesca, o que faz com que deixem de participar). Este ano o acordo está demorando demais para sair.
A burguesia brasileira pode estar se antecipando a uma nova reverberação da crise mundial no país, procurando preservar seus lucros a custa de acordos salariais rebaixados. Para conseguir acordos melhores a própria burocracia sindical seria obrigada a realizar enfrentamentos reais contra as empresas, uma prática que já foi abandonada há décadas. Durante anos a burocracia sindical governista, encastelada na CUT e seus satélites, tem vivido da propaganda enganosa de “aumento real acima da inflação” nas principais categorias, uma mentira escandalosa usada para apresentar como vitória as porcentagens minúsculas de reajuste obtidas acima dos índices oficiais de inflação. Como até as pedras sabem, esses índices são grosseiramente manipulados para reduzir o peso do aumento dos preços dos ítens mais consumidos pelos trabalhadores. Enquanto a burocracia sindical cinicamente faz propaganda dos “aumentos reais”, a categoria bancária amarga um violento arrocho salarial, com perdas acumuladas de 22% nos bancos privados, 90% no BB e 100% na CEF! (considerando como base a implantação do real em 1994).
Em compensação, temos um outro fenômeno que influencia a greve da categoria, que é a mudança da conjuntura geral do país depois das manifestações de junho. O exemplo das manifestações levou a uma adesão muito maior à greve, em escala nacional. A adesão já vinha crescendo nos anos anteriores e deu mais um salto em 2013, mesmo de maneira espontânea, sem qualquer preparação por parte do movimento sindical, que é praticamente todo controlado pela Contraf/CUT e governistas.
As tarefas da oposição
Essa greve turbinada pelas péssimas condições de trabalho e remuneração e pelo exemplo das manifestações se defronta com um obstáculo que ainda tem sido decisivo, que é o controle da burocracia sindical. A começar pelo Comando Nacional de negociação, composto por representantes “biônicos” indicados pela cúpula dos sindicatos e federações, sem passar por nenhum fórum de base. Esses “representantes” há anos deixaram de ser trabalhadores, são burocratas que vivem dos privilégios do aparato sindical, das verbas do Estado, imposto sindical, convênios do FAT, etc., ou ainda, de relações orgânicas com a burguesia por meio de sociedade em seus negócios proporcionada pelo controle dos fundos de pensão, como os todo poderosos PREVI e FUNCEF. O mesmo acontece com todo o processo de preparação e condução da campanha, que é feito pela burocracia em reuniões a quatro paredes e congressos viciados sem a menor representação da base, sem passar por assembleias e fóruns de base, reuniões de representantes dos locais de trabalho, etc.
É nesse ponto que entram as oposições sindicais, cujo papel deve ser o de se converterem em espaços de organização da categoria bancária, antes, durante e depois das campanhas salariais, com funcionamento regular, finanças e esferas de deliberação política independentes em relação ao governo, os patrões e a burocracia sindical e autônomos em relação aos partidos e correntes políticas do movimento. Esse é o projeto da Frente Nacional de Oposição Bancária – FNOB (http://frentedeoposicaobancaria.org/), formada por coletivos de diversas regiões do país, com o projeto de retomar a luta pelas reivindicações da categoria em espaços de organização completamente independentes e opostos aos fóruns viciados da Contraf/CUT (tarefa assumida pela FNOB depois que o MNOB/Conlutas decidiu retornar aos fóruns da CUT).
Da mesma forma, em São Paulo constituiu-se o Avante, Bancários! (https://www.facebook.com/avntbancarios?fref=ts), uma frente composta por diversos coletivos de oposição e trabalhadores independentes, com funcionamento democrático e plural e com respeito às diversas posições políticas dos agrupamentos que participam da sua construção. O Avante, Bancários! editou vários panfletos antes e durante a greve e interviu em todas as assembleias com propostas que vão no sentido de colocar a campanha sob controle da base e destacar o vínculo da luta da categoria com as reivindicações do conjunto da população levantadas nas manifestações de junho (para termos saúde, educação, transporte, moradia, etc. de qualidade é preciso lutar pelo controle do orçamento público, que despeja praticamente metade da arrecadação no ralo da dívida pública, uma dívida fraudulenta e já paga várias vezes, que só serve para alimentar os lucros de especuladores, em especial os bancos).
Durante a greve o Avante, Bancários! tem se destacado por realizar ações de trancamento completo de prédios importantes na base de São Paulo, Osasco e Região, organizadas pelos próprios bancários, às vezes em parceria com outros coletivos de oposição e obrigando a própria diretoria do sindicato a participar também dos piquetes, que estão barrando até diretores, gestores e terceirizados (para alegria destes últimos, que infelizmente não possuem organização independente). Não há outro método para alcançar vitórias na luta a não ser a organização independente dos trabalhadores e a vinculação da sua luta às demandas dos demais trabalhadores!
TODOS AO ATO DO DIA 10 DE OUTUBRO!
A greve dos bancários já se prolonga há dezenove dias, desde sua deflagração em 19/09. Os bancos brasileiros são o setor que mais lucra no país e são campeões de lucratividade também entre os seus congêneres no resto do mundo. Foram R$ 59 bilhões nos últimos 12 meses. Esses lucros fabulosos são obtidos por meio da especulação com títulos da dívida pública, juros e tarifas abusivos, venda casada de “produtos” bancários, e superexploração dos funcionários. A luta dos bancários por maiores salários e melhores condições de trabalho é uma luta também por melhor atendimento à populaçao, pela contratação de mais funcionários, menos filas nas agências.
Mais do que isso, a luta dos bancários se coloca como parte da luta da população
em geral por serviços públicos (saúde, educação, transporte, moradia, etc.) de qualidade. Os bancos são propriedade pública (BB e CEF) ou são concessões públicas, como os bancos privados, nacionais e estrangeiros, que dependem de licença do governo para serem autorizados a funcionar. Em troca disso, entretanto, os bancos não contribuem com a sociedade, agindo como parasitas e predadores econômicos. Para termos melhores condições de trabalho nos bancos, e ao mesmo tempo um sistema financeiro que se coloque a serviço das necessidades da população, seria preciso colocar em pauta a luta pela estatização do sistema financeiro, sob controle dos trabalhadores. Com isso, seria colocado em cheque um dos pilares do capitalismo no Brasil, a subserviência ao capital financeiro.
Cabe aos trabalhadores bancários recolocar essa pauta em discussão na sociedade e fazer um chamado à luta a todas as demais categorias. No dia 3 de outubro o Avante, Bancários! esteve no ato conjunto com os petroleiros, que também estão entrando em campanha salarial, contra os leilões do Campo de Libra do Pré-sal. Nesse mesmo ato, em que paralisamos a avenida Paulista, expressamos nosso apoio à greve dos professores da rede municipal do RJ, que estão sendo vítimas de uma repressão brutal, que já custou a vida de uma companheira. Somente por meio da unidade entre as diversas categorias em luta poderemos obter vitórias para todos!
No dia 10 de outubro está sendo convocada uma passeata na avenida paulista, às 15:00. É uma nova oportunidade para desfraldarmos nossas bandeiras. Vamos ocupar novamente as ruas!
REPOSIÇÃO TOTAL DAS PERDAS! ISONOMIA! ESTABILIDADE NO EMPREGO! FIM DAS METAS E DO ASSÉDIO MORAL! EFETIVAÇÃO DOS TERCEIRIZADOS!
CONTRA AS TARIFAS E JUROS ABUSIVOS! CONTRA A VENDA CASADA! POR MAIS FUNCIONÁRIOS NAS AGÊNCIAS E DEPARTAMENTOS!
CONTRA OS LEILÕES DO CAMPO DE LIBRA! CONTRA A ENTREGA DAS NOSSAS RIQUEZAS NATURAIS! POR UMA PETROBRÁS 100% PÚBLICA E SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES!
CONTRA A LEI DE SEGURANÇA NACIONAL!
CONTRA A REPRESSÃO AOS MOVIMENTOS SOCIAIS!
TODA SOLIDARIEDADE AOS PROFESSORES DO RJ! CONTRA A PROIBIÇÃO DAS MÁSCARAS! CONTRA A PRISÃO DOS BLACK BLOCKS! PELO DIREITO DE MANIFESTAÇÃO E DE EXPRESSÃO!PELO DIREITO DE GREVE!
NÃO PAGAMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA E INVESTIMENTO DESSE DINHEIRO NUM PROGRAMA DE OBRAS E SERVIÇOS PÚBLICOS, POR EDUCAÇÃO, SAÚDE, TRANSPORTE, MORADIA, SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES!
ESTATIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES!
Espaço Socialista, Outubro de 2013