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Siria: Nem bombardeio e nem intervenção do imperialismo! Por uma alternativa socialista dos trabalhadores contra o Governo Assad!


10 de setembro de 2013

Primeiro, não caracterizamos que há uma revolução na Síria, mas que o país vem experimentando uma guerra civil, parte do processo de rebeliões populares iniciado com a Primavera Árabe. Processo que apresenta várias contradições e ainda está em aberto, mas que varreu várias ditaduras como no norte da África, Tunísia, Líbia, Egito e que vem transbordando importantes mobilizações em países próximos.

No caso da Síria, o ditador local, Bashar Al Assad, apostou e deu a cartada na divisão étnico-linguística e religiosa para conter militarmente uma disputa política. Convocou a minoria xiita e cristã a lutar contra, segundo o ditador, uma luta que seria dos sunitas contra as outras religiões minor

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itárias (o próprio Bashar é aulaita). Com isso, o conflito sírio deixou de ser apenas político e social, uma luta “pura” da classe trabalhadora e da população em geral contra uma ditadura (instalada em 1970 por Hafez Assad, pai do atual ditador), e ganhou componentes étnicos e religiosos.

Segundo, nesse conflito militar pelo controle do Estado Sírio, travado entre setores armados que se baseiam nas diversas comunidades étnico-linguísticas e religiosas e organizadas em torno do Exército Livre da Síria – organização militar de oposição ao regime – há dissidentes do regime (mas que são coniventes com os crimes praticados anteriormente pelo regime), islamitas fundamentalistas, liberais seculares e até grupos ligados a Al Qaeda.

Portanto, entendemos que a luta política avançou para um conflito armado com características de guerra civil. E com essa situação os interesses deixaram de ser exclusivos da classe trabalhadora síria e passaram a ser de setores da burguesia em disputa pelo controle do aparato estatal.

Por uma política de independência de classe

Nessa luta, a classe trabalhadora síria não tem nenhum lado que represente os seus interesses e reivindicações. O que está em disputa entre Assad e a oposição burguesa militar é quem vai melhor explorar os trabalhadores e manter a apropriação das riquezas naturais do país.

Também não podemos secundarizar a relação política que os grupos que compõem o Exército Livre da Síria mantêm com as ditaduras da região (Arábia Saudita, Bahrein e outros) e com o imperialismo, sobretudo o estadunidense. Há ainda os interesses de potências militares, como a estadunidense e a israelense, que preparam o caminho para a intervenção no Irã ou para pressionar a burocracia estatal iraniana a se submeter aos interesses desses países, como o do reconhecimento do Estado de Israel.

Somos a favor da derrubada do ditador Assad, por meio da mobilização dos trabalhadores e da população em geral. Entretanto, os diversos grupos armados que combatem a ditadura de Assad não representam uma alternativa política para os trabalhadores sírios e o povo em geral.

9set2013---um-grupo-de-americanos-e-sirios-protestam-contra-e-a-favor-da-intervencao-armada-na-siria-nesta-segunda-feira-9-do-lado-de-fora-do-capitolio-em-washington-nos-eua-homem-segura-cartaz-1378752245153_1920x1080Não identificamos nesses grupos qualquer elemento progressivo ou revolucionário pelo fato de lutarem contra Assad. Ao contrário, tendem a se degenerarem em facções armadas que buscam impor pela força seus próprios projetos. Não se subordinam aos organismos dos trabalhadores, à democracia operária, aos processos de decisão coletiva que possam ser o fundamento para a substituição do atual Estado por outra forma de poder.

Ao invés disso, muitos desses grupos, por conta de sua ideologia fundamentalista, querem instalar regimes ao estilo do Talibã, impondo a lei islâmica (sharia) sobre as regiões “libertadas”, com especial destaque para o recrudescimento da opressão sobre as mulheres.

A possível presença de setores “progressistas” nessa aliança também não pode ser motivo para qualquer tipo de apoio à guerra desenvolvida pelo Exército Livre da Síria. Nos conflitos em que estão envolvidos setores da burguesia a posição dos revolucionários deve ser a de chamar os trabalhadores a se constituírem enquanto força independente de seus inimigos de classe, ou seja, devem intervir no processo com o objetivo de transformar esses conflitos em guerras revolucionárias, guerras contra todos os setores da burguesia.

Assim, o nosso chamado é para que todas as forças políticas da esquerda síria intervenham no processo organizando a classe trabalhadora de forma independente da burguesia e do imperialismo. Na esquerda brasileira, além de campanha contra o bombardeio e/ou intervenção imperialista, também precisamos fazer uma ampla campanha de apoio e solidariedade aos trabalhadores sírios.

Contra Assad e as ações imperialistas: uma saída dos trabalhadores

A guerra civil entre esses grupos e a ditadura de Assad resultou em mais de 100 mil mortes e um número ainda maior de feridos, desabrigados e centenas de milhares de refugiados que emigram para os países vizinhos em condições extremamente precárias, precipitando uma nova catástrofe humanitária na região.

Os métodos de luta da ditadura e de seus opositores se equivalem em termos de barbárie, desde o uso de atentados com carros-bomba e franco-atiradores que matam a esmo até, como vimos nas últimas semanas, armas químicas contra a população civil, que ambos os lados acusam o outro de haver usado.

Os bombardeios com armas químicas serviram de justificativa para que o imperialismo se apresentasse como defensor dos “direitos humanos” e finalmente tivesse a coragem de falar em intervenção militar na Síria. O governo Obama já anunciou o bombardeio como punição ao ditador Assad pelo uso de armas químicas contra a população civil.

O governo Assad sempre teve contradições com o imperialismo e com Israel em particular, servindo também como suporte para a resistência palestina do Hizbolla no vizinho Líbano, juntamente com o Irã, mas isso nunca avançou para qualquer tipo de anti-imperialismo ou de enfrentamento consequente ao Estado racista de Israel. Agora, o imperialismo quer forçar uma “saída negociada” da ditadura Assad e a constituição de algum tipo de “governo estável” no país, dócil aos seus interesses e que não seja contra a intervenção no Irã.

Entretanto, o governo estadunidense não tem a correlação de forças, nem interna nem externamente, para realizar uma intervenção direta com tropas terrestres na Síria. O fracasso dessa estratégia no Iraque e no Afeganistão, ainda que não tenha levado a uma derrota completa e categórica do imperialismo, impede que esse método seja usado agora. O mais provável é a intervenção por meio de bombardeios, como no recente conflito líbio e na guerra da ex-Iugoslávia nos anos 1990, abrindo caminho para o avanço terrestre da oposição militar.

Posicionamos-nos contra o bombardeio e a intervenção armada do imperialismo, qualquer que seja, pelos Estados Unidos ou por seus aliados europeus. Não aceitamos nenhum tipo de interferência imperialista em qualquer país, e não nos iludimos com a ideia de que a vitória dos grupos armados sustentados pelo imperialismo trará algo novo para o povo sírio. Ao mesmo tempo, não podemos de forma alguma compactuar com a ditadura de Assad e considerá-lo um defensor do povo sírio.

Também não vemos no Exército Livre da Síria qualquer alternativa que sirva aos interesses dos trabalhadores. É armado, financiado e apoiado por várias ditaduras, por parte do imperialismo ou por fundamentalistas. Ao assumir o poder logo adotará medidas com o mesmo caráter das de Assad: manter a exploração dos trabalhadores.

Defendemos uma alternativa política dos trabalhadores sírios, independente da burguesia e do imperialismo, que supere as diferenças sectárias entre os grupos étnico-linguísticos e religiosos presentes na população. Que se constitua em organismos de poder baseados na democracia operária e no controle dos trabalhadores. Que rejeite o fundamentalismo religioso e a opressão das mulheres. Esses organismos somente podem se constituir com a perspectiva da superação dos fundamentos que provocam a própria divisão da população em classes e setores oprimidos, ou seja, da perspectiva de superação do capitalismo. Enquanto se luta para constituir essa alternativa, devemos nos posicionar veementemente contra a intervenção e o bombardeio imperialista, mas sem nenhum tipo de apoio ou subordinação à ditadura de Assad.

Parte importante dessa política, e como nosso dever, apelamos à classe trabalhadora do mundo – e principalmente nos países em que as burguesias fazem parte do plano de ataque e intervenção na Síria – que organizem ações de apoio e solidariedade à classe trabalhadora síria, de forma independente. Ação fundamental para derrotar as ações do imperialismo.

Fora o imperialismo da Síria! Contra os bombardeios!

Abaixo a ditadura de Assad!

Fora o imperialismo do Oriente Médio!

Pela vitória da Primavera Árabe e pela queda das ditaduras da região!

Contra as ideologias fundamentalistas! Contra a opressão das mulheres!

Contra os métodos terroristas e o massacre da população civil!

Por uma alternativa socialista dos trabalhadores!

Um Debate: O posicionamento de organizações de esquerda no Brasil

A posição adotada pela LIT e pelo PSTU em nome de lutar contra a ditadura de Assad de chamar uma ampla unidade militar que, obviamente, inclui os mesmos governos imperialistas – que promovem todo tipo de guerra contra os povos do mundo – não condiz com os interesses da classe trabalhadora.

Ao reconhecer que a Coalizão Nacional Síria “reúne diferentes forças políticas da oposição burguesa e com forte influência dos distintos governos imperialistas” e que a “vitória contra Assad exige a mais ampla unidade de ação militar” e que por isso são “a favor dessa unidade e de unir todos os esforços para o triunfo do povo sírio nesse combate” (Correio Internacional p. 22.) deixa de lado a fundamental unidade e interesses da classe trabalhadora, pois, como dissemos, a maioria desses grupos são armados, financiados e apoiados por várias ditaduras, por parte do imperialismo ou por fundamentalistas.

Outra posição equivocada da LIT/PSTU: “Somos a favor da exigência a todos os governos o envio de recursos militares à resistência para que ela possa efetivamente ser capaz de contrabalançar ao armamento…” Correio Internacional p. 21. Ou seja, significa que “todos os governos” – petroditaduras, imperialistas, etc. – enviem armas para o que chamam de resistência armada. Ora, alguém em sã consciência acha que os países imperialistas não vão cobrar a fatura de todo o “apoio” que estão dando para o exército Livre da Síria e a Coalizão Nacional?

Em política o que se escreve tem mais importância do que se fala. Não sabemos se a LIT/PSTU se deu conta de que estão propondo uma aliança militar com o imperialismo para lutar lado a lado com forças inimigas históricas do proletariado. A justificativa – de se contrabalançar ao poderio militar de Assad – é muito questionável porque no século XXI se contrabalançar ao poderia militar de um Estado quer dizer armamento pesado, como mísseis, foguetes, bombas pesadas e de alto poder de destruição. São exatamente essas armas que os Estados Unidos devem utilizar no bombardeio e que acabarão com a vida de milhares de trabalhadores, sempre as principais vítimas.

Não podemos aceitar que em nome de derrubar um governo a classe trabalhadora se renda ao poderio bélico de nenhum país imperialista.

Espaço Socialista, Setembro de 2013.