Escandalosa aceitação de dinheiro das empresas pela Frente Eleitoral em Belém…
27 de setembro de 2012
Ao invés de romper, PSTU permanece compondo a Frente Popular!
A coligação PSOL/PC do B e PSTU em Belém vai adquirindo cada vez mais um tom de desmoralização para aqueles que buscam uma alternativa independente dos patrões e dos governos.
O problema é que para além das organizações (PSOL e PSTU) há o risco de desmoralização de todo um setor da vanguarda não apenas em Belém, mas em outras regiões, pois os fatos lá ocorridos têm impacto nacional, expressam os limites dessas organizações e, ao mesmo tempo levantam questionamentos muito sérios em termos de rumos e que tipo de organizações se está construindo.
O primeiro problema foi a aceitação por parte do PSOL em compor com o PC do B uma Frente para as eleições em Belém. Ora, o PC do B hoje é um partido que representa os setores da burocracia sindical e política, que defende um programa burguês, governista como vimos na sua elaboração e defesa do novo Código Florestal que favorece o agronegócio em detrimento do meio ambiente. Da mesma forma está atolado até o pescoço na corrupção como vimos no caso do ministro dos esportes, no ano passado. Nos sindicatos que dirige, o PC do B mostra claramente sua face governista e imobilista.
Depois tivemos a escandalosa entrada do PSTU nessa Frente, com o argumento de que seria para levar as propostas do partido para setores mais amplos dos trabalhadores, disputar a base da Frente e tentar eleger um vereador.
Obviamente que, de todos os objetivos, o que pesou mais foi o último, pois ao integrar a Frente o PSTU acaba convalidando-a e ao mesmo tempo ficando em piores condições para travar uma campanha independente, à medida em que está diretamente associado à Frente com o PC do B governista.
Além disso o peso do PC do B na Chapa não é de modo algum secundário, pois tem a vice-prefeitura na Chapa e também candidatos a vereador de peso.
Por mais que o PSTU tente fazer sua campanha olhando para outro lado, o cheiro ruim está no ar…
Mas agora vem a público outro fato de extrema gravidade: a aceitação de dinheiro das empresas para a Frente Belém nas Mão do Povo. É o próprio PSTU quem denuncia:
“Um fato grave, no entanto, ocorreu em relação à campanha da Frente “Belém nas Mãos do Povo” encabeçada pelo companheiro Edmilson Rodrigues (PSOL), na qual nós do PSTU estamos inseridos. Um total de R$ 389.405,57 já foram doados por empresas à campanha de Edmilson Rodrigues, candidato a prefeito de Belém. No site do Tribunal Superior Eleitoral é possível conferir o nome do doador e o valor que foi doado por cada pessoa física ou jurídica para cada candidato. Lamentavelmente, pelo que foi declarado, tudo indica que a direção do PSOL e o companheiro Edmilson resolveram trilhar o mesmo caminho do PT no que toca esse aspecto do financiamento das campanhas eleitorais. Só de uma empresa de Salvador (BA), a COGEP CONSTRUÇÕES E GESTÃO AMBIENTAL LTDA, a campanha recebeu a quantia de R$ 160.000, mais do que os R$ 100.000 doados pela Gerdau em 2008 para a campanha de Luciana Genro (PSOL) à prefeitura de Porto Alegre, ocasião que gerou um intenso debate na esquerda socialista brasileira sobre os rumos deste partido e sobre este tipo de prática que caracteriza o vale-tudo eleitoral.” (www.pstu.org.br)
Para os ativistas e militantes ou até mesmo para qualquer trabalhador com um pouco de senso crítico nem é preciso argumentar muito. O recebimento de dinheiro de empresas não é uma doação e sim um investimento que a burguesia realiza para depois obter um retorno muito maior através de concessões do obras, superfaturamentos e desvios de verbas. Este “mecanismo clássico” está na raiz da corrupção de estado e estamos fartos de ver todos os meses algum escândalo revelado.
Vimos onde levou essa prática no PT nos casos do Valerioduto, do esquema do Cachoeira e tantos outros, que inclusive levaram à morte de Celso Daniel.
Essa adaptação do PSOL a ponto de receber dinheiro de empresas em suas campanhas vem se tornando uma prática cada vez mais corrente no partido, da mesma forma que suas alianças com partidos burgueses nas eleições.
Isso mostra que esse partido já está com sua independência de classe comprometida, por mais que em seu interior haja correntes e militantes que tenham uma postura classista.
Sobre a gravidade da aceitação de dinheiro das empresas por parte da Frente, o PSTU também traça o diagnóstico corretamente:
“Esse não é um tema menor. Ao contrário, trata-se de uma questão estratégica, pois não é possível construir uma campanha e, a posteriori, um governo dos trabalhadores e do povo pobre se este não for independente financeiramente da burguesia, mesmo que se trate de pequenas e médias empresas, como é o caso em Belém. Não existe independência política sem independência financeira, pois, como diz o ditado popular, “quem paga a banda, escolhe a música.” (www.pstu.org.br)
Mas ao constatar a gravidade da situação, o que deveria fazer o PSTU?
A reação mais lógica seria a ruptura pública com a Frente, a denúncia da situação e a abertura pública dessa discussão em Belém e no país como forma de demonstrar cabalmente sua desvinculação com uma Frente que não é independente da burguesia.
No entanto, o PSTU solta uma nota criticando duramente a postura do PSOL, mas do ponto de vista prático… segue na Frente! Não é coerente com a gravidade da motivação. Ao contrário, segue na Frente, chamando o voto para essa candidatura.
“O PSTU está jogando todos os seus esforços para eleger Edmilson prefeito de Belém no 1° turno contra os candidatos da burguesia e do governo, para que nossa cidade seja governada pelos trabalhadores e com um programa em defesa de nossa classe, sem os patrões e o seu dinheiro sujo.” (www.pstu.org.br)
Isso significa que vai chamar o voto na Frente, mesmo diante de toda a gravidade da situação!
Ora, existe uma contradição entre o que diz e o que faz. Na ação prática, escolhe permanecer em uma Frente que não tem independência frente à burguesia e que, portanto, não poderá apontar no sentido da resolução dos principais problemas que afetam a cidade.
Essa capitulação (mais uma) demonstra que o PSTU vai progressivamente comprometendo seu caráter de independência de classe, vez que não coloca como centro de sua atuação prática a necessidade de demarcar claramente o campo dos trabalhadores e, dessa forma, contribuir para a formação de uma consciência de classe entre os trabalhadores e na vanguarda. Tudo isso almejando a eleição de um vereador…
Ao não romper com a Frente e ficar apenas no campo da denúncia, o PSTU compactua na prática com o ocorrido e demonstra que para sua direção a possibilidade de eleger um vereador tem mais importância do que o desenvolvimento do movimento e da consciência dos trabalhadores.
Isso é muito grave, justamente num momento em que as referências de classe estão confundidas pela ação do PT em todos esses anos de governo, de acordos e pactos com a burguesia nos sindicatos em que o PT e o PC do B dirigem.
Essa trágica situação não tem como terminar bem. Os militantes do PSTU e os ativistas próximos, não aceitarão passivamente toda essa capitulação à democracia burguesa e a participação do PSTU nessa Frente Popular em Belém.
Esse também não é um fato qualquer e demonstra, assim como outros que vimos analisando em nossas publicações, que, justamente no momento em que se exige a firmeza e a coerência da parte de uma organização revolucionária, tanto o PSOL, mas agora também o PSTU não passam no teste.
Isso por sua vez coloca como necessidade prática a discussão e iniciativas que avancem para a construção de uma alternativa política revolucionária que esteja à altura dos desafios que tendem a se intensificar nos próximos anos. A crítica aqui posta, mais do que algo direcionado somente ao PSTU ou PSOL, deve servir como alerta e direcionamento para toda a Esquerda que se pretende revolucionária.
Espaço Socialista, 27 de setembro de 2012