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Vida e morte de Amy Winehouse – Fernando Café


10 de outubro de 2011

 Este texto é uma contribuição individual, não necessariamente expressa a opinião da organização e por este motivo se apresenta assinado por seu autor.

Vida e morte de Amy Winehouse

    Por  Fernando “Café”
            O dia 23 de julho de 2011 ficou marcado por uma trágica notícia internacional. Morre a cantora inglesa de descendência judaica Amy Winehouse. Segundo a mídia, a causa da morte foi o uso abusivo de medicamentos anti-depressivos, álcool e drogas das mais variadas.
            Logo após sua morte, a mídia internacional, que está subordinada aos interesses dos grandes capitalistas da burguesia mundial, veiculou uma série de notícias negativas sobre a cantora. Divulgou-se que, por conta do uso dessas substâncias, a cantora já não comparecia a alguns shows e que, quando não chegava atrasada, muito pouco podia se esperar de sua performance nos palcos, que deixava a desejar a ponto dela esquecer suas próprias composições. Tudo para criar uma imagem ainda mais negativa, sem qualquer cuidado com a realidade dos fatos, que é sempre mais complexa.
            Sobre o não comparecimento aos shows, os contratantes poderiam também na última hora não ter cumprido com a sua parte, o que levaria à inviabilidade do evento. Sobre os atrasos, todos sabem que as casas de shows fecham no contrato um horário e divulgam no anúncio outro, pois com o atraso lucra-se com bebida, comida e estacionamento. E por último, sobre o esquecimento das letras nas apresentações, veremos que dos primeiros shows até os últimos o tipo de palco e o público mudou muito por conta da grande quantidade de apresentações. Há cantores que perdem a concentração quando o público canta junto. João Gilberto (que não bebe e nem usa drogas) interrompeu uma apresentação porque alguém na platéia estava acompanhado-o com uma faca e um prato numa batida ritmada.
            Os mercenários da comunicação capitalista não pouparam esforços ao disparar sua metralhadora giratória de clichês sensacionalistas, não deixando escapar nem as letras de sua autoria. A musica REHAB (Reabilitação) ficou conhecida como sendo a história de alguém que tinha problemas com as drogas e não queria ir para uma clinica de reabilitação, quando na verdade o conteúdo da letra dizia que o problema era mais sério e que uma internação apenas não resolveria o problema.
            Os veículos de comunicação cumprem um papel fundamental para as gravadoras quando ambos, numa ação em conjunto, usam de qualquer meio para obter lucro, inclusive falsear a realidade e criar espetáculos a partir de dramas pessoais.
            Mas há uma contraposição a esses pensamentos e ao imaginário que a burguesia quer criar a partir deles. Pois nós trabalhadores, estando ou não no ambiente de trabalho, ou nas organizações de luta que tem como proposta superar essa estrutura social e apresentar um outro projeto de sociedade como alternativa, não compramos esse discurso pronto. Buscamos construir uma visão humana e coerente da realidade, considerando suas contradições.
            Amy Jade Winehouse nasceu em 14 de setembro de 1983 em Southgate, subúrbio localizado no norte de Londres. Filha de um casal de judeus, um motorista de taxi e uma farmacêutica, cresceu num ambiente em que passou a maior parte de sua juventude em contato com o setor mais proletarizado do operariado inglês. Ganhou seu primeiro instrumento musical (uma guitarra) de um tio negro aos 14 anos de idade, o que contribuiria mais tarde para sua formação musical.
            Uma das maiores virtudes de Amy Winehouse como artista vem justamente do fato de ter sido criada em um bairro proletário, convivendo com o desemprego, o machismo, as péssimas condições de vida, os preconceitos, a xenofobia, etc. Na letra de “What Is It About Men?” (Qual é a dos homens?) retratou os maus tratos de seu próprio pai contra sua mãe. Mesmo no auge da “fama”, era vista pelas ruas como se fosse a mesma pessoa de antes. Em entrevista a uma emissora, um amigo relatou que enquanto suas músicas estavam nas paradas de sucesso na Europa e nos E.U.A, era comum encontrá-la nos pubs (pequenos bares da Inglaterra) servindo bebida atrás do balcão.
            A mesma jovem que num dia tinha sua imagem colada a canais de TV, empresas de cartões de crédito e outras corporações, no outro era vista presa no trânsito em uma rodovia somente de chinelo, shorts e camiseta, procurando entre as pessoas nos carros um isqueiro para acender o cigarro, ou na rua cercada por fotógrafos carniceiros, conversando com um garoto negro. Os vídeos que retratam esse comportamento estão postados no Yotube, para quem quiser ver.
            Falando propriamente de sua arte, sua escola musical dispensa comentário. Suas influências incluíam o melhor da musica negra: DUKE ELLINGTON, MILES DAVIS, THELONIOUS MONK, CAROLE KING, SARAH VAUGHAN, MARVIN GAY, MICHAEL JACKSON e FRANK SINATRA, entre outros.
            Com essa boa formação, seu segundo álbum “Back to Black” rendeu-lhe os principais prêmios da musica mundial. Um fato curioso se deu quando a cantora conquistou cinco prêmios Grammy, de um total de seis indicações. Como o ritual ocorre nos Estados Unidos, a mídia noticiou que Amy Winehouse foi proibida de entrar no país, pois os escândalos relacionados ao uso de drogas poderiam levá-la à prisão. O fato é que a cantora não moveu uma palha para tentar reverter o quadro, julgando esse tipo de ambiente insignificante.
            Um detalhe importante para compreender sua trajetória é o fato de uma mulher branca e de origem judaica ter encontrado na música negra o espaço para expressar seus sentimentos. Com uma banda formada na maioria por músicos negros, aos 18 anos começou a se apresentar profissionalmente. Aos 21 seu primeiro álbum já estava entre os mais executados nas rádios da Europa. Com um estilo musical que misturava JAZZ, BLUES, SOUL, R&B e HIP HOP, não demoraria muito para que seu talento chegasse até aqueles que iriam explorá-la e que a pressionariam até a morte.
            Infelizmente Amy Winehouse não foi uma militante, muito menos uma jovem politizada, mas sua autenticidade era indiscutível. Diferente do que tem sido veiculado, Amy Winehouse para nós não morreu de overdose ou suicídio. As pressões do ambiente musical, as contradições do sucesso e principalmente o fato não ter “vendido sua alma ao diabo” como muitos artistas fazem, tendo ao contrário permanecido verdadeira, foram o combustível para a máquina infernal que os carniceiros da indústria da música usaram para assassinar uma das maiores cantoras do século XXI.