Manifesto – Reconstruir o movimento dos trabalhadores numa perspectiva revolucionária e socialista
17 de junho de 2010
Reconstruir o movimento dos trabalhadores numa perspectiva revolucionária e socialista
Estamos diante de um momento histórico em que a besta capitalista luta para sobreviver, mesmo que com isso leve o mundo à destruição. O velho está morrendo e o novo luta para nascer. Diante da crise e instabilidade crescentes, os revolucionários e os trabalhadores conscientes tem a missão de ajudarem a classe trabalhadora a construir uma alternativa revolucionária à sociedade capitalista exploradora e opressora.
Todos são a favor da unidade, falam em unidade, mas então por quê é tão difícil concretizá-la? Diante dos imensos ataques que a classe trabalhadora vem sofrendo e outros maiores que ainda virão, diante da fragmentação e do retrocesso da consciência, a unidade da classe trabalhadora e do movimento de todos os explorados e oprimidos é uma questão central, que vai além da luta de resistência. Ela deve ser construída a partir da existência de interesses de classe comuns na luta contra um inimigo comum. A unidade é fundamental para reconstituir a consciência de classe. O centro de toda atividade revolucionária consciente é impulsionar a reconstrução do movimento na luta contra a exploração e a opressão, combatendo os governos capitalistas de turno e o regime democrático burguês, e apontando uma perspectiva socialista.
As organizações de esquerda chamam a unidade, mas o que prevalece é a disputa pela “direção do movimento” que se dá nas táticas conjunturais e não na essência política. Todos querem a unidade, mas a “sua” unidade, para com isso construir a sua organização – mas não há nenhuma construção de organizações/partidos revolucionários se a classe não se reconstruir enquanto tal. Portanto não serão os acordos por cima que forjarão a unidade, mas o debate político no movimento e a dinâmica concreta da luta de classes.
Todos são a favor da democracia operária, mas desde que prevaleçam “as suas posições revolucionárias”. A democracia operária não é simplesmente o direito de expressão de todas as correntes de pensamento comprometidas com a luta proletária no interior do movimento, num debate fechado que termina em uma votação, mas um processo que se constrói no sentido de que a classe trabalhadora possa, diante das polêmicas, ir aumentando sua compreensão da realidade e sua consciência, e em última instância, chegar ao que é fundamental: a classe é quem deve decidir sobre tudo, inclusive sobre o seu próprio destino.
O exercício da democracia não é um fim em si mesmo, é o exercício da construção de uma nova sociedade, e que as organizações de esquerda deveriam expressar, não simplesmente em seus discursos/programas, mas incorporando permanentemente em sua práxis política.
Todos são contra a burocratização, mas não basta exorcizar o demônio. Para combatê-lo precisamos descobrir e entender suas raízes políticas e sociais. O isolamento e a marginalidade político-social a que as organizações de esquerda estiveram submetidas, fizeram com que buscassem atalhos na busca da direção da classe trabalhadora, desvinculado-se de uma relação real com o movimento e organização real dos trabalhadores. A conquista dos aparatos sindicais, dos cargos parlamentares e mesmo da legalização partidária e sua manutenção, transformaram-se em uma necessidade imperiosa em si mesma. O longo período de estabilidade da democracia burguesa provocou a adaptação à rotina e privilégios dos aparatos, com conseqüências desastrosas na consciência e ação. Junto com isso, o baixo nível de formação política/teórica dos ativistas e militantes, a incapacidade de fazer um debate sério frente aos elementos novos da realidade, a concepção messiânica de ser transmissor da verdade revolucionária, tudo isso dá origem a uma prática em que prevalece a imposição das posições a qualquer preço e fundamentalmente o distanciamento das bases do movimento e de sua disputa política, ideológica e organizativa. Portanto, é necessário tomar medidas radicais de combate à burocratização, que não podem ser um fim em si, mas parte de uma revolução na relação com movimento dos trabalhadores e na ação sindical e política.
A Nova Central que vai surgir, fruto da confluência de forças que não passaram para o lado da ordem burguesa e permaneceram no terreno da luta dos trabalhadores, não pode ser uma soma de correntes organizadas. Apesar de todas a suas contradições, tem que ser uma síntese que rompa com a estrutura sindical estatista vigente, que nesta etapa de acúmulo de forças, permita ações unitárias e se construa como referência para que, quando o movimento de acenso explodir, tenha condições de se postular enquanto direção. Para isso, tem que romper com o imediatismo e a adaptação ao calendário das campanhas salariais e eleitorais; tem que encaminhar a luta contra o sucateamento do serviço público, a precarização do trabalho seja formal ou informal, o rebaixamento do nível de vida, lutar pela estabilidade no emprego, numa ação permanente de agitação, propaganda e organização na base.
Diante do processo eleitoral em que a classe dominante usa de todos os artíficios para iludir a classe trabalhadora, apresentando uma falsa polarização de projetos, que apesar de diferenças pontuais, representam a mesma essência de manutenção da ordem capitalista; diante do discurso de que trata-se de eleger o administrador mais competente e assim tudo irá melhorar; e ainda com os mecanismos da burguesia para manter a classe passiva diante da exploração e da opressão; diante disso tudo a falta de disposição política, apesar de todos os discursos em contrário, de construir uma frente de esquerda, que a partir da base do movimento, denunciasse a falsidade da democracia burguesa e apresentasse uma alternativa de classe é extremamente equivocada. Este debate não deve ficar restrito às direções dos partidos, mas ser feito pelo conjunto do movimento, devem ser chamadas plenárias de base que possibilitem, mantendo a autonomia dos partidos, um posicionar-se sobre o encaminhamento de uma campanha eleitoral onde a classe não se depare com a divisão e disputa dentro do campo socialista.
As organizações da esquerda socialista têm sido incapazes de romper com o esquematismo, com o voluntarismo inconseqüente e com a capitulação reformista ao atraso da consciência das massas. Por outro lado, a dispersão dos grupos de esquerda e ativistas revolucionários e socialistas críticos, impossibilita o avanço do debate e a construção de uma alternativa que não se baseie num amontoado de palavras de ordem/reivindicações “principistas” e sim numa compreensão comum da realidade e dos desafios colocados que permita sair de uma atuação limitada e do discurso abstrato para uma ação política revolucionária concreta.
Diante disto, é urgente ter a iniciativa de construção de um bloco que reúna os que compartilhem desse entendimento, de modo a potencializar a força de intervenção e avançar a partir da experiência, debate e confluência políticas na construção de um movimento socialista e revolucionário que intervenha no processo vivo da luta de classes.