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1º de Maio


10 de maio de 2010

1° de Maio: É hora da unidade da esquerda para enfrentar Lula e os patrões

      Na sua origem o 1º de Maio era marcado por manifestações de luta e por palavras de ordem que traziam reivindicações por uma sociedade livre da exploração. Mais de um século depois e no Brasil o 1º de Maio se transformou no feriado do “dia do trabalho”, como se não houvesse apenas uma classe trabalhadora. E o que é pior, as entidades “oficiais” dos trabalhadores, como CUT, Força Sindical, CTB, etc., retiraram do 1º de Maio qualquer conteúdo de luta contra o capitalismo, transformando-o num dia de culto à sociedade do consumo e do espetáculo. As principais centrais sindicais do país, com o patrocínio direto das grandes empresas, sorteiam bens de consumo e promovem shows de artistas vendidos à indústria cultural. Passa-se assim a mensagem de que não há outro modo de vida além do capitalismo e de que tudo que os trabalhadores podem fazer é aspirar por migalhas que sobram do banquete dos exploradores.

   Estamos num momento histórico bastante grave, em que os ideólogos da burguesia querem fazer crer que a profunda crise econômica internacional foi superada, sendo que foram impostos pesados sacrifícios aos trabalhadores e usadas falsas soluções que farão com que essa mesma crise retorne agravada no futuro. Nesse meio tempo, o governo Lula e os burocratas do PT querem colher os louros da falsa superação da crise e se apresentar como única alternativa para os trabalhadores contra o retorno da direita do PSDB.

Unir a esquerda

            Entretanto, durante todo o governo Lula, o PT e seus aliados agiram como auxiliares da burguesia no ataque aos trabalhadores, garantindo altos lucros para os bancos, o agronegócio, as empreiteiras, etc, ao custo de demissões, redução de salário e corte de direitos, além da continuidade das privatizações, da corrupção, da destruição ambiental, etc. Os braços do PT no movimento, como CUT, Força, CTB e outras centrais pelegas, não são alternativas para os trabalhadores, pois abandonaram o campo da luta e se tornaram sócios menores da burguesia, vivendo à custa do Estado e de acordos com a patronal.

             Em contraposição a essa postura da CUT, Força, CTB e outras centrais pelegas, reafirmamos aqui a importância da construção de um pólo combativo no movimento dos trabalhadores, que se coloque em luta contra as mazelas do capitalismo, e que tenha como horizonte a superação desse sistema. É preciso lutar vencer a crise das alternativas socialistas, discutindo a necessidade do fim  do capitalismo e da construção do socialismo entre os trabalhadores. Todas as lutas mínimas, que visam preservar salários, condições de trabalho e direitos se colocam cada vez mais em choque direto com a lógica do sistema e é preciso deixar isso claro.

            Na recente greve dos professores da rede estadual de São Paulo, a burocracia evidentemente boicotou a luta, mas mesmo os setores combativos, como Conlutas e Intersindical, não se engajaram de fato, para além das declarações formais de apoio. Isso representa um erro grave, pois a luta de cada setor da classe é uma luta do conjunto da classe contra o sistema. A greve dos professores era uma greve em defesa de uma educação de qualidade para os filhos dos trabalhadores, algo que vai contra os interesses da burguesia.

            Confrontado com sua crise estrutural e com a queda da taxa de lucros, o capital por sua vez exigirá cada vez mais o aumento da exploração. Não há mais espaço para a administração do sistema sem conflitos mais agudos entre a burguesia e o proletariado. É por isso que temos visto, em pleno “governo democrático e popular” de Lula (e também nos governos locais dos demais setores burgueses, claro), um aumento da repressão, da criminalização e da perseguição aos trabalhadores. Temos visto a morte, a prisão, a demissão de ativistas, a interferência do judiciário e da polícia nas ocupações e greves, a proibição às formas de luta e manifestações dos trabalhadores e setores oprimidos, as difamações e calúnias veiculadas pela imprensa, etc. A batalha para entregar o militante italiano Cesare Batisti, preso no Brasil, ao governo neo-fascista de seu país, mostra a disposição da burguesia para atacar os lutadores, o que exige uma resposta da nossa classe.

Para além de uma nova central: por uma nova concepção de movimento           

Diante dessas circunstâncias, torna-se ainda mais urgente a construção de uma referência unitária dos setores combativos, que reúna as entidades e movimentos que se mantiveram no campo da luta. A defesa das nossas condições de vida (ou mesmo da nossa própria vida) exigirá cada vez mais a unidade. Por isso é um problema a existência de vários “1ºs de Maio” pulverizados espalhados pela cidade, cada um se apresentando como mais revolucionário e combativo, mas recusando a unidade no interior da esquerda e facilitando o trabalho dos inimigos de classe, a burocracia sindical e a burguesia. Participar das festas da CUT ou Força é inaceitável, por isso fazemos um 1º de Maio separado, mas também é um erro criar divisões entre os setores que são de luta por questões secundárias. As diferenças de pensamento e de projeto podem ser positivas e devem ser discutidas democraticamente para ajudar a enriquecer o movimento, mas não colocadas em primeiro plano de modo a impedir a necessária unidade na ação.

            O CONCLAT convocado para 5 e 6 de junho em Santos pode ser a oportunidade para a construção de uma nova referência organizativa unitária da classe. A disputa entre as correntes pelo controle da nova entidade não pode ser obstáculo para a construção da unidade. Participaremos da construção do CONCLAT com o objetivo de discutir com os ativistas a necessidade de uma nova concepção de movimento, que resgate princípios como:

            – independência de classe, contra a interferência do Estado e dos patrões em nossas organizações;

            – unidade da classe e combatividade, contra o corporativismo e o economicismo;

            – luta sindical como luta anti-capitalista, que enfrente o sistema e eduque os trabalhadores para a sua superação;

            – a democracia operária;

            – formas anti-burocráticas de organização;

            – transparência na administração dos recursos das entidades;

            – formação teórica e política dos ativistas e trabalhadores;

           

            Para além da simples fundação de uma nova entidade, é preciso batalhar pela construção de uma nova concepção de movimento. É preciso construir um movimento político da classe, que apresente uma alternativa socialista contra o capitalismo e suas crises. Esse movimento precisa ir além da esfera sindical e da luta econômica, colocando-se no plano mais geral como uma alternativa política e ideológica contra a sociedade existente, questionando capitalismo e todas as suas formas de alienação. Parte das tarefas desse movimento político é apresentar-se no debate eleitoral como uma alternativa própria dos trabalhadores contra a falsa disputa entre os partidos burgueses.

Por um movimento político dos trabalhadores

            É preciso combater a forma burguesa de fazer política como disputa por votos entre “salvadores da pátria” e seus partidos de aluguel financiados com o dinheiro da burguesia. Para isso é preciso apresentar a política como espaço de deliberação das questões vitais da sociedade com voz ativa para todos os setores da classe trabalhadora, para que possam discutir um programa que represente suas necessidades e participar da administração da sociedade por meio da democracia direta. Esse método é a base para a construção de um movimento político da classe que eduque os trabalhadores para a superação do capitalismo. Um movimento que inclua a unidade nos planos sindical e eleitoral, mas que vá além disso, colocando-se como alternativa política e ideológica, construindo-se de forma democrática a partir da base.

            Infelizmente, a postura dos partidos da classe trabalhadora no debate eleitoral tem se colocado na contramão desse movimento. Os partidos definiram internamente, em suas cúpulas, o programa e as candidaturas a serem levados para os trabalhadores e agora querem vir pedir o voto. O que é mais grave é que esses partidos, PSOL, PSTU e PCB, não foram capazes sequer de construir uma frente eleitoral unitária, como fizeram em 2006 e 2008 com todos os problemas (do PCO nem se fala, pois jamais atuou em unidade, nem eleitoral nem no movimento, tendo como prioridade atacar o restante da esquerda, a ponto de funcionar como braço auxiliar da burocracia para dividir o movimento).

            Uma vez que não houve acordo em suas cúpulas, sacrifica-se a unidade e deixa-se o campo livre para a burguesia monopolizar o debate por meio das candidaturas burguesas de Serra, Dilma e Marina. O PSOL vive uma crise interna por conta da decisão de parte de sua cúpula de apoiar Marina. Setores do partido admitem até mesmo receber dinheiro da burguesia na campanha, comprometendo um princípio fundamental que é a independência de classe. PSTU e PCB usam o momento para tirar proveito da crise do PSOL, ao invés de construírem a unidade também entre si.

            Unidos, os partidos dos trabalhadores teriam grande dificuldade de furar o cerco do falso debate entre Dilma e Serra e apresentar um discurso de defesa do socialismo; separados, essa dificuldade será ainda maior. Por isso fazemos mais uma vez um chamado a esses partidos para romperem com essa política cupulista e abrirem o debate com os trabalhadores para a construção de um verdadeiro movimento político da classe.