O remédio amargo do capitalismo
25 de abril de 2010
Os aumentos nos preços dos remédios foram tão violentos nos últimos cinco anos, que além de causarem a revolta nos consumidores, obrigaram o Congresso e o Governo a se posicionarem diante do que está conhecido na mídia como o escândalo dos remédios. Até mesmo uma CPI dos medicamentos foi criada na Câmara Federal, e o Ministro da Saúde José Serra veio a público denunciar os abusos da indústria farmacêutica.
Levantamentos feitos pelos Conselhos Regionais de Farmácia e pelo próprio ministério da saúde, apontam aumentos de até 200% acima da inflação de 1994 a 1999. Enquanto isso as matérias primas usadas na fabricação desses remédios sofriam redução de preços nos exterior. Uma exploração covarde contra milhões de brasileiros, principalmente os mais idosos obrigados a usar os chamados medicamentos de uso contínuo.
Globalização que vem de longe
O setor de medicamentos no Brasil é um dos mais internacionalizados da economia, a abertura aqui foi intensificada na década de 70. Hoje os laboratórios que ditam os preços no Brasil são multinacionais. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Química Fina apenas 10% da matéria prima dos remédios é produzida aqui.
Os laboratórios estatais também sofreram um processo de desmonte a fim de limpar o caminho das multis, mas nos que ainda funcionam pode se ver a disparidade de preços. Exemplo são os hospitais federais no Rio de Janeiro, que gastavam R$ 5 milhões nos laboratórios privados, e para os mesmos produtos gastaram R$ 1,8 milhões em laboratórios do Estado.
Diante desse quadro o ministro José Serra e o presidente da CPI Nelson Marchezan (PSDB-RS), fazem discursos demagógicos de indignação, mas apresentam como propostas para reduzir os preços dos remédios a isenção de impostos para os laboratórios e também para a importação de matérias primas. Um verdadeiro escândalo dentro do escândalo! Essas medidas só servem para engordar mais ainda os lucros dessas empresas, reduzindo a arrecadação justamente daqueles que podem pagar. Essa é a resposta do governo FHC e das instituições políticas do capitalismo, cúmplices e agentes dessa exploração.
É preciso transformar a indignação de milhões de brasileiros com tudo o que se relaciona ao setor de saúde em uma campanha contra o capitalismo e seus agentes, é necessário romper com qualquer expectativa de saídas institucionais, construir com as vítimas desse sistema, os diversos segmentos profissionais da área, e o conjunto dos trabalhadores um programa e uma teia de organizações de luta contra a exploração na saúde! Exigir a humanização e a socialização de tudo que se relaciona à saúde pública no Brasil.
Ney Nunes – Coletivo Bandeira Vermelha/ RJ.