Reestruturação Banco do Brasil – Governo prepara privatização
3 de janeiro de 2009
Daniel e Márcio – Bancários – SP
Em maio de 2007, o governo baixou um plano de “reestruturação” do Banco do Brasil com a finalidade de fechar postos de trabalho (redução de custos), disponibilizando os poucos funcionários que restavam e que faziam o atendimento às pessoas mais abastadas, o que resultará na expulsão da população que se utiliza das agências bancárias.
O fim dos postos de trabalho se dá pelo corte de aproximadamente de 20 mil funcionários, que tem como foco os funcionários localizados em áreas de suporte do banco como as Gerências Regionais de Logística (GERELs), os Núcleos de Análise de Crédito (NUCACs) e, principalmente, os Caixas Executivos (CAIEX) nas agências. São exatamente os setores que fazem greve, vanguarda do movimento bancário, e que se enfrentam cotidianamente com a direção do Banco na luta por melhores condições de trabalho.
Nas grandes cidades será cortado a metade dos Caixas em cada dependência. Logo, o que já era ruim ficará ainda pior. Hoje já existe local que colocam estagiários para impedir o acesso dos clientes às agências sob a alegação de que não há Caixas. Na verdade, os poucos Caixas que existem estão sendo deslocados do atendimento para o processamento de envelopes de depósito ou simplesmente, deixando de ser Caixas para trabalhar no ATENDIMENTO AOS CLIENTES DE ALTA RENDA E GRANDES EMPRESAS, DEIXANDO DE FORA DO ATENDIMENTO À POPULAÇÃO. Os clientes e usuários excluídos das agências terão duas opções: se virarem no auto-atendimento ou ir para os correspondentes bancários (lotéricas, supermercados, etc.), onde já existem filas intermináveis.
Não nos enganemos quanto à ida dos funcionários provenientes das GERELs e NUCACs para as agências. Boa parte dos trabalhadores sairá com os PDVs (Plano de Demissão Voluntária) ou PAAs (Plano de Aposentadoria Antecipada). Trata-se de trabalhadores que ainda preservam direitos como anuênio e licença-prêmio, que os funcionários pós-98 não têm. Assim o banco acaba com o paradigma de isonomia, ou seja, igualdade de direitos entre funcionários novos e antigos, que é uma luta histórica dos funcionários admitidos pós-98.
Mas o prejuízo à população não fica somente nas filas intermináveis nas agências… O Banco avançará no processo de terceirização. Instituirá o PEE (Processamento de Envelopes Emborrachados), que consiste na centralização do processamento de envelopes de depósitos feitos nos terminais de auto-atendimento, e dos malotes de empresas. Esse processamento será feito por empresas terceirizadas, o que é proibido por lei. Os trabalhadores dessas empresas não são bancários e terão acessos a dados sigilosos, colocando em risco a segurança das transações. Por outro lado, estes mesmos trabalhadores terceirizados não têm os mesmos direitos dos trabalhadores bancários. Além disso, são superexplorados, têm os direitos mínimos desrespeitados, recebem os salários com atraso, não têm vale-transporte e recebem menos da metade do salário de um bancário, que já não é lá grande coisa.
Mais um passo para a Privatização
O início de qualquer processo de privatização começa com os planos reestruturantes sob o pretexto de diminuir os custos operacionais e de pessoal, além de aumentar a produtividade. Foi assim com a Vale do Rio Doce, com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com o Banespa, etc. Os trabalhadores destas empresas sofrem até hoje com os efeitos nefastos da privatização. Muitos se suicidaram, ficaram com problemas psicológicos e psiquiátricos, não conseguiram mais lugar no mercado de trabalho, ou se subempregaram, ganhando um salário de fome.
O Banco da Brasil também trilha o mesmo caminho. No início da década de 90, a empresa tinha cerca de 170 mil funcionários, hoje há menos de 85 mil trabalhadores. Este enxugamento se deve a pacotes semelhantes ao atual, que vêm desde a época de FHC. O governo Lula avançou em direção à privatização do Banco do Brasil com a abertura da venda de ações em poder da União. Reduziu-se a participação governamental (e aumentou a participação privada) na composição acionária da entidade, com claro reflexo no aprofundamento do seu direcionamento para o mercado. Agora, Lula lança este plano de desemprego em massa e expulsão do público das agências.
Quem fica no Banco também perde
Aqueles que sobreviverem ao plano de reestruturação também sofrerão, pois a carga de trabalho se multiplicará em progressão geométrica. O Banco institucionalizará o assédio moral, não só para obrigar os funcionários a cumprir metas de vendas de produtos, mas também a dar conta da carga de trabalho antes suportada por dois ou três funcionários. Além disso o Banco institucionalizou a jornada de 8 horas por meio da função de Assistente de Negócios, que na verdade, é um trabalhador que executa funções de gerente, mas ganha, proporcionalmente, menos que um CAIEX. É bom lembrar que a legislação trabalhista prevê que a jornada do trabalhador bancário não seja superior a seis horas, de acordo com art. 224 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): “Art. 224. A duração normal do trabalho dos empregados em bancos, casas bancárias e Caixa Econômica Federal será de 6 (seis) horas contínuas nos dias úteis, com exceção dos sábados, perfazendo um total de 30 horas de trabalho por semana.”
Os trabalhadores reagem, apesar do sindicato governista
Apesar dos sindicatos governistas, os trabalhadores conseguiram importantes vitórias contra a política de desemprego e de arrocho salarial implementada pelo governo neoliberal petista. Eis aqui as mais importantes:
. Os trabalhadores de Campinas fizeram passeatas pela cidade, ganharam apoio da prefeitura local, por meio da emissão de moção de repúdio ao Banco do Brasil por fechar a GEREL local. Outra vitória importante conseguida pelos valorosos companheiros foi a pressão para que o sindicato ingressasse com uma ação trabalhista que impediu o fechamento daquele local de trabalho;
. É parte do plano de reestruturação do Banco a desvinculação da responsabilidade da empresa com a saúde do funcionalismo por meio do sucateamento da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (CASSI). O Banco colocou em votação uma proposta de mudança estatutária na qual estava prevista a co-participação em exames. O Funcionalismo NÃO aprovou a proposta. É bom lembrar que os sindicatos da CUT faziam campanha pela aprovação;
. O Tribunal de Contas da União (TCU) julgou ILEGAL a reestruturação do Banco. Com isso, é possível acionar o Ministério Público do Trabalho para denúncias.
Governo Lula: O maior estelionato eleitoral de todos os tempos
O PT explorou muito oportunamente nas eleições de 2006 o medo da população de mais uma onda privatista que entregaria ao mercado o que ainda restou de empresas estatais. Incutiu-se na população a alegação terrorista de que se o PSDB ganhasse a PETROBRAS, a CEF e o Banco do Brasil seriam privatizados pelo governo dos tucanos. Pois bem, diante do exposto, vimos que o PT não passava de lobo em pele de cordeiro. Agora, reeleito por mais 4 anos, o governo prepara o Banco do Brasil para que seja privatizado, com prejuízos para toda a população.
Não somente o público será expulso das agências como todo o direcionamento da empresa estará voltado para o segmento de alta renda e a especulação financeira. O Banco deixará de ter qualquer papel no desenvolvimento do país, no fomento da economia, no apoio às pequenas empresas, no microcrédito, etc., para concentrar-se exclusivamente no lucro, à custa da superexploração de funcionários e terceirizados e da extorsão dos clientes. Além do fato de que o lucro gerado pelo Banco não reverte em benefício para a sociedade, pois serve tão somente para ajudar o governo Lula a pagar a dívida pública fraudulenta aos especuladores. É o Banco deixando de ser do Brasil para ser de pouco$.
É necessário a união dos trabalhadores com a população em defesa do patrimônio do povo. É necessário que as oposições e setores combativos do movimento sindical se organizem em levar à população uma cartilha sobre os efeitos do corte de funcionários, principalmente nos grandes centros. Uma das ferramentas da luta de bancários e clientes por melhor atendimento e melhores condições de trabalho é a denúncia no Banco Central, através do telefone 0800 979 2345. Os clientes e usuários podem denunciar a falta de caixas e a demora no atendimento, fazendo com que o Banco seja prejudicado no ranking de atendimento das instituições financeiras, mantido pelo BC.
Também é importante denunciar que o inimigo dos trabalhadores e do povo é o governo do PT. Somente com a organização da população é que se conseguirá derrotar a política do governo e do FMI.