Boletim 06 – Os Limites de Uma Greve Salarial Diante das Mudanças na Educação
3 de janeiro de 2009
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Abril de 2004 – Número 05.
Os Limites de Uma Greve Salarial Diante das Mudanças na Educação
A cada dia o capitalismo demonstra o que está reservado aos filhos de trabalhadores e aos profissionais da educação pública: sucateamento da escola pública, financiamento das escolas privadas, nenhuma condição para lecionar, violência fora e dentro da escola, etc.
Depois de aprofundar o desemprego e o subemprego, os empresários, o Banco Mundial, o BID e os governos concluíram que não é possível e nem conveniente uma educação pública de qualidade para os jovens que necessitam trabalhar. Para que gastar dinheiro com essa quantidade de pessoas consideradas subumanas e desnecessárias para esse sistema?
Ao mesmo tempo, o Estado brasileiro destina cada vez mais dinheiro público para o pagamento dos juros das dívidas interna/externa e reduz os impostos das grandes empresas. Essa é a razão da Reforma Tributária.
O problema não é simplesmente quem está no governo, pois tanto em nível municipal como estadual e federal, a política de corte de verbas nas áreas sociais é a mesma. O governo Lula desvia verbas públicas para universidades particulares (razão da Reforma Universitária), deixa de investir nos setores sociais para garantir o pagamento em dia ao FMI. Geraldo Alckmin e Marta Suplicy seguem o mesmo caminho de descaso com os órgãos que atendem os trabalhadores e seus filhos.
A escola há muito deixou de ser um local de construção do conhecimento e está cada vez mais distante da comunidade. O que predomina na escola são os interesses do governo e nunca daqueles que realmente precisam dela.
Para o sistema capitalista, o importante é apenas manter os jovens dentro da escola contendo sua rebeldia, podando sua criatividade e professores anestesiados pela carga estafante e pelas deprimentes condições de ensino. Assim diminui os problemas para seu funcionamento e tenta nos fazer acreditar que é nossa a culpa por toda situação de desemprego, baixo aprendizado e violência…
A única forma de fazer frente a esse descalabro social e educacional é através da organização e luta dos professores em conjunto com toda a comunidade escolar (pais, alunos, funcionários, etc), rompendo com a lógica capitalista e todos os seus implementadores.
No entanto, a direção da Apeoesp, inclusive a Oposição Alternativa e outras correntes desprezam completamente os problemas existentes nas escolas e continuam presos à velha concepção de greve corporativa, tendo como ponto principal da pauta de reivindicação a questão salarial e não as condições de trabalho e ensino/aprendizagem. Os nossos maiores aliados (pais e alunos) continuam à mercê da imprensa burguesa sem saber e entender dos maiores problemas que enfrentamos, portanto sem participarem efetivamente dessa luta que é de todos os trabalhadores.
Construir um Novo Movimento da Educação com Pais, Alunos e Funcionários!
A situação atual da educação pública e a intransigência dos governos (sentida em 2000 e agora na greve das ETE’s) demonstram que uma greve centrada na questão salarial não será eficaz.
O fato de não afetarmos o funcionamento da produção e do lucro, de ficarmos restritos à paralisação das aulas e não termos as nossas reivindicações associadas às lutas dos professores das universidades públicas, ETE´s e rede municipal faz com que fiquemos isolados e sofrendo, cada vez mais, derrotas.
Precisamos realizar algo muito superior, envolvendo pais e alunos num movimento unitário que coloque em primeiro lugar a questão das condições de trabalho e de ensino.
Nosso salário nunca foi tão baixo. Mas, será que se conseguirmos 10% de reajuste resolveremos os problemas enfrentados pela Progressão continuada, classes superlotadas, carga de trabalho excessiva, verbas irrisórias para as escolas, falta de funcionários, alunos sem perspectiva de emprego e de futuro que são presas fáceis do tráfico e da criminalidade?
O nosso Movimento precisa ser capaz de denunciar, enfrentar e derrotar a política educacional do governo. Para isso, necessitamos da união geral de professores, pais e alunos.
Neste momento é possível construir esse movimento amplo através da Greve?
Depende da adesão à greve. Irmos à Greve só faz sentido se contarmos com uma grande participação de professores em todo o Estado. Se pararmos apenas meia dúzia em cada escola, o impacto será quase nenhum e só servirá para prejudicar os professores parados. Esse tipo de movimento de pouca adesão também demonstrou o seu fracasso na greve de 2000.
Não podemos mais aceitar que a direção da Apeoesp e outras correntes políticas, que estão afastadas da nossa realidade, continuem impondo seus interesses e decisões sobre os professores.
Nossa Assembléia deve refletir a situação das escolas e não apenas nossa vontade. Será a partir da nossa escola e na nossa comunidade que buscaremos avançar na luta.
Somente com um movimento realmente amplo, poderemos realizar fortes ações como: passeatas, bloqueios e atos simultaneamente e em todo estado provocando um impacto no lucro das empresas e um grande desgaste para os governos, obrigando-os a atender nossas reivindicações.
Esse tipo de luta exige preparação e muita disposição até se consolidar.
Podemos começar a trilhar um novo caminho para o Movimento da Educação marcando nesta Assembléia uma Jornada Estadual de Protestos Simultâneos em favor da educação pública saindo das escolas e nos dirigindo aos centros das cidades, envolvendo professores, alunos e pais.
Como preparação dessa Jornada podemos fazer reuniões e assembléias com a comunidade escolar para discussão de uma Pauta Conjunta, centrada na mudança das condições de trabalho/ensino, que poderá ser referendada em uma Assembléia Estadual Unificada, por exemplo:
1) Revogação da Progressão Continuada;
2) Máximo de 25 alunos por sala de aula. Reabertura das salas fechadas e construção de mais escolas;
3) Carga de trabalho 25 aulas com aluno e 15 HTPC/hora atividade, para que as aulas sejam de melhor qualidade e interdisciplinares;
4) Aumento das Verbas para as Escolas sob a gestão de um Conselho de Escola paritário entre professores, pais e alunos e funcionários;
5) Volta da grade curricular de1996;
6) Vínculo para os professores eventuais e piso salarial mínimo garantido sobre 20 h/a.;
7) Incorporação do bônus ao salário e reposição das perdas salariais;
8) Reintegração dos professores demitidos políticos e que os trabalhadores julguem as ações dos próprios trabalhadores.
Somente com um novo movimento que rompa com todas as formas burocráticas e corporativas de luta conquistaremos melhores condições de trabalho/ensino. Caso contrário sofreremos, novamente, todas as conseqüências de uma greve derrotada.