A luta das mulheres
3 de janeiro de 2009
A capacidade e a beleza da mulher não devem ser instrumentos da opressão capitalista!
Ao abordarmos a situação da mulher trabalhadora na sociedade hoje é importante voltarmos ao passado para relembrarmos nossa luta:
Quando a espécie humana se dispersava da África para as outras partes do mundo, o centro dos grupos era a dupla mãe e criança e, apesar de existir a divisão sexual do trabalho, não existiam relações autoritárias nem escravizadoras entre homens e mulheres.
Com o surgimento da agricultura, do excedente e da apropriação desse excedente (propriedade) o homem passa a querer controlar não apenas a natureza mas também as relações produtivas e sociais e busca submeter a mulher à condição de mera auxiliar para a realização de suas metas.
As mulheres não assistem a todos estes acontecimentos pacificamente. Enfrentam a Inquisição na Idade Média. Promovem revoltas e questionamentos, durante a Revolução Francesa, contra a miséria a que estavam submetidas e muitas são decapitadas ou queimadas por isso. No ano em que o Manifesto Comunista é escrito as lutadoras feministas realizam seu primeiro encontro em que reivindicavam o fim da sociedade de dominação patriarcal.
Tempos depois, em 8 de março de 1857, quando protestavam contra as péssimas condições de trabalho, os salários de miséria e a redução da jornada de trabalho nas indústrias têxteis de Nova York, 129 operárias, reunidas dentro de uma fábrica, são queimadas por ordem dos patrões.
Durante o século XX a luta não é menos árdua. A necessidade dos capitalistas (entenda-se empresários) de manter suas taxas de lucro juntamente com as guerras pela hegemonia do mercado mundial piora as condições de vida dos trabalhadores. As mulheres são obrigadas, disputando com os homens, a ocupar vários postos de trabalho para derrubar a média salarial de nossa classe.
Diante da capacidade de desenvolvermos nossas potencialidades entramos, cada vez mais, num mercado de trabalho altamente competitivo, machista e injusto além de carregarmos o fardo do trabalho doméstico.
A dupla jornada de trabalho, que nasceu com a sociedade patriarcal, passa a ser explorada ao extremo e se quiséssemos nos organizar teríamos que partir para a tripla jornada.E assim é feito…
Na Revolução Russa são as mulheres que convocam a primeira greve geral que serve de estopim contra a Monarquia. Assumem a consciência socialista e são intransigentes contra a opressão, a servidão doméstica e por uma Rússia livre. Conquistam o direito de decidirem sobre seus corpos, de divórcio, de exigir judicialmente do pai o sustento para os filhos. Reivindicam e organizam restaurantes, lavanderias e creches públicas para terem mais tempo livre do trabalho doméstico. Saem do espaço privado (dentro de casa) para realizar encontros, conferências e congressos internacionais que unificam suas reivindicações e as colocam em condição de atuarem com os demais trabalhadores.
No Brasil, na década de 70, realizam o I Congresso das Operárias Metalúrgicas, em São Bernardo, no ABC paulista, em que constatam as más condições de vida, a falta de creches nos locais de trabalho, a violência dos chefes e a discriminação sexual, ainda hoje em nossos meios.
A conquista de alguns direitos na Constituição Federal – igualdade de direitos trabalhistas, previdenciários e sociais, o fim da proibição da maternidade e o direito a terra – se deu através de muita luta de trabalhadoras em sua tripla jornada e que, a partir dos sindicatos, se juntaram aos demais trabalhadores.
No entanto, o século XXI chegou trazendo, para nós mulheres, novas formas de imposição, opressão e morte que requerem também outras formas de dizer “não” ao sistema de exploração.
Sabemos que nesse sistema somos levadas, desde muito cedo, a desejar ser mãe, a cultivar o corpo magro e atraente, a ser executora de tarefas chatas e fáceis, a sonhar com o casamento, a se tornar uma excelente e obediente dona-de-casa que somente se sentirá feliz quando encontrar um marido que reconheça suas qualidades e a proteja. A finalidade maior disso tudo é procurar nos desencorajar diante dos menores comportamentos independentes e nos fazer ver a liberdade como algo limitado e monstruoso.
Contrariar as regras ou adaptar-se a elas custa-nos muito: Vemos meninas grávidas cada vez mais novas e assumindo sozinhas os bebês. Mortes por anorexia e bulimia para atender as exigências do mercado da moda e da mídia. Depressão por se sentirem gordas e feias. Aumento do número de abortos, da prostituição velada e da objetificação do corpo da mulher nas propagandas (cervejas, carros, internet). Sem falar do alto número de mulheres que sofrem com a violência doméstica.
Infelizmente alguns sindicatos embarcam nessa cruel onda capitalista e promovem as Semanas da Beleza, em que alguns serviços são oferecidos sem custo em troca da promoção de marcas de cosmético, contribuindo para o estelionato dermatológico (estímulo ao consumo de produtos e cirurgias para elevar a auto-estima). Enquanto isso, cruzam os braços para os verdadeiros ataques à auto-estima da mulher trabalhadora, ou seja, a opressão, a carga elevada de trabalho, os baixos salários, a dupla jornada, a exigência para que realize o trabalho doméstico e o pouco tempo dedicado ao prazer.
Até mesmo a participação das mulheres na CUT (Central Única dos Trabalhadores) foi diminuindo em contraste com o aumento do trabalho feminino. A cota de 30% de mulheres nos órgãos de decisão nunca refletiu a quantidade de mulheres no mercado de trabalho e, mesmo, se mantém.
A tal Secretaria de Mulheres, que no início era coordenada por homens, está totalmente submetida e trabalhando para implementar as políticas do governo Lula para as mulheres, ou seja, pôr fim à licença maternidade e aos direitos trabalhistas com a próxima contra-reforma trabalhista.
As mulheres que a coordenam calaram-se diante da Reforma da Previdência (que atingiu diretamente a classe que vende a força de trabalho, aumentando o tempo de contribuição e extinguindo a aposentadoria por idade) e da investida do governo contra as domésticas, há pouco tempo. Estão há muitos anos fora das fábricas, já fazem parte da burocracia sindical e implementam a lógica que distancia cada vez mais as mulheres da participação política e sindical.
A maioria das organizações que era de esquerda no período da Ditadura Militar sucumbiu. Hoje quase todas estão no poder sob fajutas denominações de socialistas, de comunistas, de verde, de trabalhadores. Aproveitaram-se da queda da burocracia stalinista do Leste Europeu para confundir a classe trabalhadora contra o socialismo, único sistema capaz de colocar a mulher, e conseqüentemente a humanidade, em uma situação superior.
Somente agora, no novo milênio, as trabalhadoras juntamente com os demais trabalhadores iniciam uma tímida reorganização através de novas coordenações de lutas (Conlutas/Intersindical), mas que ainda não incorporam as desempregadas ou subempregadas.
Essas coordenações devem estar, também, a serviço da luta das jovens trabalhadoras estudantes, que ingressamos agora no mercado de trabalho e que novamente enfrentamos os problemas das más condições de trabalho, baixos salários, jornadas de trabalho irregulares, falta de direitos trabalhistas com pomposos nomes de: estagiárias, operadoras de telemarketing, teleoperadoras, etc.
Continuar a luta iniciada por nossas ancestrais não é fácil. A luta, como mulher trabalhadora, pela sobrevivência, independência intelectual e financeira, melhores condições de trabalho e respeito aos nossos valores é cada vez mais necessária. Precisamos transformar o 08 de Março – Dia Internacional de Luta da Mulher em mais um dia de luta de todos os oprimidos, contra todas as formas de exploração capitalista e por uma sociedade justa.